Andrea Pampanelli
Doutora em Sustentabilidade pela Universidade de Cardiff/UKe pela Ufrgs, integrante da Comissão de Sustentabilidade do Instituto Brasileirode Governança Corporativa
A Amazônia se configura como o epicentro da nova economia mundial. Prestes a receber a COP30, em novembro de 2025, a região ganha os holofotes do planeta quando se fala em sustentabilidade. São muitos os fatores que colocam a floresta em destaque nos debates ambientais, econômicos e sociais. A biodiversidade desse gigantesco patrimônio natural, a biomassa que retém estimados 100 bilhões de toneladas de carbono, as culturas do cacau e do açaí, entre outros, são fenômenos de uma intrínseca e secular relação dos povos com o rio e com a terra.
Com a COP30, em Belém do Pará, desde os preparativos, que já se iniciaram, até o pós-evento, temos a responsabilidade de liderar o debate internacional sobre o tema. Por uma heresia, só agora, sendo a floresta pauta global, os líderes vão vivenciar a vastidão da Amazônia e de todo o seu potencial. A COP30 reorganiza o modo de viver do paraense, já no clima do evento e na expectativa de receber de 40 a 50 mil visitantes. Estão sendo aportados investimentos na construção de novos espaços que possam abrigar os conferencistas e em melhorias em infraestrutura, segurança, transporte, que ficam como legado. Certamente que são fatos de suma importância.
O mais relevante, no entanto, é o quanto estamos maduros para ocupar o protagonismo mundial sobre o debate da sustentabilidade. Só para citar a questão energética, que anda par e par com a climática, o Brasil possui 87% de energia renovável, enquanto o mundo fica em 27%. Essa maior capacidade de produção de energia verde nos coloca como protagonistas no movimento de transição da energia fóssil para a limpa em nível global.
A Terra estará - como já está - de olhos vidrados na Amazônia. Vivemos o momento de nos questionarmos: por que a Amazônia se mantém como essa grande fonte de diversidade enquanto outros biomas do mundo sucumbem ou até mesmo acabaram? Qual a lógica que há no modelo da Amazônia? Certamente que a Amazônia tem problemas, mas se pensarmos na complexidade da floresta, o que ela tem a nos ensinar e que precisamos aprender, entender e traduzir?
A nós, brasileiros, sejamos ou não estudiosos da complexidade que é a sustentabilidade, cabe perceber e assumir em primeira pessoa essa vantagem competitiva, que é nossa, do nosso bioma. Compreender a Amazônia é processo que gera enorme aprendizado para a lógica do pensamento ecossistêmico, onde a relação com a natureza é intrínseca. É perceber que não podemos citar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU sem considerar as culturas do açaí e do cacau, que vão muito além da extração. Evidências de conhecimentos ancestrais, símbolos da dificuldade em integrar as dimensões ambiental e social.
São lições de um enorme potencial para inspirar práticas que incentivem a valorização da biodiversidade, a preservação de ecossistemas e o desenvolvimento de estratégias que respeitem e protejam a natureza enquanto atendem às necessidades humanas. Temos tudo para fazer a melhor COP que a terra já viu, assumindo lugar de destaque nas mesas internacionais. Ou alguém duvida da importância que é debater as mudanças climáticas na maior floresta tropical do planeta? Temos pessoas, biodiversidade, gente competente, que vive, pesquisa, descobre e apresenta internacionalmente o potencial e a inteligência intrínseca da floresta. A Amazônia nos coloca, mais uma vez, na marca do gol. E, mais uma vez, cabe a nós decidirmos o que fazer com a bola.