Patrícia Tschoepke
Diretora de Planejamento Urbano da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade de Porto Alegre
O conceito de fachada ativa não é novidade. Todo mundo que circula ou já circulou por uma grande cidade o conhece, mesmo que intuitivamente. Em resumo, é aquele prédio com um pavimento térreo destinado a comércios, serviços e outros espaços, em uma área de uso misto, aberta à população.
Este modelo, conhecido por valorizar o espaço público e promover a convivência, está virando tendência nos novos empreendimentos, depois de um longo período de quase inexistência.
Em meados do século passado, o setor imobiliário e os atores envolvidos em planejamento urbano passaram a privilegiar muito mais empreendimentos com maiores recuos, grades e muros. Muito por questões de segurança diante de um boom demográfico, os edifícios foram dando as costas aos passeios públicos, e muitos bairros foram se tornando pouco amigáveis.
Entre as exceções da segunda metade do século passado estão edifícios icônicos como o Copan, em São Paulo, que até hoje servem como referência arquitetônica para quem pensa o desenvolvimento das cidades centrado nas pessoas.
Em 2014, o Plano Diretor de São Paulo recuperou esse recurso, classificando as fachadas ativas como "áreas não computáveis" dos novos empreendimentos. Na prática, isso permite às incorporadoras que aumentem suas metragens de construção em um terreno, desde que entreguem como contrapartida à comunidade acesso às facilidades e estabelecimentos instalados no local.
Essa tem sido uma das principais tendências de urbanismo na capital paulista nos últimos anos, e tem influenciado a maneira como as pessoas interagem entre si e com a própria cidade. Não é exagero dizer que a reintrodução das fachadas ativas nos projetos arquitetônicos está moldando o desenho urbano contemporâneo da maior metrópole das Américas.
Em Porto Alegre, temos visto isso também, e estamos trabalhando para incentivar cada vez mais a adoção desse modelo. Com projetos específicos como o Centro e o Programa 4D, de revitalização do 4º Distrito, demos passos importantes, mas queremos ir além. A nossa proposta é promover permanentemente o uso de fachadas ativas via legislação, pela revisão do Plano Diretor que está em curso.
Atualmente, nossa Capital não contabiliza em suas diretrizes urbanísticas como área construída o térreo de edificações, o que desestimula seu uso para fins comerciais. É uma questão na letra fria da lei que impede a expansão desse modelo que, na nossa visão, mudaria os rumos do desenvolvimento municipal. Para melhor.
Imagine você na sua vizinhança, com opções de lazer, de compras e espaços de encontro e convivência a poucos metros de distância, sem precisar pegar o carro ou outra condução. Alguns locais da cidade, como o Centro Histórico, o Bom Fim, Moinhos de Vento e Cidade Baixa, já dispõem desses benefícios, mas outros bairros, identificados por nós como "áreas a se consolidar", ainda não.
A intenção, claro, não é restringir a movimentação cotidiana por decreto, mas sim ampliar a infraestrutura das diferentes regiões através de estímulos ao melhor uso das edificações. Fachadas ativas são uma forma de reduzir o tempo de deslocamento das pessoas e de fortalecer a convivência nos espaços públicos.
Com regras claras de exploração comercial e respeito às particularidades de cada região, essa promoção do uso misto pode tornar Porto Alegre uma cidade mais vibrante, acolhedora e segura. Não podemos ter medo de crescer. Com um pouquinho de ousadia e visão, e com a assimilação dessas tendências das principais metrópoles, traremos a cidade mais para perto de seus moradores e construiremos um futuro com mais qualidade de vida para todos nós.
A reputação que vem de dentro
*Claudia Bouman é especialista em reputação de marca e sócia da Percepta Reputação Empresarial
Percepta/divulgação/jcClaudia Bouman
Especialista em reputação de marca e sócia da Percepta Reputação Empresarial
Funcionários orgulhosos de suas empresas têm poder de expandir o alcance reputacional das organizações e de suas marcas - quase na mesma proporção de destruí-lo por parte daqueles cujos interesses se restringem ao pagamento e ao fim do expediente.
Uma pesquisa realizada recentemente pela Ação Integrada em parceria com a Aberje (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial) mostrou os principais desafios das áreas de comunicação interna das empresas: fortalecer cultura e orgulho em um ambiente que valorize o colaborador (93%) e criar clareza em torno da estratégia de negócio engajando os colaboradores nesta jornada (79%). A maior dificuldade neste percurso é engajar lideranças como comunicadores (64%).
Claro que, apesar de colocadas na perspectiva da atividade e de processos de comunicação interna, as missões prioritárias da área não se restringem a ela. Cultura e orgulho são construções multifacetadas de amplo alcance.
Tornar o modo de fazer as coisas e perpetuá-lo (cultura), e tornar isso uma fonte de orgulho (ou de prazer) é uma responsabilidade muito além da comunicação. Envolve diversos atributos, construídos com cuidado e atenção a detalhes muitas vezes despercebidos.
Uma dica está dada na própria análise da pesquisa - primeiro pensar, ou entender, o que as pessoas querem saber, para depois alimentá-las com essas informações, para então pensar no que a empresa quer falar. Para pensar, ou entender as pessoas, a maneira mais fácil é questioná-las até descobrir, não?
Imagine o que alguém que se candidata a uma vaga pensa quando chega na empresa. Conhece a marca? Sua recepção na entrada é agradável? Aguarda horas por uma entrevista? O mesmo vale para toda sua convivência pós-contratação. O time é feliz? Por quê? Se não é, o que incomoda? A pessoa age por medo ou por recompensa?
Parece simples, mas não é. Nem sempre a pessoa sequer consegue expressar detalhes cruciais de seus próprios sentimentos e emoções e o que pode fazer dela um porta-bandeira de sua marca pela vida afora. Um de nossos sócios percebeu, em uma ocasião, o valor do "orgulho de pertencer" quando entrevistou um candidato a emprego.
O interessado havia se movimentado do Rio de Janeiro a São Paulo, certamente com interesse, e chegou à entrevista portando uma pasta executiva com um enorme logotipo da Coca-Cola. Ele nem trabalhava mais lá, mas se exibia querendo impressionar a torcida.
Por óbvio, esse orgulho decorrente da passagem do fulano pela centenária gigante norte-americana não foi criado com mecanismos de comunicação interna, mas sedimentado por uma reputação construída interna e externamente à companhia.
O desafio pode ser ainda maior em empresas business-to-business, familiares e de menor porte, ou de setores que geralmente se comunicam menos com seus públicos. Mas não são insuperáveis. Quando a exigência com qualidade se espelha em questões como, digamos, seleção de matérias-primas, respeito ao subordinado, formato de atendimento ao cliente ou pagamentos pontuais, isso passa mensagens tão ou mais fortes do que qualquer comunicado pode alcançar.
Outra pesquisa, realizada pela empresa de tecnologia SoluCX, no ano passado, registrou o índice concreto de satisfação e frustração do último emprego de 1,6 mil pessoas. Entre elas, só 39,9% deram notas de recomendação que os classificariam como promotores da antiga empresa. Mas uma a cada três (32,6%) se colocaram como detratores (o restante foi classificado como neutro). Na mesma pesquisa, 61,7% expressaram vontade de pedir demissão de seu emprego de então.
Embora no Brasil a legislação proteja marcas e empresas contra difamação de detratores em redes sociais, por exemplo, não há como interromper o movimento de insatisfação que fará mensagens ruins respingarem de volta na reputação da empresa.
Gente insatisfeita não elogia, não sorri, não trata bem os demais. Seu desconforto, mesmo não anunciado - e não tenha dúvida que ele é expresso na família, na escola ou na mesa de um bar - é por vezes visível, traduzido em mau humor, desânimo ou baixa produtividade.