Programa da CMPC almeja 15 mil hectares com eucaliptos em 2023

De acordo com diretor-geral da empresa, expectativa é de atingir patamar na metade do ano que vem

Por Jefferson Klein

Mauricio Harger (CMPC)
Lançando no começo de 2022, o programa de Fomento RS Renda da CMPC tem como foco dar suporte para produtores rurais iniciarem o cultivo de eucaliptos, com garantia de compra da madeira para esses empreendedores e, em contrapartida, fornecimento de matéria-prima para a fábrica de celulose da companhia em Guaíba. Conforme o diretor-geral da empresa, Mauricio Harger, a expectativa é alcançar em torno de 15 mil hectares abrangidos pela iniciativa até meados do próximo ano. Atualmente, a CMPC possui cerca de 250 produtores rurais parceiros na produção de madeira no Rio Grande do Sul.
Empresas&Negócios - Quando a CMPC iniciou o RS Renda e como tem sido a evolução da ação?
Mauricio Harger - O programa foi lançado efetivamente neste ano, no mês de janeiro. Ele tem tido resultados muito positivos, uma boa aceitação, porém, ainda temos negócios em andamento não tão ágeis como gostaríamos. Temos melhorado os nossos processos internos para que possamos aumentar a eficiência e a aceitabilidade do programa. Em meados de novembro, já tínhamos fechado algo em torno de 2 mil hectares e em negociação mais cerca de 5 mil hectares. A gente tinha colocado uma meta de no primeiro ano chegar a 15 mil hectares, mas devemos atingir esse objetivo na primeira metade de 2023.
E&N - Quando chegar aos 15 mil hectares, o programa estará concluído?
Harger - Essa meta não é um teto, é de checagem, para vermos como está o volume do programa, quais são as condições que precisamos revisitar. A ideia é, atingido esse objetivo, fazermos um diagnóstico de como foi essa primeira onda do programa e dar continuidade à iniciativa. Agora estamos trabalhando para intensificar contatos, visitas e despertar o interesse dos produtores para que isso acelere e a gente consiga atingir essa primeira meta que colocamos.
E&N - O que está sendo feito pela CMPC para alcançar esse objetivo de aumentar os hectares abrangidos dentro do programa?
Harger - Temos aumentado muito a publicidade do nosso programa para atingir os cerca de 70 municípios que são do nosso interesse e estão localizados, principalmente, mais ao Sul do Estado. Estamos bastante otimistas com a receptividade do programa e esperamos que ele siga ativo. Ele não fecha e estamos tornando o programa mais atrativo e mais ágil, com negociações mais alinhadas com a necessidade do produtor e com a nossa, para fecharmos esses acordos de longo prazo. O contrato que a gente pretende fazer é de oito a 16 anos.
E&N - Tem uma ideia de quantos hectares seriam necessários no total para atender à demanda definitiva da empresa?
Harger - Não temos ainda esse número exato, quando o nosso projeto estiver rodando (chamado de BioCMPC e que prevê, entre outras melhorias, o aumento da capacidade da planta de celulose de Guaíba), vamos ter um cálculo mais exato. Mas o crescimento florestal é algo muito importante para a gente e entendemos que pode estimular a economia do Rio Grande do Sul, a bioeconomia do Estado, mantendo esse programa ativo e criando oportunidades de renda, tanto para o nosso produtor como para todas as cadeias envolvidas. Sabemos que o efeito da produção de celulose é muito positivo na economia do Rio Grande do Sul.
E&N - Como é o formato do acordo firmado entre a CMPC e os produtores?
Harger - Nós temos alguns modelos de negociação. Temos o modelo em que nós, dependendo da região do Estado, nos responsabilizamos por tudo. É feita uma parceria em que ele (produtor) entra com a terra e nós com todo o trabalho. Após a colheita, a gente tem sociedade nessa madeira, parte é dele e parte é nossa. Claro que é do nosso interesse também comprar a parte do produtor e fazemos um contrato de compra e venda. Mas também temos contratos em que o produtor tem uma boa responsabilidade, em que ele tem maquinário e já faz algum tipo de gestão. Então, os modelos vão desde o extremo, em que nós cuidamos de tudo, ao outro ponto em que o produtor toca (a operação), mas damos o suporte técnico.
E&N - Qual o perfil do produtor que participa do programa?
Harger - O mais importante é que ele esteja localizado em áreas que fazem sentido, tanto em termos de distância da nossa unidade industrial (Guaíba) quanto da nossa operação no porto de Pelotas (local em que a CMPC tem um terminal hidroviário para movimentar matérias-primas). Quanto ao tamanho de propriedade, nós não temos restrição, funciona para propriedades muito pequenas, como muito grandes. Temos modalidades flexíveis, onde um pequeno produtor pode querer aproveitar uma área menor, com contrato garantido de compra de madeira, ou pode ser um empresário, autônomo, que só quer entrar com a terra, não tem limite.
E&N - Qual a distância que ainda torna viável o processo de parceria?
Harger - Normalmente, até cerca de 200 quilômetros, do porto de Pelotas ou da unidade industrial de Guaíba.
E&N - Dentro do programa RS Renda, a CMPC é a responsável pela operação logística da matéria-prima?
Harger - Dependendo do modelo, a gente faz a colheita e busca a madeira na propriedade. Se algum produtor preferir fazer parte de algumas atividades, a gente é flexível, mas normalmente os produtores que querem participar um pouco mais da operação, só participam da silvicultura, fazer a colheita em campo eles não querem, porque aí precisa um pouco mais de capital intensivo. Os maquinários para colheita necessitam maiores investimentos e são bem específicos.
E&N - Os produtores que têm aderido ao programa, eles estão com áreas ociosas ou substituindo culturas pelo plantio de eucaliptos?
Harger - Tem uma combinação. Alguns deles tinham florestas por sua conta e querem agora um contrato mais garantido, de compra de madeira, e alguns tinham outro tipo de plantação florestal, que vai desde acácia ao pinus, e têm interesse em eucaliptos, também com a garantia de comercialização, de preço e data de pagamento conhecida. Outros têm áreas em que tentaram outras culturas e não tiveram sucesso, tiveram perdas ou prejuízos por conta da baixa produtividade ou da condição climática e querem agora migrar para uma silvicultura que é muito mais resiliente. Então, tem um perfil variado.
E&N - Produtores que não têm experiência com a silvicultura, com o plantio de eucaliptos, também podem participar do RS Renda?
Harger - Mesmo que seja um produtor que queira entrar pela primeira vez, que não tenha conhecimento técnico, não tem maquinário, não tem dinheiro para investir, também levamos esse produtor para a silvicultura, preparando, treinando, financiando e dando o acompanhamento técnico para que ele possa entrar na atividade. Sabemos que há propriedades que têm uma produtividade mais baixa ou um terreno mais difícil para o plantio (de determinadas culturas) e o eucalipto tem essa versatilidade, essa resiliência. Ele se adapta a qualquer tipo de terreno, de clima, condições de água e sabemos a contribuição positiva que as florestas têm quanto à questão das mudanças climáticas. A gente não pode esquecer que eucalipto é uma plantação de florestas.