Ao longo da minha atuação como headhunter, tenho percebido o aumento da demanda por executivos de C-Level que possuam habilidades políticas efetivas. Isso se dá, sobretudo, em companhias com gestão familiar, que buscam lideranças capazes de garantir uma boa interlocução entre o dia a dia da organização e a atuação do Conselho Administrativo. Essa soft skill não é mais apenas um diferencial para quem ocupa ou almeja a chefia de empresas deste perfil, mas sim, imprescindível para alcançar uma gestão verdadeiramente eficaz e atingir as metas definidas para o negócio.
A habilidade política no contexto corporativo envolve a capacidade de compreender e navegar entre as dinâmicas interpessoais, estratégicas e organizacionais. Sendo assim, o CEO que dispõe dessa skill é capaz de articular visões, influenciar decisões cruciais, gerenciar relacionamentos complexos e mitigar conflitos, promovendo, portanto, o alinhamento entre as diferentes partes envolvidas no funcionamento da empresa. Ressalto que tal cenário vai além da mera diplomacia. Ser politicamente hábil também significa ter inteligência emocional e ser adaptável, resiliente e ágil diante dos desafios na rotina operacional - habilidades estas que figuram entre as mais visadas na busca por lideranças, segundo a Pesquisa de Remuneração da Diretoria Executiva 2024, realizada pela Evermonte Executive Search.
A capacidade de manter uma comunicação efetiva, objetiva, respeitosa e persuasiva, inclusive sobre os valores que norteiam a companhia, é outro ponto de atenção. E essas skills são acentuadas, principalmente, em empresas de controle familiar, posto que, nestes espaços, os conflitos pessoais podem, por exemplo, extrapolar o âmbito privado e afetar as decisões e a rotina das organizações, além de outras particularidades relacionadas aos interesses e às emoções comuns nestas relações. Nesse contexto, os executivos de C-Level devem manejar muito mais do que apenas a interação com o Conselho Administrativo e a diretoria, também sabendo equilibrar as necessidades, exigências e expectativas dos membros das famílias envolvidas no negócio. Não apenas, a atenção volta-se para a relação entre familiares e não-familiares, como executivos, conselheiros e acionistas.
Primordialmente, os CEOs com habilidade política conseguem traduzir as metas, visões e decisões estratégicas do Conselho em ações tangíveis para as equipes, o que mantém a coesão e o comprometimento de todos os membros envolvidos. E, mais do que isso, torna-se possível incutir seus valores e suas visões em todos os âmbitos da companhia, seja à frente do board ou do quadro operacional. Uma particularidade na função de CEO de uma empresa familiar é a necessidade de atuar na preservação e na continuidade do negócio ao longo das gerações. Nessas organizações, o profissional precisa articular uma visão sistêmica, que alinhe os interesses internos aos objetivos da companhia, promovendo uma cultura de governança que equilibre noções de meritocracia e tradição. Inclusive, um ponto fundamental para tanto é a definição de iniciativas de desenvolvimento de lideranças para otimizar o processo sucessório (seja ele planejado, ou não).
Nestes momentos, contar com uma liderança politicamente hábil garante a implementação de medidas estratégicas, que visam não apenas o crescimento sustentável, mas também fomentam uma imagem pública favorável e repercutem positivamente no relacionamento com acionistas.
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Business Club, a bola da vez
Laís Macedo, empresária e Presidente do Future is Now
Laís Macedo/arquivo pessoal/jcÉ cada vez mais constante o volume de pessoas que me procuram (estaria aí a oportunidade de um novo negócio?), para uma conversa "rápida" sobre como construir um Business Club (leia-se, 14 anos de construção da minha história nesse mercado, nada rápido).
O fato é que esse movimento me surpreende, especialmente porque a narrativa é sempre muito parecida. Alguém se percebe, ou é reconhecido verbalmente pelos outros, como uma figura aglutinadora, responsável por boas conexões. Essa boa rede, somada a alguma aptidão de aproximação de pessoas e oportunidades, começa a ganhar corpo com pequenos encontros ou um grupo no WhatsApp. Há uma base, que entendo como uma matriz que valida esse processo, de pessoas que garante quórum e gratidão ao movimento.
Nesse momento, o que era algo até então informal acompanha cifras e esse núcleo duro paga. E aí o jogo muda. Onde há dinheiro, existe expectativa; onde há vendas, existem promessas; e junto com tudo isso vem o movimento natural das comunidades: ritmo, rotina, rituais.
Tudo isso é promissor e bastante legítimo, mas aqui chegamos ao meu ponto de reflexão: o entusiasmo leva a esse primeiro movimento, e as dúvidas e incertezas abarcam todos os passos seguintes.
Empreender é sobre imprevisibilidade e não é isso que está em questão, mas a crítica fica pelo modo como reduzem a construção e gestão da comunidade ao movimento que apenas corresponde ao "ponta pé inicial" e que não define a jornada.
É sobre trazer as pessoas e construir uma jornada para que elas fiquem. O jogo do membership nunca está ganho. Vai haver churn, porque, menor que seja, mas sempre haverá vazão, e os inúmeros motivos levam às tentativas de aparar as arestas. Se alguém saiu pelo valor, hora de rever o investimento; outro alega qualidade do público, e vem a dúvida de onde pode estar a falta de qualidade da base; outros questionam entrega, identidade, jornada. Isso considerando o churn, ou seja, um movimento futuro como indicador, mas não é necessário olhar para ele nesse momento; essas variáveis acima trazem prioridades de planejamento a curto prazo.
É um processo que requer clareza de produto, público, entregáveis, jornada, comunicação, tudo isso guiado por uma operação dedicada, eficiente, com métricas viáveis de mensuração, como vendas, e outras desafiadoras, como engajamento e expectativa.
É preciso conhecer o mercado. O público que define como alvo, transita hoje em outras comunidades de networking? Por quê? Como entregar algo mais valioso e relevante?
Pessoas. O desafio sempre são as pessoas. O que as leva para um business club é o desejo de pertencer. A motivação inicial é o entusiasmo, mas o processo se torna mais racional e o desafio surge: a empolgação precisa ser substituída pelo pertencimento; sem ele, não há engajamento. Sem engajamento, não há comunidade.
Então, você aí, que pensa em criar seu Business Club, te apoio e dou boas-vindas ao mercado, mas antes de emitir sua primeira nota fiscal, se questione: você está pronto para monetizar networking e expectativa?
É tudo sobre pessoas. Tudo.