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Reportagem especial

- Publicada em 07 de Maio de 2023 às 15:00

Costa Doce Gaúcha avança com novos negócios ligados ao turismo

Roteiros estruturados fazem o turismo passar a ser visto com alternativa de desenvolvimento

Roteiros estruturados fazem o turismo passar a ser visto com alternativa de desenvolvimento


Prefeitura de Pelotas/divulgação/jc
Álvaro Guimarães, especial para o JC*
Álvaro Guimarães, especial para o JC*
O Rio Grande do Sul possui 27 regiões turísticas regionalizadas e mapeadas pelo Secretaria Estadual do Turismo, e uma delas se diferencia por reunir diferentes atrativos: a Costa Doce Gaúcha. Nos 21 municípios da região, os visitantes encontram praias de águas doces e salgadas.

São rios, cachoeiras, serras, reservas naturais, patrimônios históricos, arquitetônicos e religiosos, marcas profundas das diferentes culturas que formaram o povo gaúcho, gastronomia típica e, claro, eventos culturais, étnicos, regionais e esportivos.

Pelotas conta sua história por meio de museus e casarões, patrimônios da cidade que atraem visitantes o ano todo

Pelotas conta sua história por meio de museus e casarões, patrimônios da cidade que atraem visitantes o ano todo


/Prefeitura de Pelotas/divulgação/jc
Essa diversidade de atrativos é o cartão de visitas que a região tem usado para conquistar um espaço entre os principais destinos turísticos do Estado e firmar o turismo como uma alternativa real e viável para o desenvolvimento local.
Com o auxílio do Sebrae-RS e do governo do Estado, as prefeituras e empreendedores têm organizado e profissionalizado o segmento que nos últimos cinco anos conseguiu resultados históricos como a abertura de 6,5 mil empreendimentos de turismo, entre os quais 103 agências de turismo.
"Há dez anos não se tinha nenhuma agência receptiva, e hoje são 12 que vendem apenas produtos da região. Isso é prova concreta do interesse no setor", diz Amanda Paim, coordenadora estadual de Economia Criativa e Turismo do Sebrae-RS.

Ponte Internacional Barão de Mauá, que liga Jaguarão a Rio Branco, é um dos pontos que atrai turistas, gerando mais recursos para a cidade e despertando também o interesse de investidores

Ponte Internacional Barão de Mauá, que liga Jaguarão a Rio Branco, é um dos pontos que atrai turistas, gerando mais recursos para a cidade e despertando também o interesse de investidores


Lino Cardoso/Divulgação/JC
Lançado recentemente pela Secretaria Estadual de Turismo (Setur), o Business Intelligente (BI) Turismo do Rio Grande do Sul (Setur) reúne dados do setor desde 2018 e forma um mapa preciso da atividade em cada uma das regiões turísticas e municípios gaúchos. Com o auxílio da ferramenta, é possível comparar os números do Sul com outras regiões turísticas gaúchas, o que comprova o desempenho acima da média.

O BI da Setur revela que, nos últimos cinco anos, 60 agências de turismo abriram as portas nas 17 cidades do Litoral Norte, enquanto a Costa Doce totalizou 103. Desde 2018, quatro parques temáticos e 15 hotéis foram inaugurados na parte Sul, enquanto no Litoral Norte foram três novos parques e nenhum hotel.

Lagoa do Peixe é o único ponto no Brasil onde se pode avistar flamingos selvagens na natureza

Lagoa do Peixe é o único ponto no Brasil onde se pode avistar flamingos selvagens na natureza


LEANDRO PEREIRA/divulgação/jc
Esse boom de investimentos do setor na região começou a ganhar impulso a partir da pandemia de Covid-19, quando a demanda por atrações ao ar livre e pelo turismo regional explodiram. No ano passado, a consolidação de roteiros e atrações se converteu em números extremamente positivos.

Prova disso é que, somente em 2022, a Costa Doce recebeu cinco hotéis, 19 agências de turismo, 11 empresas de fretamento de transporte coletivo, dois parques temáticos, cinco campings e sete operadores de turismo.

Esses resultados são o fruto de um trabalho iniciado em 2018, coordenado pelo Sebrae-RS e que consolidou uma governança do setor turístico regional. A iniciativa envolveu os setores público e privado com o objetivo de mapear potencialidades, gargalos estruturais e traçar um plano de ação conjunto para fazer do turismo uma alternativa viável e concreta de desenvolvimento para a região.

A partir dessa governança, a equipe do Instituto de Pesquisa de Mercado da Universidade do Vale do Sinos (IPM-Unisinos) foi contratada para elaborar o Plano de Posicionamento e Estratégias para o Turismo na Costa Doce gaúcha. O trabalho, apresentado em 2020, teve sua implementação interrompida pela pandemia e foi retomado apenas no ano passado.

O plano dividiu a região em quatro territórios agrupados conforme suas características marcantes e potencialidades: Vida na Lagoa, Pelotas Criativa, Meu Pago e Costa do Mar. Cada uma dessas microrregiões foi destrinchada pelos pesquisadores e ganhou um plano específico de desenvolvimento turístico, no qual são apontadas as ações estratégicas prioritárias para fortalecer o setor e construir um grande produto regional interligando todos os territórios.

A área nomeada de Vida na Lagoa abarca as cidades que possuem contato direto com a Lagoa dos Patos e que, por isso, podem oferecer produtos de ecoturismo e turismo de aventura, experiências de esportes aquáticos, além de praias de águas tranquilas. É também o território mais próximo de Porto Alegre, começando em Guaíba e incluindo as cidades de Barra do Ribeiro, Tapes, Arambaré e, claro, São Lourenço do Sul.

Em São Lourenço do Sul é possível encontrar águas calmas e a sombra de plátanos, figueiras e árvores nativas

Em São Lourenço do Sul é possível encontrar águas calmas e a sombra de plátanos, figueiras e árvores nativas


Rodrigo Chagas/divulgação/jc
O segundo território organizado pelo estudo do IPM-Unisinos é formado pela maior cidade da região: Pelotas. Batizado de Pelotas Criativa, tem como principais atrativos o turismo cultural, os grandes eventos como a Fenadoce e o Festival Internacional Sesc de Música, a diversidade cultural, a indústria criativa e a história contada por museus, casarões, teatros e praças.

Meu Pago é o pedaço onde estão as raízes mais profundas do gaúcho e da vida rural. A memória da Guerra dos Farrapos e produtos dedicados a proporcionar experiências de vivência no campo estão presentes ali. As cidades que integram a região proporcionam o turismo de contemplação. Além disso, os visitantes podem fazer uma imersão na cultura gaúcha e fronteiriça, onde estão cidades como Piratini, Arroio Grande e Jaguarão. Já em Canguçu está o Parque Turístico Nossa Senhora da Conceição, que fica localizado numa das áreas mais belas da cidade.

A quarta microrregião, nomeada de Costa do Mar, é a única que conta com praias de águas doces e salgadas - além de cenários e uma biodiversidade únicas por conta dessa característica - e possui algumas das áreas mais selvagens do Estado, como a costa que liga São José do Norte até Tavares. É ali também que está a maior praia do mundo - a Praia do Cassino, em Rio Grande - cuja travessia a pé já se consolidou como um dos mais incríveis produtos do turismo de aventura do Brasil.

"Não há dúvidas de que o turismo na Costa Doce é viável. A região tem características muito boas, mas o desfio é organizar isso e a virada de chave é entender como o mercado funciona e ter os produtos que o público quer", afirma Amanda Segundo ela, a partir deste trabalho é possível estabelecer a pauta da governança regional. "Com tudo isso, estamos avançando", afirma ela.

Municípios que compõem a Costa Doce

Território Vida na Lagoa
  • Arambaré
  • Barra do Ribeiro
  • Camaquã
  • Cristal
  • Dom Feliciano
  • Guaíba
  • São Lourenço do Sul
  • Tapes
  • Turuçu
Território Pelotas Criativa
  • Pelotas
Território Meu Pago
  • Arroio Grande
  • Canguçu
  • Jaguarão
  • Pinheiro Machado
  • Piratini
  • Morro Redondo
Território Costa do Mar
  • Chuí
  • Rio Grande
  • Santa Vitória do Palmar
  • São José do Norte
  • Tavares

Mergulhando fundo nos atrativos da costa

Farol da Barra, no arroio Chuí, em Santa Vitória do Palmar, é um dos pontos turísticos da região da Fronteira

Farol da Barra, no arroio Chuí, em Santa Vitória do Palmar, é um dos pontos turísticos da região da Fronteira


/prefeitura svp/divulgação/jc
A marca "Costa Doce Gaúcha - Extremo Sul do Brasil" foi construída a partir da conexão e combinação das características únicas da região sintetizadas pelos conceitos de natureza, cultura, história e pioneirismo. Mas, afinal de contas, o que é esta região?
A Costa Doce Gaúcha é formada por 21 cidades localizadas na parte costeira das lagoas dos Patos (maior laguna da América do Sul), Mirim e Mangueira. De um lado, estão 565 km que margeiam as três lagoas, entre os municípios de Guaíba e Chuí e, do outro, 244 km de praias na costa do Oceano Atlântico, entre São José do Norte e Chuí.
Entre Leste e Oeste foram territórios ocupados, inicialmente, por povos nativos como os guaranis, e depois colonizados pelos portugueses e espanhóis - que travaram uma longa e feroz guerra por aquelas porções de terras até a ratificação do Tratado de Santo Ildefonso (1777). Logo em seguida vieram os africanos e, mais adiante, pomeranos, alemães, italianos, franceses, poloneses, libaneses e palestinos, entre outros.
Nesta porção meridional, estão alguns dos berços do povo e da cultura gaúcha, como Rio Grande, a mais antiga cidade do Rio Grande do Sul, que emprestou seu nome ao Estado e porto por onde chegaram as primeiras tropas portuguesas. A lista também inclui Pelotas que, durante o século XIX, foi a grande potência econômica e cultural do Estado a partir da indústria do charque, e Piratini, eterna capital da República Riograndense, proclamada durante a Guerra dos Farrapos.
A proximidade da fronteira com o Uruguai - as cidades de Chuí, Santa Vitória do Palmar e Jaguarão são vizinhas dos hermanos - contribui, ainda, para uma mistura cultural antiga e que integra a gênese do gaúcho original.
Hoje, toda essa história está ao alcance dos turistas não apenas nos museus, que somente em Rio Grande são 22; ou no casario de relevância histórica - apenas em Pelotas são 97 -, mas também em roteiros, caminhos e eventos étnicos, culturais e religiosos. Um exemplo é a Festa de Iemanjá, na praia do Cassino, considerada a maior do Estado, o Caminho Pomerano de São Lourenço do Sul, no qual é possível mergulhar na história da imigração pomerana no Sul do Brasil ou a Semana Farroupilha de Piratini, consolidada como uma das maiores celebrações da cultura gaúcha.
"Não precisamos de um parque temático para falar sobre o gaúcho, pois temos a história", diz Jussara Argoud, gestora de projetos do Sebrae-RS na região e que, desde 2003, trabalha na construção da Costa Doce Gaúcha.

Um safari pelas lagoas do Sul

Safari Savana do Pampa proporciona observação, contemplação e integração com a natureza

Safari Savana do Pampa proporciona observação, contemplação e integração com a natureza


/LEANDRO PEREIRA/divulgação/jc
Entre as novas iniciativas de turismos que apareceram na região da Costa Doce Gaúcha nos últimos cinco anos, uma em especial chama atenção pela peculiaridade: um safari de observação, contemplação e integração com a natureza exuberante das regiões lagunares do Sul do Brasil.
O produto é oferecido desde 2018 pela empresa Eco 360° Ecoturismo e Aventura, sediada em Arambaré e especializada em produtos de turismo ecológico. "O ecoturismo é uma maneira de fomentar tanto a economia local, como gerar conscientização sobre a preservação do meio ambiente, porque se trabalha tanto com crianças como adultos, vai muito além de uma atividade econômica e de levar as pessoas de um lugar para outro", comenta Leandro Pereira, gestor da Eco 3600.
A Expedição Safari Savana dos Pampas inclui passeios em veículos 4x4 pela costa da Lagoa dos Patos, seja entre Arambaré e Tapes ou entre Tavares e Mostardas, ambos trajetos contam com paisagens que incluem figueiras centenárias, butiazais, recantos da fauna selvagem e, praias desertas, nas quais costumam ser servidas refeições ao gosto do público e que pode variar desde um cardápio fit ou vegano até o tradicional churrasco. Os passeios duram entre 7h e 8h e todos os carros são equipados para garantir segurança e conforto aos viajantes.
Que optar pelo passeio entre Tavares e Mostardas pode conhecer um dos principais refúgios de aves migratórias da América do Sul, o Parque Nacional da Lagoa do Peixe, que serve de habitat fixo ou temporário para aproximadamente 350 espécies de aves, sendo 30% delas migratórias. O local é o único ponto no Brasil onde se pode avistar flamingos selvagens, em ambiente natural.
 

Regionalização como diferencial

Parque Nossa Senhora da Conceição leva a Canguçu turistas que buscam rotas religiosas como destino

Parque Nossa Senhora da Conceição leva a Canguçu turistas que buscam rotas religiosas como destino


/prefeitura de canguçu/divulgação/jc
O projeto "Costa Doce Gaúcha - Extremo Sul do Brasil" permitiu interligar todas as cidades da região, desde Guaíba até o Chuí. "Isso ajuda a todos porque quando se tem vários destinos e várias cidades do entorno com o mesmo propósito de explorar o turismo, todas ajudam a agregar", comenta Gilmar Bazanella, secretário de Desenvolvimento, Turismo e Inovação de Pelotas.
Hoje, segundo ele, já é possível ver acontecer. "Quando pessoas vêm fazer um roteiro em São Lourenço ou Canguçu usam Pelotas como base", exemplifica Bazanella, ao destacar que isso está se consolidando cada vez mais com a região se inserindo dentro do mercado turístico do Brasil.
Em Canguçu, por exemplo, um dos atrativos é o Parque Turístico Nossa Senhora da Conceição é um destino procurado por quem busca rotas religiosas. A imagem de 12 metros de altura fica localizada numa das áreas mais belas e altas da Serra dos Tapes.
O raciocínio sintetiza a mudança de percepção sobre o turismo registrada na região nos últimos anos e que tem sensibilizado os gestores públicos a fazerem investimentos importantes e necessários na infraestrutura das cidades para qualificá-las, para receber bem os viajantes e, também, motivado os empreendedores a investir em produtos locais.
 
 

Via de cicloturismo ecológico entre Pelotas e Morro Redondo passa por propriedades rurais

Via de cicloturismo ecológico entre Pelotas e Morro Redondo passa por propriedades rurais


LEANDRO KARAM/DIVULGAÇÃO/JC
Um exemplo é a pequena cidade de Morro Redondo, distante 33,5 km de Pelotas, onde, em 2013 um grupo de apenas sete pessoas iniciou a implantar o roteiro Morro dos Amores, integrado por propriedades rurais e pousadas caprichosamente instaladas a beira de rios, arroios e cachoeiras, nas quais se contemplam paisagens típicas das regiões serranas, além de vivenciar experiências gastronômicas características de uma colônia fundada por imigrantes alemães e pomeranos.

Atualmente, o roteiro congrega nada menos do que 37 empreendimentos dedicados a hospedagem, visitação, gastronomia e comércio de produtos artesanais. Há também três eventos anuais: a Feira dos Produtos Coloniais e Artesanato (abril), a Festa do Doce Colonial (junho) e a Festa Flores, Cores e Sabores (outubro). O crescimento do Morro dos Amores se refletiu, inclusive, na administração pública com a criação do Departamento Municipal de Turismo.

Para a vice-prefeita de Morro Redondo, Angélica Boettege dos Santos, uma das pioneiras do roteiro, a regionalização do turismo é fundamental para o sucesso da iniciativa.

"Nosso produto turístico está sempre em constante melhorias, mas por sermos um município de apenas 6 mil habitantes, ainda não conseguimos atender o turista por muitos dias, somente em Morro Redondo, nesse ponto entra a importância da interlocução com os municípios vizinhos, o que garante o fortalecimento da nossa Serra dos Tapes", diz.

Mudança de mentalidade está no centro do desenvolvimento do setor

Rio Grande quer estabelecer uma matriz produtiva e econômica baseada na inovação e na economia azul

Rio Grande quer estabelecer uma matriz produtiva e econômica baseada na inovação e na economia azul


/Rodrigo Chagas/divulgação/jc
Consolidar um grande pacto social em torno da ideia do turismo como uma ferramenta de desenvolvimento regional passa, necessariamente, pela mudança de mentalidade das populações sobre a capacidade do setor em alterar a realidade econômica das cidades. Na maior parte das comunidades da Costa Doce Gaúcha, há sinais positivos de que isso vem acontecendo.
"É um desafio realizar a Semana Farroupilha, pois é um evento que não se faz sem a comunidade. E, a cada ano, há mais gente querendo se integrar por enxergar o turismo como uma oportunidade", afirma a secretária de Cultura e Turismo de Piratini, Ana Caroline Caetano. Segundo ela, isso mostra que é possível consolidar a atividade como alternativa de desenvolvimento local e regional. "Porém, duas cidades em especial parecem conseguir avançar mais rapidamente, neste sentido: Rio Grande e São Lourenço do Sul", diz Ana Caroline.
Na mais antiga cidade do Estado, a construção deste pacto social está ligada a uma proposta ambiciosa, que vem sendo colocada em prática nos últimos anos, que é a de estabelecer na cidade uma matriz produtiva e econômica baseada na inovação e na economia azul, ou seja, aquela advinda e direcionada para as águas. Para auxiliar nessa missão, a prefeitura de Rio Grande foi atrás de um dos maiores especialistas mundiais em cidades inovadoras, o espanhol Josep Pique, responsável por projetos que mudaram radicalmente cidades como do Distrito @22 em Barcelona, na Espanha, e o projeto de revitalização de Medellin, na Colômbia.
"A partir deste grande pacto que estamos construindo em torno da economia azul, o riograndino começa a ver o turismo como um potencial de renda e oportunidades de negócios e tem a percepção de que investir no turismo vale a pena, porque o retorno vem", analisa a secretária de Desenvolvimento, Inovação e Turismo, Luciane Compiani.
No início de abril deste ano, a realização da primeira edição do Festival do Mar (Festimar) - evento que substituiu a antiga Festa do Mar - com atividades espalhadas por várias partes da cidade contou com alta taxa de adesão do empresariado e da comunidade local e, com isso, serviu para comprovar a crença da população no poder do turismo como alternativa de desenvolvimento.
Já em São Lourenço do Sul, conhecida pelo apelido de Pérola da Lagoa, o turismo já é a terceira força da economia ficando atrás apenas do agronegócio e do setor de comércio e serviços. O calendário de eventos, que não se limita a temporada de veraneio, é apontado pela secretária municipal de Turismo, Indústria e Comércio, Fernanda Helms, como principal motivo dos bons resultados.
"Trabalhamos o ano todo com diversos eventos e não apenas no ramo do entretenimento, mas também buscamos atrair conferências, encontros de profissionais e de classe, como o Mental Tchê, um dos maiores encontros de saúde mental do Estado e que este ano chega a 16ª edição. A prefeitura também investe na promoção de eventos esportivos e outros que agreguem valor a baixa temporada, como o Festival de Inverno e o Festival de Bandas Marciais", explica.
O retorno desse trabalho se reflete na economia. Conforme os dados da prefeitura existem atualmente 200 empresas com atividades relacionadas ao turismo em funcionamento de São Lourenço. "Hoje, a Costa Doce Gaúcha se posiciona como uma nova região de turismo, até alguns anos não se era nem reconhecida como destino turístico", reforça Jussara Argoud, gestora de projetos do Sebrae-RS na região.

Serra dos Tapes ganha visibilidade com o turismo rural

Objetivo é mapear cinco caminhos pelo interior de Pelotas, um deles com cerca de 15 a 20 empreendimentos

Objetivo é mapear cinco caminhos pelo interior de Pelotas, um deles com cerca de 15 a 20 empreendimentos


/Rodrigo Chagas/divulgação/jc
Talvez pouca gente saiba, mas a região da Costa Doce conta com a Serra dos Tapes, como é conhecida a parte serrana dos municípios de Pelotas, Arroio do Padre, Morro Redondo, Canguçu, São Lourenço do Sul e Turuçu. O nome Tapes vem do povo original que habitou tanto as planícies como as áreas mais elevadas da região até a chegada dos colonizadores europeus.
No final do século XIX, parte dessas terras foram loteadas e vendidas para famílias de imigrantes pomeranos, alemães, italianos, franceses e ingleses trazidos para o Sul do Estado. Nesses loteamentos se formaram colônias, algumas das quais se transformaram em cidades, como São Lourenço do Sul, Morro Redondo, Arroio do Padre e Turuçu.
Nos últimos anos, o surgimento de uma série de empreendimentos voltados ao turismo rural começou a dar visibilidade para a Serra dos Tapes, especialmente na porção localizada no interior de Pelotas. No final de abril, empresários do setor fundaram o Grupo Associativo de Empreendedores em Turismo Rural (Gassetur), uma iniciativa que tem como objetivo reorganizar o turismo rural no interior de Pelotas e fortalecer a marca Serra dos Tapes.
Para isso, o grupo deve lançar, já em junho, ao menos cinco caminhos turísticos percorrendo o interior do município, cada caminho deve ter entre 15 e 20 empreendimentos envolvidos. "São aproximadamente 55 empreendimentos envolvidos com a efetivação destes roteiros na zona colonial de Pelotas. A ideia é englobar várias formas de turismo que vão desde experiências gastronômicas, ecoturismo, turismo de contemplação, turismo cultural, compras e até necroturismo, pois os cemitérios do interior ajudam a contar a história da imigração e possuem patrimônios e históricos singulares", diz Nivea Saraiva, presidente do Gassetur.
A experiência de Nívea e do marido, Cristian Gomes, que trocaram o trabalho como representantes comerciais da indústria farmacêutica para investir na construção de um parque de aventura e contemplação no interior de Pelotas, virou case de sucesso e tem inspirado outras pessoas pela região.
Em fevereiro de 2019, o casal adquiriu uma propriedade rural abandonada às margens da BR-392, na localidade da Cascata, com a ideia de implantar nos 37 hectares um parque capaz de oferecer atrações ao ar livre para todos os públicos.
No auge da pandemia, com as pessoas exaustas do isolamento social e buscando opções de lazer em locais abertos e seguros, o parque Stone Land começou a funcionar oferecendo a opção de piqueniques agendados e um plano de negócios montado com a orientação do Sebrae-RS.
As cestas vendidas continham apenas produtos feitos por agroindústrias da região: pães, queijos, salames e, a roda de carreta produzida na cozinha da própria família. Nos primeiros meses eram comercializadas 20 cestas por final de semana. Em agosto o número subiu para 70 e em outubro chegou a 400, sendo que no Dia das Crianças de 2019, mais de 2,5 mil pessoas passaram pelo parque no final de semana. "Foi uma loucura. Toda a família teve que ajudar. Se ficava até as 3h fazendo roda de carreta e pão, para voltar as 8h e reabrir o parque", conta.
O lucro daqueles dias foi usado para qualificar o local, com a compra de quatro contêineres que foram transformados em banheiros e quiosques de alimentação. Desde então toda a família se dedica a fazer do Stone Land uma referência no turismo rural regional. "Somos referência para os outros porque já entramos para o turismo com todo o olhar necessário para atender o público. Tudo segue normas de segurança, tem responsáveis técnicos e nosso sistema de recepção aos visitantes é pautado para atender o turista com afetividade, segurança e qualidade", diz Nívea.
 

Desbravando a maior praia do mundo

Praia do Cassino, em Rio Grande, é considerada a maior do mundo em extensão, com 254 quilômetros de extensão

Praia do Cassino, em Rio Grande, é considerada a maior do mundo em extensão, com 254 quilômetros de extensão


/Divulgação/Álvaro Guimarães
Há 11 anos, o cirurgião-dentista porto-alegrense Fernando de Souza Neto sentiu necessidade de se desconectar da vida que levava na Capital. Sem dinheiro para atravessar o Atlântico e buscar respostas no consagrado Caminho de Santiago de Compostela (ESP), decidiu se aventurar no que classifica como "o abismo horizontal" dos 254 km de faixa de praia.
"Procurei relatos e não havia nada, era muito pouco conhecido esse caminho. Mas eu conhecia as pontas e resolvi fazer o trecho entre elas e, fiz, sozinho", conta. O resultado foi, segundo relata, impressionante. "Caiu tanta ficha que voltei de lá com a ideia de dar uma guinada definitiva na vida".
A partir dos feedbacks recebidos ao contar a história da aventura, que inclusive rendeu um livro "Peregrino Off-Road, Sou Todo Ouvidos", decidiu garantir meios de proporcionar a outras pessoas a mesma experiência, surgia dessa forma, há dez anos, a empresa Caminhos dos Faróis, sediada em Santa Vitória do Palmar.
Desde então, a empresa organizou 40 travessias para grupos de cerca de 15 e oferece dois tipos de aventura: a travessia Cassino-Chuí e o Caminho dos Faróis. A primeira segue o percurso original, feito por Neto e percorre a praia, saindo de Rio Grande e chegando no Chuí em oito dias de caminhada. A segunda opção é mais leve, são "apenas" 190 km entre a localidade da Capilha, no Taim, em Rio Grande até o Chuí, passando pelos quatro faróis do litoral extremo sul do Brasil, Albardão, Sarita, Verga e Chuí.
Nas duas modalidades, estão inclusos no pacote acampamentos, refeições, equipe de apoio especializada e um trajeto selvagem que inclui o maior conchário da América do Sul, paisagens inóspitas e até dois dias sem ver uma única pessoa além dos membros da expedição.
"Não tenho vocação para guru. O grande guru é a natureza, o nosso convite é: vem caminhar, que a gente organiza os acampamentos e possibilita, assim como possibilitou para mim, esse cair de ficha ao se afastar das rotinas diárias, dessa vida louca cheia de informações desnecessárias o tempo todo. É isso que eu ofereço para as pessoas."

* Álvaro Guimarães é natural de Rio Grande e jornalista formado pela Universidade Católica de Pelotas. Atualmente, trabalha como assessor de comunicação e repórter freelancer.