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Publicada em 31 de Maio de 2024 às 17:44

Guerreiros dos Girassóis atende a demandas da população de rua

Durante esse período de enchente, Jane recebe donativos e os encaminha para distribuição a quem mais precisa

Durante esse período de enchente, Jane recebe donativos e os encaminha para distribuição a quem mais precisa

Acervo Pessoal/Divulgação/JC
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Carlos Severgnini
Os Guerreiros dos Girassóis querem espalhar uma mensagem de emancipação e força para quem vive nas ruas. Segundo a instituição, a arte, a conversa e a literatura são instrumentos terapêuticos e de emancipação social
Os Guerreiros dos Girassóis querem espalhar uma mensagem de emancipação e força para quem vive nas ruas. Segundo a instituição, a arte, a conversa e a literatura são instrumentos terapêuticos e de emancipação social
Com sede no Menino Deus, zona Sul de Porto Alegre, a Guerreiros dos Girassóis surgiu sem um lugar próprio, a partir da vontade das ruas, com a proposta de criar um compromisso com aqueles em situação de vulnerabilidade social - especialmente pensando naqueles sem abrigo. A ONG compreendeu que a hora marcada não incluía todos necessariamente ao mesmo tempo:
"Comecei a oferecer cursos e workshops para adolescentes, onde os que podiam pagar, pagavam e os demais, usufruíam de forma gratuita.", conta Jane Lucas, a idealizadora do projeto. Jane percebeu que, embora o convite fosse oferecido a todos, alguns dos participantes não sentiam-se à vontade. Era preciso ir ao encontro dessas pessoas, do distinto ambiente tanto das ruas quanto de comunidades periféricas.
"A primeira ação levada para as duas foi de cerca de 250 sacos de dormir, impermeáveis, forrados com lã na parte interna e com sementes de girassóis na parte externa, fechadas com uma etiqueta", relata. A intenção de entregar os sacos de dormir junto com as sementes de girassol visava ao plantio dessas flores, que são o cerne da filosofia da ONG: "A planta tem cabeça heliotrópica, girando em busca do Sol, e a ONG tem o olhar direcionado à 'emancipação do sujeito', onde ele descubra ser o próprio Sol, ou o Deus, como diria Nietzsche.", elucida Jane. 
Jane coloca sobre o trabalho voluntário além de sua ótica humanista, tendo aquela de escritora: eis como entende que a literatura serve de instrumento para a emancipação. A autora possui quatro livros publicados: O sol de cada um, livro infantojuvenil trabalhado em escolas e levado para a dramaturgia, com sessão apresentada no começo do mês de maio no Teatro do Museu; Conto de Fadas Malvadas, para o público jovem adulto; A cor que me reparte, que foi premiada no prêmio nacional do Ministério da Cultura Carolina de Jesus; e Gritos no silêncio dos esquecidos, obra que foi entregue por Jane para as pessoas em situação de rua, sendo a questão abordada nas próprias páginas do livro. Assim sendo, as ações da Guerreiros dos Girassóis transcendem o espaço institucional ao contarem um pouco sobre a própria Jane.  
Tendo em vista um maior alcance do conceito original, a distribuição de livros tomou a pauta de uma segunda investida do projeto. Jane e mais três amigos voluntários, assim, distribuíram os materiais próximo do campus do Centro da UFRGS. "A percepção desse movimento foi de que os livros são fundamentais para todas as pessoas, em especial às pessoas em situação de vulnerabilidade social, onde a invisibilidade se faz presente.", discorre Jane.
A palavra foi além: da escritora e mais três voluntários, em um dado momento a ONG já somava os cerca de 80, surgindo de forma institucionalizada. Superou-se assim o seu desafio organizacional, tendo a Guerreiros dos Girassóis consolidando sua presença soberana na frente da ação social.
É assim que a ONG se organiza nesse combate às fomes e às sedes: Alimentação da população de vulnerabilidade, através da promoção de centros que sirvam a essas pessoas; Biblioteca Móvel, para o fomento da literatura e da curiosidade, tendo por um dos pilares esse princípio de que as ruas também têm sede de cultura; e Rodas de Conversa, nas quais o simples ato da conversa é emancipatório e traz dignidade. 
Segundo Jane, com as inundações no estado, a Guerreiros estabeleceu presença através da distribuição de itens essenciais como roupas, cestas básicas, água, materiais de higiene, colchões e cobertores. 
A Guerreiros opera sem nenhum tipo de apoio governamental, existindo apenas através da ação voluntária de amigos e apoiadores. Para contribuição, a Guerreiros conta com apoio de transferências, podendo ser realizado a partir de:
 Banco Bradesco
 Agência 7198-6
 Conta corrente 34986-0
 Associação Guerreiros dos Girassois
 Ou, ainda, pela Chave PIX: CNPJ 42.250.970/0001-95   

Dados sobre o número de pessoas nas ruas é incerto

Em 2022, a FASC (Fundação de Assistência Social e Cidadania) contabilizou cerca de 2500 pessoas em situação de rua na Capital. Ainda, a organização deu parecer de que haveria número suficiente de vagas disponíveis em abrigos para que essas mesmas pessoas fossem acolhidas. Ainda, a FASC alegou que uma parte dessas pessoas recusava o oferecimento de abrigo, detendo comportamento errático que as colocasse voluntariamente na situação de rua.
Porém, conforme revelado em reportagem da Brasil de Fato, o grupo Passa e Repassa, originário da UFRGS e com vista ao monitoramento dos dados de vulnerabilidade social, atestou que o número de abrigos seria insuficiente, sendo faltante a pelo menos 1000 pessoas. A integrante do grupo e professora Gabriela Godoy afirmou na ocasião que existe uma narrativa criada de que a população em situação de rua não vai para os abrigos por vontade própria. Ainda, a professora contestou outros dados da FASC, como a diminuição da população de rua no período, que ela chamou de uma estatística "equivocada". 

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