Brechó se consolida como segmento de consumo no Rio Grande do Sul

Setor atua em ramos que vão do comércio popular às roupas de luxo e de marca

Por JC

Fotos do Brechó Perk e de uma das proprietárias com sua filha e sócia
Lívia Araújo, especial para o JC*
Com opções para todos os gostos - e bolsos - os brechós se firmam cada vez mais como uma alternativa de consumo mais consciente. Não só o preço muito menor em relação às peças de primeira mão, mas qualidade, design consagrado e o atendimento diferenciado e personalizado nas lojas atraem compradores. As lojas são ainda principalmente físicas, mas a negociação pelas redes sociais e pagamento pelo PIX vão aumentando sua participação no faturamento desses empreendedores. Além disso, lojas online e o foco em sustentabilidade têm ampliado a atuação desse setor, que, segundo pesquisas, deve passar por crescimento vertiginoso nos próximos anos.
 

Um atendimento personalizado, próximo a uma assessoria de moda, e a possibilidade de adquirir um "sonho de consumo" por um preço muito mais acessível tem levado cada vez mais pessoas - principalmente mulheres - a preferir o brechó na hora de comprar roupas e acessórios.
Por isso, o segmento tem se consolidado cada vez mais, atuando em ramos que vão do comércio popular às roupas de luxo, e passando por nichos específicos como as roupas infantis, para prática esportiva ou as peças vintage; e atraindo, inclusive, a atenção de grandes redes e investidores, que podem ampliar a atuação online e mobilizar um grande universo de fornecedores e prestadores de serviço.
Segundo dados de pesquisa com consumidores realizada pela Global Data nos anos de 2019 e 2020, o mercado de segunda mão cresce 25 vezes mais rápido que o segmento de moda tradicional. No Brasil, o mercado representa uma movimentação de R$ 7 bilhões, com potencial de chegar a R$ 31 bilhões até 2025.
Já nos Estados Unidos, segundo a mesma pesquisa, esse mercado conquista, cada vez mais adeptos entre os jovens: 40% da Geração Z e 30% dos Millenials já são consumidores do mercado de segunda mão.
Outro dado resultante de uma pesquisa do site Enjoei com o Boston Consulting Group, mostra que esse mercado poderá ultrapassar o valor do mercado de fast fashion no Brasil até 2030, podendo crescer de 15 a 20%. Ainda que não haja números gerais consolidados para o Rio Grande do Sul, empresários ouvidos pelo Jornal do Comércio são unânimes em apontar que a perspectiva é de crescimento, e as trajetórias retratadas aqui comprovam o caminho trilhado por esses empreendedores.
Para além do mero comércio de artigos que trocam de mãos e vão para o guarda-roupa de outros donos, os brechós são a segunda vida de marcas cobiçadas e que têm preços exorbitantes não só em época de crise. O preço alto garante, em parte, a exclusividade das peças e seu destaque em relação à moda fast-fashion, disponível em grandes quantidades nas lojas de departamento. Mas, nos brechós, o mesmo glamour custa, em média, um terço do preço original.
"Na Animale, você paga R$ 700 numa regatinha, que aqui pode encontrar por R$ 100. Se uma bolsa de uma marca como Prada custa R$ 13 mil ou R$ 14 mil, no brechó você pode encontrar por R$ 3,5 mil ou R$ 4 mil dependendo do modelo", exemplifica Cláudio Alex Strassburger, proprietário do Vintage Boutique Brechó, que existe há 10 anos no Moinhos de Vento, em Porto Alegre.
Esses preços mais convidativos fazem com que o público de sua loja, que iniciou se especializando em peças Vintage de marcas como Pierre Cardin - extremamente populares nos anos 1970 e 1980 - ampliasse sua oferta. Agora, ele pontua que a maior parte da clientela busca roupas do dia a dia - para manter a elegância em ambientes de trabalho como escritórios e bancos. "O que tento é oferecer qualidade. Não importa se a cliente vai comprar um shortinho ou uma t-shirt: eu quero que ela leve o melhor shortinho, e fique bem vestida com ele", diz.
Mas o Vintage vai além: tem roupas de luxo, de festa e até raridades como um vestido de casamento do consagrado estilista gaúcho Ruy Spohr ou de Clodovil, um dos antigos estilistas mais famosos do País. Isso torna o brechó relevante, inclusive, como um recurso educacional. Com seu acervo de cerca de 50 mil peças, serve também de "laboratório" educacional para os cursos de moda da ESPM de Porto Alegre, com o qual mantém uma parceria.
 
 
 
Guedes e Lisia, proprietários do Me Gusta, destacam a importância do clima de uma loja não convencional. Isabelle Rieger/JC
Faixas de preço acima de R$ 1 mil ou mesmo R$ 100,00 podem parecer altas em comparação a brechós populares - em Porto Alegre, a referência principal dessas lojas é a Avenida João Pessoa, nos bairros Cidade Baixa e Azenha, que praticam preços a partir de R$ 5,00 -, mas George Guedes e Lisia Guerreiro, do Brechó Me Gusta, também no Moinhos, defendem que "o que é caro e barato, é relativo". "Um tênis que custa R$ 900,00 e sai por R$ 150,00 não é caro", salienta George.
Há também um valor excedente no preço final da peça de brechó, composto pelo trabalho feito em cada peça: lavagem, com produtos que preservam as características da roupa, reparos em botões, zíperes e outros possíveis defeitos e até o trabalho de peleteiros, que se ocupam das peças em couro e pele que fazem parte, por exemplo, dos produtos à venda no Vintage Brechó.
Outro diferencial apontado pelos empresários diz respeito à abordagem ao seu público: todos apontam a dinâmica das "lojas comuns" como sendo voltada a efetivar a venda, enquanto nos brechós a postura das atendentes se aproxima mais da orientação e da consultoria, até porque "navegar" no acervo dos brechós é uma tarefa mais complexa do que nas lojas de marcas ou departamento. "Se você quer um vestido tamanho 40, eu não tenho dez, eu tenho 150 vestidos tamanho 40, então é um garimpo", explica Alex.
Segundo o lojista, "a gente nunca empurra mercadoria, pois está aqui pra assessorar. Queremos que a cliente saia daqui totalmente satisfeita. Porque o evento não vai funcionar se você não estiver totalmente segura de si", aconselha.
Lisia, do Me Gusta, corrobora: "as clientes passam o dia aqui, mesmo. Elas gostam do clima, do ambiente que não há em uma loja convencional. Além disso, uma loja tem todos os tamanhos. Aqui, se ela não aproveitar o momento em que aquele vestido ficou perfeito, ela não vai ter outro", explica. Essa dinâmica mais fluída entre quem vende e quem consome também favorece um grande aliado dos brechós na hora de oferecer as novidades que chegam: as redes sociais, principalmente o Instagram. Lives para mostrar as peças recém-chegadas, para conversar com as clientes, stories e postagens dos produtos agilizam a negociação e muitas vezes possibilitam que a compra se concretize ali mesmo, via mensagem direta e com pagamento pelo PIX.
No Brechó Me gusta, cada live - são normalmente quatro por semana - resulta em cerca de dez compras fechadas. "As pessoas confiam tanto na gente que pagam antes de falar com o Guedes. Fazem isso porque estamos aqui, nossa cara está aqui. E a gente posta bastante (no Instagram)", conta Lísia, que pontua que as vendas pelo Instagram representam uma parcela importante das vendas regulares do brechó. Uma das clientes do Me Gusta vive em Londres e fecha compras vantajosas na conversão do Real para a Libra Esterlina.
Já no Vintage, além das lives realizadas por Alex, há seis postagens diárias no Instagram e incontáveis stories. No Perk, revela Larissa, as vendas pelo Instagram representam 60% do faturamento do brechó, com compras que têm um tíquete maior do que as presenciais.
Esses lojistas creem, pelo que vêm vivenciando, em um futuro inevitavelmente promissor para o segmento de brechós. Alex crê que, em poucos anos, "os brechós vão dominar o mercado da moda. As marcas estão muito repetitivas e a qualidade é algo importante. Eu não quero comprar algo que vou usar uma vez, colocar na máquina de lavar e a roupa vai se estragar", critica. Para Larissa, que projeta que os empreendimentos no setor pelo menos dobrem nos próximos dez anos, a tendência se comprova pela própria adesão de grandes marcas por meio de aquisições.
 

Compra, consignação e troca: possibilidades de negócios com fornecedores

Quem administra brechós são verdadeiros "garimpeiros" da moda, pois têm a sensibilidade de reconhecer peças especiais, os reparos necessários, ou ainda a roupa perfeita para uma cliente habitual. Alex Strassburger, do Vintage Brechó, está sempre "de olho" nas oportunidades. "Se eu tiver de ir a outro brechó, eu vou. Também a feiras. Sempre que viajo de férias, estou sempre garimpando. Eu estive 10 dias em Paris e garimpei. Em uma feira de Ipanema (no Rio de Janeiro), sempre tem algo que você pode pinçar", revela.
Em outro brechó, o Perk, a prática também é mais do que válida. "Garimpar eu aprendi que é uma arte", exalta a sócia Larissa Ebling.
Porém, a principal fonte de matéria-prima para os brechós vem das próprias clientes, numa relação bilateral onde, em alguns casos, o consumismo pode resultar em bons negócios tanto para quem fornece quanto para o lojista.
"Tenho algumas clientes há 10 anos, que são minhas fornecedoras fixas. São seis clientes 'top', que compram as coleções fechadas de grandes butiques, e não usam. Ou usam uma vez e não repetem a roupa. Então, chegam muitas peças ainda com etiqueta", confidencia Alex.
As modalidades de negociação também são diversas: enquanto no Vintage, Alex compra as peças de suas fornecedoras, no Me Gusta a relação é de consignação. Vendida a peça, o brechó paga um terço do valor de venda. Assim, agregando clientes e amigas, Guedes e Lisia angariaram cerca de 1,8 mil fornecedoras cadastradas ao longo de 10 anos de funcionamento. Outra possibilidade, ainda, é a troca, principal modalidade praticada no Brechó Perk, de Larissa.
 

Perk surgiu em 2018 e já conta com três lojas no Estado

Uma amostra prática da disseminação dos brechós entre diversos segmentos de público foi a rápida ascensão do Brechó Perk, que surgiu em Porto Alegre em 2018, no bairro Cidade Baixa. A empresa atualmente conta com três unidades - uma delas em Guaíba, na Região Metropolitana da capital gaúcha - e ainda um atacado que fornece para outros brechós.
Funcionárias em lojas de shopping, Larissa Ebling e a mãe, Paula Ferreira, sempre tiveram o hábito de comprar roupas em seus intervalos de trabalho. Sentindo a necessidade de desapegar do vasto guarda-roupa que tinham, elas abriram uma conta no Instagram para vender as roupas e, em cerca de apenas 20 dias, viram-se diante do imperativo de oferecer um espaço físico para que as clientes pudessem experimentar as peças e montar looks.
"Achamos uma sala de 20m2, no 3º andar de um prédio na Rua Lima e Silva. Apesar do calor de fim de ano, das escadas, foi dando muito certo. Tínhamos um capital de R$ 800,00 e a ajuda dos meus avós, que compraram as tintas para pintar a sala e nos levaram até Gravataí para comprarmos araras no OLX (site para compra e venda, justamente, de itens usados)", relembra Larissa.
No mesmo prédio, Larissa e a mãe ampliaram o espaço em uma sala no 2º andar e, finalmente, no térreo, quando puderam contratar duas funcionárias para o atendimento. Na sequência, o Perk se transferiu para o shopping Nova Olaria, a alguns metros, para um espaço muito mais amplo: eram 500m2 com uma ampla oferta de roupas e acessórios.
Larissa resume a história quase com a mesma rapidez com que se expandiram os negócios da empresa: "em março de 2020, somente dois dias antes do fechamento da pandemia, alugamos uma loja no Moinhos de Vento. Não imaginávamos que a pandemia seria o que foi, mas acabou sendo um tiro no escuro que deu muito certo. Acabamos saindo do Olaria, pois não podíamos receber nossas clientes ali, nem ao menos entregar pela janela. Então, voltamos para o antigo endereço da Cidade Baixa onde ficamos temporariamente. Chegamos a voltar para o Olaria depois de alguns meses, mas, com a falta de movimento da Cidade Baixa, fomos para o Bom Fim. Ao mesmo tempo, uma semana depois, também estávamos abrindo outra loja na Zona Sul, e, nesse primeiro trimestre, de 2023 vamos voltar para a Cidade Baixa. E abrimos também uma loja em Guaíba", enumera.
Além disso, o Perk conta com as vendas online, pelo mesmo Instagram criado em 2018 - a participação no valor das vendas por meio da rede social equivale atualmente a 60% da renda da empresa.
Em abril de 2022, o brechó Perk também inaugurou um estoque na rua Coronel Bordini, que também funciona como um atacado para outros brechós e conta atualmente com cerca de 30 clientes que são atendidos pela mãe de Larissa com hora marcada. "Existe entre os brechós uma dificuldade de encontrar roupas de qualidade nas estações certas. No inverno, os estoques acabam rápido e, nos lugares onde normalmente se garimpa, como feiras beneficentes, há escassez de peças em bom estado. Então resolvemos disponibilizar nosso estoque para outros brechós. É exatamente o mesmo produto, com a peça em plenas condições. Além disso, promovemos encontros entre os brechós, onde as proprietárias falam de suas principais demandas, onde há troca de dicas e experiências. É bem bacana", relata.
O público do Perk é bastante amplo. Apesar do perfil predominantemente mais popular do que os brechós especializados em marcas famosas ou roupas de luxo, as filiais acabam absorvendo o perfil das regiões em que atuam. Por isso, Larissa explica que as consumidoras das lojas da Cidade Baixa e do Bom Fim têm um perfil mais voltado ao vintage e a peças mais "descoladas"; no Moinhos, o Perk tem uma pegada mais ligada a marcas notórias e peças mais chiques; em Guaíba, o perfil é totalmente popular, marcado pelos preços baixos. E, na Zona Sul, para a grande surpresa de Larissa, a grande procura das clientes é para roupas para a prática esportiva e fitness. Já no Instagram, conta Larissa, o perfil das compradoras é uma espécie de "espelho" do estilo pessoal da mãe: são roupas joviais, que lembram as coleções da marca carioca Farm.
Os preços também seguem esses perfis: o Perk tem preços que partem de R$ 5,00 e podem chegar a R$ 2 mil, dependendo do valor original das peças e de fatores como estado de conservação, exclusividade, marca e outros.
Adquirindo peças exclusivamente no sistema de trocas - sendo, portanto, as fornecedoras também clientes - o Perk chegou a um catálogo atual de 2 mil fornecedoras. Já o volume mensal de vendas pode chegar a até 4 mil peças por loja, em um tíquete médio que vai de R$ 200,00 a R$ 300,00. "Tudo o que conquistamos se deve a essas clientes. É incrível o quanto elas são fiéis, e acabam também se tornando nossas amigas. Nossa primeira cliente segue comprando e viveu conosco todas essas fases", conta.
Se o crescimento do Perk parece acelerado, mais ainda são os planos de Larissa e sua mãe. Para 2023, a dupla pretende abrir mais quatro unidades, uma na zona Norte de Porto Alegre e outras três em Canoas, Novo Hamburgo e na vizinha Santa Catarina.

Sustentabilidade é principal foco do Repassa

Dentre os marketplaces de produtos de segunda mão ou de artesanato, o Repassa, fundado em 2015 e adquirido pelas Lojas Renner em 2021, tem um modelo diferenciado. Os mais de 600 mil itens disponíveis no site não são vendidos pelos seus ex-donos, mas fornecidos e entregues por ele a uma rede logística - a Sacola do Bem - que envolve não só o envio das peças, mas que também conta com pontos de entrega em 56 lojas da Marca Renner nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, e nas cidades de Belo Horizonte (MG), Porto Alegre (RS) e Salvador (BA).
Dessa maneira, é o próprio Repassa que se encarrega do controle de qualidade das mercadorias - as peças fornecidas poderão não ser aceitas, caso não tenham condições de venda -, e se responsabiliza por todo o caminho da peça, até que ela chegue ao comprador final: precificação, produção de fotos e catálogos e a entrega da peça adquirida. Ao fornecedor, cabe 60% do valor de venda, disponibilizado pelo "Saldo Repassa", uma carteira digital cujo conteúdo pode ser sacado por transferência bancária ou usado para compras no site. Os valores também podem ser doados para organizações sociais parceiras.
"Isso permite uma prestação de serviço mais completa e maior conveniência ao usuário, proporcionando encantamento, por ser um processo que gera menos trabalho ao vendedor", explica Tadeu Almeida, fundador e CEO do Repassa.
O sistema é balizado, segundo Almeida, em estimular, cada vez mais, "o aumento dos impactos socioambientais positivos na indústria têxtil", explica, "esclarecendo o consumidor de sua importante participação em toda a cadeia".
Com isso, o CEO relata que a plataforma acumula metas relevantes. "Somente em 2021, o Repassa promoveu a doação de 189 mil itens e R$ 316 mil para 38 projetos sociais em todo o País", enumera. Outros impactos medidos pela plataforma mostram que, desde a fundação, houve a economia de mais de 1,6 bilhão de litros de água e de 39 milhões de quilowatts/hora de energia que seriam necessários na fabricação de um volume equivalente de peças novas, evitando também a emissão de 7,3 toneladas de dióxido de carbono na atmosfera.
Já nas vendas, as mulheres vêm sendo, a exemplo dos brechós físicos, o principal público que utiliza o Repassa. Os itens mais vendidos em 2022 foram as blusas (19,7%), vestidos (13,9%) e saias (4,83%). Já os termos mais buscados no site foram vestidos, blazers, bolsas e casacos.
É por meio desse consumo mediado pelo Repassa, que a empresa consegue lucrar ao mesmo tempo em que estimula uma reflexão junto às consumidoras que, nas palavras de Almeida, "cada vez mais questionam sobre a origem dos produtos que compram, ou se há necessidade de adquirir uma nova peça de roupa", pontua. Segundo o CEO da Repassa, "ao consumirmos itens gentilmente usados, damos mais ciclos de vida para roupas e acessórios, minimizando significativamente o consumo dos recursos naturais utilizados pela indústria da moda. Uma peça de roupa gentilmente usada é tão boa, bonita e útil quanto uma nova, além de ser muito mais barata", avalia.
 

De desapegos a marketplace, Enjoei acumula 1 milhão de vendedores

O Enjoei surgiu em 2009, como um blog criado pelo casal Ana Luiza McLaren e Tiê de Lima, que queriam desapegar de suas roupas, calçados e acessórios, e acabaram também oferecendo itens fornecidos por seu círculo de amigos. A aceitação foi tamanha que três anos depois, em 2012, o antigo blog ganhou investidores e se transformou em um marketplace, agregando vendedores externos que disponibilizam seus "desapegos", com preços acessíveis ao grande público.
Exaltando esse pioneirismo, a head de comunicação do Enjoei, Beta Balbi, avalia que a empresa criou "uma comunidade que conecta compradores e vendedores em todo País, dando oportunidade de desapegar daquilo que não faz mais sentido e que será ressignificado pelo comprador", pontua. Segundo Beta, o investimento principal da plataforma é para que os usuários tenham uma boa experiência de compra e venda. "Reconhecemos os (vendedores) mais antigos e dedicados na plataforma, dando destaque aos 'Vendedores Super Legais' e suas lojinhas na homepage do app e site", salienta.
De acordo com a executiva, o Enjoei tem atualmente cerca de 4 milhões de produtos publicados na plataforma, com tíquete médio de R$ 150,00 por item, oferecidos por mais de 1 milhão de vendedores, e adquiridos por mais de 1,1 milhão de compradores ativos. "Só entre setembro de 2021 e setembro de 2022, por exemplo, houve um aumento de 17% de novos compradores cadastrados no marketplace", cita.
Como uma forma de ampliar a gama de serviços aos usuários, a empresa criou o Enjoei PRO, opção operacionalizada pela companhia e que cuida de todo processo, das fotos às vendas. "O serviço mostrou um crescimento de 127% no comparativo com 2021", ressalta Balbi. Na modalidade PRO, explica a executiva, todos os itens passam por uma curadoria antes de serem colocados à venda e não são aceitas peças manchadas, descosturadas, com bolinhas, entre outros fatores.
Além disso, os vendedores não optantes pela versão pro, a maioria, recebem uma série de orientações do Enjoei, no sentido de garantir a qualidade em produtos e na venda efetivada por eles. De acordo com ela, todo o anúncio precisa, obrigatoriamente, ter foto e descrição do item a ser vendido, apresentar o tamanho e informar a condição da peça, nova ou usada. O comprador pode ainda deixar um comentário ao vendedor, tendo a oportunidade de esclarecer dúvidas no próprio anúncio. Se ainda assim ele adquirir um item e perceber que não atendeu suas expectativas, o usuário poderá pedir devolução com poucos cliques. "É um processo bem simples. Temos processos e ferramentas para verificar a autenticidade dos anúncios e evitar fraudes. Os abusos são coibidos e, dependendo do problema, o vendedor pode ser descadastrado da plataforma", detalha.
Ainda que o foco principal do site seja na moda de segunda mão, reunindo a maior parte dos acessos, o aumento do interesse do público fez com que a empresa ampliasse o escopo da ferramenta, aceitando a venda de itens como peças de decoração, brinquedos, eletrônicos, entre outros. Outro movimento feito pela empresa foi a abertura de capital, em 2020, quando estreou na B3 com uma oferta inicial de ações de R$ 1,13 bilhão.
O plano, segundo Beta, é ampliar o alcance de público e "tornar a experiência de compra e venda ainda mais divertida e proveitosa dentro da nossa plataforma", vislumbra.

*Lívia Araújo é jornalista formada pela Unesp, no Estado de São Paulo. Trabalhou na editoria de política do JC entre 2014 e 2020 e atualmente é editora de livros e sócia na Diadorim Editora, de Porto Alegre.