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Publicada em 14 de Janeiro de 2024 às 16:00

Mercado de capitais aposta em 2024 como o ano da virada

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Roberta Mello, especial para o JC*
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Após gratas surpresas em 2023, agora o mercado de capitais se prepara para um ano ainda mais promissor, com aumento nos investimentos e a bolsa finalmente retornando aos níveis pré-pandêmicos. Pela primeira vez desde 2020, o início de um novo ano marca também a renovação de um sentimento de otimismo e confiança no mercado, ancorado no panorama de recuperação econômica, redução da inflação e das taxas de juros, além da perspectiva de reformas e um cenário de estabilidade que devolve ao Brasil o protagonismo entre os países emergentes.
 

Recuperação da bolsa em 2023 aponta para um ano mais positivo

Inflação em quedam níveis recordes do superávit comercial e o PIB em expansão trazem de volta o otimismo

Inflação em quedam níveis recordes do superávit comercial e o PIB em expansão trazem de volta o otimismo

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O mercado financeiro começa o ano de 2024 otimista e entusiasmado com o cenário de retomada do crescimento, queda da inflação e dos juros e de reformas. O ano de 2023 foi positivo, com a bolsa retomando finalmente ao patamar pré-pandemia e crescimento no volume aportado por investidores - brasileiros e estrangeiros.
Com bons desempenhos das ações, o Ibovespa subiu 22,28% no acumulado dos 12 meses e alcançou o patamar recorde de 134 mil pontos. O índice referência do mercado acionário brasileiro obteve a maior alta anual desde 2019 - alcançando também o melhor desempenho mensal em três anos no mês de novembro, com ganho de 12,5%.
Em dezembro, o índice somou alta de mais de 5%, no oitavo mês de subida em 2023. Somente em fevereiro (-7,5%), março (-3%), agosto (-5,%) e outubro (-3%), o Ibovespa acumulou queda.
Os brasileiros aplicaram mais em 2023. Segundo os dados mais recentes da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), os investimentos feitos por pessoas físicas no País somaram R$ 5,5 trilhões no acumulado do ano de 2023 até setembro.
O valor representa um aumento de 9,7% em comparação com o fechamento do mesmo período ano anterior e engloba os segmentos varejo tradicional, varejo alta renda e private. Mais da metade dos investimentos dos brasileiros estava em títulos e valores mobiliários, que somaram R$ 2,8 trilhões. Impulsionado pelo varejo, tanto alta renda quanto tradicional, o instrumento avançou 18,2% nos nove primeiros meses do ano.
Os CDBs (Certificados de Depósitos Bancários) registraram alta de 15,1% em 2023, ante o fechamento do ano anterior, somando R$ 819,8 bilhões. O volume aplicado em produtos isentos de Imposto de Renda cresceu R$ 228 bilhões (28%), com destaque para as LCIs (Letras de Crédito Imobiliário), que tiveram aumento de 37,6%, totalizando R$ 297,5 bilhões.
A região com maior alta no volume de investimentos foi a Centro-Oeste, com crescimento de 12,4%. De acordo com a Anbima, o agronegócio foi o grande responsável pelo resultado, que acumulou R$ 289,5 bilhões. Já o Sul registrou o avanço mais tímido de 8,3%, somando R$ 930,6 bilhões. O Nordeste avançou 10,2%, totalizando R$ 476,3 bilhões, e o Sudeste, onde está a maior parte dos investidores brasileiros, somou R$ 3,7 trilhões em volume investido, alta de 9,7% em setembro na comparação com o fechamento de 2022.
O ano passado foi especialmente positivo para a renda fixa, diante dos juros ainda em patamares elevados, mas também representou a retomada dos investimentos em renda variável com a melhora generalizada das expectativas para o Brasil. A inflação em queda, os níveis recordes do superávit comercial e o PIB em expansão trazem de volta o otimismo ao mercado.
Para Denilson Alencastro, economista-chefe da Geral Asset, o Ibovespa deve continuar com desempenho positivo em 2024 devido à continuidade na redução das taxas de juros e de suas consequências para a atividade econômica no médio e no longo prazo. "No ano passado, tivemos uma grata surpresa com a economia. No início de 2023, esperava-se um governo intervencionista na economia e o mercado não estava satisfeito com essa possibilidade, mas a realidade se mostrou diferente", aponta Alencastro.
"Encerramos o ano com a economia crescendo quase 3%, em grande parte devido ao bom ano para o agronegócio, como era de se esperar, mas também graças ao setor de serviços. O consumo cresceu e o desemprego caiu", salienta Alencastro.
Além da aprovação do arcabouço fiscal, manutenção da meta de inflação em 3% e avanços na tão esperada reforma tributária, outro destaque do ano na análise do economista-chefe do Banco do Brasil, Marcelo Rebelo, foi o crescimento do PIB, que deve fechar o ano com expansão próxima a 3%, impulsionado pelo setor agropecuário.
Gustavo Bertotti, Head de Renda Variável da Messem Investimentos, projeta um ano com a retomada dos IPOs (Ofertas Públicas Iniciais de ações) e também a realização de follow-on (oferta subsequente de ações por empresas já listadas) com foco em investimentos nas empresas e não para o pagamento de dívidas. "Existe uma extensa fila de empresas interessadas em abrir capital, aguardando o momento adequado para o lançamento de suas ações na bolsa. Esperamos que o cenário se mostre propício para que as companhias cresçam de maneira mais sustentável", pontua.
 

Títulos com prazos mais longos tiveram as melhores rentabilidades em 2023

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Os papéis com prazos mais longos registraram as melhores performances entre os índices da Anbima. Veja o comportamento dos títulos de longo e curto prazo.
IDA-IPCA Infraestrutura
Entre os títulos corporativos, este título formado por debêntures indexadas ao IPCA e com benefício fiscal para os investidores, teve uma rentabilidade mensal de 2,45%, o que contribuiu para chegar aos 15,81% no acumulado do ano, o maior patamar da família IDA.
IDA-IPCA ex-Infraestrutura
Título que acompanha os papéis sem incentivo fiscal, avançou 2,32% em dezembro, mas ainda acumula perdas no ano (16,91%) devido à restrição ao crédito no início de 2023.
IMA Geral
Reflexo da carteira de títulos públicos marcados a mercado, ele teve um retorno acumulado de 14,80% no ano e de 1,63% considerando apenas dezembro.
IMA-B5
Título que engloba as NTN-Bs (títulos indexados à inflação) com vencimento acima de cinco anos, avançou 19,28% e 3,94%, respectivamente. Na outra ponta, o IMA-B-5, com NTN-Bs com prazo até cinco anos, avançou 12,13% e 1,46% nesses períodos.
IRF-M 1
Os prefixados com prazo acima de um ano registraram um ganho acumulado de 18,52% em 2023 e de 1,73% em dezembro.
Papéis de curto prazo
Os papéis de curto prazo apresentaram as piores performances mensais. As letras financeiras com duração de um dia (IMA-S) e os prefixados com prazo de até um ano (IRFM-1) tiveram retornos de 0,92% e 0,91%, respectivamente. No ano, 13,25% de crescimento para os dois índices. Já os papéis indexados à taxa diária DI (IDA-DI) valorizaram 0,98% no mês e 12,71% no ano.
Fonte: Anbima
 

Brasil deve aproveitar bom momento e assumir protagonismo na atração de capital entre emergentes

Bertotti destaca desafios decorrentes do cenário internacional complexo

Bertotti destaca desafios decorrentes do cenário internacional complexo

/Jenifer Abreu Messem/Divulgação/JC
O Brasil deve saber aproveitar os bons resultados e avançar na atração de investimentos estrangeiros ao longo de 2024, voltando ao patamar de destino estável e promissor. Para o head de Renda Variável da Messem Investimentos, Gustavo Bertotti, o protagonismo assumido pelo País entre as economias emergentes tem sido um fator crucial para o aumento nos aportes internacionais e o crescimento das empresas no Brasil.
O saldo de investimentos estrangeiros na B3 chegou a R$ 44,85 bilhões em 2023, sendo que somente em dezembro foi registrado saldo positivo de R$ 17,4 bilhões. Ou seja, este grupo alocou quase R$ 45 bilhões de capital a mais na bolsa do que resgatou ao longo do ano. O resultado positivo é o segundo maior da série histórica que se iniciou em 2004, atrás apenas de 2022.
Esse influxo significativo de capital estrangeiro é atribuído ao diferencial atrativo do Brasil e à solidez das empresas nacionais, fundamentadas em sólidos alicerces, o que continua a atrair investidores para diversas modalidades, tanto na renda fixa quanto na renda variável.
Enquanto outros países emergentes enfrentam momentos delicados, como Rússia e Argentina, o Brasil se destaca positivamente. Bertotti evidencia a atuação técnica e realista do Banco Central brasileiro como um fator crucial para a manutenção desse ambiente favorável.
"Mesmo com os desafios internos, estamos em uma posição mais sólida em comparação com os pares emergentes, que enfrentam um cenário de conflito ou instabilidade política. Esse panorama, aliado ao compromisso com a reforma tributária, contribui para reforçar a confiança dos investidores estrangeiros nas oportunidades oferecidas pelo mercado brasileiro", salienta. Segundo ele, o clima de tensão no Leste Europeu, gerado pela guerra na Ucrânia e no Oriente Médio, permeado por uma série de questões geopolíticas envolvendo países como Israel, Irã e Líbano, deve se manter ao longo do ano.
Para Bertotti, o Brasil enfrentou desafios significativos em um cenário internacional complexo, no qual a inflação global persistente e a política monetária contracionista na Europa e nos Estados Unidos, focada na redução da inflação, influenciaram diretamente a economia brasileira.
A postura do Banco Central agindo de maneira eficaz em resposta à inflação global, mantendo juros em patamares altos, enquanto outras economias demoraram a reagir, se mostrou acertada.
"Vemos a consolidação de uma rota de investimentos rumo ao País, tanto em renda fixa quanto em renda variável. A tendência é que o fluxo de entrada de aporte estrangeiro continue, salvo alguma questão doméstica que possa impactar esse cenário", projeta Bertotti.
 

Cenário de 2024 deve estar ancorado na melhora da conjuntura global e local

Para Alencastro, mercado de capitais tem de seguir atraindo investimentos

Para Alencastro, mercado de capitais tem de seguir atraindo investimentos

/Geral Asset/Divulgação/JC
O panorama nacional e global sugere uma perspectiva ainda mais favorável para 2024. O Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, traz perspectivas positivas para a economia brasileira, com projeções de inflação abaixo da meta, taxa básica de juros (Selic) chegando ao patamar de 9%, e um PIB que deve crescer 2,92% neste ano.
De acordo com economistas da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), a Selic deve chegar a 9,5% até o final de 2024. "O cenário externo e a desinflação da economia doméstica abrem espaço para o Banco Central manter o ritmo de redução nas próximas reuniões, mas esse quadro favorável não exime o monitoramento dos riscos, sobretudo os fiscais", afirma Fernando Honorato, coordenador do Grupo Consultivo Macroeconômico da Anbima.
Com relação à inflação, o grupo reduziu a estimativa para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) em 2023 de 4,6% para 4,5%, portanto, em um patamar inferior ao teto da meta de inflação estipulada para este ano (4,75%). Para 2024, a projeção passou de 3,8% para 3,9%.
Nos Estados Unidos, a desaceleração na margem da atividade e do mercado de trabalho indica o possível fim do ciclo de elevação dos juros, com discussões sobre cortes ainda no primeiro semestre de 2024. Na China, os indicadores econômicos positivos contribuem para um cenário otimista.
Denilson Alencastro, economista-chefe da Geral Asset, estima que a inflação permanecerá sob controle e o mercado de ações deve seguir atraindo investimentos. "As previsões iniciais de uma recessão iminente na economia norte-americana não se concretizaram, e o aumento nas taxas de juros gerou alguma turbulência, mas a estabilidade foi restaurada quando ficou evidente que não era necessário um aumento adicional".
Alencastro sugere que, ainda no primeiro trimestre de 2024, pode haver uma redução nas taxas de juros. O retorno natural dos investidores, especialmente quando as taxas de juros começam a cair, é um ponto importante de inflexão.
"Nos últimos três anos, assistimos à saída de um número grande de investidores pessoa física da bolsa. Porém, também devemos levar em conta que experimentamos um aumento muito significativo no número de CPFs na bolsa em anos anteriores, que nem sempre estão preparados para o retorno de médio e longo prazo exigido nessa modalidade. É natural que em momentos de queda eles se retirem".
Por outro lado, os investidores que se mantêm estão cada vez mais preparados e interessados em entender o comportamento da sua carteira. "A volatilidade é inevitável no mercado de ações e ganhos expressivos podem ser seguidos por períodos de queda. Preparação e resiliência diante dessas flutuações é fundamental", reitera Alencastro.
Para o especialista, o cenário durante e após a pandemia evidenciou a maturidade do investidor brasileiro. "Percebo uma mudança no perfil para um investidor com maior informação, que está explorando opções mais sofisticadas. Ele está ciente dos solavancos inevitáveis, especialmente em uma economia ainda se recuperando de uma pandemia", reflete.
Além disso, no ano passado, o fluxo de capital estrangeiro, especialmente em comparação com outros países emergentes enfrentando desafios mais complexos, contribuiu para o crescimento e a estabilização econômica do Brasil. A balança comercial robusta também desempenhou um papel crucial, trazendo dólares para o País.
A Santander Asset Management Brasil (SAM) também vê uma conjuntura favorável para os investimentos em 2024 do que no ano passado. No documento "Perspectiva Anual", que contém projeções macroeconômicas e para os mercados, a gestora de recursos do Santander mostra uma visão positiva para renda fixa, crédito privado, bolsa local, fundos de infraestrutura, multimercados, imobiliários e de investimentos no exterior.
"De forma geral, esperamos um cenário mais construtivo para 2024, tanto do lado global quanto do local. O processo de reequilíbrio macro deve continuar avançando, com crescimento moderado - sem recessão -, desaceleração da inflação, início do ciclo de corte dos juros nos países desenvolvidos e continuidade da queda da Selic no Brasil", aponta a SAM, que prevê a taxa básica de juros em 9,5% no fim de 2024, e 8,5% em 2025.
Com a expectativa de redução consistente da Selic, a gestora avalia os produtos de Crédito Privado e Infraestrutura como alternativa interessante para melhorar o retorno da parcela dos portfólios direcionada para risco mais baixo, com aderência ao CDI. "O cenário macro deve favorecer esse tipo de produto, já que a perspectiva de juros mais baixos e atividade em moderação, com baixo risco de recessão, contribui para melhorar a qualidade de crédito dos emissores", observa a Asset no relatório.
Segundo a gestora do Santander, o ciclo de corte de juros também deve favorecer a bolsa brasileira, impactando positivamente o lucro de algumas empresas, o que pode levar a uma migração de recursos da renda fixa para a renda variável. Já os níveis de preços estão em patamares atrativos, acrescenta a SAM, tanto em termos absolutos quanto na comparação com outros mercados internacionais.
Para a Santander Asset, a combinação de juros mais baixos e atividade em desaceleração moderada ainda favorece os Fundos de Investimento Imobiliários (FIIs), contribuindo para melhorar a qualidade de crédito dos emissores de títulos e dos inquilinos dos imóveis. "Ao mesmo tempo, a continuidade do ciclo de queda da Selic e o potencial recuo das curvas de juros tendem a favorecer a demanda por esses produtos", observa a gestora, que vê oportunidades tanto em fundos de papel quanto de tijolo.
Nos fundos multimercados, o ambiente econômico previsto para o próximo ano favorece a diversificação, afirma a SAM. "Para 2024, temos um ambiente construtivo para a economia global e local, porém, com fatores de risco ainda presentes, que podem gerar oscilações nos preços dos ativos. Este contexto sugere, a princípio, oportunidades para serem capturadas por este tipo de produto."
Por fim, a Santander Asset nota que a expectativa de início de corte de juros nos países desenvolvidos e reequilíbrio das principais economias é positiva para investimentos no exterior, em especial ativos de risco, seja títulos de renda fixa de prazos mais longos. Para a composição de uma carteira global, a SAM avalia que os preços atuais mostram uma atratividade maior para a renda fixa, enquanto o prêmio para as ações é menor.
 

Fundos de investimentos têm o desafio a vencer neste ano

A desaceleração no movimento de saída no segundo semestre de 2023 garantiu o fechamento com saldo negativo de R$ 5,6 bilhões, contra um saldo negativo de R$ 122,3 bilhões na primeira metade do ano

A desaceleração no movimento de saída no segundo semestre de 2023 garantiu o fechamento com saldo negativo de R$ 5,6 bilhões, contra um saldo negativo de R$ 122,3 bilhões na primeira metade do ano

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A indústria de fundos teve saídas líquidas de R$ 127,9 bilhões em 2023, de acordo com a Anbima. Pelo segundo ano consecutivo, o setor teve mais resgates do que aportes no acumulado ao longo de 12 meses.
Denilson Alencastro, economista-chefe da Geral Asset, ressalta que o primeiro semestre de 2023 foi mais desafiador, mas houve uma reversão nos meses seguintes. "O desafio é manter essa dinâmica durante 2024", indica.
A desaceleração no movimento de saída no segundo semestre de 2023 garantiu o fechamento com saldo negativo de R$ 5,6 bilhões contra um saldo negativo de R$ 122,3 bilhões na primeira metade do ano.
Segundo a associação, entre dezembro de 2022 e novembro de 2023, os investimentos em títulos de renda fixa sem incidência de imposto sobre o rendimento somaram R$ 283,9 bilhões. O destaque foram as LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio), com R$ 106,6 bilhões, e as LCIs (Letras de Crédito Imobiliário), com R$ 100,9 bilhões.
"No segundo semestre, vimos os efeitos positivos da política monetária doméstica no desempenho dos ativos, com a desaceleração da inflação. A partir de outubro, também houve uma melhora gradual do cenário externo. A Selic continua em dois dígitos, então os títulos isentos permanecem atraentes, mas agora há maior previsibilidade no mercado e menor aversão ao risco", pontua Pedro Rudge, vice-presidente da Anbima.
Mesmo assim, Alencastro lembra que o investimento em fundos é interessante para a garantia de uma carteira diversificada. "Uma dica é ficar atento aos fundos multimercado, fundos de ações e fundos de investimento com referência no exterior, que ainda são pouco conhecidos, mas podem trazer relevante retorno", indica.
Prova disso é que, apesar de registrar captação líquida negativa no ano, a indústria de fundos cresceu. O patrimônio líquido avançou 11,5% em 12 meses e chegou a R$ 8,3 trilhões em dezembro, enquanto o número de fundos ultrapassou a marca de 30 mil em 2023. Em relação ao número de contas que investem em fundos, houve crescimento de 6,3% entre janeiro e novembro, chegando a 37,4 milhões. O destaque são os fundos estruturados, que, sozinhos, são responsáveis pelo aumento de 2,2 milhões de contas.
Os fundos estruturados também se sobressaíram na captação líquida. Os FIPs (Fundos de Investimento em Participações) lideram a lista com saldo positivo de R$ 42,1 bilhões em 2023. Somente em abril, dois novos FIPs foram iniciados e resultaram na entrada líquida de R$ 26,6 bilhões na classe. Já os FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios) registraram captação líquida de R$ 24,1 bilhões no ano. Outra classe que teve entradas líquidas no período foi a previdência, com R$ 19,3 bilhões.
Por outro lado, os multimercados apresentaram o pior resultado da série histórica e acumularam saídas líquidas de R$ 134,3 bilhões. As carteiras que investem no exterior (tipo multimercados investimento no exterior) foram as mais impactadas e ficaram
R$ 49,6 bilhões no vermelho. Houve aceleração dos resgates nos multimercados no último trimestre, em que a classe ficou com saldo negativo de R$ 80,4 bilhões.
Os fundos de renda fixa e os fundos de ações também fecharam o ano no vermelho, com resgates líquidos de R$ 59,8 bilhões e de R$ 17 bilhões respectivamente. Em seguida, aparecem os fundos cambiais, com R$ 1,9 bilhão, e os ETFs (Exchange Traded Funds), com R$ 318,6 milhões.
Em relação à rentabilidade dos tipos com os maiores patrimônios líquidos, as carteiras de ações sem compromisso de concentração em uma única estratégia (tipo ações livre) superaram o Ibovespa e avançaram 23,7% em 12 meses. Já as carteiras de títulos de renda fixa de curto prazo e que investem, no mínimo, 80% em títulos públicos federais (tipo renda fixa duração baixa grau de investimento) valorizaram 12,8% no período. No caso dos multimercados, as carteiras que investem no exterior rentabilizaram 9,14% no ano.
 

 *Roberta Mello é formada em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica (Pucrs). Atuou como repórter de Economia no Jornal do Comércio de 2013 a 2021, onde conquistou os prêmios B3 de Jornalismo - Categoria Demais Regiões (edição 2018) e Transparência de Jornalismo (2017). Hoje, atua como assessora de imprensa e repórter freelancer.

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