E&N - A PwC fez uma pesquisa recente sobre o tema. Quais são os principais resultados?
Melissa - Em pesquisa recente da PwC sobre o tema de descarbonização (Net Zero Economy Index 2022), os principais resultados destacados são:
-As ambições de net carbon zero na economia mundial continuam a aumentar, mas o progresso de descarbonização nos últimos 12 meses foi reduzida.
-Nesse sentido, o indicador para membros do G20 em emissões e descarbonização de suas economias, mostra que a taxa global de descarbonização em 2021 atingiu seu nível mais baixo em mais de uma década, de apenas 0,5%.
-Para limitarmos o aquecimento global em 1,5°C, é necessária uma taxa anual de descarbonização global de 15,2% a.a.;
-A intensidade global de carbono precisa ser reduzida em 77% até 2030, para estarmos no caminho do limite de aquecimento global em no máximo 1,5°C.
-O estudo destaca também a liderança de empresas no processo de transição para uma economia de baixo carbono e uma série de iniciativas lançadas nesse sentido, sobretudo em função das pressões regulatórias, de investidores e de uma mudança na mentalidade dos consumidores.
E&N - De que forma os créditos de carbono impactam na vida da sociedade?
Melissa - Hoje, as questões climáticas e efeitos catastróficos oriundos do aumento de temperaturas globais são amplamente discutidas em todos os âmbitos, inclusos o mundo corporativo e a sociedade civil. A chamada neutralidade de carbono (net carbon zero) é alcançada quando o saldo de emissões de GEE lançados na atmosfera são compensados pelas retiradas desses gases da atmosfera. A tarefa de realmente alcançar o net zero ou outros compromissos climáticos pode ser hercúlea, e não há uma abordagem única. Nesse sentido, uma estratégia eficaz de implementação combina ações, que reduzem as emissões em toda a cadeia de valor, absorvem as emissões inevitáveis e/ou compensam as emissões que não podem ser evitadas ou absorvidas por meio de investimentos em projetos sustentáveis - e uma opção para isso são créditos de carbono.
E&N - Quais são os entraves para que os créditos de carbono ganhem ainda mais espaço?
Melissa - Dentre outros fatores, podemos citar os seguintes entraves ao mercado de créditos de carbono: Indefinição (e portanto, insegurança) jurídica, contábil e tributária a respeito da natureza desses instrumentos; Indefinição e potencial impacto de legislação e regulamentação emergentes no setor;
Ausência de estruturas de financiamento aos projetos subjacentes.
E&N - Qual a sua previsão quanto ao futuro dos créditos de carbono?
Melissa - O Brasil tem um potencial enorme de geração e comercialização de créditos de carbono, mas tudo passa pela regulamentação desse mercado. Regular o mercado significa adotar padrões que sejam adequados à realidade do Brasil, levando em consideração parâmetros baseados na nossa cadeia produtiva para precificar os projetos e mensurar o seu impacto. Mas a demora em implementar um mercado regulado, que incorpore as especificidades da nossa realidade e esteja alinhado às diretrizes internacionais é algo que preocupa, inclusive porque esse mercado é um instrumento para que o Brasil consiga atingir as metas de redução de emissões de GEE com as quais se comprometeu no Acordo de Paris.