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Eventos extremos expõem deficiências das cidades na gestão do clima
Loraine Luz, especial para o JC*
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Ventos e enxurradas mostram despreparo dos municípios
A severidade de eventos climáticos extremos de 2023, ano mais quente já registrado no planeta e o mais chuvoso para Porto Alegre em cinco décadas, ainda pairava em torno dos gaúchos quando, no início de 2024, a noite de 16 de janeiro se transformou em um cenário de pavor, especialmente na Capital e arredores.
Uma tempestade severa, com ventos acima de 100km/h, deixou um rastro de destruição comprometendo o funcionamento de toda a cidade. Os danos à rede elétrica causados pela derrubada de árvores deixaram bairros inteiros às escuras durante dias e levaram ao corte de água. Ficou evidente: eventos climáticos extremos serão sinônimo de caos se gestão do clima e postura preventiva não se tornarem prioridades.
Intempéries violentas do tempo não criam, mas potencializam as desigualdades e as deficiências das cidades, resultantes de mal planejamento enquanto crescem. Reduzir a vulnerabilidade de áreas urbanas requer um reposicionamento de todos os atores envolvidos - do público ao privado - na direção de uma atuação conjunta, integrada e coordenada.
O fenômeno climático expôs a caótica relação entre fios elétricos e galhos de árvores. "Dá para contar nos dedos as cidades do país que têm plano de manejo arbóreo preventivo. Geralmente, a maioria trabalha no sufoco", afirma Sérgio Brazolin, biólogo, doutor em recursos florestais pela USP. Como pesquisador no Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT, ele comenta sobre soluções: "Todo mundo fala em cabo subterrâneo. Sim, mas tem de ver onde vai passar. Senão, vai cortar a raiz de árvores e elas vão cair. Há outras soluções, como a rede compacta - em substituição à convencional de três fios - ou o cabo isolado. Mas continua a necessidade de manutenção preventiva nas árvores", avisa.
Seu colega no IPT, Filipe Falcetta, engenheiro civil, doutor em Energia pelo Instituto de Energia e Ambiente da USP, afirma: "De modo geral, as cidades brasileiras não estão preparadas, seja pela deficiência crônica em investimentos de infraestrutura, que já as colocam em situação vulnerável mesmo frente eventos climáticos menos significativos, seja pelo desafio imposto pelo cenário de crise climática".
Diante dessa defasagem, o climatologista Francisco Eliseu Aquino nota que, de 2021 ou 2022 para cá, os poderes públicos estão buscando mais interação com quem estuda o clima. "Eu percebo que as prefeitura estão assustadas, a demanda vinda de tomadores de decisão aumentou", afirma o professor. Ele também identifica o interesse pelo comportamento do clima vindo de outras áreas do conhecimento, como engenharias, saúde, sociologia.
"Mas ainda é lento", lamenta ele. "Há mais de duas décadas estamos falando das mudanças no clima, intensificação dos eventos no sul do Brasil. O que se pode fazer hoje, ou se está tentando implementar hoje já podia ter sido feito há mais de uma década", conclui.
Uma referência de timing mais certeiro vem do Estado vizinho. Segundo Aquino, a estrutura e os protocolos frequentemente atualizados de Santa Catarina são exemplares globalmente. O professor acompanhou de perto o desenvolvimento da estrutura da Defesa Civil catarinense e destaque especialmente o fato de todas as áreas, técnicas e de tomada de decisão, atuarem de forma organizada. "Todo mundo está dentro do mesmo prédio. E tem gente lá dentro 24h por dia habilitada a reorganizar equipes conforme a demanda. Porque o enfrentamento de eventos climáticos extremos requer articulação de realidades diferentes", explica.
O Centro Integrado de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cigerd) foi inaugurado em 2018, fica junto ao prédio da Defesa Civil, em Florianópolis, e seu modelo é replicado em outras cidades, em formato regional. Autossuficiente, a estrutura reúne Centro de Monitoramento e Alerta, Meteorologia, Sistema de Hidrometeorologia, Geologia, Mapeamento de Áreas de Risco, Planos de Contingência, Planos de Ações Emergenciais, Gestão de Crise e Respostas a Desastres.
"O próprio prédio é um bunker. Eles não fizeram isso em três, cinco anos. O planejamento tem mais de 10 anos. É uma política de Estado", analisa Aquino. O professor ressalta que não está criticando outros Estados, apenas constatando que a Defesa Civil de SC é exemplar porque houve vontade política apartidária.
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Cada vez mais os profissionais de meteorologia, climatologia, hidrologia, geologia, geografia, engenharias ambientais, etc serão demandados devido aos eventos climáticos extremos. Além de especialistas em suas áreas, é extremamente necessário que tenham empatia, excelente comunicação, postura ética, conhecimento em cultura organizacional, ESG, gestão etc. Sobretudo, serem capazes de permear por outras áreas e conseguir incorporar um conjunto de conhecimento e competências no seu dia a dia, em uma visão multidisciplinar."
CÁTIA VALENTE, Meteorologista e head de Projetos Governamentais da Climatempo
Resiliência para absorver e se recuperar dos danos
Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), uma cidade resiliente é capaz de absorver e se recuperar de eventos extremos, além de garantir uma correta preparação para eventos futuros.
A conquista do status inclui a não ocupação de áreas inundáveis e/ou encostas de alta declividade por construções, total ciência dos riscos por parte de autoridades e população (percepção adequada ao risco) com propósito de antecipar e mitigar perigos. Além disso, há um direcionamento para respostas e estratégias de reconstrução para a volta à normalidade o mais rápido possível.
"O plano de emergência é central na conquista de resiliência", alerta Filipe Falcetta, engenheiro civil, doutor em Energia pelo Instituto de Energia e Ambiente da USP (2020), pesquisador no Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), que atua na Área de Cidades, Infraestrutura e Meio Ambiente.
O conteúdo mínimo de um plano de contingência é regido pela Lei n.º 12.608/2012, a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil - PNPDEC. Inclui percepção de risco e mostra com clareza os cenários e instrumentos que foram considerados em sua elaboração, como mapas de suscetibilidade a inundações, deslizamentos, registros de estações meteorológicas, carta geotécnica, Plano Diretor, dados demográficos, cadastro das entidades responsáveis pela resposta, rotas de fuga, entre outros. O plano também define o sistema ativo de monitoramento e/ou alerta, fuga (evacuação), ações de socorro e assistência às vítimas e de reestabelecimento dos serviços essenciais.
Proteção e Defesa Civil: vem aí um plano inédito
O governo federal promete para junho o lançamento do Plano Nacional de Proteção e Defesa Civil do Brasil. Inédito no País, o documento reunirá diretrizes, estratégias e metas para a gestão de riscos e desastres tanto pela União quanto por estados e municípios.
O plano é resultado de uma parceria do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional com o Laboratório HANDs (Lab HANDs), da PUCRio, e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). No início de fevereiro, foi realizado um workshop interministerial como mais uma etapa na elaboração do plano, que contempla uma série de iniciativas reunidas em 11 produtos, com suas respectivas dinâmicas, metodologias e prazos. Para saber mais: https://pndc.com.br/
'O problema é gigantesco', diz Marjorie Kauffmann
Ainda no primeiro semestre deste ano, o governo gaúcho prevê um plano para educar comunidades que vivem em áreas de risco; para os seis meses seguintes, será a vez da conclusão de um novo sistema de monitoramento da Defesa Civil do Estado, com melhorias. Essa é a expectativa de Marjorie Kauffmann, secretária de Meio Ambiente e Infraestrutura do Rio Grande do Sul (Sema).
Dentro do Gabinete de Crise Climática, sua pasta integra o eixo da preparação e do monitoramento, atuando diretamente com a chamada Sala de Situação, lugar da compilação de informações meteorológicas para subsidiar as decisões da Defesa Civil Estadual - que, então, se comunica com as regionais e estas com as municipais. A estrutura dessas últimas é bastante irregular. "Tem municípios com Defesa Civil que conta com vários técnicos do quadro permanente, sede própria, veículos, botes. E em outros, a Defesa Civil é uma pessoa", reconhece a secretária. "Sabemos que nunca vai ser igual em todos os lugares mas precisamos identificar onde vamos fortalecer", pondera.
Outra determinação do governo, segundo a secretária, é que os municípios revisem seus planos de emergência. "Estamos trabalhando também no sentido de mostrar às defesas civis municipais a importância que elas têm, um cargo que precisa ser ocupado por um agente técnico. Então o Estado disponibiliza o recurso mas condiciona isso a essas melhorias", explica.
Empresas & Negócios - Além do Gabinete de Crise Climática, oficializado em novembro do ano passado, o governo afirmou no mesmo período que buscava por melhorias no sistema de monitoramento e alertas e treinamento de equipes. Que melhorias estão sendo essas?
Marjorie Kauffmann - O sistema de monitoramento da Defesa Civil do Estado precisa ser melhorado, porque tem um modelo de grandes bacias. Nós conseguimos prever que vão ocorrer inundações em alguns rios específicos mas não se consegue desenhar pontualmente quais são os municípios ou até que ponto será a inundação. Não há uma atualização da elevação desses rios num tempo que seja confortável para Defesa Civil, municípios e população. Iremos lançar licitação já com aportes técnicos mais avançados que vão nos dar não só o modelo de grandes bacias mas o modelo hidrodinâmico capaz de prever com bastante precisão quando da presença de chuvas mais expressivas no nosso Estado.
E&N - Quando esse novo sistema será instalado?
Marjorie - Nós trabalhamos com o rito do serviço público, então, de forma permanente, esse sistema deve ser instalado no segundo semestre desse ano. De forma emergencial, estamos trabalhando com contratos que possam nos dar mais subsídios e também com acordos de cooperação técnica. Já minutamos um acordo de cooperação técnica com o Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH/Ufrgs) e a Univates. Esses acordos fazem com que, até que tenhamos um serviço permanente contratado, possamos ter aportes técnicos interessantes para melhorar a nossa resposta.
E&N - Quanto a treinamento de equipes significa investimento em pessoal técnico?
Marjorie - Na primeira reunião do gabinete (dezembro 2023), levamos as experiências que tivemos nos eventos críticos anteriores, para que possamos institucionalizar fluxos para uma rápida resposta. Isso já é um treinamento de equipe. Também identificamos a necessidade de uma educação comunitária, um treinamento das populações dessas regiões propensas a sofrerem com desastres. Assim como em regiões com terremotos ou em estado de guerra, quando as pessoas estão preparadas para os sinais de recolher, estamos investindo numa pauta que trata da educação comunitária que deve ser desenhada ainda neste primeiro semestre.
E&N - Essa nova realidade climática está demandando a busca por mais conhecimento científico por parte do Poder Executivo?
Marjorie - Acredito que sim. A pauta climática tem criado essa necessidade de que os governos se atualizem rapidamente. Para a composição do Conselho Científico fizemos convites ao Conselho Regional de Engenharia e Agronomia, o CREA, a alguns centros e institutos de meteorologia da região de Santa Maria e Pelotas, a pessoas e universidades com notório saber em meteorologia e estudo do clima, a conselhos de medicina e medicina veterinária e também ao Centro Estadual de Vigilância Sanitária porque, conforme experiência que já vivemos com desastres anteriores, os temas são bastante diversos. Estamos construindo esse caminho porque o problema é gigantesco e a solução não é tão simples de ser adotada. Os conselhos científico e o formado pela sociedade civil devem estar constituídos nos próximos meses. Mas não são estanques, a composição pode ser remodelada conforme as necessidades. O papel deles é avaliar as políticas públicas que vão ser propostas e as ações que estão sendo tomadas pelas secretarias. A participação é voluntária, não tem remuneração, a vantagem é ajudar a construir um Rio Grande melhor para todos.
Na espera de um novo radar para Porto Alegre e arredores
Está previsto para o segundo semestre deste ano o início das operações de um novo radar de monitoramento meteorológico para Porto Alegre e Região Metropolitana. Ainda por ser definido, o local adequado para instalação pode ser nos municípios de Montenegro, Porto Alegre ou Dois Irmãos. A decisão é técnica e deve sair ainda em breve.
O contrato com a empresa vencedora da licitação - Somar Meteorologia - foi assinado em dezembro, no valor de R$ 25,94 milhões (o menor lance no pregão). Uma das exigências do processo licitatório - a cargo da Casa Militar do Estado, por meio da Subchefia de Defesa Civil - era de que a empresa contratada realizasse a cobertura em um raio de 150 quilômetros a partir da Capital. A expectativa é de que o novo equipamento melhore a precisão e a abrangência da previsão do tempo. A prestação dos serviços de monitoramento, acompanhamento e emissão de alertas se estenderá por 60 meses a partir da instalação.
Em 2021, a Somar Meteorologia se uniu à Climatempo, líder em serviços de meteorologia no país, com atuação em segmentos como agricultura, energia, mídia, transporte, mineração, construção, varejo entre outros. Desde 2019, a Climatempo faz parte do Grupo StormGeo, líder global em inteligência meteorológica e soluções para suporte à decisão.
IA sustenta boa parte das soluções
No portfólio das empresas e das startups voltadas para o segmento de clima, uma condição em comum: o uso da inteligência artificial (IA) para desenvolver soluções cada vez mais precisas e customizadas - além de mais velozes, um fator crucial para a tomada de decisões diante dos riscos envolvendo eventos climáticos extremos.
Segundo Jacob Radford, especialista no Cooperative Institute for Research in the Atmosphere, no Colorado (EUA), entrevistado pela revista Nature em novembro do ano passado, os modelos de previsão do tempo baseados em IA são de 1.000 a 10.000 vezes mais rápidos do que os convencionais. O ponto em análise na matéria da revista era o GraphCast, um sistema de IA para previsão do tempo anunciado pela Google DeepMind, divisão de pesquisa em IA da gigante de serviços online e software. A tecnologia usa dados coletados de 1979 a 2017 e correlaciona aspectos como pressão atmosférica, vento, temperatura e umidade. Dessa forma, superou os modelos atuais em 90% de 1.380 verificações, atingindo eficácia inclusive na antecipação de ciclones tropicais e ondas de calor ou frio intensas.
O mercado global de sistemas de previsão meteorológica deve crescer mais de 50% até 2030, conforme um levantamento feito pela consultoria de investimentos TCP Partners.
Gestão do risco climático abre oportunidades de mercado
O ano era 2016 e Gabriel Savio, então trabalhando em uma startup para o setor de saúde, foi impedido de chegar a uma reunião em área nobre da capital paulista por causa de uma chuva. A cena das pessoas em meio ao alagamento e dos carros sendo levados pela enxurrada impactou o jovem que, até então, nunca tinha visto nada igual tão de perto. "Eu morava em área que nunca tinha sido alagada, a experiência foi pontual para mim, mas para muita gente acontece todo ano e se perde tudo. Aquilo ficou na minha cabeça", relembra ele, hoje à frente da Sipremo.
O embrião da startup focada em previsão climática começou a ser gestado dois anos depois, dentro da Defesa Civil de São Paulo, quando, através de contatos em comum, Gabriel ficou mais próximo de tomadores de decisão e conheceu os desafios frente a intempéries do tempo. "Vi ali uma oportunidade de mudar essa realidade e também uma oportunidade de negócio, obviamente. Eu já tinha noção que (evento climático extremo) seria um problema cada vez mais intenso e frequente", afirma.
O BRDE está entre os clientes da Sipremo. "A gente consegue medir a vulnerabilidade climática dos projetos que eles estão avaliando por gerar financiamento", explica o CEO. A aquisição de soluções do tipo pelo setor público foi facilitada com o Marco Legal das Startups, de 2021. "Quando a gente começou, não tinha o marco legal. Então o mesmo meio que o pessoal usava para comprar cimento tinha de usar para comprar IA. Era difícil encaixar", rememora Gabriel.
Para Victor Azevedo, CEO da Wiiglo, empresa que desenvolve a plataforma Cittua, o Marco Legal e outras leis recentes tornaram a aproximação com entes públicos menos burocráticas, mas ainda é tudo muito lento. Ele comenta: "A experiência que tivemos nessa área nos mostrou que os servidores públicos ainda têm muito receio deste tipo de contratação. Entendo que deveríamos ampliar este debate para o bem da própria sociedade", argumenta.
A Cittua já realizou pilotos e protótipos nas cidades do Rio e de Petrópolis (RJ). Em Petrópolis, disponibilizou um modelo preditivo de risco de deslizamento de terra por localidade. Já na capital carioca, desde 2020 monitora o sistema de ônibus municipal, analisando o impacto das chuvas e demais ocorrências no comportamento da mobilidade urbana.
Barreiras burocráticas na aproximação com entes públicos também estão na experiência da iNEEDs. "O grande problema a resolver é a integração de compra entre Estado e município, que geralmente não tem recursos para implantar a tecnologia", analisa. Ainda assim, seu segmento SmartCities vem somando clientes entre prefeituras.
"Acabamos de instalar em Pindamonhangaba o sensor de nível de rio. O software mede em tempo real. Conforme o rio vai subindo, vai gerando o alerta no smatphone do gestor, para determinar um aviso, uma sirene e a tomada de decisão", explica Pedro Curcio, CEO da Ineeds. A empresa ainda não tem clientes gaúchos, mas Curcio afirma que suas soluções já despertaram a atenção da coordenadoria regional de Defesa Civil do Vale do Taquari.
Na percepção dos empreendedores dessas startups, o impacto de fenômenos do clima é um problema real. O mercado tem espaço para mais iniciativas do tipo, na medida em que empresas e governos vão percebendo que precisam estar melhor preparados. Conforme dados do Fórum Econômico Mundial, o clima extremo se apresenta como o segundo maior risco global para os próximos dez anos.
A geração de dados é o coração de startups voltadas para a previsão, chamadas de "climatechs". Fica fácil entender por que o quadro central de funcionários é formado por desenvolvedores, cientistas e engenheiros de dados, essencialmente. Especialistas em meteorologia, geologia e áreas científicas afins ao clima entram dando suporte, conforme a necessidade de cada projeto.
Além disso, no portfólio de empresas e das startups voltadas ao segmento de clima, uma condição em comum: o uso da inteligência artificial para desenvolver soluções cada vez mais precisas e customizadas - além de mais velozes, um fator crucial para a tomada de decisões diante dos riscos envolvendo eventos climáticos extremos.
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Alguns exemplos de startups do tipo climatechs
Sipremo
Especializada em previsão e gestão de impactos climáticos, a Sipremo promete assessorar empresas que buscam não apenas compreender, mas também antecipar os efeitos das mudanças climáticas em suas operações. Os clientes são majoritariamente privados, de setores como logística, seguros, financeiros e mineração. A assertividade do modelo de previsão baseado em IA gira em torno de 80-85%, afirma seu CEO. Como referência, os modelos meteorológicos tradicionais alcançam 70-75%, aproximadamente.
iNEEDs
Operando originalmente nos segmentos de mobilidade e segurança desde 2018, a partir de 2021 a iNEEDs criou a divisão SmartCities, com ênfase em prevenção a desastres naturais e auxílio a certificação ISO de cidades inteligentes. São duas linhas de soluções: sensor de alerta e prevenção de deslizamento de terras ou rochas e a linha acqua, com tecnologia para rios, bueiros e pluviômetros, permitindo prevenção e alertas sobre inundações. Entre seus clientes estão: o governo do Estado do Espírito Santo, além de cidades como Petrópolis (RJ), Garopaba (SC), Valinhos (SP) e Pindamonhangaba (SP), entre outras.
Cittua
A plataforma da Wiiglo coleta e organiza dados gerados em cidades e por meio de funcionalidades de IA, analisa e prevê cenários para contornar riscos de situações emergenciais, como tempestades severas. Um aplicativo móvel colaborativo fornece a previsão do tempo e os alertas por geolocalização. Em 2024, a Cittua será implantada na cidade de Teresópolis, na região serrana do Rio, e a empresa planeja expandir para mais áreas da região Sudeste e Sul do País.
i4sea
As soluções entregues por essa empresa com sede na Bahia reúnem dados em tempo real, previsões de alta resolução com IA, análises sobre chuva, vento, maré e onda a fim de emitir alertas para múltiplos cenários. Seu monitoramento da zona costeira brasileira permite que clientes como o Porto de Santos, o maior da América Latina, ajuste e otimize suas operações. Uma das vantagens é que a i4sea regionaliza os modelos de previsão global do tempo até chegar a uma escala super localizada de microclima.
MeteoIA
Criada em 2018 por um grupo de especialistas em tecnologia e meteorologia, quatro anos depois foi considerada uma das 100 startups mais promissoras do Brasil pelo SEBRAE. Em 2021, se apresentou na COP26. Suas soluções usam uma cadeia de modelos de IA para processar dados atmosféricos e oceânicos e mapear efeitos em determinadas indústrias, se adequando ao que o cliente precisa que seja feito no que tange à gestão de risco climático. O MIA-Climap, por exemplo, é capaz de simular o funcionamento do clima na superfície da Terra até a escala de ruas e casas.
Fractal
Sediada em Florianópolis, a empresa oferece soluções para a Defesa Civil de SC e clientes como a Votorantim Energia. Tem consultorias para auxiliar na identificação e prevenção de desastres naturais, bem como para lidar com os impactos das crises hídricas e das mudanças climáticas. Uma das suas principais soluções é o DAMS, um sistema de monitoramento e controle da estabilidade de barragens, em tempo real.
Quiron
O foco dessa empresa catarinense com atuação em cinco países além do Brasil são as florestas, especialmente para prevenir queimadas. Negócios de papel e celulose estão entre os principais clientes da startup, que processa dados geoespaciais brutos, incluindo os de satélites e IA, para mapear solos e alertar sobre riscos de incêndios, entre outros usos. Fundada em 2018, a Quiron monitora remotamente mais de 20 milhões de hectares de florestas.
*Loirane Luz é jornalista formada pela Ufrgs, atua como freelancer desde 2007, depois de 12 anos de experiência em redação de jornal impresso.