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reportagem especial

- Publicada em 25 de Junho de 2023 às 16:41

Setor lácteo gaúcho pede socorro

Alta dos preços da soja e dos farelos de soja e milho é um dos problemas enfrentados pelos produtores

Alta dos preços da soja e dos farelos de soja e milho é um dos problemas enfrentados pelos produtores


/JONATHAN HECKLER/arquivo/JC
Ana Esteves, especial para o JC*
Ana Esteves, especial para o JC*
O setor lácteo, um dos mais importantes para o agronegócio gaúcho, amarga neste ano uma série de dificuldades: importação desenfreada de leite do Uruguai e da Argentina, tirando competitividade da indústria e renda dos produtores, estiagem, crise de cooperativas, como a Piá de Nova Petrópolis, falta de políticas para enfrentamento da guerra fiscal, abandono da atividade por parte de muitos produtores, apenas para citar alguns exemplos.
O primeiro semestre foi catastrófico e a tendência para o segundo não é muito animadora. "Diria que foi um semestre bem complicado, tivemos um início até bastante promissor, mas sempre com muitas preocupações. E o que a gente vislumbra é um segundo semestre também de muitas dificuldades", afirma o secretário executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat-RS), Darlan Palharini.

Alta dos preços da soja e dos farelos de soja e milho é um dos problemas enfrentados pelos produtores

Alta dos preços da soja e dos farelos de soja e milho é um dos problemas enfrentados pelos produtores


/Jardine Comunicação/DIVULGAÇÃO/JC
Frente à atual conjuntura, o dirigente destaca a importância da liberação, com urgência, de recursos do Fundo de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Leite do Rio Grande do Sul (Fundoleite), destinado a custear e financiar as ações, projetos e programas de desenvolvimento da cadeia produtiva do leite bovino e dos seus produtos lácteos.
A verba viria a calhar justamente para o enfrentamento da questão da competitividade e também como defesa do produto lácteo perante as importações da Argentina do Uruguai, que tem entrado no País com preços muito competitivos frente aos praticados internamente.
Conforme dados do setor referentes ao mês de junho deste ano, levantados pelo Sindilat, apesar de todas as adversidades, de 2004 a 2021, a produção de leite no Estado cresceu 86,02%, passando de 2,36 bilhões de litros ao ano para 4,39 bilhões de litros ao ano, o que representa 12,26% da produção nacional. O Rio Grande do Sul conta com 39,3 mil produtores de leite, 864,6 mil vacas ordenhadas, sendo o terceiro maior produtor de leite do País.
São 241 indústrias de laticínios com inspeção (SIF, CisPoa e SIM) e 93,76% dos municípios com produção leiteira. Diante da crise no setor, a cadeia leiteira gaúcha registrou o abandono de mais de 50 mil produtores entre 2015 e 2023, segundo dados da Emater e do Sindilat. Atualmente, restam 39,3 mil agricultores em atividade no Estado.
Mesmo frete às dificuldades, o Rio Grande do Sul segue em terceiro lugar no ranking dos maiores produtores de leite do País, perdendo apenas para Minas Gerais e Paraná. A pecuária leiteira gaúcha conquistou uma posição de destaque ao longo dos anos, impulsionada por uma série de fatores: clima favorável, diversidade de terras, tradição e experiência dos produtores. "Além disso, tivemos investimentos em genética, infraestrutura e tecnologia que também ajudaram a impulsionar a eficiência e a produtividade do setor leiteiro", destaca o economista e professor da Universidade de Passo Fundo (UPF), Julcemar Bruno Zilli.
Palharini ressalta que Estado está consolidado em terceiro lugar, mas já foi o segundo, perdendo apenas para os mineiros. "Isso se deve à falta de políticas de enfrentamento da guerra fiscal, passa por uma questão realmente de perda de mercado e que nós estamos tentando recuperar".
E, se para os produtores e indústria não está sendo fácil, para os consumidores menos ainda. O preço do leite chega a níveis impraticáveis pelo fato de uma mudança de patamar pós-pandemia, em função da alta dos custos.
"Vivemos numa alta dos preços da soja e dos farelos de soja e milho, aumento dos combustíveis. Hoje, a gente diria que o preço ao consumidor do leite está sempre por volta de R$ 5,00. Antes da pandemia era na faixa de, no máximo, R$ 3,00, o que obviamente, acaba impactando no consumo, já que a população não teve aumento de renda nessa mesma proporção", afirma Palharini.
O dirigente diz se tratar de um cenário desafiador o enfrentamento dos preços elevados do leite, mas que as perspectivas de queda nos preços dos insumos que compõem a alimentação dos animais e a recuperação dos mananciais hídricos devam ajudar a achatar os valores.
Um levantamento da Embrapa, realizado no ano passado, indica que o consumo aparente de leite no Brasil caiu para 163 litros por habitante ano, retomando a quantidade consumida em 2010. "A queda no nível de renda da população, além de perda de poder de compra devido a taxas mais altas na inflação nos primeiros meses de 2022 contribuíram para a redução no consumo do alimento", diz Zilli.
 

 Fonte: Sindilat/RS

Fonte: Sindilat/RS


EMPRESAS E NEGÓCIOS
 

 Fonte: Sindilat/RS

Fonte: Sindilat/RS


EMPRESAS E NEGÓCIOS
 

 Fonte: Sindilat/RS

Fonte: Sindilat/RS


EMPRESAS E NEGÓCIOS
 

 Fonte: Sindilat/RS

Fonte: Sindilat/RS


EMPRESAS E NEGÓCIOS
 

Seca reduziu produtividade das pastagens e qualidade da alimentação dos animais

A estiagem de 2022/2023, que afetou a produção gaúcha de soja e milho, impactou o mercado de leite. A redução na disponibilidade de alimentos para o gado, como a diminuição na disponibilidade de grãos usados na alimentação dos animais têm consequências diretas na produção leiteira. Os problemas hídricos resultaram na redução da produtividade das pastagens e da qualidade dos alimentos disponíveis para os animais.
"Isso pode afetar a saúde e o desempenho do rebanho leiteiro, resultando em uma redução na produção de leite. Além disso, a escassez de alimentos para o gado pode levar os produtores a reduzirem o tamanho do rebanho, seja por venda de animais ou diminuição da taxa de reprodução", ponderou o economista e professor da Universidade de Passo Fundo, Julcemar Bruno Zilli.
A falta de pasto e forragem adequados também levaram os produtores a recorrerem a alternativas menos nutritivas, como silagem de baixa qualidade ou alimentos concentrados mais caros. Isso pode aumentar os custos de produção e reduzir a margem de lucro dos produtores.
O presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Carlos Joel da Silva, diz que, das demandas do setor junto ao governo federal, só parte foi atendida. O governo comprometeu-se com a Fetag e com os Sindicatos a conceder rebate para o Pronaf Custeio Pecuário, que não conta com a cobertura do Proagro Mais/Seguro Rural, 25% limitado a R$ 12 mil por operação o que foi feito.
"Mas a prorrogação das parcelas do Pronaf Investimento para o último ano do contrato, ficou de fora. A ação do governo federal foi boa, mas insuficiente", diz Silva. Segundo ele, a estiagem trouxe muitos prejuízos para os produtores, além da falta de água em muitas propriedades e de alimento, a silagem que foi feita também ficou comprometida, pois a qualidade do milho não foi boa.
 

Importação de leite da Argentina e do Uruguai gera apreensão no setor produtivo

Dados apontam que, em relação a junho do ano passado, as importações brasileiras de leite e derivados tiveram aumento de 286,4% em valores negociados

Dados apontam que, em relação a junho do ano passado, as importações brasileiras de leite e derivados tiveram aumento de 286,4% em valores negociados


/jcomp/freepik/jc
A palavra inundação foi a mais empregada por especialistas do setor lácteo gaúcho para caracterizar as importações brasileiras de leite, creme de leite e laticínios (exceto manteiga e queijo) da Argentina e do Uruguai. O volume é considerado gigantesco e já afeta a renda de produtores e a competitividade da indústria. Por consequência da alta disponibilidade desses produtos no mercado interno, estão ocorrendo expressivas quedas nos preços pagos pelo leite aos produtores, em um momento de entressafra que sempre teve um cenário favorável e de aumento dos preços pagos ao produtor.
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) divulgou dados que apontam que, em relação a junho do ano passado, as importações brasileiras de leite e derivados tiveram aumento de 286,4% em valores negociados, chegando a US$ 263,2 milhões, e de 230,6% em volume de leite importado, atingindo 69,9 mil toneladas. O Rio Grande do Sul é o terceiro Estado que mais importou, chegando a US$ 34,1 milhões, com variação de 230,7% sobre o período de janeiro a abril de 2022.
"Estamos desolados frente à inundação de leite estrangeiro, para um Estado que consome só 40% dos lácteos que produz. Ou seja, sobra leite produzido internamente e agora recebemos mais volume de fora. Já somos exportadores de leite para outros estados do Brasil ao mesmo tempo que importamos de outros países. Isso é incoerente", afirma o presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), Marcos Tang.
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O dirigente acrescenta que os produtores costumam aproveitar os meses de inverno, época em que o leite tem melhor remuneração por causa da entressafra, para pagar as contas, especialmente neste ano de estiagem intensa que fez aumentar os custos de produção. "E aí o que acontece? Não tem aumento dos valores do leite, pelo contrário todas as empresas estão anunciando redução na produção e um dos principais motivos é a importação recorde de leite para cá. Estão salvando os produtores dos países vizinhos e os nossos vão deixar morrer à mingua, pois a situação é gravíssima", acrescenta.
A questão das importações virou a principal pauta da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag). O presidente da entidade, Carlos Joel da Silva, informa que solicitou aos Ministérios do Desenvolvimento Agrário (MDA) e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), em caráter emergencial, a suspensão da resolução GECEX Nº 353, de 23 de maio de 2022, e a aplicação da alíquota de 12% estabelecida pela Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul, pelo período de seis meses para conter a importação de leite e derivados.
"Nossa principal demanda é que caiam os efeitos da resolução que trata das importações de produtos lácteos do Uruguai e da Argentina. Precisamos fazer isto por seis meses para frear as importações que os supermercados e as redes atacadistas estão fazendo, para que dê um fôlego aos nossos produtores e que não continue a cair o preço aqui", disse o dirigente da Fetag.
Conforme o secretário executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat-RS), Darlan Palharini, logo que teve conhecimento do decreto do governo argentino sobre as exportações de leite para o Brasil, a entidade fez o alerta de que teria de perda de rentabilidade, não só para o produtor, mas para todo o setor lácteo gaúcho.
"Reforçamos a necessidade da adoção de políticas públicas pelo governo federal que resguardem o setor leiteiro frente aos subsídios que vêm sendo concedidos aos países do Mercosul", conclui.
O economista da Universidade de Passo Fundo (UPF), Julcemar Bruno Zilli, diz que a dependência excessiva das importações de leite pode tornar o País vulnerável a flutuações no mercado global, como variações cambiais e alterações nas políticas comerciais. A redução da produção nacional, em favor de importações, pode afetar negativamente a segurança alimentar e a autonomia do País no suprimento de produtos lácteos, especialmente em períodos de instabilidade econômica ou restrições comerciais.
Além disso, o especialista acrescenta que, nem sempre, os padrões de qualidade e segurança dos produtos importados são equivalentes aos nacionais. A importação de leite de países com regulamentações menos rigorosas pode representar um risco para os consumidores em termos de qualidade, segurança alimentar e controle de doenças. "Isso pode afetar a confiança do consumidor nos produtos nacionais e exigir que as autoridades regulatórias garantam a aplicação de padrões adequados para todos os produtos disponíveis no mercado", diz.
Por outro lado, as importações de leite também podem oferecer oportunidades para diversificação dos produtos disponíveis no mercado interno e maior quantidade de produtos para o consumidor. Produtos específicos que não são produzidos ou não têm produção suficiente no País podem ser importados para atender à demanda dos consumidores. Isso pode ampliar as opções e a variedade de produtos lácteos disponíveis, beneficiando os consumidores. "Se os produtos importados forem mais baratos do que os produtos nacionais, isso pode resultar em uma maior acessibilidade para os consumidores, permitindo-lhes adquirir produtos lácteos a preços mais baixos", acrescenta Zilli.
Para o especialista, as importações têm sido positivas para quem consome produtos lácteos, uma vez que os importados, muitas vezes, são comercializados a preços mais baixos. Além disso, ao acessar as gôndolas dos supermercados, os consumidores poderem contar com uma maior disponibilidade de produtos no mercado. "As importações permitiram uma maior diversidade de produtos lácteos, atendendo a demandas específicas dos consumidores e ampliando suas opções de escolha", pondera o economista.
 

Em um mês, Cooperativa Piá tem redução de 93% na captação de leite

Falta de pagamento aos agricultores diminuiu a entrega de leite e, consequentemente, a venda nos mercados

Falta de pagamento aos agricultores diminuiu a entrega de leite e, consequentemente, a venda nos mercados


/CLAUDIO MEDAGLIA/ESPECIAL/JC
A falta de pagamento aos produtores de leite integrados da Cooperativa Piá fez que com a entrega de leite na indústria caísse 93% em apenas um mês: em abril, foram captados 180 mil litros leite ao dia e, a partir do mês de maio, 13 mil litros leite ao dia, conforme informações do ex-presidente interino da cooperativa, Severino Seger. Segundo ele, no passado, a indústria chegou a captar 600 mil litros de leite ao dia.
"Infelizmente, os gestores que renunciaram promoveram uma redução na captação de leite, pois não estavam pagando os produtores e, quando alguém não recebe pelo que está produzindo, é uma questão de sobrevivência procurar outros rumos. Agora, diversos produtores estão se comprometendo em retornar a fornecer leite para a Cooperativa Piá, frente às mudanças que estão sendo propostas pela diretoria", diz Seger. A dívida acumulada com os produtores chega a R$ 9 milhões.
Um fornecedor de leite da Piá, que preferiu não se identificar, disse que a cooperativa deve R$ 150 mil para ele por volumes de leite entregues. O produtor conta que o último pagamento que recebeu foi no dia 10 de abril, referente ao leite entregue no mês de março, e que suspendeu a entrega no dia 21 de maio, pois não havia recebido o valor referente a abril.
Ele entregava 1,1 mil litros de leite ao dia para cooperativa de Nova Petrópolis. "A troca foi fácil: no dia seguinte já estava entregando para a Lactalís. Não queria trocar, mas sem previsão de receber, tive que tomar esta decisão. A produção de leite tem um custo de produção muito alto, e a margem de lucro é pequena. Custos de alimentação, de combustível, material de limpeza", disse a fonte.
O produtor e a família dele são fornecedores desde a fundação da cooperativa, em 1972, e agora redirecionou a produção para Lactalís, empresa que está captando leite para a Languiru, outra cooperativa gaúcha em crise. A nossa reportagem entrou em contato com a assessoria de comunicação da Languiru, que informou que a empresa prefere não se manifestar no momento. Conforme a assessoria, a parceria que prevê a industrialização de leite pela Lactalís prossegue, assim como a produção de derivados na indústria de laticínios da Languiru, em Teutônia, mas a empresa não divulga volume de produção.
Outro fornecedor da Piá que também preferiu não se identificar, diz que parou de entregar leite em janeiro do ano passado, justamente por medo de não receber. "Minha propriedade entregava em torno de 20 mil litros de leite ao mês, desde 2012". Segundo ele, as entregas seguem suspensas, no aguardo das ações da nova diretoria. A produção está sendo recolhida pela Tangará lácteos, de Estrela.
O ex-presidente interino da Piá diz que, como o fornecimento de leite diminuiu, uma das consequências é a queda de produção por parte da indústria. Recentemente, as prateleiras de iogurtes do supermercado da cooperativa encontravam-se quase vazias, desabastecidas inclusive de produtos da marca Piá.
 
 

Seger diz que diversos produtores devem retornar o fornecimento

Seger diz que diversos produtores devem retornar o fornecimento


EVANDRO OLIVEIRA/JC
"Esperamos a retomada, para os próximos dias, da captação de leite e, com isso, a recuperação gradual da produção. Naturalmente, como o estrago feito pela Diretoria e Conselho Administrativo que renunciaram foi muito grande, a retomada será lenta e gradual, porém, sempre dentro de uma política planejada e ações concretas, como todos nós, no passado, estávamos acostumados a trabalhar", acrescentou Seger.

A administração provisória criou, entre voluntários e funcionários, pequenos comitês que começaram a trabalhar em diversas frentes e deixar uma proposta de recuperação, propondo meios da volta da captação de leite, retomada da produção e recuperação da credibilidade.
"Entre as medidas encaminhadas estão em andamento negociações com diversas empresas, para possíveis parcerias na área dos lácteos e de produtos da fábrica de doces cremosos. Percebe-se que investidores estão dispostos a participar desta recuperação, por ser uma marca gaúcha com certo sentimento familiar", disse Seger.Em assembleia de associados, realizada no dia 19 de junho, foi definida a nova diretoria da Piá. Foram eleitos Jorge Dinnebier como presidente, Ari Boelter para vice-presidente e Jonas Gottschalk para secretário.

Governo do Estado retém R$ 32 milhões do Fundoleite há mais de sete anos

Um dos pleitos mais demandados pelo setor lácteo gaúcho é a liberação, por parte do Governo do Estado, dos recursos do Fundo de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Leite do Rio Grande do Sul (Fundoleite).
"São R$ 32 milhões retidos, uma situação que compromete o objetivo do fundo, que é de custear ações, projetos e programas de desenvolvimento desta cadeia produtiva tão importante para a geração de trabalho e renda nas propriedades rurais, nos municípios e no Rio Grande do Sul", afirma o deputado estadual, Elton Weber (PSB).
Informações setoriais indicam que a falta de recursos afeta o avanço de projetos e até a realização da pesquisa mensal do Preço de Referência do Leite, divulgada pelo Conseleite/RS, que desde janeiro deste ano não é atualizada. "Queremos explicações do governo do Estado de porque há tanta dificuldade, segundo as entidades, da liberação de recursos do Fundoleite", frisou Weber.
Por meio de nota, a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) informou que "o governo está trabalhando para que a liberação desses recursos seja o mais rápido possível, assunto que vem sendo discutido há algum tempo, sabendo da importância do setor produtivo. Há questões administrativas e jurídicas que precisam ser superadas, mas já se encontram em análise jurídica, para manifestações futuras".
O secretário executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat-RS), Darlan Palharini, acrescenta que a verba do fundo serviria para uma série de iniciativas propostas pelas indústrias para aumentar a competitividade a campo.
"Como certificação de propriedades livres de Brucelose e Tuberculose, análise de solo para aumento da produtividade, cursos para incremento da competitividade das indústrias". Parte do valor também seria destinado para publicidade, campanhas de defesa e divulgação dos benefícios dos produtos lácteos.
"Para a campanha do Sindilat de enfrentamento do mercado de bebidas vegetais, mostrando as propriedades do leite bovino, sua importância, como é produzido, relatando a questão do bem-estar animal. Para que o consumidor consiga identificar o produto lácteo e da importância dele como alimento. Mas também como importância socioeconômica para todos o Rio Grande do Sul", acrescenta.

Pouca renda, altos custos e preços baixos fazem produtor abandonar atividade leiteira

Silva lembra que a atividade requer dedicação total, sete dias por semana

Silva lembra que a atividade requer dedicação total, sete dias por semana


/MARCELO G. RIBEIRO/JC
O presidente na Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag), Carlos Joel da Silva, diz que muitos produtores de leite estão abandonando a atividade por três motivos: pouca renda, custo alto e preço baixo que deixa o produtor sem renda. "Além de ser um trabalho penoso, 365 dias por ano", acrescenta o dirigente. A Emater faz levantamento anual do número dos produtores em atividade no Estado e é preocupante a redução desse número: em 2016, eram mais de 80 mil produtores no Estado e, em 2022, em torno de 40 mil, o que representa uma queda de 50%.
O presidente da Associação Gaúcha dos Criadores de Gado Holandês (Gadolando), Marcos Tang, diz que o setor vive um problema socioeconômico grave, em um cenário de êxodo rural. "Tivemos uma redução importantíssima de produtores de leite que tiveram que ir para outra atividade. Muitas vezes, o leite emprega várias pessoas da mesma família, pois é uma atividade que exige muito, tem que ter escala para alguns poderem folgar, então, impedia as pessoas de deixarem o campo". Na opinião dele, o problema das importações de leite tende a agravar a situação.
Mesmo diante de um contexto de redução do número de produtores, a produção em si não caiu, graças ao aumento de produtividade. A média de leite por unidade produtora aumentou: antes era de 70 litros ao dia e hoje é 300 litros ao dia. "A indústria costumava falar que o produtor de leite tem que ser mais efetivo, pelo risco de não se adequar e parar. Realmente, alguns que não conseguiram se adequar, pararam, mas os que se modernizaram, se qualificaram, também estão com enorme dificuldade e também pensando em parar", reforça Tang.
Nesse contexto de abandono da atividade, a questão da Piá e da Languiru tem preocupado muito o setor. "Os produtores que continuam entregando para a Piá não estão com o pagamento em atraso, o problema são que ainda não receberam há mais de 45 dias e, por isso, pararam de entregar. Segundo a direção, agora vão ser pagos. Mas vai ter que ter um escalonamento então esses produtores estão sendo prejudicados", disse o presidente da Fetag. A preocupação do setor é de que, frente às dificuldades apresentadas pelas cooperativas, mais produtores abandonem a atividade.
E o cenário é ainda mais desanimador: se o primeiro semestre do ano foi muito ruim para o produtor, o segundo promete novos resultados desfavoráveis, pois mesmo em tempo de entressafra, quando os valores do leite ao produtor deveriam estar aquecidos, a realidade é outra. "Estamos num momento em que deveriam estar subindo os preços, mas, na verdade, estão caindo. Estamos na contramão, e isso preocupa muito porque os custos estão muito altos, junto com isso as importações aumentaram quatro vezes nesses primeiros meses do ano. Tudo isso vai agravar a crise dos produtores e muitos vão acabar saindo da cadeia do leite", completa Silva.
 

*Ana Esteves é jornalista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atuou como repórter setorista de agronegócios no Jornal do Comércio, Correio do Povo e Revista A Granja. Hoje, atua como assessora de imprensa e repórter freelancer. Também é graduada em Medicina Veterinária pela UFRGS.