{{channel}}
Setor de floricultura semeia expansão no Brasil e no RS
Flores e plantas ornamentais ganharam espaço na vida e na casa das pessoas durante a pandemia de coronavírus como forma de encontrar aconchego e bem-estar no período de maior isolamento social

As flores e plantas ornamentais ganharam espaço na vida e na casa das pessoas durante a pandemia de coronavírus como forma de encontrar aconchego e bem-estar no período de maior isolamento social, uma tendência que veio para ficar. Termos como urban jungle (floresta urbana), que tem mais de 9,2 milhões de referências no Instagram, e espécies como as begônias maculatas, jiboias, costela-de-adão e peperômia tornaram-se populares nas redes sociais e nas conversas.
O relatório Pinterest Predicts de 2022 apontava que os millennials - geração nascida entre 1981 e 2000 - depois de lotar suas residências com vasos de plantas, iriam agora transformar os ambientes, trazendo ainda mais o verde para suas rotinas. A busca na plataforma por assuntos ligados à arquitetura biofílica (que integra o interior e o exterior das moradias e aumenta a presença da natureza através do uso de diversos elementos, materiais e espécies) teve um incremento de mais de 150% entre 2021 e o ano passado e a jardins em escadas de mais de 175%.
Esse maior interesse da população impactou o setor de floricultura nacional, que registrou um crescimento de 45% entre 2017 e 2022, conforme dados do Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor), e a perspectiva para 2023 é de uma elevação de 8% a 10% nas vendas. No ano passado, o valor da produção representou R$ 4,4 bilhões. As informações foram apresentadas no seminário Tendências de Consumo, organizado pelo Ibraflor e realizado em Holambra (SP), no final de agosto. Um dos pontos destacados no evento é que as flores deixaram de ser vistas como um presente e passaram a ser algo do dia a dia. A maior procura por plantas ornamentais desde a Covid-19 e a profissionalização e o investimento em tecnologia, logística e comercialização online foram outros fatores ressaltados na atividade.
No Rio Grande do Sul, o cenário não foi diferente. Após os primeiros meses de 2020, quando houve uma queda nas vendas e muito prejuízo, principalmente na área de flores de corte (devido ao cancelamento dos eventos, que demandam muito essas espécies para a decoração, como rosas, crisântemos, copo-de-leite, entre outras), e a migração de produtores para outros cultivos de hortifrutigranjeiros, o setor teve um grande aumento, recorda o presidente da Associação Riograndense de Floricultura (Aflori) e vice-presidente do Ibraflor, Walter Winge.
Entre maio de 2020 e final de 2021, o mercado esteve bem aquecido. "As vendas por Whatsapp também aumentaram demais. As pessoas se acostumaram a fazer as compras dessa forma, é outro comportamento da pandemia que veio para ficar", detalha. Já no período entre 2022 e o primeiro semestre deste ano, o mercado voltou aos patamares anteriores ao coronavírus, com exceção do de flores de corte que teve uma retomada ano passado, quando os casamentos, festas e encontros corporativos foram liberados.
O presidente da Aflori reforça que o segmento tem muito a crescer. "As pessoas se deram conta da beleza e do efeito que uma planta traz para uma casa, é uma tendência no mundo todo", enfatiza. No Rio Grande do Sul, Winge relata que a produção está se expandindo para várias regiões, além dos polos tradicionais como, por exemplo, o de Pareci Novo, de Pelotas, Santa Maria, Passo Fundo e Ivoti. Bastante variado, o Estado destaca-se no cultivo de plantas ornamentais e em vasos. "Um diferencial do Rio Grande do Sul é a produção de flores de forração, que é muito forte. Essas são as espécies utilizadas em canteiros, praças e jardins, como amor-perfeito, tagete e sálvia", explica.
Como cerca de 70% das plantas consumidas pelos gaúchos vêm de outras regiões do País (como begônias, orquídeas e violetas), principalmente de Holambra (SP), há muito espaço para o desenvolvimento dessa área no Estado, especialmente no cultivo local de espécies. "O projeto Flores para Todos, da Emater em parceria com a Universidade de Santa Maria, incentiva esse tipo de plantio, com a produção mais próxima do consumidor. Há uma série de vantagens nisso, como oferecer um item mais fresco e com maior durabilidade para os clientes", descreve Winge.
O presidente da Aflori, entidade que reúne mais de 80 associados entre produtores, atacadistas, lojistas e de outros setores abrangidos pela cadeia, acrescenta que o Rio Grande do Sul teve ainda um incremento, nos últimos anos, nas vendas para os mercados de Santa Catarina, Paraná e São Paulo de plugs, que são pequenas mudas recém germinadas ou enraizadas comercializadas em bandejas descartáveis. Essas mudas são compradas por produtores que vão cultivá-las em vasos. "É um novo nicho para crescer que consegue vencer a questão do custo do frete, como os plugs não ocupam tanto volume como as plantas podem ser até despachados de ônibus para o Interior e outros locais", afirma. Winge complementa que outro setor da floricultura que apresentou elevação na pandemia e que se mantém foi o de chás e temperos.
Desafios para o crescimento do mercado no RS
Uma das tendências para expandir o cultivo de flores e plantas no Estado é a migração para o plantio protegido, em estufas, e em bancadas suspensas do solo, que facilitam o trabalho, adianta o coordenador estadual de Olericultura da Emater-RS, Gervásio Paulus. Essa forma de produção ajudaria também a enfrentar uma das limitações para a ampliação da floricultura gaúcha: o clima. O planejamento e a gestão de custos são outros desafios para o segmento. "Se eu quero vender flores em datas especiais como o Dia das Mães, dos Namorados ou na Páscoa, é preciso plantar com antecedência, no mínimo, seis meses antes", projeta.
A dependência da importação de sementes de outros países, especialmente da Holanda, e a logística da distribuição também são citados por Paulus. "Não há no Rio Grande do Sul uma central de comercialização em grande escala, como em Holambra (SP), o que reduz o custo do frete", assinala. O presidente da Associação Riograndense de Floricultura (Aflori) e vice-presidente do Ibraflor, Walter Winge, salienta que a dispersão do cultivo e as vendas individualizadas são um dos problemas a serem resolvidos pelo setor no Estado. "O produtor tem que plantar, ir atrás de consumidores e até fazer as entregas, isso toma muito tempo dele", observa. Por outro lado, Winge frisa que a tecnologia está sendo cada vez mais utilizada, com o emprego de telados e coberturas plásticas nas estruturas de cultivo.
O plantio dessas espécies é feito, em sua maioria, por pequenos e médios produtores, grande parte deles agricultores familiares, segundo Paulus. A floricultura é uma atividade que demanda pouca terra e mão de obra intensiva, uma média de quatro a cinco pessoas por hectare, e que tem uma participação feminina significativa. No País, o segmento gera 200 mil empregos diretos, sendo 50% deles na área da produção. Dessas 100 mil vagas de trabalho, 48% são ocupadas por mulheres, de acordo com estudo efetuado pelo Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor) em parceria com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Ceapa) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (USP).
Além das vendas realizadas pelos próprios agricultores, a maior parte da produção no Estado é destinada para as floriculturas e uma parcela para a Ceasa/RS. "Tenho notado que pequenas agropecuárias estão comercializando mais flores e plantas", aponta o coordenador estadual de Olericultura da Emater. Para Paulus, o Estado tem um bom potencial para o mercado de floricultura crescer, principalmente próximo de grandes centros consumidores como Porto Alegre e Caxias do Sul, exemplifica.
O presidente da Aflori, que é a quarta geração na gestão da Floricultura Winge, aberta há mais de 135 anos na zona Sul de Porto Alegre, agrega que o negócio familiar também registrou uma maior procura por diferentes espécies entre 2020 e 2021, com um crescimento na faixa de 30% em volume de vendas e de clientes. Em 2022, o mercado recuou para o patamar pré-coronavírus. Uma das mudanças sentidas com a Covid-19 foi o aumento das vendas pela internet. Atualmente, todos os vendedores da Winge possuem um celular da empresa para atender aos pedidos de orçamento que chegam pelo Whatsapp.
LEIA AINDA: Milho ultrapassa 55% da área prevista no Estado
Programa Flores para Todos incentiva agricultores familiares a empreenderem
A floricultura vem se tornando uma alternativa de geração de renda para pequenos produtores rurais do Rio Grande do Sul, de Brasília e de outros 15 estados do País através do projeto Flores para Todos, idealizado em 2017 a partir de uma iniciativa da Emater Regional de Santa Maria (RS). Desde que a primeira fase da ação foi implementada, em 2018, até junho deste ano - quando teve início a sua 11ª etapa - mais de 150 famílias de agricultores foram atendidas no território gaúcho e passaram por um processo de qualificação e profissionalização para terem o conhecimento e as ferramentas necessárias para empreender nesse setor.
Do Norte ao Sul do Brasil, plantações de gladíolo (também conhecida como palma de Santa Rita), girassol de corte, dália, statice (sempre-viva) e de ornithogalum ganham espaço nas terras de pequenos produtores. "O Flores para Todos trabalha com espécies que se adaptam ao cultivo ao céu aberto em qualquer região da nação", detalha o professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e coordenador nacional do programa, Nereu Augusto Streck. Nesses seis anos já foram alcançadas 313 famílias rurais e 53 escolas do campo - públicos-alvo da medida - de diferentes cidades do País.
Desenvolvida sempre em parceria pela Emater e por equipes PhenoGlad, o projeto ensina os produtores agrícolas a plantarem flores de maneira sustentável tanto do ponto de vista econômico como social e ambiental. "Em três meses, a iniciativa já entrega resultados e os participantes estão aptos para seguirem empreendendo", descreve Streck. O acompanhamento dessas famílias e instituições de ensino é feito diariamente, do cultivo à colheita, por meio de visitas técnicas e também de grupos no WhastApp que são criados entre os integrantes de cada localidade.
A UFSM é uma das equipes PhenoGlad existentes no Brasil - times que são compostos por extensionistas, professores, pesquisadores, consultores e alunos de diversas universidades públicas e privadas de vários estados da nação. "São grupos multidisciplinares e multi-institucionais que realizam estudos, extensão e inovação no campo da floricultura com o objetivo de proporcionar renda nas propriedades rurais através das flores e assim contribuir para a sucessão familiar no campo", explica Streck. As pesquisas efetuadas pelas equipes abrangem temas demandados pelos produtores envolvidos na ação e são concretizadas em rede para solucionar mais rapidamente os problemas urgentes enfrentados pelos agricultores.
No encerramento de cada ciclo com as famílias rurais é promovida uma reunião para a apresentação dos resultados obtidos e ocorrem os Dias de Campo, com atividades como estações técnicas sobre práticas de manejo para a produção das espécies, do plantio ao pós-colheita. Além disso, acontecem oficinas de arte floral (com dicas para montagem de arranjos) para agregar valor aos produtos disponibilizados no mercado e conquistar novos clientes. "O projeto também está nas escolas do campo, onde tem como meta auxiliar na formação de futuros cidadãos no empreendedorismo com flores", complementa o coordenador do programa.
O interesse pela floricultura teve um incremento durante a pandemia de coronavírus, avalia Streck, quando as pessoas procuraram mais por plantas para suas casas como uma forma de compensar o isolamento vivido naquele momento. O mesmo foi observado com o Flores para Todos, que foi mantido durante as restrições da Covid-19 com a ajuda da tecnologia, que possibilitou o acompanhamento remoto do cultivo. No final de dezembro de 2022, a 10ª etapa da iniciativa foi encerrada com a participação de 70 famílias rurais e 17 instituições de ensino de 80 municípios de oito estados, em uma expansão significativa da ação, que terminou o ano passado somando 269 famílias de agricultores e 45 escolas beneficiadas.
E a tendência é de crescimento no número de integrantes atendidos, conforme o professor, que adianta ainda que já foram realizados cinco Dias do Campo no primeiro semestre de 2023 e que outros 10 estão programados para ocorrerem entre julho e dezembro somente no Rio Grande do Sul.
Dezoito anos de negócios na Ceasa/RS
"Esse ano a comercialização ainda está fraca. Mas, a expectativa é que até dezembro aumente a procura", projeta a produtora de plantas ornamentais e permissionária da Central de Flores da Ceasa/RS, Beatriz Lemos. Ela ressalta que de janeiro a maio de 2023 houve uma redução de cerca de 30% nas compras feitas em seu espaço em relação ao mesmo período do ano passado. "E isso contabilizando o Dia das Mães (importante data para quem atua nesse segmento), que não teve um resultado muito bom", relata.
Apesar desse panorama, Beatriz comenta que em setembro, quando as pessoas começam a arrumar os seus jardins para a primavera, já houve uma movimentação maior e um incremento nos pedidos de orçamento e que a tendência é de aquecimento das vendas até o fim do ano. Ela aponta que a realização da Expointer, entre 26 de agosto e 3 de setembro, e da Casa Cor RS 2023, de 25 de agosto a 22 de outubro, também ajudam a elevar a demanda por plantas e flores.
Uma das mais antigas comerciantes do setor de floricultura, são 18 anos completados neste 2023, Beatriz conhece bem o funcionamento da Ceasa/RS e já trabalhava no local, que fica em Porto Alegre, antes da criação da Central de Flores, em 2006, e que hoje reúne 20 lojistas e oito produtores. Durante a pandemia de coronavírus, ela acompanhou as mudanças desencadeadas no comportamento dos consumidores e os reflexos disso na comercialização. "Lá por março de 2020, todos ficaram apavorados e os clientes sumiram. Paramos por uma semana, mas como estamos junto com a central de abastecimento de alimentos, que é um serviço essencial, voltamos em seguida", recorda.
Depois do baque inicial com a Covid-19 e com o isolamento social, houve uma modificação no perfil dos compradores, que passaram a fazer pedidos pela Internet para receber as flores em casa, observa Beatriz. Com grande parte da população ficando mais tempo em suas residências, muitos moradores deram mais atenção a seus ambientes e sentiram necessidade de ter mais contato com o verde, o que levou a uma busca maior por plantas e flores. "O Dia das Mães de 2020 foi um sucesso e depois as vendas permaneceram boas até 2022", lembra a produtora.
LEIA AINDA: Agenda sustentável para ganhar o mercado global
As pessoas continuam cultivando e procurando novas espécies, porém não na mesma intensidade registrada durante a pandemia. "O mercado segue produzindo plantas diferentes, como as begônias, os filodendros, as marantas e a ficus elástica, para despertar o interesse dos clientes", afirma. Em seu box, a permissionária vende, principalmente, moreias (que são plantas com valores mais acessíveis, duráveis e que dão volume), kalanchoe (conhecida como flor da fortuna) e crisântemos.
O gasto médio do público de Beatriz, que é composto na maioria por paisagistas, lojistas, jardineiros e consumidores finais, é de R$ 200,00. Além das plantas e flores, eles procuram ainda acessórios, como vasos, composto orgânico, cascas e pedras. Anualmente, ela calcula que são comprados de 3 mil a 4 mil potes de diversas espécies. Nos dias de maior movimentação, chegam a circular pela central cerca de 45 mil pessoas de várias regiões do Estado. Ao todo, são 1.553 produtores e 295 empresas presentes na companhia, que é vinculada à secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação do Rio Grande do Sul.
We love plants quer ampliar entregas com bicicleta na Capital
Foi em plena pandemia de coronavírus e dentro de um apartamento no bairro Bom Fim, na capital gaúcha, que a florista e consultora Aline Rübenich criou a We love plants, em março de 2021, para comercializar buquês, assinaturas de flores e cestas de presentes. Para se manter na cidade com a filha Nina, de 9 anos, e começar o negócio, ela vendeu o carro e comprou uma bicicleta Monark Ipanema dos anos 1970, que foi reformada e batizada de Florinda, com a qual circulava pelas ruas centrais do município. Agora, a meta é contratar outras mulheres e levar mais bicicletas para variados pontos de Porto Alegre, expandindo o empreendimento.
Pedalar foi a maneira que Aline encontrou para chamar a atenção para os seus produtos e também para transportar os buquês que ela elabora de uma forma mais sustentável. Seus primeiros roteiros abrangiam o Brique da Redenção e a Praça da Encol, onde estacionava a Florinda e fazia contato direto com o público, depois vieram as participações em feiras. "Precisava causar de algum jeito e ser notada e foi assim que tive a ideia da bicicleta, que já era algo que eu amava por causa da sensação de liberdade e bem-estar que ela dá", ressalta.
A decisão de se mudar de Dois Irmãos, onde nasceu, para a Capital foi desencadeada pela Covid-19. Aline cresceu cercada pelas flores, a avó possui um sítio onde a florista passou a infância e o pai, que já atuava na área desde 1986, teve uma distribuidora de flores e plantas de 2006 até 2020 na cidade da Região Metropolitana de Porto Alegre. "Comecei a trabalhar com ele em 2009, depois de um intercâmbio. O foco da empresa eram os eventos e com a pandemia parou tudo e o negócio foi fechado", recorda. Os pais de Aline seguem plantando os chamados verdes, que compõem os arranjos florais, como vime, aspargos e tuia, em um terreno de cerca de dois hectares.
A experiência com floricultura, os cursos, as viagens e o conhecimento adquirido observando o que suas consumidoras queriam levaram a florista a procurar algo diferenciado para oferecer nesse segmento e a perceber que não havia na capital uma cultura de assinatura de flores, algo que ela viu em São Paulo (SP) e no exterior. "Enxerguei a possibilidade de entregar buquês prontos e diversificados na casa das pessoas", assinala.
LEIA TAMBÉM: Estudantes de Passo Fundo desenvolvem projeto que melhora qualidade do ar em centros urbanos
Em 2022, a We love plants contava com 150 clientes no serviço de assinaturas, atualmente esse número é de 40. A explicação para a queda, segundo Aline, está ligada ao comportamento dos indivíduos durante a Covid-19, quando a maioria ficou mais tempo em suas moradias e estava preocupada com o seu bem-estar, saúde mental e cuidados com o lar. "No momento, sinto que as pessoas estão se desconectando de novo (da casa) e voltando ao ritmo anterior. Mas, a gente aprendeu na pandemia a importância do verde e não podemos esquecer disso", analisa. Mesmo assim, ela é otimista com relação ao setor e quer chegar, nos próximos três anos, a 5,5 mil clientes fixos, entre os assinantes de flores e os compradores de arranjos florais.
São três opções de planos: mensal (envio de um buquê por mês), quinzenal (dois arranjos ao mês) e semanal (quatro vezes no mês), as entregas são feitas por aplicativos de transporte. O valor da assinatura semanal parte de R$ 415,00. Já os buquês variam de R$ 62,00 (de flores secas) e de R$ 134,00 até R$ 1 mil (com espécies naturais) - os preços mudam de acordo com o tipo de flores e a quantidade. No ano passado, Aline vendeu mais de 3 mil arranjos, sendo os mais coloridos os que têm maior saída. "Estou sempre mudando as espécies que uso e dou preferência para as da época, que duram mais", acrescenta. Para 2023, ela estima um aumento nas vendas de 20%.
Um dos principais desafios para crescer e implementar novos projetos, afirma a florista, é encontrar pessoas capacitadas que queiram atuar na área.
Plantas em casa: uma tendência nada passageira
Abrir lugar para o verde em suas residências foi a maneira que muitas pessoas encontraram durante a Covid-19 para deixar seus ambientes mais acolhedores no momento de maior isolamento. Foi o que aconteceu com a arquiteta Gisele Magalhães, que sempre gostou de plantas, mas até aquele início de 2020 achava que era algo que funcionava para os outros e não para ela. Isso começou a mudar naquele mesmo ano quando abriu seu próprio escritório e passou a trabalhar mais em home office.
Essa nova etapa profissional depois de 20 anos de experiência na área, despertou em Gisele a vontade de ter o verde por perto, tanto no escritório de sua moradia em Viamão como na sede da sua empresa em Porto Alegre. "Passando mais tempo em casa, veio a necessidade de trazer mais aconchego para os espaços e criar aquela sensação de lar, e as plantas ajudaram nisso", recorda. De uma Espada de São Jorge, uma Árvore da Felicidade e uma flor que estava sempre presente em sua mesa de trabalho, a arquiteta tem atualmente em torno de 40 vasos espalhados pela sala, quartos, banheiro, cozinha e varanda, além de outros 20 no seu escritório.
Em uma viagem para Garopaba (SC), já em 2022, Gisele viu um Bambu da Sorte em uma floricultura e veio com ele em seu colo durante as cerca de cinco horas de viagem de carro até a capital gaúcha. "Hoje, onde eu vou trago uma planta. Foi algo que começou na pandemia e virou um hobby", revela. Essa aproximação com o verde também foi percebida pela arquiteta em seus clientes, que demandaram mais orientações de como acrescentar flores e plantas nos projetos. "Surgiram mais dúvidas de como compor os ambientes com algum elemento natural, que vasos utilizar, quais as espécies que se adaptavam com sol direto e na sombra e ainda sobre o uso de plantas permanentes (artificiais)", descreve. No momento, avalia Gisele, são muito poucos os trabalhos que ela desenvolve que não possuem verde em sua idealização.
LEIA TAMBÉM: Rio Grande vai custear 25 projetos da área ambiental
Ivoti, a Cidade das Flores, está em retomada
Conhecida como a Cidade das Flores, Ivoti está passando nesse pós-pandemia por uma fase de recuperação do segmento de flores e plantas ornamentais. O município da região Metropolitana de Porto Alegre, junto com outros do entorno - como Dois Irmãos, Estância Velha e Picada Café -, já chegou a ter aproximadamente 30 produtores no campo da floricultura. Hoje, esse número é de cerca de 20, sendo 12 deles em Ivoti, informa o engenheiro agrônomo Laerte Correa Silva, que atuou como técnico da Emater nessa área por 41 anos.
A maioria desses empreendedores, incluindo Silva, que desde 2015 dedica-se mais ao cultivo de cactos, suculentas e flores de corte, como a statice (sempre-viva), são pequenos produtores que desenvolvem o seu trabalho em terrenos de até 1 mil metros quadrados. Ele comenta que, durante as restrições da Covid-19, o maior impacto no cultivo e vendas na cidade foi sentido pelos produtores de flores de corte, com muitos deles voltando-se para outras atividades.
Por outro lado, o setor de hortaliças e o de paisagismo registrou um aumento na demanda, principalmente, por causa do maior tempo que as pessoas ficaram em suas casas e de muita delas começarem a se preocupar mais com seus jardins, com ter uma horta ou mais verde nos ambientes, avalia Silva. Neste ano, a comercialização das flores e plantas para o cliente final começou a crescer, aponta o engenheiro. "No momento, estamos vendendo de 10% a 20% a mais nas feiras de Ivoti, dependendo do dia. Essa é uma realidade bem local", ressalta.
Para Silva, há espaço para o setor se expandir no município e existem projetos da prefeitura em andamento para dar mais incentivo aos produtores e para melhorar o paisagismo da cidade e, com isso, atrair mais turistas e movimentar a economia de Ivoti e a comercialização de flores e plantas. "O cenário é muito bom para a floricultura em função dessas iniciativas e dos eventos que são realizados pelo governo local, como a Feira do Mel (que em 2022 teve um público recorde de 60 mil visitantes) e a Festa das Flores, que acontece no final de outubro", argumenta o ex-técnico da Emater.
As feiras do município são os principais pontos de vendas dos pequenos produtores da região, especialmente os de cactos e suculentas, como o engenheiro. Anualmente, Silva comercializa nesses eventos e na Expointer, em média, cinco mil vasos dessas espécies, que são cultivadas em uma estufa de 200 metros quadrados em sua propriedade em Ivoti. Em torno de seis a sete empreendedores da cidade investem no cultivo de cactos e suculentas por motivos como a pouca área que eles ocupam, a boa variedade existente e por serem plantas que os consumidores adquirem bastante porque dão pouca manutenção, explica ele. "Além disso, essas espécies têm um ciclo de desenvolvimento relativamente rápido e a perda é mínima. Se elas não são vendidas no dia, ficam crescendo e podem ser comercializadas daqui um ou dois meses. Diferente das flores de corte", detalha.
Há também em Ivoti produtores de plantas ornamentais para paisagismo, de orquídeas e de espécies utilizadas na decoração de buquês de flores. "Vejo que nós estamos (empreendedores) nos recuperando da pandemia e temos muito a crescer, mas precisamos nos diversificar e qualificar mais", salienta Silva.
LEIA TAMBÉM: Alta no consumo de plantas gera faturamento recorde
Venda de insumos agrícolas da empresa Vida volta aos patamares pré-pandemia
O aumento no interesse pelo universo da floricultura no período da Covid-19 teve reflexo também no segmento de insumos agrícolas. A Vida Produtos e Serviços em Desenvolvimento Ecológico, companhia fundada pelo agrônomo e ambientalista José Lutzenberger há 35 anos e que transforma resíduos industriais em substrato para plantas, fertilizante orgânico composto e corretivos de acidez de solo, registrou um incremento de 15% a 20% nas vendas de 2021 em relação a 2020. A partir do ano passado, com o retorno gradual das atividades e agora no pós-pandemia, a empresa voltou aos patamares de 2019. O faturamento da Vida em 2022 foi de R$ 50 milhões, uma elevação de 30% nos últimos cinco anos.
"A Covid-19 foi primeiro um choque e achamos que a comercialização ia cair. Mas, o mercado nos deu uma surpresa e tivemos uma demanda maior vinda de vários lugares", assinala Alejandro Chavannes, da área comercial da companhia. Com mais pessoas trabalhando em casa, surgiu o interesse de muitas delas - inclusive naquelas que nunca tiveram um vaso de flor - em cuidar de plantas ou cultivar uma horta no espaço que tinham disponíveis, o que levou a esse crescimento das vendas do substrato e dos produtos a granel, ressalta Luiz Francisco Polipo, também do setor comercial da Vida.
"Nosso mercado é muito regular, com clientes de longa data. Nosso serviço exige uma regularidade de entrada e de saída do material - esse ciclo precisa ser perfeito", detalha Chavannes. No entanto, ele aponta que uma das mudanças da pandemia que permanece é uma procura maior pelos insumos no litoral gaúcho, local escolhido por diversas famílias para ficar durante a Covid-19 e que virou residência fixa para muitas delas.
Todos os meses, a Vida recebe entre 45 a 50 mil toneladas de resíduos da fábrica de celulose da chilena CMPC, que fica em Guaíba, que resultam em torno de 15 a 20 mil toneladas de produtos. Essa redução, explica Chavannes, ocorre porque após a reciclagem da matéria orgânica, da compostagem, há uma diminuição no seu volume. A empresa, que tem aproximadamente 120 funcionários, está instalada há cerca de 20 anos em Eldorado do Sul, em um terreno de 50 hectares onde ela transforma todo o material que vem da parceria com a CMPC.
Com o projeto de ampliação e modernização da planta da fábrica de celulose, chamado de BioCMPC e que deve aumentar em 18% a capacidade de produção da unidade, a Vida está se readequando à nova fase e conta com mais uma área de 25 hectares para a realização de seus processos. Atualmente, a companhia criada por Lutzenberger dá uma nova destinação a 95% de todo o resíduo gerado pela CMPC. Os materiais orgânicos, como as cascas de eucalipto e o lodo da estação de tratamento de efluentes industriais, viram substrato (Humosolo, nome comercial) e fertilizante orgânico (Humoativo) - grande parte do paisagismo de Porto Alegre e da Região Metropolitana é feito com esse produto. Já os resíduos minerais tornam-se corretivos de acidez para ajustar o pH do solo (Cinza Calcítica e Macro-Cálcio).
Esses itens são vendidos embalados e podem ser encontrados tanto em agropecuárias, floriculturas e em alguns supermercados como a granel, comercializados diretamente na Vida. O Humosolo é composto por 50% de cascas de eucalipto e 50% do lodo e pode ser adquirido em pacotes de 25kg, 15kg, 5 kg e 2 kg e o Macro-Cálcio é vendido em sacos de 25 kg, por exemplo. Conforme Chavannes, 90% dos insumos são comprados a granel - a empresa possui hoje entre 1,2 mil e 1,3 mil clientes fixos nesse segmento - e 10% embalados.
O público-alvo são paisagistas, produtores rurais, condomínios, arquitetos e consumidores em geral que têm plantas em suas moradias e o destino principal é o Rio Grande do Sul. "Mas, temos clientes em Santa Catarina e no Paraná também", acrescenta Polipo. Respeitar o tempo da natureza para transformar a matéria orgânica é, de acordo com Chavannes, o segredo da atividade desenvolvida pela Vida. A companhia tem no momento 15 tanques para receber o lodo da CMPC, que primeiro vai para a compostagem, onde fica por volta de seis meses, depois segue para o leito de secagem, permanecendo ali por dois meses, após vai para a secagem ao sol e para a peneira. Com a conclusão dessas etapas, o produto pode ser comercializado.
Essa visão de trabalho, assim como o entendimento sobre a importância de reaproveitamento dos resíduos industriais e de incentivar a economia circular, fechando todos os ciclos das cadeias produtivas, são legados que o ambientalista Lutzenberg deixou e que estão presentes na Vida desde a sua fundação. Além da fábrica no Rio Grande do Sul, a empresa possui unidades na Bahia, Mato Grosso do Sul e Maranhão, que juntas reciclam 75 mil toneladas de resíduos ao mês.
* Tatiana Gappmayer é jornalista formada pela Pucrs, tem especialização em Jornalismo Digital também pela Pucrs, atua com produção de conteúdo on e offline e é criadora do @pelacidadebaixa.