Ernani Campelo, especial para o JC*
Em mais uma temporada de verão, os holofotes do turismo no Estado se voltaram para o Litoral Norte e as concorridas praias de Torres, Capão Canoa, Xangri-lá, Tramandaí e Cidreira. São centenas de milhares de gaúchos que dividem um lugar ao sol nestes municípios. Não muito distante dali, há um cenário de encantos e belezas, entre a lagoa dos Patos e o mar, com águas cristalinas, parque nacional, berçário de aves, faróis e muita história. Apesar dos atrativos, com uma estrutura modesta, a região engatinha como destino turístico.
Municípios de Mostardas e Tavares contam com encantos como as praias lacustres de águas cristalinas, o mar e o Parque Nacional Lagoa do Peixe
Matheus Vieira/divulgação/jcEnquanto as principais cidades praianas do Litoral Norte gaúcho superlotam no verão, perto dali há um lindo pedaço de terra, entre a lagoa dos Patos e o mar, com águas cristalinas, parque nacional, berçário de aves, faróis e muita história. É o Litoral Médio do Rio Grande do Sul, uma península que separa a lagoa dos Patos do oceano Atlântico, localizada nos municípios de Mostardas e Tavares, onde estão situados verdadeiros paraísos como as lagoas de Bacupari, com suas dunas intocadas, praias lacustres e marítimas e o incrível Parque Nacional da Lagoa do Peixe. Com estradas e acessos totalmente asfaltados e fácil deslocamento, as cidades de Mostardas e Tavares ficam distantes 201 e 228 quilômetros de Porto Alegre, respectivamente.
A região compõe a Bacia Hidrográfica do Litoral Médio, localizada na Região Hidrográfica das Bacias Litorâneas, com área de 6.113 km² e população estimada de 81.986 habitantes (2020), sendo 56.850 habitantes em áreas urbanas e 25.135 habitantes em áreas rurais.
O litoral gaúcho tem 638 quilômetros de extensão e é dividido em Litoral Norte, de Torres ao balneário de Dunas Altas, com 140 quilômetros de extensão; litoral médio, até a barra de São José do Norte, com 273 quilômetros; e Litoral Sul, com 225 quilômetros, entre a praia do Cassino e Chuí. Por tanto, apenas 140 quilômetros de orla estão localizados no badalado Litoral Norte gaúcho, enquanto que o Litoral Médio é uma faixa de terra pontilhada de dunas, lagoas e charcos que dificultam o acesso de pessoas e veículos às praias, tornando a região um trecho com pontos ainda intocados.
Paraíso das aves, com cisnes, flamingos e garças, o Parque Nacional Lagoa do Peixe está localizado em uma extensa planície costeira arenosa e tem uma paisagem composta por mata de restinga, banhados, campos de dunas, lagoas de água doce e praias banhadas pelo Oceano Atlântico. Baixas temperaturas e hábitos reprodutivos empurram, todos os anos, milhares de aves em longas jornadas entre o Norte e o Sul do planeta. Nesta viagem, uma das paradas é o Parque Nacional da Lagoa do Peixe. Localizado nos dois municípios, está debruçado em uma faixa com mais de cem quilômetros de areia, alagados e matas, entre o oceano Atlântico e a gigante lagoa dos Patos, sendo uma área protegida federal com 36.721 hectares e um dos melhores pontos nacionais para a observação de aves como o rosado flamingo.
O local é conhecido como o paraíso das aves migratórias e anualmente, em outubro ou novembro, recebe o Festival Brasileiro de Aves Migratórias. Com 15 edições realizadas, o evento atrai interessados no turismo ecológico e no avistamento de aves, movimentando a região em alguns dias da primavera. Na área do parque, já foram catalogadas 275 espécies de pássaros, sendo 35 migratórias.
Apesar da denominação, a Lagoa do Peixe é uma laguna, por causa da comunicação com o mar. É relativamente rasa, com 60 centímetros de profundidade em média. Possui 35 quilômetros de comprimento e dois quilômetros de largura, sendo formada por uma sucessão de pequenas lagoas interligadas, caracterizando, assim, um reservatório natural de água salobra.
A lagoa é também um berçário para o desenvolvimento de espécies marinhas, entre eles encontram-se camarão-rosa, caranguejos, tainha e linguado, além de atrair variadas espécies de aves em virtude de sua água salobra e farta em alimentação. Capivaras, lontras e jacarés também habitam a área do parque, que foi criado em 1986 e, conforme dados da administração do ICMBio no local, conta atualmente com cerca de seis mil visitantes de fora da região por ano, sendo um local para o turismo ecológico, de contemplação e para fotografar o meio ambiente e as aves.
Os atrativos naturais desse território, no entanto, não ficam restritos ao Parque Nacional da Lagoa do Peixe. O turista que busca a região saindo de Porto Alegre percorre a rodovia RS-040 até a cidade de Capivari do Sul, onde dobra a direita para seguir, no rumo Sul, pela BR-101.
Ao percorrer 40 quilômetros chega-se a Bacupari, povoado perto do mar que multiplica sua população no verão graças à beleza de suas três lagoas de águas quentes e transparentes e de suas dunas extensas e desertas, formando um cenário deslumbrante e incomum na geografia gaúcha.
Faróis históricos, praias marítimas e lacustres completam o deslumbrante rol de atrativas belezas da região. Datados de 1849 e 1861, respectivamente, os faróis Capão da Marca, em Tavares, e Cristóvão Pereira, em Mostardas, ambos às margens da exuberante Lagoa dos Patos, são os mais antigos do Estado do Rio Grande do Sul. Há ainda, à beira-mar, o icônico Farol da Solidão e o Farol Mostardas, localizado na área municipal de Tavares.
Estradas vicinais de terra, trilhas, dunas, caminhos à beira-mar ou pela areia da costa da Lagoa dos Patos fazem a alegria dos turistas aventureiras que buscam a região. Cenários com extensos e verdejantes campos completam um visual bucólico de rara beleza em que a paz não é interrompida, muitas vezes, nem pelo trilhar de smartphones, pois há extensas áreas sem sinal de internet ou telefone móvel na região. Com tantas belezas, o Litoral Médio do Rio Grande do Sul tem enorme potencial turístico a ser desenvolvido. Um manancial de possibilidades e desafios para empreendedores, profissionais do setor e gestores públicos.
Especialistas apontam caminhos para o desenvolvimento turístico da região
Aves migratórias vêm do Hemisfério Norte para se beneficiar da riqueza da Lagoa do Peixe, mas a maioria dos gaúchos ainda não conhece essa região
ROBERTO FUKUDA/DIVULGAÇÃO/CIDADESAs belezas, atrações e o potencial turístico da região são pontos convergentes para especialistas na área do turismo. Marcelo Fonseca, professor titular da Escola de Gestão e Negócios da Unisinos e Coordenador do Instituto de Pesquisa de Mercado (IPM-Unisinos), coordenou o projeto "Posicionamento e estratégias para o turismo na Costa Doce Gaúcha", financiado pelo Sebrae-RS em 2019. Ele destaca que considera um fenômeno interessante o fato de a região não deslanchar como polo turístico. "As aves migratórias vêm do Hemisfério Norte para se beneficiar da riqueza da Lagoa do Peixe, mas a maioria dos gaúchos não conhece essa região", afirma Fonseca.
"Se o ecossistema natural é extremamente rico, o mesmo ainda não pode ser dito sobre o ecossistema turístico. Apesar de haver algumas iniciativas importantes (e ambientalmente responsáveis, o que é crucial para essa região), essas são dispersas, sem integração ou complementaridade. Uma região não desenvolve seu turismo apenas pela existência de rotas/roteiros, mas sim pela construção de um ecossistema pensado na perspectiva da experiência completa para o turista", explica Marcelo.
Jussara Argoud, gestora de projetos da agência Regional Sul do SebeW, concorda com Fonseca em relação à necessidade de um maior sincronismo nas ações turísticas da região. "O turismo é desenvolvido pela inciativa privada e o poder público deve apoiar e orientar nas políticas públicas para um crescimento coordenado do turismo na região. Acredito que em Tavares precisa haver uma maior união dos empresários e de todos os atores locais para o desenvolvimento do turismo na cidade, que tem tudo para se desenvolver turisticamente, pois tem o parque nacional, as praias de mar e de lagoa com uma distância de menos de 20 km entre elas e uma beleza natural incrível", pondera Jussara.
"O destino Tavares é um grande destino de observação de aves do Brasil, com um roteiro criado há duas décadas que incrementou e sedimentou isso. Mas a região ainda tem um enorme potencial turístico para ser desenvolvido", acrescenta a gestora do Sebrae, que atua também em vários projetos de incremento turístico em outros municípios da Costa Doce do Estado.
O Festival Brasileiro de Aves Migratórias, evento anual que já soma 15 edições, acontece sempre na primavera atraindo turistas para a contemplação do show dos pássaros. O evento movimenta a região e na edição de 2022, durante quatro dias de novembro, atraiu mil participantes, incluindo pesquisadores do Uruguai, da Argentina e de outros cinco estados brasileiros. No entanto, a edição de 2023, que seria realizada em outubro, teve de ser cancelada em virtude de contaminações de animais marinhos com influenza aviária em áreas próximas ao Parque Nacional, onde é realizado o evento.
O economista, consultor na área do turismo e ex-diretor de turismo do Estado Abdon Barretto Filho entende que o investimento em um robusto calendário de eventos pode ser uma solução para o crescimento turístico da região. Ele destaca a realização anual do Festival Brasileiro de Aves Migratórias e que "o projeto do turismo de observação de aves desenvolvido há 20 anos foi um avanço e gerou a criação do festival anual, mas o problema é a falta de continuidade de projetos e programas". "É preciso ter planejamento e gestão para o desenvolvimento contínuo da região", acrescenta Barretto.
"Em 2003, começamos um trabalho com empreendedores locais e com a prefeitura", lembra Jussara. "É uma região com belezas incríveis e um lugar ainda pouco explorado, mas que já tem um roteiro definido e que vem sendo feito por uma agência receptiva local", pondera, ao destacar que o Sebrae, em parceria com a prefeitura de Tavares, desenvolveu coletivamente um plano municipal de turismo em 2022. "O crescimento vem com investimentos em infraestrutura, sinalização e educação para o turismo, mostrando o potencial de trabalho para as novas gerações permaneceram na região", acrescenta Jussara.
Fonseca aponta um caminho demonstrado pelo trabalho realizado em 2019 pelo Instituto de Pesquisa de Mercado (IPM) da Unisinos, que identifica as evidentes potencialidades da região e propõe o posicionamento estratégico para consolidar a sua identidade territorial. Conforme o estudo, as oportunidades estão relacionadas ao desenvolvimento de um turismo que valoriza características únicas, autênticas e distintivas da região, como sua biodiversidade, a cultura entre-mares (mar de fora e mar de dentro) e os horizontes sem-fim (estética que caracteriza aquela área do RS).
"É justamente essa definição de posicionamento, construída de forma colaborativa, que deve orientar o desenvolvimento da oferta turística de forma a produzir e reproduzir o posicionamento e a identidade territorial. Isso passa, claro, pela qualificação da estrutura (de hospedagem, gastronomia, acesso e serviços aos turistas) e pelo desenvolvimento sustentável dos atrativos, pensados na perspectiva do turista em busca de experiências autênticas de contemplação e imersão na natureza", complementa Fonseca.
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Empreendedores atestam crescimento no movimento turístico nos últimos anos
Lagoa Expedições desenvolve diversos roteiros pela região, como os passeios off-roads e as caminhadas
Marcelo Nunes Alves/Lagoa Expedições/divulgação/JCPioneiro no empreendedorismo turístico na cidade de Tavares, João Batista Cardozo instalou o Hotel Parque da Lagoa em 2003 e, no ano seguinte, começou a realizar passeios com grupos que procuravam a região. Assim, dois anos após a inauguração do hotel, surgia a Lagoa Expedições, empresa local de turismo receptivo, que desenvolve diversos roteiros pela região, como passeios off-roads em camionetes 4x4 e caminhadas de até 4 dias, contemplando visuais únicos em uma natureza ainda selvagem.
"Comparado com o início, hoje já temos um movimento muito maior, mas que segue em crescimento com uma demanda média, especialmente, entre outubro e abril", observa Cardozo. Atualmente com seis colaboradores fixos e mais alguns eventuais, ele comemora uma boa temporada de verão, em que os 20 apartamentos do hotel estiveram com alta taxa de ocupação. "Sou apaixonado pela região e tenho muito prazer em trabalhar com turismo", exalta o empresário, que começou fazendo os passeios com um carro apenas e hoje soma seis veículos 4x4 à disposição dos turistas. "Temos um parque nacional que é um grande atrativo, mas também temos outros potenciais como um roteiro de quase 100 quilômetros pela costa da Lagoa dos Patos nos meses de verão em um passeio que só pode ser feito em veículos especiais", enaltece o empreendedor.
"Acho que o que mais falta é mídia e divulgação para incrementar o turismo na nossa região, pois o público que nos procura e vem realizar os passeios conosco sai encantado com o lugar", acredita Cardozo. "A aprovação é praticamente de 100% dos nossos clientes e a maioria volta para novos passeios", comemora. "O público que nos procura vem em busca de um turismo de contemplação, pois a região ainda proporciona um turismo com passeios ainda de natureza selvagem", observa o experiente empresário do ramo turístico.
O turismo na região apresenta algumas ações pontuais de inegável qualidade. Em Tavares, a Aldeia Santuário das Aves, desde 2015, é uma delas. Situada em uma área rural de 460 hectares com muita mata nativa, planície costeira e dunas a perder de vista, está localizada a poucos passos do Parque Nacional da Lagoa do Peixe e a apenas cinco quilômetros da beira do oceano atlântico. O local é propício para contemplar e fotografar a natureza e dispõe de quatro chalés com estrutura completa e um total de 22 leitos.
O proprietário Renato Collares de Brum Marantes comenta que a proposta do local é proporcionar um contato direto para contemplação e a paz do ambiente aos hóspedes, "para as pessoas voltarem a se relacionar com a natureza". Marantes também observa o aumento na procura pela região, especialmente pela chamada propaganda boca a boca. "Acredito muito nessa região como polo turístico pela sua rara beleza, mas falta mais estrutura, informações e divulgação para receber o turista", diz. "A região é atraente, especialmente em quatro ou cinco meses de calor, mas falta infraestrutura para um movimento anual mais sólido", acrescenta. Ele observa também a falta de uma conexão em linha direta de ônibus entre Porto Alegre e as cidades de Mostardas e Tavares.
Ainda em Tavares, a Pousada Costa do Mar foi aberta em 2012 com seis apartamentos e 18 leitos. A pousada atualmente está com uma operação reduzida, sem o restaurante que antes atendia com serviço à la carte de frutos do mar no período da noite. A proprietária Sandra Luiza Hehn conheceu a região na infância com o seu pai, que se mudou em definitivo com a família para a cidade no início dos anos 70.
"Meu pai era um entusiasta da região. Ele foi o primeiro secretário de turismo do município e um grande incentivador da criação do Parque da Lagoa do Peixe", lembra Sandra. Em 2012, após sete anos residindo em Porto Alegre, ela decidiu retornar para investir em Tavares e instalar a Pousada Costa do Mar. "Pelo potencial do lugar, eu sempre tive o desejo de criar algo para trabalhar e auxiliar a desenvolver o turismo na cidade. No início, além da pousada, tínhamos um restaurante, mas atualmente estamos apenas com a pousada", explica Sandra.
Segundo ela, uma das dificuldades de empreender na região é encontrar mão de obra especializada para atuar no setor e acredita que "a estrutura turística da cidade não é muito grande e que o crescimento vem junto com o movimento". Sandra concorda com o aumento na procura pela região, mas aponta que muitos estão de passagem pela cidade e ficam apenas uma noite em Tavares. "Temos muito visitantes de passagem, com turistas que estão chegando do Uruguai ou indo para Santa Catarina", observa a empreendedora.
"Acho que as secretarias de turismo deveriam divulgar e investir mais na região, pois acredito que falte mais divulgação, especialmente em sites especializados, e uma relação mais próxima com agências para promover e vender o nosso turismo", finaliza Sandra, que também acredita que uma maior participação de representantes locais em simpósios e eventos de turismo poderia captar mais visitantes para Tavares.
Em Mostardas, a agência receptiva local denominada Passeios em Bacupari desenvolve roteiros off-roads visitando lagoas, dunas e a beira-mar no distrito, que fica a 80 quilômetros de distância da sede do município de Mostardas. Vinicius Santos Barrios, proprietário da empresa que está finalizando o seu quarto veraneio de passeios no local, juntou duas paixões para empreender no local. "Eu sempre gostei da região e de dirigir. Uni as duas coisas e a vontade de poder proporcionar passeios para as pessoas a locais em que só veículos 4 x 4 chegam", afirma Barrios.
Ele lembra que fez um investimento ao adquirir um veículo 4x4 com capacidade de 11 passageiros e a partir deste verão também estão sendo disponibilizados quatro quadriciclos para passeios na praia e nas dunas aos visitantes de Bacupari. A empresa disponibiliza ainda, desde 2023, a pousada Recanto da Teimosa (nome de batismo do veículo), com cinco chalés e capacidade de 30 pessoas e, neste ano, prevê a construção de mais quatro mais quatro apartamentos para casal.
Cada unidade da pousada tem capacidade para até cinco pessoas, com banho a gás e ar condicionado, além de um gerador de energia elétrica na pousada. "O movimento vem aumentando muito, meio desenfreado até, no Bacupari desde 2017 e nesse verão superou a capacidade do local, pois falta uma melhor estrutura, mas isso também inibe uma maior procura o que, por um lado, é bom para preservar o local, antes de termos uma infraestrutura mais adequada para receber tantos turistas", afirma o empresário.
"Mostardas ainda é mais conhecida pela agricultura e pecuária do que pelo turismo, mas temos um potencial enorme aqui, pois a região tem lagoinhas transparentes em meio das dunas e também é belíssima no inverno", acredita Barrios. O empreendedor alerta para um crescimento que considera desordenado no local. "Nunca existiu um projeto urbanístico aqui, o crescimento foi desordenado e os terrenos estão em processo de legalização, mas por ser uma Área de Preservação Permanente, ainda não estamos com o processo finalizado", observa Barrios. "Vejo muitas dificuldades e falta de sincronismo entre órgãos de meio ambiente e a prefeitura para organizar as questões envolvendo as casas, a população e o meio ambiente daqui", complementa.
Turismo controlado auxilia na divulgação do parque
Objetivo é melhorar a infraestrutura para receber visitantes em Tavares e Mostardas, onde ficam atrativos como o Farol da Solidão
TV BRASIL/DIVULGAÇÃO/JC"O turismo aqui na região do Parque Nacional da Lagoa do Peixe e em todo lugar de natureza deve ser controlado", alerta o analista ambiental e chefe substituto do Parque Nacional Lagoa do Peixe Lisandro Marcio Signori. Segundo ele, o "turismo auxilia o parque, pois, quanto mais pessoas conhecerem e divulgarem a região, mais valorizada será a área". No entanto, Signori enfatiza que o local requer cuidados durante os passeios. "Os veículos podem andar somente nas estradas e na beira da praia, mas com cuidados com o limite de velocidade para não assustar os animais", explica. Ele também observa que o movimento de veículos atualmente nas áreas do parque é satisfatório, sem "nenhum indício de que este volume esteja atrapalhando o ambiente natural". O analista ambiental salienta que o movimento maior de turistas ocorre nos meses de verão, enquanto que o turismo especializado em avistamento de aves é menor, mas ocontece durante todo o ano.
No dia 17 de fevereiro, a administração do parque organizou o primeiro passeio ciclístico da Lagoa do Peixe. "O evento foi positivo e deve ser repetido, assim como o Festival Brasileiro de Aves Migratórias que deverá ter uma nova edição neste ano", acredita Signori. Outro projeto para 2024 é criar roteiros de trilhas de médio e longo percurso para caminhadas. "Estamos estudando essa possibilidade, pois é uma forma de turismo que vem crescendo", conclui Signori, chefe substituto do Parque Nacional da Lagoa do Peixe.
Apesar das atrações e da rara beleza, a região ainda não pode ser considerada como um polo turístico do Estado. "Não podemos afirmar que falta algo para isso, porque a consolidação de um destino é um trabalho contínuo e linear que se torna palpável ao longo do tempo", opina o Secretário Estadual de Turismo, Luiz Fernando Rodriguez Júnior. "Devemos, sim, dizer que vamos seguir com o propósito, em conjunto com o setor privado, para que os municípios da região entrem de vez no roteiro dos turistas gaúchos e de outros estados e países", projeta o secretário. Segundo ele, o "governo do Estado trabalha sempre em conjunto com as administrações municipais e com o trade turístico local, para identificar as principais demandas de infraestrutura e a meta é que os visitantes conheçam a região de forma estruturada para obterem a melhor experiência possível".
Ele acrescenta que "com base nesses públicos, que vivem a realidade local, é que compreendemos o que precisa melhorar, por exemplo, em relação a acessos turísticos de estradas e capacitação da cadeia que trabalha na ponta do Turismo". Conforme o secretário, em 2023, através do Programa Avançar no Turismo, o governo do Estado investiu R$ 17,4 milhões em oito intervenções turísticas na região da Costa Doce Gaúcha.
O secretário de Turismo e Cultura de Mostardas, Sergio Francisco Araujo Costa, aponta o crescimento do turismo na região. Apesar de não ter números oficiais e precisos sobre a movimentação de turistas no município, ele afirma que, na temporada de verão 2023/2024, houve um aumento na circulação de turistas nos balneários marítimos Mostardense, São Simão e Solidão e na lagoa do Bacupari. "Não temos números precisos de turistas, mas somente na lagoa do Bacupari tivemos mais de 20 mil turistas no feriadão do carnaval e os hotéis aqui da cidade estiveram com lotação especialmente nos finais de semana desse verão", acredita Costa. "Notamos o crescimento do turismo anualmente por aqui, inclusive com a presença de uruguaios e esse número irá crescer muito se for construída a ponte entre São José do Norte e Rio Grande", prevê o secretário.
Mesmo otimista quanto ao crescimento do turismo no município, ele demostra preocupação em relação especialmente as questões ambientais e de infraestrutura na lagoa do Bacupari. O local começou a ser habitado há mais de 20 anos e houve um crescimento desordenado nas proximidades das três lagoas que existem no local, gerando dificuldades nas vias de acesso. "O município tem realizado judicialmente a legalização dos terrenos e da cobrança de IPTU para poder reinvestir no local", informa Costa.
"Temos um projeto de criar uma taxa ambiental para a região do Bacupari, semelhante com a que existe no município de Bombinhas, em Santa Catarina", projeta o secretário, afirmando que, assim, a prefeitura teria uma receita para reinvestir no local com melhoramentos viários e de infraestrutura. "A lagoa do Bacupari, o Farol Cristóvão Pereira e a Lagoa do Peixe são grandes atrativos turísticos do município e pretendemos, especialmente no Bacupari, melhorar a infraestrutura para atender melhor os nossos visitantes", enaltece Sergio Francisco. "Temos também um projeto para melhorar o acesso à beira da Lagoa dos Patos para o acesso ao histórico farol Cristóvão Pereira", acrescenta o secretário.
A cidade de Tavares está se preparando para sediar, de 12 a 17 de março, a 17ª edição da Expocace, Exposição e Feira do Camarão e da Cebola, com exposições, seminários, atrações culturais e a rica gastronomia local. A secretária de Turismo, Indústria e Comércio do município, Marilia da Silva Porto, acredita que ter um bom "um calendário de eventos ajuda a trazer visitantes para a cidade".
Para captar novos turistas ela tem representado a cidade em eventos do setor e irá participar da 38ª Feira de Negócios Turísticos Ugart, que será realizada nos dias 22 e 23 deste mês em Porto Alegre, e no 4º Seminário Nacional de Governança para o Turismo e Feira de Negócios, que vai acontecer de 25 a 27 também de março, em Rio Grande.
"Em 2022, finalizamos o nosso plano municipal de turismo que estabeleceu metas em várias áreas para o crescimento sustentável do turismo na cidade", explica Marilia. Entre as dificuldades apontadas pelo estudo, está a falta de mão de obra especializada e, segundo a secretária, "a prefeitura vem realizando cursos de capacitação em parceria com o Senar-RS para qualificar a mão de obra na cidade".
Tavares possui também um conselho municipal de turismo, que é formado por representantes da sociedade civil, de órgãos públicos e reúne-se sem periodicidade preestabelecida. E a secretaria municipal dispõe de um quiosque de atendimento ao turista na praça central da cidade, mas que funciona somente de segunda à sexta-feira, das 8h às 11h30 e das 13h30 às 17h.
"Temos tudo para alavancar e crescer ainda mais o turismo no município, mas ainda nos faltam mais opções e investimentos privados. Por exemplo, no nosso balneário na lagoa dos Patos que não há de opções de gastronomia", exemplifica a secretária Marilia. "Estamos iniciando uma nova consultoria com o Sebrae para incentivar o crescimento de empreendimentos gastronômicos no município", declara.
*Ernani Campelo é jornalista graduado na Unisul-SC e pós em Gestão Pública pela UERGS. Foi repórter no jornal Correio do Povo e na rádio Guaíba. Atuou por oito anos no Governo do Estado e atualmente trabalha no SC Internacional.