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Publicada em 03 de Maio de 2024 às 15:25

'A mudança é a nossa era'

Especialista comenta que as novas gerações são feitas de outro 'material'

Especialista comenta que as novas gerações são feitas de outro 'material'

FERNANDA FELTES/JC
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Patricia Knebel
Patricia Knebel
Ele é um dos palestrantes mais requisitados do Brasil, recentemente foi aplaudido de pé na Gramado Summit. Capaz de criar uma relação única com a plateia, mesmo quando faz a festejada Palestra Muda, Dado Schneider costuma compartilhar nas redes sociais as suas andanças Brasil afora. Na pauta, sempre os temas da mudança e da colaboração entre gerações. "Até os Millennials (Geração Y), estávamos falando de pessoas que viram a internet entrar na nossa vida. Mas, quando vem a Geração Z, aí já é uma geração feita de outro material, porque vem de outro mundo", comenta. Dado é doutor em Comunicação pela Pucrs, especialista em mudança e colaboração intergeracional e criador da marca Claro. Considerado "palestrante imperdível" pelo BuzzFeed em 2022, é um estudioso do comportamento das novas gerações e das mudanças que essas relações causam nos ambientes corporativos e no mercado de consumo.
Ele é um dos palestrantes mais requisitados do Brasil, recentemente foi aplaudido de pé na Gramado Summit. Capaz de criar uma relação única com a plateia, mesmo quando faz a festejada Palestra Muda, Dado Schneider costuma compartilhar nas redes sociais as suas andanças Brasil afora. Na pauta, sempre os temas da mudança e da colaboração entre gerações. "Até os Millennials (Geração Y), estávamos falando de pessoas que viram a internet entrar na nossa vida. Mas, quando vem a Geração Z, aí já é uma geração feita de outro material, porque vem de outro mundo", comenta. Dado é doutor em Comunicação pela Pucrs, especialista em mudança e colaboração intergeracional e criador da marca Claro. Considerado "palestrante imperdível" pelo BuzzFeed em 2022, é um estudioso do comportamento das novas gerações e das mudanças que essas relações causam nos ambientes corporativos e no mercado de consumo.
Empresas & Negócios - Vivemos um período desafiador, de muitas mudanças e transformações. Como você avalia este momento de tantas mudanças que estamos vivendo?
Dado Schneider - Há uns 25 ou 30 anos, li um texto que dizia que 'não estamos numa era de mudanças, a mudança é a nossa era'. Não sei a autoria, mas adorei esse conceito. Às vezes, estamos em um período agitado, o pensamento que vem é: vai mudar, vamos ter a calmaria. Mas isso não existe mais. Estamos em um cenário de aumento da mudança, da velocidade da mudança e da aceleração da mudança. A Inteligência Artificial representa exatamente esse momento. A humanidade trocou de dimensão. Mas a inteligência artificial é uma transição ainda maior, porque a internet demorou 30 anos para chegar em 80% da população mundial. A inteligência artificial já está à disposição de todo mundo que tem um celular, e de graça. São mudanças ainda mais rápidas e mais contundentes.
E&N - Você é um estudioso dessa questão das novas gerações. Como essas mudanças todas impactam o mundo que vivemos, das relações ao ambiente de trabalho?
Schneider - Quando surgiu a internet, eu disse: vem aí um novo tipo de gente. Porque até os Millennials(geração Y), estávamos falando de pessoas que viram a internet entrar na nossa vida. Mas, quando veio a Geração Z, aí estamos falando de uma geração feita de outro material, porque vem de outro mundo. A geração Y é a última feita do mesmo material das anteriores, porque brincou na rua, ralou o joelho na pracinha, ouviu da mãe "você não é todo mundo"; "na volta a gente compra" ou "manda quem pode, obedece quem tem juízo". A geração Z não reconhece esses comandos, essas expressões, porque já vive num outro patamar. Há uns 15 anos eu comecei a dizer que eles não iriam querer trabalhar com a gente - ou a gente mudava a maneira de ser, pensar, agir e, principalmente, os processos dentro das nossas organizações, ou eles iriam entrar, ficar dois dias e sair. E é o que está acontecendo hoje.
E&N - Quais as principais formas de ver a vida das novas gerações?
Schneider - Eu fiz muitas entrevistas com crianças e pré-adolescentes, há mais ou menos uns 15 anos, quando eles estavam na faixa dos 8 aos 12 anos. Uma pergunta era o que eles iam ser no futuro. E a resposta já era homogênea: ainda não sei o que eu quero, mas eu já tenho certeza que não quero ser o que meu pai é e muito menos o que a minha mãe é. Eles já denotavam que os pais não serviam de modelo. A gente se espelhou em algum antepassado, não necessariamente no pai ou na mãe, mas em algum adulto. Consciente ou inconscientemente, seguimos esse modelo. As novas gerações olham a vida diferente, e costumam dizer: vocês vieram para a vida para ter coisas, ter poupança, carreira, casa própria, carro; a gente veio para a vida para ter experiências. E o mesmo vale para as empresas, que ficam com essa preocupação de reter esses talentos. Gente, essas pessoas não estão entrando nas empresas para serem retidas, elas querem ter experiências. E a hora que acharem que deu, deu. Não adianta ter um benefício a mais ou uma mesa de sinuca. Isso aí é uma piada.
E&N - Os valores em relação ao trabalho, obviamente, são outros.
Schneider - Claro e, na verdade, a forma como a nossa geração trabalha é exagerada. De trabalho braçal ao trabalho intelectual, é sacrificante. Por exemplo, num grande centro, que a pessoa tem que gastar uma hora e meia de deslocamento de ida e uma hora e meia de volta, somando ainda as horas de trabalho. Quem está chegando agora tem outra visão de mundo. Eles começaram a nos dizer que não vão trabalhar do jeito que nós trabalhamos, e agora estão dizendo que não vão querer assumir cargos de gerência. Claro, eles veem que os gestores são os mais estressados, porque estão com um posto de comando que é de muito mais responsabilidade, mas não têm as benesses de ser diretor, então, por que vão querer ser gerentes? Acho que essas gerações (Z e a sucessora) vieram para um mundo muito mais verdadeiro que o nosso. Muitas vezes, eles são interpretados como insolentes quando apenas estão dizendo 'não gostei' e 'não acho certo', enquanto a gente (gerações anteriores) tinha que dizer sempre que gostou.
E&N - Qual o outro lado dessa moeda?
Schneider - A autenticidade tem um preço. As novas gerações parece que não vieram com o chip do comprometimento. Infelizmente, se tivermos que virar a noite trabalhando e amanhã for preciso chegar às 5 da manhã, certamente o baby boomer vai estar no horário, de três millennials, no mínimo dois estarão, mas não sei se o da geração Z virá. Mas qual é o certo? Não tem o certo. Não sei qual é o certo. Quando a gente fala que a geração Z não é comprometida, obviamente que não são todos. Vai ter uma elite, os melhores da geração, que na, minha opinião serão gestores mais humanos. No fundo, o jeito com que a gente trabalha é meio desumano. Estamos evoluindo para um estágio mais humano.
E&N - Como é que você imagina que a gente vai estar daqui uns 10 ou 20 anos?
Schneider - Seremos outros seres em 2040. E quem vai fazer essa transição é a geração Z, que já está convivendo com as anteriores e vai passar o bastão para a geração dos dedinhos, a geração Alfa, que eu gosto de chamar de geração IA (Inteligência Artificial). Eles serão os líderes de uma nova era. E tenho quase que certeza absoluta que serão outras líderes, no feminino, porque eu vejo as meninas muito mais sintonizadas com tudo isso que os meninos. Vejo isso com ótimos olhos, porque a essência feminina é menos belicosa. É mais capaz de compor, de colaborar, de cooperar. Eu sou um otimista, só que neste momento, estamos na fase adolescente da humanidade. É insuportável, mas vai passar, porque até adolescentes amadurecem.
 

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