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Com a Palavra

- Publicada em 30 de Dezembro de 2022 às 18:43

'Furacão Camila Farani' acelera o mundo digital

A investidora, uma das mais conhecidas do Brasil, diz que ter atitude mudou a sua vida

A investidora, uma das mais conhecidas do Brasil, diz que ter atitude mudou a sua vida


/Arquivo Pessoal/Divulgação/JC
Cristine Pires
Uma otimista cautelosa. Verdadeiro tubarão nas mesas de negociações, mas capaz de levar às lágrimas empreendedores que se inspiram em sua trajetória, e que não poupam esforços para acompanhá-la pelas palestras e eventos ao redor do mundo. Camila Farani é um verdadeiro furacão.
Uma otimista cautelosa. Verdadeiro tubarão nas mesas de negociações, mas capaz de levar às lágrimas empreendedores que se inspiram em sua trajetória, e que não poupam esforços para acompanhá-la pelas palestras e eventos ao redor do mundo. Camila Farani é um verdadeiro furacão.
Aos 41 anos, já aportou mais de R$ 40 milhões com co-investidores, pools de investimentos, além da sua própria holding, em cerca de 45 empresas, gerando um ecossistema que movimenta mais de R$ 3,7 bilhões por ano e emprega mais de 15 mil pessoas.
Presidente da G2 Capital, butique de investimento em tecnologia, Camila foi eleita uma das 500 pessoas mais influentes da América Latina pela Bloomberg Línea. Shark Tank Brasil por seis temporadas, é membro do Conselho de Administração do PicPay e do Conselho de Marketing e Growth da NuvemShop.
"Acredito que a tecnologia seguirá sendo um pilar decisivo para a transformação da nossa economia, para a geração de renda e de empregos, e para a competitividade internacional das nossas empresas. Mas esse é um movimento que precisa ser agregador, com uma maior pluralidade em todos os níveis", defende a investidora, que recentemente lançou o MVP (Mínimo Produto Viável) do seu F/Land, primeiro metaverso voltado para a comunidade empreendedora, e a Mila, seu avatar.
Tantos negócios, claro, tornam desafiadores os momentos de lazer. Para equilibrar a rotina, a empreendedora e investidora gosta mesmo é de estar em casa, com a família, os cachorros e a namorada Tula Tavares, consultora de moda e estilo. "Não existe alta performance sem autoconhecimento. Não vou dizer que é fácil, mas precisamos integrar de forma inteligente a vida profissional e pessoal", alerta.
Empresas & Negócios - Qual o grande desafio para os empreendedores em 2023?
Camila Farani - As empresas precisam, necessariamente, focar em três pilares: manter a produtividade, buscar resultados e fazer uma gestão inteligente de seus times. O ano deverá seguir sendo desafiador, mas temos que aproveitar todos os aprendizados que estamos tendo desde a pandemia da Covid-19. Viveremos, cada vez mais, em um mundo digital, onde o físico e o digital estão juntos para garantir uma melhor experiência aos consumidores. Hoje em dia, ou você é pontocom, ou é ponto fora. É fundamental, pelo menos, começar. Escolhe um canal e começa a testar seu público. Também teremos que avançar na temática do ESG (sigla em inglês para Environmental, Social and Governance, que significa geração de valor econômico aliado à preocupação com as questões ambientais, sociais e de governança corporativa), mas de forma intencional, estratégica, e não apenas para surfar nesta onda. É um tema sério, urgente, e acredito que teremos um direcionamento cada vez maior do mercado nesta direção.
E&N - As mulheres empreendedoras costumam enxergar em você força e inspiração. Como você avalia a caminhada a ser percorrida para fortalecer a presença feminina?
Camila - O empreendedorismo feminino vem se recuperando após o baque da pandemia. Mas, apesar de a representatividade das mulheres estar aumentando, o que é algo que precisamos comemorar, temos muito que avançar. As mulheres ainda enfrentam muitas dores ao optar por seguir este caminho, como a falta de referências, de redes de apoio e de capacitação. A minha jornada empreendedora, assim como a de muitas brasileiras, começou cedo. Quando minha mãe abriu uma cafeteria para sustentar a família, a única opção que tínhamos era fazer com que o negócio desse certo. Aos 16 anos, eu já trabalhava no balcão e aprendia muito sobre mercado. Aos 21 anos, propus à minha mãe que, se conseguisse aumentar em 30% as vendas em um mês, receberia uma pequena participação na empresa. Alcancei 28%, com a introdução do Iced Coffee. Não atingi a meta, mas uma coisa eu digo: ter atitude mudou a minha vida. E, claro, acabei recebendo a sociedade.
E&N - O que te levou a criar a comunidade "Ela Vence"?
Camila - Para evitar que mais mulheres passem pelos desafios que eu passei quando decidi me tornar empreendedora, criei a comunidade "Ela Vence", com o objetivo de criar as condições necessárias para termos mais mulheres empreendedoras e investidoras. É um movimento que precisa ser ainda mais consistente na área de tecnologia. Quando se trata de empreendedorismo tradicional, 46,2% das empresas são fundadas por mulheres. Já quando analisamos o ecossistema de inovação, essa representatividade cai para 9,8% segundo dados do Women Founder Report 2021. O empreendedorismo digital está transformando o mundo, gerando empregos e renda, e precisamos que as mulheres participem ativamente deste movimento. Não é apenas uma questão social, mas de resultado.
E&N - Você é considerada uma das maiores investidoras de risco da América Latina. Como avalia os desafios deste ano e o que podemos esperar do próximo ano?
Camila - O ano de 2021 foi de recorde investimento de capital de risco, com US$ 669 bilhões investidos em startups em todo o mundo. Isso foi construído a partir de mais de duas décadas de evolução do ecossistema de inovação global. Havia muita expectativa para 2022, mas aí o ano chegou com muitos desafios como uma guerra no Leste europeu que se estendeu muito mais do que o imaginado, alta dos juros e inflação. Tivemos quedas nas ações das big techs e isso levou a demissões, o mesmo acontecendo com as startups no Brasil. Nós, investidores, ficamos muito mais cautelosos com os investimentos. Eu, por exemplo, passei a olhar mais para as scale ups, startups com mais maturidade e que estão crescendo mais rápido. No Brasil, entre janeiro e novembro de 2022, os recursos aportados pelos capitalistas de risco chegaram a US$ 4,48 bilhões, só inferior aos US$ 9,8 bilhões nos 12 meses de 2021. Apesar da redução, as startups brasileiras vivem o segundo melhor ano desde 2013, segundo dados mais recentes da Distrito. Os investidores ficaram mais cautelosos, e isso deverá permanecer em 2023, pois ainda há muitas indefinições no cenário econômico e político.
E&N - Que cuidados você recomenda aos empreendedores, já que o capital de risco não é mais tão farto?
Camila - Os empreendedores brasileiros são muito habilidosos, e estão cada vez mais maduros. Para o médio prazo, o desafio das startups será pautado em tentar manter o caixa sem perder a eficiência e entregando resultados aos investidores, considerando adotar estratégias que verifiquem o montante de contratações e demissões de acordo com fatores macroeconômicos e de mercado. Ao mesmo tempo, elas devem evitar a escassez de capital humano e também buscar um crescimento saudável de receita, que traga os devidos recursos financeiros para ajudar a financiar sua tão desejada perenidade.
E&N - Quando o assunto é investimento, o desafio é nas duas pontas, ou seja, mais investidoras de risco e também mais recursos para empresas lideradas por mulheres??
Camila - Sim, sem dúvida. Vivemos uma lacuna no mercado de venture capital quando o tema é a presença de mais mulheres, o que acompanha, de certa forma, o que vemos acontecer na área de tecnologia e na própria sociedade. As startups lideradas só por mulheres receberam apenas 0,04% dos mais de US$ 3,5 bilhões aportados no mercado em 2020. Mas, se eu ficasse presa a estatísticas, não estaria aqui. Precisamos acreditar e agir. Para mudar esse cenário, é fundamental termos mais mulheres investidoras, que possam olhar para esses empreendimentos de uma forma diferenciada. Hoje, mais de 70% dos fundos não têm mulheres entre seus fundadores. Quando me tornei investidora, esse foi um dos fatores que me moveu. Lembro que quando eu ainda estava me ambientando neste mundo do investimento, ouvi de uma empreendedora que ela não conseguia recursos para os seus.
 
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