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Reportagem especial

- Publicada em 13 de Agosto de 2023 às 19:07

Comércio de Pelotas luta para se reerguer

Prejuízos econômicos consequentes da pandemia da Covid-19 ainda pesam nas contas

Prejuízos econômicos consequentes da pandemia da Covid-19 ainda pesam nas contas


/Álvaro Guimarães/especial/JC
Álvaro Guimarães, especial para o JC*
Álvaro Guimarães, especial para o JC*
Ainda combalido após a pandemia de Covid-19, que atingiu em cheio o setor, derrubando as vendas, ruindo faturamentos e extinguindo postos de trabalho, o varejo pelotense busca alternativas para se restabelecer e tornar a impulsionar o desenvolvimento da maior cidade do Sul do Estado.

 

Comerciantes pelotenses como os que atuam no Mercado Público almejam um novo momento, que os distancie da crise gerada pela pandemia, cujos impactos ainda são sentidos em todos os segmentos

Comerciantes pelotenses como os que atuam no Mercado Público almejam um novo momento, que os distancie da crise gerada pela pandemia, cujos impactos ainda são sentidos em todos os segmentos


/Gustavo Mansur/divulgação/jc
Na cozinha da pequena casa na avenida Brasil, no bairro Simões Lopes, na zona Sul de Pelotas, o administrador de empresas Gennaro Pereira Bosone, de 31 anos, mantém viva não apenas a tradição de sua família, que imigrou da Itália nos anos 1960, mas entre o aroma dos temperos e molhos e o vapor das panelas onde cozinham porções generosas de massas artesanais, também ajuda a reescrever parte da história da mais tradicional atividade econômica da cidade: o comércio.
Criado em meio a pandemia, quando o faturamento do setor despencou 94,3%, conforme dados do Escritório de Desenvolvimento Regional (EDR) da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), o Don Gennaro Cucina surgiu como um delivery especializado em pizzas, mas quando as vacinas chegaram e as restrições diminuíram, a casa especializada em massas e carnes ganhou forma e, hoje, se consolidou no mais requisitado restaurante italiano da cidade.
Ao optar por manter sua operação na casa que pertenceu aos avós Giusepe e Diva, em um bairro distante da área central e dos points mais requintados, o proprietário apostou em uma essência afetiva potencializada por um ambiente intimista capaz de oferecer aos clientes não apenas uma refeição, mas sim uma experiência.
"Quem trabalha em áreas mais movimentadas da cidade não deseja permanecer nesses locais depois do expediente, então, oferecemos uma experiência dele se deslocar do seu cotidiano habitual e se dirigir até um novo cenário, um novo lugar, que, por sua vez, remete a outro lugar pelo sabor da comida e a vivência sensorial que oferecemos com nosso ambiente", diz.
A preocupação com a satisfação dos fregueses é uma das principais características do negócio e é percebido no atendimento pessoalizado, na primazia pela qualidade dos produtos comercializados e pela oferta de serviços e promoções que atendem quem está sempre em busca de novidades e comodidade. "Os clientes merecem o melhor e, para isso, é preciso que o negócio tenha princípios sólidos, muito planejamento e organização", comenta.
Os conceitos aplicados no dia a dia do Don Gennaro Cucina são a síntese da receita e apontados por especialistas como capazes de conduzir o comércio de Pelotas a um novo momento, que o distancie da crise gerada pela pandemia de Covid-19 e cujos impactos ainda são sentidos em todos os segmentos.

Setor de comércio de bens e serviços tem um grande peso na economia da cidade

Fenadoce, um dos ícones mais emblemáticos de Pelotas, também passa por reinvenção para ganhar cada vez mais inovação e novos mercados

Fenadoce, um dos ícones mais emblemáticos de Pelotas, também passa por reinvenção para ganhar cada vez mais inovação e novos mercados


/RAFAEL TAKAKI/divulgação/jc
Publicado no ano passado pelos economistas Marcelo de Oliveira Passos, Gabrielito Menezes e Rodrigo da Rocha Gonçalves, professores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e da Universidade do Rio Grande (Furg), respectivamente, o artigo científico "Estrutura Econômica Do Extremo Sul do Brasil: Análise de uma Rede Complexa De Insumo-Produto" se debruçou sobre a economia da região do Corede-Sul, onde está inserida Pelotas, para analisar o perfil econômico intersetorial da região.

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Entre os dados apresentados está o peso do comércio para a economia regional, que desponta entre os setores que apresentaram os maiores índices de encadeamento para a frente, isto é, aqueles mais demandados pelos outros da região.
Em uma escala de 0 a 4 pontos, o comércio lidera o ranking de 21 atividades com 3,77 pontos, seguido pela agricultura/silvicultura (2,14), abate e produtos (2,06), construção (1,82), transporte de carga rodoviário (1,73) e outros produtos alimentares (1,52). Isso coloca o setor como um dos mais importantes na rede econômica local.
Dentro da economia pelotense, o setor é ainda mais gigante. Conforme os Indicadores Municipais do Departamento de Economia e Estatística (DEE) do governo do Estado em 2020, o PÌB de Pelotas foi de R$ 9,5 bilhões e o Valor Acrescentado Bruto (VAB) na composição das riquezas locais chegou a R$ 7,2 bilhões. Esse desempenho faz Pelotas ocupar a quinta posição no ranking estadual dos maiores VABs do setor, enquanto possui apenas o 9º maior PIB municipal.
Os dados do Data Sebrae mostram que funcionam em Pelotas, atualmente, 13 mil estabelecimentos comerciais que empregam 18,5 mil pessoas responsáveis por uma massa salarial R$ 39,2 milhões/mês. A maior parte desses empreendimentos é formada por microempreendedores individuais e microempresas que, somados, chegam a 11,6 mil negócios, ou seja, 89% do total. Os pequenos e micro ocupam 68,6% dos trabalhadores do setor.
 

Luta contra endividamento é um dos principais desafios de empresas de todos os portes

Os dados preliminares do último censo do IBGE mostram que Pelotas tem, hoje, uma população de 325,6 mil pessoas e uma renda per capita de R$ 27.671,02.
Porém, apenas 25,3% da população estão empregados formalmente, e o salário médio mensal desses 82,4 mil trabalhadores formais gira em torno de 2,8 salários-mínimos ou R$ 3,6 mil.
Como o resto dos brasileiros, essa população viu seu poder de compra ser reduzido drasticamente nos últimos anos, enquanto o custo de vida disparou.
A preocupação dos comerciantes com a redução do poder de compra dos consumidores pelotenses é reforçada pelo alto índice de endividamento da população, que nos últimos 12 meses ficou acima da média estadual. Em junho, a taxa alcançou seu maior percentual, com 32,5% da população em condição de inadimplência, conforme levantamento da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Pelotas. Isso faz com que a cidade fique 2,3 pontos percentuais acima da média do Estado na taxa de endividados.
Para o economista Marcelo de Oliveira Passos, professor da UFPel e da Furg, o endividamento está relacionado a uma série de fatores, como uma média salarial baixa - em torno de 2,8 salários-mínimos - e o avanço do desemprego registrado no ano passado. A queda do PIB agropecuário, que despencou 45,6% por causa da estiagem de 2022, aliado à alta da inflação e dos juros são outros elementos que contribuem, conforme o economista, para a situação de endividamento dos pelotenses.
Dirigentes do setor, no entanto, preferem adotar um discurso mais conservador e indicar a falta de uma industrialização mais significativa no município como o calcanhar de Aquiles da economia local e, consequentemente, do mau desempenho, que acaba levando à perda do poder de compra e, consequentemente, ao endividamento da população.
"O fato de 70% das riquezas de Pelotas saírem do comércio e de serviços, que são atividades mais voláteis, incrementa a inadimplência", declarou em entrevista recente o presidente do Sindilojas, Renzo Antoniolli.
 

Coronavírus atingiu em cheio os pequenos estabelecimentos

Na lista das cinco ocupações mais prejudicadas na pandemia estavam vendedores do comério

Na lista das cinco ocupações mais prejudicadas na pandemia estavam vendedores do comério


Jô Folha/DIVULGAÇÃO/JC
No último trimestre de 2021, a Universidade Católica de Pelotas (UCPel) divulgou o resultado de um estudo realizado por estudantes do projeto Vivências Acadêmicas, que, por quatro meses, se debruçaram sobre o comércio varejista local com o objetivo de entender o quão profundas foram as marcas deixadas pela pandemia no setor.
Uma das descobertas foi o fato de que 55% dos pequenos empreendimentos viram o faturamento diminuir consideravelmente, indicando a inexistência de planejamento ou gerenciamento de crises e, ainda, que 72% das empresas diminuíram seus ganhos paralelamente ao reajuste de preços dos fornecedores, que por sua vez, atingiu 85% dos empreendedores.
No primeiro semestre de 2020, no auge da pandemia, o setor registrou 8,9 mil admissões e 12 mil desligamentos, o que gerou uma a taxa de variação do emprego de -4,98%, mais de um ponto percentual abaixo da registrada no Brasil e que foi de -3,09% e do Rio Grande do Sul (-3,76%) no mesmo período.
Levantamento feito pelo EDR, com base em dados do Caged, apontaram que, naquele período, na lista das cinco ocupações com saldos mais negativos em Pelotas, três pertenciam o setor do comércio: vendedor de comércio varejista (630), operador de caixa (131) e atendente de lanchonete (123). As outras duas foram operador de máquinas (284) e motorista de caminhão (131). A perda de empregos foi a face mais visível e dolorosa da crise que devastou, especialmente, pequenos e micro comerciantes.
"Os pequenos foram mais penalizados pela regionalização das restrições de circulação de pessoas, porque já vinham sofrendo com a competição das grandes redes, do comércio online e, além disso, muitos não conseguiram acessar os créditos do governo, devido a restrições, o que as grandes empresas não tinham, e isso só colaborou para aumentar o abismo da crise", analisa Gilmar Bazanella, secretário de Desenvolvimento Econômico de Pelotas e dirigente da Fecomércio.
O desequilíbrio atingiu seu ápice nos dias sombrios da pandemia, mas começou pelo menos cinco anos antes. É o que mostra a série histórica do Data Sebrae. Entre 2015 e 2020 o volume de empregos gerados pelo setor na cidade reduziu 5,1%.
Em alguns segmentos, no entanto, o desaparecimento de vagas foi muito superior, como no comércio varejista de vestuário, por exemplo, onde a redução chegou a 34,6%, caindo de 2,6 mil postos de trabalho para 1,7 mil em cinco anos. Nas lojas de calçados, a recessão foi ainda maior, pois o ramo que empregava 437 pessoas em 2015, em 2020 tinha apenas 236 funcionários, o que representa uma redução de 45% do número de pessoas ocupadas.
Em uma cidade onde 53% da população são mulheres, a crise aumenta na medida em que elas foram as mais afetadas pelas demissões no segundo setor que mais gera empregos. No ramo do vestuário, a proporção foi de 3,5 trabalhadoras desempregadas para cada trabalhador homem. Nas lojas de calçados, essa proporção foi de 2,05 mulheres para cada homem.
A pesquisa Monitoramento dos Pequenos Negócios, realizada periodicamente pelo Sebrae, traz dados que, apesar de regionais, revelam a percepção dos comerciantes sobre o setor. A comparação dos dados das edições lançadas em junho de 2022 e junho de 2023 mostra que o percentual de empresas que viram o faturamento diminuir aumentou de 32% para 47% e, na direção inversa no ano passado, 23% dos entrevistados disseram ter aumentado o faturamento e, agora, esse índice caiu para 17%.
Chama atenção, ainda, o fato de a redução do poder de compra dos clientes ser citado, em 2023, por 30% dos empresários como o motivo que mais afetou o desempenho dos negócios, e também ser apontado por 43% como o principal desafio a ser superado.
"Apesar de pequeno e muito lento, o comércio de Pelotas apresenta uma melhora no último ano em relação ao período da pandemia", avalia o presidente da Associação Comercial de Pelotas, Fabrício Cagol. As altas taxas de juros que impactam sobre as vendas a prazo, a alta carga tributária que influencia nos preços e a popularização do comércio online são apontados como os principais fatores da retração, pelo dirigente.
 

Fortalecimento de projetos de incentivo ao empreendedorismo é essencial para recuperação

O apoio do poder público, entidades de classe e da comunidade tem sido essencial para que o setor possa vislumbrar dias melhores. Após encerrar 2022 com aumento 2,02% no Produto Interno Bruto (PIB), na comparação com o ano anterior, e avançar para o 9º lugar na lista das maiores economias do Rio Grande do Sul, a prefeitura de Pelotas passou a articular uma série de ações para dinamizar o crescimento econômico da cidade.

• LEIA MAIS: Pelotas recebe projeto estadual para micro e pequenas empresas

 
O fortalecimento de projetos de incentivo ao empreendedorismo local, investimentos em uma agenda de eventos diversificada para fomentar o turismo e apoio às iniciativas culturais e de inovação tecnológica, capazes de atrair visitantes e movimentar o comércio, são as principais frentes sobre as quais administração municipal trabalha.
O projeto Bairro Empreendedor, criado em 2021 e que estimula novos negócios a partir do mapeamento das potencialidades locais, oferece suporte técnico e de crédito para criação de novos empregos e geração de renda, além da capacitação de jovens. Atualmente, a iniciativa está sendo ampliada e já está presente em três áreas da cidade.
A manutenção de uma agenda de eventos diversificada, capaz de atrair turistas e, dessa forma, movimentar os setores do comércio, hoteleiro e de gastronomia, tem sido outro esforço da administração. Além de eventos tradicionais como a Fenadoce, o município se somou a outras iniciativas como a da Maratona de Pelotas, promovida pelo Sesc e da Feira das Etnias, para aumentar o fluxo de visitantes.
O município também reforçará o apoio à realização de diferentes eventos já consagrados no calendário regional e estadual, como o Carnaval, a Fenadoce e o Festival Internacional Sesc de Música.
Já a ACP, que neste ano completa 150 anos, investe em ações para fortalecer o setor e dedica especial atenção e investimentos em quatro frentes consideradas estratégicas: apoio às mulheres empreendedoras, aos jovens empreendedores, fortalecimento do núcleo de inovação e do núcleo de turismo.
Campanhas de conscientização sobre a importância de consumir no comércio local, não apenas para fortalecer a economia, mas também para assegurar a manutenção dos empregos, é outra estratégia que tem sido usada pela associação.
"Pelotas é uma cidade muito identificada com o comércio, isso é muito perceptível em nossos bairros, com muitas operações em diferentes segmentos, o que é muito importante para economia local, pois faz com que o dinheiro circule dentro da cidade, por isso a importância de consumir produtos regionais em comércios locais", frisa o empresário Eduardo Schneider, proprietário do Café 35, que há mais de cem anos produz e vende seus produtos na cidade.
 

Chave da sobrevivência é a mudança de perfil ou de local

Pelotas tem o maior shopping center a céu aberto do interior do Estado

Pelotas tem o maior shopping center a céu aberto do interior do Estado


/Michel Corvello/divulgação/jc
Quem hoje caminha pela área central de Pelotas, tanto nos calçadões da Andrade Neves ou da 15 de Novembro - que juntos formam o maior shopping center a céu aberto do interior do Estado - como nas ruas próximas onde tradicionalmente sempre se concentraram as casas comerciais, tem a atenção chamada pela quantidade de lojas fechadas e placas de aluga-se.
A desocupação, que cada vez mais concede ao Centro ares de decadência econômica, está atrelada, em parte, aos valores dos aluguéis, que em alguns pontos, como o Calçadão da 15 de Novembro ou em uma das galerias outrora elegantes, podem chegar a R$ 12 mil/mensais por lojas que variam de 65m2 a 100 m2 .
Para representantes do setor imobiliário, os preços acompanham os índices praticados na cidade e obedecem à lei da oferta e procura. Para comerciantes, estão dessintonizados com a queda do faturamento das empresas no período pós-pandemia.
Na guerra de versões, o certo é que o comércio pelotense começa a se deslocar para outras áreas, como opção de sobrevivência. O fenômeno não está exclusivamente atrelado aos preços dos aluguéis, mas também segue uma tendência de fortalecimento do comércio de bairro, localizado mais próximo de onde as pessoas vivem.
"O deslocamento das atividades econômicas para os bairros acompanha a expansão da cidade e vai na direção de oferecer tanto mais comodidade às pessoas, que preferem fazer suas compras perto de casa, quanto uma alternativa de mudança no posicionamento de alguns negócios", analisa Gilmar Bazanella, secretário de Desenvolvimento, Turismo e Inovação de Pelotas e dirigente da Fecomércio.
Mas, além de uma mudança meramente geográfica, especialistas no setor apontam a necessidade de alterações na forma de pensar a prática comercial, o atendimento dos clientes e a gestão das empresas como caminhos essenciais para que o comércio de Pelotas possa voltar a se fortalecer.
Para o gerente regional do Sebrae em Pelotas, Ciro Vives, a partir da pandemia, o setor vem se remodelando, e um dos sinais mais positivos é a busca por aprendizado. "Os empresários passaram a ter uma visão mais objetiva e um aprendizado maior do negócio, entraram para dentro de seus negócios, aprenderam mais sobre eles, tiveram que entender de custos, internalizaram outras formas de venda de produtos e, muitas vezes, buscaram o Sebrae para trazer para uma nova visão para suas empresas", diz.
O interesse em compreender o perfil do consumidor 4.0 e seus desejos têm fomentado uma nova cultura entre parte dos comerciantes pelotenses, que dão sinais de entenderem que o novo cliente não busca apenas um produto, mas sim uma boa experiência de compra. "O que vemos são empresários que, após a pandemia, estão interessados em oferecer novos modelos de atendimento, modos diferentes de vender e estão criando práticas diferentes nas lojas físicas", revela Vives.
Essa nova cultura atende, conforme Bazanella, uma tendência que vem dando resultado ao redor do planeta e que apresenta muitos aspectos ainda a serem explorados localmente como, por exemplo, garantir um maior entretenimento e comodidade ao cliente e, ainda, aumentar o ciclo de vida dos produtos por meio da incorporação de operações paralelas com produtos usados.
"Hoje há mais oportunidades do que antigamente, mas elas se apresentam de outras maneiras e é preciso reconhecê-las. Por exemplo, a revenda para aumentar o ciclo de vida dos produtos. Tu podes vender uma jaqueta nova para uma pessoa e dizer 'se tu me devolveres ela em dois anos nessa e nessa condição' vou pagar x% do valor original' e, então, vais receber esse produto de volta e ter lugar para ele dentro da tua operação de produtos usados, com outro conceito", comenta, ao destacar que se trata de um novo mercado.
Dentro desse conceito de revolução na forma de pensar o comércio, a inovação tecnológica se torna indispensável. Com duas universidades, um Centro Federal de Educação Tecnológica e outras tantas faculdades e escolas técnicas, Pelotas é um centro formador de mão de obra especializada e terreno fértil para a inovação. Não é à toa que, durante a última edição da Fenadoce, em junho deste ano, foi formalizada a constituição do movimento Candy Valley, um grupo de empreendedores de startups da região que trabalha em conjunto com os parques tecnológicos, incubadoras, governos e iniciativa privada para divulgar as marcas e encontrar parceiros que estimulem o networking e novas ideias inovadoras.
"Estamos amadurecendo esses ambientes de inovação, agora com outras iniciativas. Queremos fazer essa ponte entre as pessoas que ainda não sabem do que se trata esse movimento, além de propor soluções para problemas", diz o presidente da iniciativa Raul Thorma.
Propor soluções para problemas que afligiam a maior parte dos comerciantes durante a pandemia foi exatamente o que fizeram os sócios da Jubatus, uma startup pelotense que surgiu em 2020 para auxiliar as empresas a digitalizarem seus processos de venda e atendimento a clientes em uma época em que ficar em casa era regra.
"Nossa principal bandeira é valorizar o comércio de Pelotas e, com a crise da Covid-19, o site se tornou ainda mais essencial. Conseguimos fazer toda a integração dos consumidores com os lojistas da cidade", relata Gabriel Cunha, um dos sócios da empresa.
Além das startups, o comércio conta com um aliado de peso quando o assunto é a busca por soluções inovadoras, o Pelotas Parque Tecnológico, no qual empresas e instituições parceiras trabalham com projetos voltados a transformar economias tradicionais em inovadoras, levando conhecimento sobre ferramentas que podem contribuir nas mudanças já tão presentes na vida econômica de pessoas e empresas. Inteligência artificial, metaverso, ESG e sustentabilidade, novas ferramentas de compras e relacionamento com clientes e outras.
"Neste contexto, as empresas do comércio podem ter nas ferramentas uma nova visão de seus negócios e a partir do desafio gerado pela pandemia se reestruturem se adaptando-se a esta nova economia", diz a diretora do PPT, Rosâni Boeira Ribeiro.
 

* Álvaro Guimarães é natural de Rio Grande e jornalista formado pela Universidade Católica de Pelotas. Atualmente, trabalha como assessor de comunicação e repórter freelancer