Brio diversifica e amplia frentes de atuação no Beira-Rio

CEO da gestora do estádio aponta novidades para recompor receitas

Por Patrícia Comunello

Executivo diz que objetivo é criar novos atrativos para atender a todas as tribos que frequentam o espaço
O Estádio Beira-Rio tem futebol, tem shows e até campeonatos que simulam confrontos reais, mas que são disputados por pessoas comuns. E, mais recentemente, virou set de gravações de comerciais. Tudo para recuperar e tornar rentável o negócio que entrou em campo em 2014 entre o Internacional e a Brio, Sociedade de Propósito Especifico (SPE) criada pelos acionistas BTG Pactual e Andrade Gutierrez, responsáveis pela revitalização do empreendimento antes da Copa do Mundo de 2014.
A Brio tem contrato para explorar o Beira-Rio por 20 anos - até 2034 -, e passou sufoco com queda vertiginosa de receitas pós-pandemia. Numa comparação dentro de casa, é mais ou menos como o Inter cair para a Série B do Brasileirão ou até pior.
Depois de um 2022 que frustrou expectativas de recuperação, o CEO da gestora, Paulo Pinheiro, diz que este ano está aquecido. A agenda de shows é uma prova, além de outras receitas novas, como o uso do cenário para gravar comerciais. A Brio também busca inserir espaços no roteiro de quem frequenta a orla. "A ideia é criar outras opções para atender todas as tribos."
Empresas & Negócios - Como está o pós-pandemia na gestão do Estádio Beira-Rio? 
Paulo Pinheiro - A Brio nasceu em 2012, em meio à reforma do estádio para a Copa do Mundo, e assumimos após o Mundial como operação de entretenimento e varejo. O estádio é pensado como um local para ter conteúdos, desde o futebol, os shows e eventos, além de lojas internas e externas. O que gera a atratividade do negócio é o conteúdo. O Inter joga, em média, 35 partidas em seu estádio no ano. Em 2023, o clube estava em quatro campeonatos, que gera grande fluxo. No futebol, administramos um miniestádio dentro do principal - temos 7,5 mil lugares (5 mil cadeiras e todos os camarotes) e ainda de maneira compartilhada com o clube, que não tem similar no Brasil. Propriedade de tudo é do Colorado, que cedeu a posse e a possibilidade de explorar algumas coisas em troca do investimento na reforma do empreendimento. Nos eventos, não são só shows, temos atividades em educação e até celebração religiosa. Os shows também envolvem diferentes módulos de palco.  
E&N - O que todo este conteúdo gera hoje e como era no pré-pandemia? 
Pinheiro - Não divulgamos números, mas posso dizer que, na pandemia, os valores caíram 90%. Só não foi pior porque, além das atividades que geram fluxo e foram interrompidas, temos receita de patrocínios e publicidade, que são as marcas que as pessoas veem no estádio. Como um patrocinador paga no começo do ano, recebemos antes de fechar tudo com as medidas de restrição sanitária. O que foi uma sorte! Isso permitiu que, junto com todas as medidas concedidas por governos e bancos, não demitíssemos ninguém. Também não cobramos aluguel das lojas no período parado. Para quem era dono de cadeiras e continuou pagando, garantimos o uso. Até hoje fazemos entregas que não realizamos na pandemia, até porque, mesmo depois da volta dos jogos, não teve público por um tempo. 
E&N - Como foi em 2022? 
Pinheiro - Achávamos que o ano passado ia ser um estouro e não foi. O ano de 2019 foi o nosso pico, com o maior faturamento e clientes. Foi o melhor ano da história da gestão compartilhada. Quando o Inter caiu para a Série B, o que reduz tíquete médio e todos os demais preços frente à Série A, mexeu com as nossas receitas. Tivemos de olhar para outras frentes e chegamos a fazer 14 shows em dois anos (2017 e 2018). Estávamos preparados que, a partir de 2019 e nos três anos seguintes, atingiríamos o ponto de equilíbrio inclusive para pagar todos os financiamentos da reforma do estádio. A partir de 2023, por esse planejamento, começaríamos a ter retorno do investimento. O plano original previa o retorno apenas nos últimos sete anos do contrato, que começou em 2014 e vai até 2034. Mas aí veio a pandemia e atrasou tudo. 
E&N - Com o planejamento frustrado, como está agora?   
Pinheiro - O ano passado foi morno, e a recuperação que se esperava foi transferida para este ano. Hoje, 55% da receita vêm do futebol, 20% de patrocínios e publicidade, que inclui contrato da Ambev, por exemplo, e 12% de eventos e shows, que haviam sido afetados pela pandemia e agora registram uma explosão de agenda. No caso de espetáculos, dependemos do calendário de jogos, que não tem previsibilidade, por exemplo, que é uma característica do futebol brasileiro. Mas como conseguimos fechar tantos shows? Tivemos de virar uma empresa especialista em calendários de futebol (risos). Tenho estatística de todos os campeonatos que o Inter participou nos últimos seis anos, que indica o comportamento do clube e nos dá uma noção do que é possível ter de janela disponível. Fazer um show não é só o dia do evento, podem ser de sete a 10 dias de disponbilidade. Já recebi pedidos de produtoras para reservar data do Beira-Rio para novembro ou dezembro, mas não posso. Os shows internacionais precisam de oito meses a um ano de antecedência. A pandemia, por outro lado, transformou o Beira-Rio em um local de gravação de comerciais. Muitas produtoras do Centro do País nos buscam, pois gravar aqui no Rio Grande do Sul é mais barato. O valor vai depender do tempo de uso e até da exposição da marca, pois um dos negócios que temos é o direito de uso da imagem do estádio e do nome Beira-Rio.
E&N - Como está a ocupação das áreas de varejo?
Pinheiro - Hoje, a ocupação está em 50%, mas nunca foi muito mais que isso. Chegou a 65% no máximo. O modelo de contratação era baseado em shopping center, com aluguel, mas o fluxo aqui não é o mesmo que de um shopping tradicinal. O hábito de vir aqui é só quando tem jogo ou show. Claro, tem visitação fora desses momentos, mas é muito pouco para sustentar um mall. Com exceção da loja do Inter, que tem fluxo mais permamente, as demais só abrem quando há jogos ou shows, pois o movimento é mais sazonal. Este foi o modelo que conseguimos viabilizar para os 65 espaços internos, 39 externos e 10 no Sunset. Eles pagam aluguel, baseado em percentual sobre o faturamento.  
E&N - O que já se avançou em experiência para torcedor no estádio?
Pinheiro - Um jogo de futebol tem intevalo de 15 minutos, que é a janela maior de venda. Quero poder vender três cachorros-quentes no mesmo tempo que comercialzamos um hoje. O que vai nos dar isso é a tecnologia e estamos buscando solução para isso, como um aplicativo ou plataforma, para facilitar a vida do consumidor, para que ele possa comprar o pacote completo, do entretenimento e da experiência. Com isso, vamos atacar as filas nos intervalos na frente dos pontos de alimentação. 
E&N - Revitalização da orla e novo shopping (Pontal) são oportunidades? 
Pinheiro - O Sunset ganha relevância neste contexto. O espaço surgiu como atração para dia de jogos e depois conseguimos liberar para abrir mesmo em dia sem partidas. Hoje, o local precisa ser trabalhado como mais uma atração na orla para toda a semana, pois temos 3 mil vagas de estacionamento e operações de alimentos e bebidas nos contêineres da esplanada. A ideia é criar outras opções para atender todas as tribos que circulam na região. Estamos olhando estrategicamente para o Sunset para construir esse conceito e é para implementar este ano.