Antes de assumir como CEO da Vila da Mônica Gramado, Manoela da Costa Moschem já tinha uma estreita relação com a turma da personagem criada por Mauricio de Sousa. Como a maioria dos fãs e leitores, sua história começou na infância. "Lembro de passar por uma banca de revistas com a minha mãe em Porto Alegre, aos seis anos de idade, e pedir a ela que comprasse um almanaque, cuja capa era a Mônica vestida de princesa, o Cebolinha, de príncipe, e um castelo germânico ao fundo. Ela não teve condições financeiras de comprar o que eu queria e acabou me dando um outro gibi, mas fiquei com a imagem daquela capa na memória", conta ela.
Quanto ao empreendimento, a ideia surgiu em 2018, quando Manoela foi buscar inspiração na Disney e em uma feira de parques e atrações (a IAAPA - Associação Internacional de Parques e Atrações, na tradução), em Orlando(EUA). Na entrada, ela recebeu um informativo com a Turma da Mônica na capa. "Fiquei muito orgulhosa do nosso País. Pensei: 'É o Mickey brasileiro'. Decidi que esse seria o mote do parque, e o Maurício de Sousa e a equipe gostaram da ideia de trazer a Turma da Mônica para um dos destinos turísticos mais famosos do Brasil", relata a executiva, ao comemorar que está realizando um sonho de criança.
Também começou cedo seu interesse por empreender. Empresária desde muito jovem, Manoela é criadora da Holy, holding de investimentos em turismo, entretenimento e inovação, e CEO da Vila da Mônica Gramado. No mesmo município, foi fundadora e sócia de duas iniciativas que atraem muitos turistas à região: o Snowland e o Acquamotion. Formada em Direito pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), é presidente da Associação de Parques e Atrações da Serra Gaúcha (Apasg). Foi ainda vereadora por dois mandatos, prefeita em exercício e primeira presidente mulher da Câmara de Vereadores de Gramado. Apaixonada por pessoas, acredita no empreendedorismo e na liderança feminina como impulsionadores de comunidades e da transformação social.
Empresas & Negócios (E&N) - O setor de entretenimento foi um dos primeiros a ser atingido pelo isolamento social que veio para barrar o avanço da pandemia do novo coronavírus. Como foi programar um investimento do porte do Parque Vila da Mônica justamente em um período atípico?
Manoela da Costa Moschem - A pandemia foi um período desafiador para todo mundo. O luto pelas perdas é imensurável. Do ponto de vista de negócio, as pessoas precisaram se reinventar para sobreviver. Comigo não foi diferente. Foi um período complexo, de repensar os investimentos e a concepção do parque, mas não abandonei meu sonho de construir a Vila da Mônica. E aqui estamos.
E&N - Quais são as lições que a pandemia deixou para o setor de entretenimento?
Manoela - Acredito que aprendemos muito sobre a importância de nos reinventarmos, como profissionais e nos nossos negócios. E isso vale para todos os setores da economia. Nos últimos anos, percebemos uma grande mudança no perfil do turista. Hoje, temos um visitante muito mais exigente, que busca atrações inovadoras, com propósito e atentos a questões envolvendo sustentabilidade, por exemplo. Portanto, o desafio diário é fazer com que nossos roteiros fiquem ainda mais atrativos e competitivos. Na minha visão, uma forma de fazer isso é buscarmos mais apoio do poder público no que lhe compete, caso da infraestrutura, e mais investimentos do setor privado, que tem a visão do negócio e entende o que o turista procura.
E&N - O virtual ganhou mais espaço na vida das pessoas. Como retomar o hábito do público e conquistá-lo para visitações presenciais?
Manoela - Estamos percebendo uma vontade muito grande das pessoas em retomar as visitas aos parques. Existe uma expectativa em conhecer novos espaços e em vivenciar novas experiências. Isso nos inspirou muito no desenho de algumas atividades dentro da Vila da Mônica Gramado, que apresentam interações, muita tecnologia e espaços para que crianças e adultos possam aproveitar juntos.
E&N - Qual foi o investimento na Vila da Mônica e que diferenciais a senhora aponta no empreendimento?
Manoela - O investimento da Vila da Mônica é de R$ 75 milhões. Um dos grandes diferenciais do parque é a realidade em 3D que a arquitetura propõe para que as crianças se remetam ao universo do Bairro do Limoeiro. As atrações têm muita imersão tecnológica também. A Vila ainda faz uma homenagem à cidade de Gramado. Tudo com a infraestrutura e acessibilidade necessárias para atender às famílias com conforto, conveniência e segurança. Além disso, o projeto preencheu todos os requisitos para se tornar o primeiro parque da América Latina com as certificações LEED Well e Green Building, que o credenciam pela consciência ambiental.
E&N - Os primeiros meses de funcionamento estão dentro do esperado? Quais são as expectativas para 2023?
Manoela - Estamos muito contentes com as primeiras semanas de funcionamento da Vila da Mônica. Nos primeiros dias, operamos no formato soft opening, para que fosse possível acompanhar a dinâmica da visitação e garantir que a melhor operação do parque. Hoje, já estamos em pleno funcionamento e muito otimistas com a temporada de Natal que se aproxima, assim como com o ano de 2023, para o qual estamos preparados para receber e surpreender nossos visitantes.
E&N - Por que a escolha foi pela cidade de Gramado?
Manoela - Sempre gostei de crianças e enxergava a necessidade de atrações para atender a esse público em Gramado. As famílias passaram a frequentar muito a cidade nos últimos anos. Então, comecei a pensar na ideia de um parque que atraísse crianças e suas famílias. Além disso, tenho forte sentimento de retribuir para Gramado a recepção que tive desde pequena e as oportunidades que a região me proporcionou. Quero contribuir para melhorar ainda mais a cidade, gerando condições sociais para a comunidade, em emprego e renda.
E&N - Qual é o público alvo do empreendimento?
Manoela - A Vila da Mônica Gramado proporciona um encontro de gerações. Os brinquedos podem ser acessados por "crianças de zero a 100 anos", são "tamanho família". Trazer esse momento lúdico, possibilitando o elo geracional, faz parte da concepção de que todos podem brincar juntos: pais, filhos, avós. Essa é a nossa contribuição com a Vila.
E&N - No site da vila, na aba sobre o empreendimento, há a observação "com capacidade de expansão". Isso já está nos planos do empreendimento?
Manoela - A Vila da Mônica Gramado é a primeira de uma série de iniciativas da Holy, holding de investimentos em turismo, entretenimento e inovação que criei em 2022. Para os próximos anos, a ideia é expandir para projetos ligados a gastronomia, lazer e hospitalidade. Além disso, quero aproveitar a área do parque para criar um hub de inovação em Gramado. Nessa linha, fundei a Gramado Capital, um projeto que nasceu para fomentar outras startups.