Roberto Hunoff
A Serra Gaúcha, uma das regiões mais industrializadas do Brasil, posicionando-se dentre os maiores polos metalomecânico, moveleiro e plástico, tem se revelado, não apenas consumidora, mas também provedora das tecnologias da Indústria 4.0, também batizada de 4ª Revolução Industrial. O fenômeno está mudando, em grande escala, a automação e troca de dados, bem como as etapas de produção e os modelos de negócios por meio do uso de máquinas e computadores. Representações empresariais da Serra definem este caminho como sem volta, mas reconhecem que ainda não está completamente assimilado no conjunto das organizações, além de existirem muitos desafios a serem superados, com ênfase para a falta de pessoal qualificado e capacitado para assimilar os novos conceitos.
De forma a ampliar a inserção das empresas nas novas tecnologias, as entidades têm desenvolvido projetos específicos. O Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul e Região (Simecs) criou o programa denominado "Do Lean à Indústria 4.0" visando inserir as corporações no processo de transformação digital, indústria inteligente e cultura da inovação, possibilitando ao quadro social o desenvolvimento e aprimoramento dos processos produtivos para melhorar a produtividade e redução dos custos de produção
"O objetivo principal é promover a competitividade, fortalecendo toda a cadeia produtiva e ampliando a sustentabilidade do setor", afirma Daiane Catuzzo, diretora executiva da entidade, que representa em torno de 4,5 mil empresas localizadas em 16 municípios da região.
O programa teve início em 2021 com a preocupação de acompanhar as atualizações tecnológicas e mostrar que não basta implantá-las, mas que é preciso saber como preparar o ambiente para este novo cenário. Este estágio exige definição de processos e de estratégias, além de ter um quadro de colaboradores qualificados. "Se pensarmos que o sistema funcionará apenas com o robô, é possível que se aumente o caos", alerta a executiva.
A entidade realizou um trabalho junto a 100 empresas para buscar informações sobre o envolvimento com este novo momento. Mais da metade apresentou índice de zero a 25% de grau de maturidade de auto diagnóstico quanto às tecnologias e apenas quatro mostraram indicação entre 76 e 100%. Em relação ao uso do Lean Seis Sigmas há uma melhora: 36 estão no menor índice e oito na faixa máxima. "O trabalho mostra que a maioria das empresas precisa se preparar para a alcançar a Indústria 4.0", indica.
De acordo com Daiane, este estágio é necessário para a organização entender se faz sentido investir neste avanço e se ele é viável. Segundo ela, muitas corporações fizeram ou ainda estão passando pela preparação dos processos e do ambiente de trabalho. Para auxiliar os empresários nesta etapa, a entidade tem promovido palestras e oferecido consultorias técnicas.
Introdução por estágios
Visão muito similar é exposta por Tiago Fernando de Azevedo, vice-presidente da Associação das Empresas de Pequeno Porte da Região Nordeste do Rio Grande do Sul (Microempa), entidade com 18 núcleos setoriais e mais de 3 mil associadas. Reafirma que a introdução da Indústria 4.0 precisa ser feita por estágios e que cada empresário deve analisar as melhores soluções. Mas pondera que não adianta adotar tecnologias avançadas se a empresa sequer tem um sistema 5S.
Para Azevedo, vários obstáculos precisam ser superados para que a Indústria 4.0 possa, efetivamente, ganhar espaço, principalmente nos pequenos negócios. Cita o desconhecimento dos empresários do que é a tecnologia e como ela vai mudar a organização, pois haverá integração de máquinas e seres humanos; os custos elevados de implantação, embora saliente que precisa ser visto como investimento e não como gasto; a infraestrutura fabril que necessita de mudanças para receber os equipamentos; a inexperiência na transição, pois é preciso um ambiente preparado para ser online; a ausência do projeto-piloto para que se foque o início no maior gargalo da empresa; e a falta de qualificação dos colaboradores, desde aqueles para perfis básicos, mas principalmente para a gestão das novas tecnologias.
Na avaliação do vice-presidente, o momento atual em torno da Indústria 4.0 é diferente de cinco anos atrás, quando tiveram início os primeiros movimentos mais concretos, mas que ficaram mais no modismo. Entende que, agora, a evolução é mais consistente e deixou de ser um experimento. "Isto nos permite trazer o assunto de volta ao debate, promovendo mais ações junto aos associados para mostrar como a tecnologia agrega valor aos negócios", enfatiza.
Azevedo cita a produtividade e o ambiente mais seguro do parque fabril e da entrega dos produtos ao cliente, os quais tornam a empresa mais competitiva, como principais benefícios da Indústria 4.0. Frisa que a gestão dos dados apurados permite a medição do uso da capacidade instalada e a identificação de perdas, possibilitando correção de rota e a redução de gastos. "Estes ganhos precisam ser trabalhados com todo o quadro de colaboradores. Não fazer este aculturamento pode levar a reações contrárias", ressalta.
Também defende ações para mostrar que as tecnologias não são concorrentes na ocupação de vagas de trabalho. "O pessoal precisa compreender que vai sair do operacional para uma atividade de comando do equipamento", reforça. Mas reconhece esta tarefa como desafiadora, pois muitos trabalhadores não têm demonstrado interesse pela busca do conhecimento. "Os empresários terão de formar times mais seletos e investir em tecnologias para que os negócios não fiquem à deriva. Até porque já existem ensaios para a Indústria 5.0, a qual começa a humanizar o processo robótico. Por meio da interface entre ser humano e o sistema robótico haverá uma troca de conhecimentos. Este profissional terá de ser ainda mais crítico para esta interação", alerta.
Não é mais escolha, é realidade
Avanço da automatização requer etapas, considerando porte da empresa e capacidade de investimento, diz Ana
/Augusto Tomasi/Divulgação/JC
Na avaliação de Ana Cristina Schneider, consultora do Sindicato da Indústria do Mobiliário de Bento Gonçalves (Sindmóveis) e coordenadora do projeto Orchestra Brasil, a Indústria 4.0 está extremamente conectada com a transformação digital, que é uma imposição global: busca de eficiência, liberação das pessoas para trabalharem em atividades menos repetitivas e que requerem mais pensamento e decisão. "Cada vez mais a Indústria 4.0 não é uma escolha, mas uma realidade para quem atua no setor, principalmente empresas direcionadas à produção em escala. Ela vem no sentido de agregar automação e otimização de processos e integração em toda a cadeia, desde os suprimentos até a distribuição e o varejo", detalha.
A dirigente reforça que, na medida em que a empresa ganha mais segurança, produtividade e eficiência produtiva, ela absorve os benefícios gerado pela Indústria 4.0. Destaca, no entanto, que existe uma caminhada para aplicá-la, ou seja, não necessariamente automatizar de uma só vez uma indústria intensiva em mão de obra humana. "O processo evolui caso a caso, considerando fatores como porte da empresa e capacidade de investimento, entre outros", registra.
De acordo com a consultora, a indústria moveleira tem facilidade em acessar equipamentos nacionais e internacionais para a implantação das novas tecnologias. Para ela, o que define a aplicação ou não de soluções para a Indústria 4.0 é o quanto e quando as empresas investirão, assim como uma análise de escala. Mas salienta que este avanço pressupõe que a empresa esteja digitalizada de maneira geral, o que foi acelerado com a pandemia. No entanto, reconhece que ainda é um desafio, pois não se resume à tecnologia da fabricante, mas também dos fornecedores e compradores. "A integração de ponta a ponta é necessária", defende.
Serralog qualifica movimentação de cargas em áreas delimitadas
Desde 2014, a Serralog, sediada em Caxias do Sul, oferece soluções eletrônicas, com destaque para a telemetria, para a gestão de equipamentos de movimentação de cargas em áreas segregadas, como empilhadeiras, máquinas para obras rodoviárias, de construção civil e agrícolas, além de veículos elétricos. O diretor Diogo Tomazzoni recorda que até 2018 a procura pelo conceito, similar a um rastreador veicular, era pequena. Nos últimos dois anos, no entanto, o produto ganhou visibilidade e o momento é de forte impulso nas vendas.
A solução eletrônica embarcada na máquina faz leituras diretas e envia para a nuvem, onde o cliente acessa os dados. O objetivo é melhorar a eficiência dos equipamentos de movimentação de carga a partir de várias avaliações. Dentre elas, se a frota disponível é adequada para suprir a demanda, a capacidade de transporte interno, o controle de variáveis visando à redução de quebras e dos custos de manutenção para garantir maior disponibilidade do equipamento; e segurança por meio do controle de velocidade e identificação do operador, inibindo acidentes e atropelamentos. "O produto melhora a gestão de frota, segurança e manutenção", define.
Dentre os principais desafios para atender a demanda crescente, Tomazzoni cita a falta de mão de obra, não apenas especializada, mas para todos os setores. Para manter o quadro de 12 colaboradores, a empresa oferece treinamentos constantes e remunera com salários mais elevados. "Hoje estamos perdendo negócios por não ter gente para contratar, o gargalo no atendimento é muito grande", afirma.
Na visão do diretor, existe um mercado de grande potencial a ser explorado, mas que esbarra na falta de capacidade para atender. "Não é problema ruim, vender é até fácil, difícil é entregar", reforça. Outro gargalo é o suprimento de componentes eletrônicos, todos eles importados. "São aspectos que impactam no desenvolvimento, não apenas nos pequenos, mas também nos grandes negócios", afirma. Para tornar a telemetria ainda mais visível, a empresa está investindo na criação de marca própria, a UPSMART, para diferenciá-la dos demais produtos.
Bertolini percebeu sinais do mercado
Bianchi salienta que mão de obra é o maior desafio: não basta ser digital, é preciso entender o processo
/Renata Chaielen Tres/Divulgação/JC
A percepção de que o mercado em que estava inserida sinalizava para a necessidade de avanços tecnológicos fez com que a Bertolini Sistemas de Armazenagem iniciasse os primeiros movimentos rumo à Indústria 4.0. Sem romper radicalmente com os processos tradicionais, a empresa passou a incorporar, a partir de 2019, novas tecnologias em busca de atender este anseio dos clientes.
Atualmente, as duas unidades de Bento Gonçalves e as duas de Colatina (ES) estão alinhadas com modernas tecnologias, levando em consideração principalmente o que é demandado pelo mercado em que cada uma está inserida. "Agimos para não ficarmos para trás, não sermos surpreendidos. E já estamos preparados para avanços futuros. A Indústria 5.0 logo virá, são tecnologias que se comutam", salienta Cleiton Bianchi, gerente industrial unidade de Bento Gonçalves.
Mateus Cercato, gerente de engenharia e montagem, assinala que por ser um conceito novo, a Indústria 4.0 precisa ser estrutura em pilares e buscando iniciativas que se enquadram nas necessidades da operação. "Na verdade, se faz uso destas tecnologias diariamente muitas vezes até sem perceber. Análise de dados, robotização, big data para contratações e inteligência artificial são pequenas atividades que não se conectam diretamente, mas juntas formam esta mentalidade", explica.
Cita que, com a automatização e leitura de processos, a empresa ganhou pessoas mais criativas, capazes de coletar e tratar informações, o que antes era muito difícil. Recorda que, no passado, as pessoas ficavam anotando tempos de produção, agregando pouco valor. "Este quadro migrou para a leitura e análise dos resultados a partir das informações provenientes das máquinas sobre índices de produtividade, por exemplo. A partir daí, avaliam-se possibilidades de melhoria", assinala.
Ele entende que investimento na Indústria 4.0 deve ser tratado como decisão estruturante, desde a definição em usar a computação na nuvem. Lembra que, no passado, o servidor da empresa estava atrás de uma porta, junto ao escritório. Hoje, a contratação do espaço em nuvem é mais segura, mas que requer investimentos. Para Cercato, os pilares da Indústria 4.0 ainda estão em construção na Bertolini. Alguns já bem sólidos, outros em planejamento. Bianchi cita a força de trabalho como desafio a ser superado. Mas pondera que não basta ser digital, é preciso entender o processo, o que é tarefa mais difícil. Diante desta carência, afirma que a empresa está qualificando seu quadro, promovendo o conhecimento em todas as áreas, de cima para baixo. Na sua avaliação, diretores e gestores devem ser os principais indutores dessas tecnologias dentro das organizações. "Cabe a eles o primeiro movimento para que o entendimento do processo seja robusto e de entendimento das demais áreas", assinala.
Marcos Rosin, gerente de produção da unidade de Colatina, acrescenta que a ideia vendida por alguns setores de que a robotização geraria desemprego já foi superada. Destaca que, atualmente, faltam pessoas habilitadas para trabalhar com métricas, o que dificulta a admissão. Recorda que, no passado, era comum buscar conhecimentos em cursos para operação de tornos; hoje, são necessários cursos em robótica. "Está havendo uma mudança no perfil das contratações. A saída tem sido buscar parcerias com organismos de ensino para a qualificação deste público. Também estamos nos aproximando de startups como forma de amenizar esta dificuldade", sinaliza.
Para Bianchi, dentre os vários benefícios está a assertividade na tomada de decisões em todas as áreas a partir da coleta de dados. Segundo ele, isto se traduz em mais produtividade e ambiente de trabalho mais humanizado. Na avaliação de Rosin, as tecnologias deverão tornar as estruturas mais enxutas e controladas, com melhor ambiente de trabalho.
Sumig fez primeiro movimento em 2010
Hoje, a Sumig usa uma série de soluções para o mercado de solda industrial
/Willan Segnor/Divulgação/JC
O primeiro contato da Sumig com a Indústria 4.0 não foi intencional, reconhece Fábio Tiburi, diretor da divisão de robótica. Em 2010, a empresa com sede em Caxias do Sul desenvolveu a tocha de solda inteligente, a qual enviava dados de um sensor para um site. Antes da solução, era o soldador que buscava ajustar os parâmetros da operação, resultando em perda de produtividade e qualidade. "Com a tocha inteligente praticamos a Indústria 4.0 sem saber. A gente capturava os dados da soldagem para o controle de qualidade, alcançando o resultado correto", explica.
O movimento intencional ocorreu em 2014, com o lançamento de uma célula de soldagem inteligente. A ideia surgiu durante visita de Tiburi a uma feira na Alemanha, onde viu a aplicação de conceitos de robótica. No retorno, a empresa decidiu investir nessas tecnologias. Atualmente, a Sumig tem uma série de soluções para o mercado de solda industrial.
O diferencial da nova linha de células é a conectividade. Todas oferecem a função de capturar informações do processo de solda, como tempo, quem está utilizando o equipamento e há quanto tempo. De acordo com Tiburi, a máquina armazena as informações e pode enviá-las para um portal desenvolvido pela Sumig ou para algum sistema escolhido pelo cliente. Também é possível adicionar à máquina outros dispositivos, como leitor de código de barras, sensores, balança, robôs de manipulação e outros equipamentos para ampliar a capacidade.
Tiburi salienta que muitas das tecnologias de hoje, como robótica, big data, inteligência artificial, impressão 3D e manutenção preditiva, tem origem há mais tempo, mas só agora se tornaram viáveis. Segundo ele, o conjunto melhora o processo produtivo e a qualidade, reduz custos e refugos, e assegura o monitoramento. Apesar de avançadas, o diretor entende que ainda existe muito espaço para evoluir. "O estágio máximo seria a manufatura inteligente em que os equipamentos decidem entre si quem assumirá o papel da fábrica a partir da análise de dados e competências, predição, quando ocorrerá a falha e rendimento por máquina", afirma.
Também destaca os estudos dos conceitos da Indústria 5.0, que é a sociedade de inteligências, a interação com os equipamentos e o monitoramento do operador para avaliar seu aspecto emocional. "Esta condição é passada pelo equipamento ao supervisor, isto ajudará o ser humano a viver melhor", assinala.
Mas para alcançar estes estágios, as empresas precisam romper a condição atual de que 50% da manufatura mundial ainda é da Indústria 2.0. Uma parte, de acordo com Tiburi, está acordando para a 3.0, com a automação. "Para automatizar é preciso estar bem organizado, com estrutura enxuta. Pequenas e novas empresas já estão nascendo com esta filosofia, usando cédula mais simples com a condição de ter conectividade no futuro. Soldadores já estão fazendo análise para caminhar para a Indústria 4.0. É grande o espaço para geração de empregos", projeta.
Alto custo de aquisição dos equipamentos e o aspecto cultural são desafios que precisam ser superados para os avanços necessários. O executivo recorda que a Sumig começou a entender o caminho do futuro ainda em 2008 a partir da robótica, que já era uma área tecnológica. "Diminuímos a resistência e, gradualmente, inserimos novas tecnologias. Hoje, temos um quadro misto de jovens e mais antigos para cargos estratégicos. O time está acostumado a absorver, pois o nosso produto já está ligado a estes processos", acrescenta.
Randon cria condições para o desenvolvimento
A urgência em ter projetos acelerados levou o grupo a criar uma organização interna e adquirir outra
/Jefferson Bernardes/Divulgação/JC
O diretor de Inovação e Tecnologia de Produto das Empresas Randon, Cesar Augusto Ferreira, explica que o grupo se alinha mais aos conceitos de smart manufacturing, que preconizam o que é necessário fazer para alcançar uma curva de evolução que confira mais visibilidade, transparência e adaptabilidade, até um ponto de chegar a uma planta praticamente autônoma. Para ele, a Indústria 4.0 é quase um produto de muitas empresas, razão para que a Randon busque entender isto e adote o que for necessário.
Ferreira afirma que o objetivo é sempre enxergar o caminho tecnológico que precisa ser seguido para ter uma fábrica mais eficiente e com mais retorno aos stakeholders. O executivo entende que adotar alguns conceitos antes de ter um processo mais enxuto seria desperdício de tempo e recursos. "É uma etapa viva, sempre presente, por isso aplicamos os conceitos de lean manufacturing. O caminho é constante e permanente", assegura.
Para trabalhar estes conceitos, a corporação adota a digitalização, automação e manutenção preventiva, trabalha com startups e tem times internos para sensoriar dados e capturar informações. Nos últimos 18 meses têm trabalhado para ter seu próprio Manufacturing Execution Systems (MES), atendendo a complexidade peculiar no parque industrial. "No arcabouço buscamos de forma incessante produtividade, humanização, sustentabilidade e aprimoramento dos conceitos de ESG", revela.
O conglomerado também entendeu a necessidade e urgência de ter projetos acelerados, o que levou à criação de uma organização interna e aquisição de outra para atender a demanda. Atualmente, 110 pessoas trabalham diretamente em soluções de automação, células integradas e digitalização. Para tanto, foi criada na estrutura das Empresas Randon a vertical denominada Tecnologia Avançada e Headquarter, com portfólio formado pela fabricação e comercialização de células robotizadas, automação industrial, desenvolvimento e homologação de produtos para a indústria da mobilidade, produção e beneficiamento de materiais por meio de nanotecnologia e plataforma de inovação aberta para conexão de empresas, pessoas e startups. A vertical compreende serviços e produtos que promovem a inovação tanto para a companhia quanto para toda a cadeia, além de oferecer soluções customizadas ao mercado.
Ferreira argumenta que a empresa enxergou potencial estratégico para soluções internas, com reflexos em sua competitividade como um todo. "Quando temos soluções próprias e customizadas, defendemos o negócio na manufatura e nos processos, não apenas nos produtos", explica.
O diretor informa que na estratégia de manufatura avançada, a empresa tem preocupações também em cuidar mais do time, como na movimentação de peças. Por serem dispositivos que oferecem riscos, os conceitos estão sendo aprimorados com a interconexão com braços mecânicos. As tecnologias também estão em uso em outras áreas. Em tarefas administrativas são usados mais de 300 robôs, a maioria produzida internamente, com programadores próprios. "Estamos investindo fortemente nesta atividade porque é um funcionário cada vez mais raro e caro", indica.
O diretor relata ganhos já claramente perceptíveis na companhia. Exemplo é o resultado da marca, com crescimento de 2,5 vezes reais de 2016 para agora.
Tramontina está preparada para explorar novas ferramentas
Fábrica em Farroupilha mantém 128 robôs industriais em tarefas repetitivas
/Tramontina/Divulgação/Jc
Empresa centenária com sede em Carlos Barbosa, mais nove fábricas no Brasil e 19 no exterior, a Tramontina iniciou há algum tempo a adoção de diversos conceitos da Indústria 4.0, como uso de robôs, integração de sistemas e simulações. A iniciativa partiu da direção e alta gestão, com a colaboração e atuação das equipes de gestão e de engenharia, e, posteriormente, avançou para os demais níveis. "Atualmente, muitos colaboradores têm participado do processo e a tendência é aumentar o número de pessoas envolvidas a cada novo ano", salienta Odair Borsoi, diretor de Produção.
Eduardo Portolan, diretor Industrial, salienta que os primeiros objetivos foram a melhoria e integração de processos, bem como mais flexíveis e eficientes. "Hoje, quando falamos de Indústria 4.0, nossos principais ativos são obter informações em tempo real da produção, maior dinamismo e flexibilidade produtiva, assegurar a segurança do trabalhador e a qualidade dos produtos, além de reduzir os custos e aumentar a produtividade", indica.
Portolan aponta que, de maneira geral, os principais avanços foram a obtenção de processos mais estáveis, melhoria de qualidade, redução de custo e maior eficiência da empresa. Um dos pilares da Indústria 4.0 é a robotização. Somente a fábrica da Tramontina, em Farroupilha, conta com 128 robôs industriais em tarefas repetitivas, com foco em segurança do trabalho e aumento de desempenho e disponibilidade nos processos produtivos.
"Há também grandes avanços na Internet Industrial, que conecta dispositivos do processo produtivo, permitindo coleta e troca de informações em tempo real e de forma eficiente. Outros avanços estão direcionados na área da simulação virtual de processos produtivos e manufatura aditiva em resinas e metais", comenta. Borsoi observa que ainda existem muitas áreas a serem exploradas e incrementadas, definindo a Indústria 4.0 como uma jornada e nunca estanque. Áreas de inteligência artificial, machine learning e gêmeos digitais são exemplos de onde existe esse espaço. Outra importante área apontada como avanço futuro é o uso da realidade aumentada com câmeras ou óculos na realização de simulações, instruções de trabalho e manutenções de forma totalmente remota.
"A adoção dos gêmeos digitais que virtualiza um ativo real e o controla de forma instantânea de forma a prevenir falhas nos equipamentos e paradas não programadas também é um campo em avanço", projeta. Na avaliação de Portolan, os principais players do mercado estão presentes no Brasil e disponibilizam os produtos desenvolvidos em suas matrizes. Refere que o país tem mão de obra especializada na área, inclusive exportando tecnologias para fora. Muitas soluções são desenvolvidas internamente pelo corpo técnico.
A adoção das tecnologias exigiu um período de amadurecimento para entender de que forma ela beneficiaria a empresa. Borsoi indica que o investimento e a necessidade de parada dos equipamentos para adequações também afetam a velocidade da transformação. Também aponta dificuldades na conectividade entre sistemas e cobertura de sinal de rede em toda a planta.
Dalca aponta como vital adesão de todos os níveis hierárquicos
Segurança, qualidade e eficiência no chão de fábrica são reflexos diretos
/Mateus Foleto/Divulgação/JC
Fornecedora de soluções em robótica com sede em Bento Gonçalves, a Dalca do Brasil passou a aplicar as tecnologias da Indústria 4.0 de forma a atender, principalmente, demandas dos gerentes de fábrica, supervisão, engenharia de processos e recursos humanos de clientes que não encontravam mão de obra para determinada função. Para o CEO Bruno Dal Fré, o sucesso do movimento está diretamente ligado à adesão de todos os níveis hierárquicos da empresa ao projeto, vez que o sistema de robotização, automação e indústria 4.0 requerem mudança de cultura interna e ajuste de posições dentro da empresa. "Sem esse contexto, o projeto vai estagnar", alerta ao recordar que robotização e automação são evoluções da indústria 3.0, enquanto a digitalização dos processos industriais faz parte da metodologia 4.0.
O executivo avalia que a Indústria 4.0 traz tecnologias que têm importância primordial para sanar o gargalo de deficiências nas plantas de produção. Geralmente, em um primeiro momento, as empresas buscam também a redução de custos e a solução para o problema da falta de mão de obra operacional. Explica que a automação/digitalização é um trabalho contínuo, diferentemente de um investimento que a empresa realiza e dois anos depois está finalizado.
Para o gestor, os clientes percebem avanços como a melhoria na qualidade dos produtos, vez que o processo ganha repetibilidade muito grande com a robotização. A redução dos custos de produção também é evidente e, principalmente, sequencial. "Sempre que se implanta a automação, ao longo do tempo os custos ficam mais baratos. A linha de produção se torna mais eficiente, mais produtiva, com redução dos custos e, consequentemente, resulta em melhora do preço final", detalha. Ainda cita a segurança como outro fator importante, porque evita situações de trabalho inadequadas feitos pelos operadores que carregam volumes pesados. Em processos como rebarbação ou lixamento de peças, as empresas percebem melhora na qualidade final do produto e a prevenção de problemas com a ergonomia do trabalhador, que sofre com lesões por esforço repetitivo. "Na medida em que evita estas situações, a empresa sofre, também, menos ações trabalhistas", frisa.
Dal Fré entende que sempre haverá espaço para pensar e implantar alguma melhoria no processo tecnológico. Observa que a velocidade de inserção depende exclusivamente do quanto a empresa está disposta a investir, de quanto vislumbra em termos de crescimento no mercado e, principalmente, do fato de dispor de colaboradores internos para tocar adiante o projeto. "O primeiro passo pode até ser a aquisição dos equipamentos de automação, mas é essencial ter pessoal, internamente, capacitado para operar o processo e melhorar a produção e os resultados", pondera.
Dentre os principais benefícios, o CEO aponta aspectos relacionados à segurança, qualidade e eficiência no chão de fábrica e, para a área comercial, uma precisão de prazo para entrega muito mais ajustada. "O empresário consegue dimensionar com antecedência quanto a máquina consegue produzir e com qual qualidade", afirma. Outra questão citada é o custo, pois a empresa produz e vende mais, as vezes em um espaço físico com as mesmas dimensões. Com a automação também é possível abrir novos turnos de trabalho, agregando apenas operadores e gestores extras.
Segundo Dal Fré, a maioria dos clientes relata dificuldade em contratar mão de obra qualificada, bem como para trabalhos repetitivos, em substituição pela automação. Também os processos burocráticos estão dando espaço à digitalização.
"Nestes casos, a demanda pela automatização surge da própria equipe", afirma. Pondera que, em outros casos, é preciso vencer a resistência do chão de fábrica, porque a automação cria um novo perfil de trabalhador. "Os operadores são realocados dentro da empresa para executarem outros processos, o que gera um novo perfil de mão de obra. São os novos gestores de engenharia de processos, de projetos, industriais ou de equipes para tocar a automação", sinaliza.
Mas alerta que a maior resistência vem do alto escalão. "Diretores ou gerentes de fábricas não compram a ideia da automação, porque acham que não vai funcionar ou porque é difícil implantar. Esse é o fator que realmente pode comprometer o sucesso do projeto", observa.
Em que pesem os avanços, Dal Fré entende que o nível de industrialização, com automação e digitalização, ainda está bem abaixo do que fazem os asiáticos e, principalmente, europeus. "Isso tem reflexo também do Custo Brasil, em que quem paga a conta, sempre, é quem compra. Não vamos ter produtos bons e baratos para oferecer se não melhorarmos a indústria", alertou.
Fabricante de metais sanitários, Meber registra resultados positivos e prepara avanços
Empresa mantém uma gestão precisa, confiável e online das máquinas e equipamentos envolvidos nos processos
/Guilherme Jordani/Divulgação/Jc
Fabricante de metais sanitários, a Meber iniciou a implantação da Indústria 4.0 em 2019 a partir de iniciativa da gestão industrial e de tecnologia, juntamente com a área de TI, na busca de melhoria constante. Diretor de Inovação e Tecnologia, Marcio Chiaramonte, relata que, inicialmente, os objetivos eram satisfazer a curiosidade sobre os conceitos de manufatura avançada ao invés de implantar uma ferramenta de gestão, que é a indústria 4.0.
Segundo ele, se a aplicação tivesse se baseado em informações obtidas em eventos e textos sobre o tema, nada teria sido feito na área. "A tecnologia é mostrada de forma confusa e hermética, não mostra caminhos. Fala-se de soluções mirabolantes, usando manufatura aditiva, robotização, realidade virtual, cloud e outros, o que afasta o gestor de tentar saber qual resultado efetivo se pode obter com a implantação dela", argumenta. Atualmente, o gestor assegura que a empresa tem uma gestão precisa, online e confiável das máquinas e equipamentos envolvidos com a manufatura, seu status, disponibilidade, o que cada posto operativo está fazendo, como e com que eficiência. "São importantes informações para planejamento e gestão da produção, custos, suprimentos e área comercial", exemplifica.
Aponta como primeiro aspecto importante o desaparecimento do papel do posto de trabalho. As informações necessárias para o controle da produção são geradas automaticamente e encaminhadas ao ERP, onde são processadas conforme as necessidades de cada área de suporte. Os dados de toda a manufatura mecanizada (exceto montagem) são disponíveis instantaneamente. "De posse destes dados, a gestão de produção age rapidamente, pois atividades repetitivas são feitas automaticamente, ficando para a gestão a tomada de decisões em cima de exceções", explica. Também elenca a melhoria na qualidade dos produtos, melhor custo de produção, produtividade e segurança.
Para Chiaramonte, a empresa está no início de uma jornada interessante e pretende avançar muito com o uso de tecnologias de Inteligência Artificial na predição da produtividade dos equipamentos e da fábrica. "Há muito espaço para avançar, especialmente em áreas como engenharia, custos, suprimentos, controladoria, comercial, marketing e gestão de pessoas, ou seja, em toda a empresa. Os resultados obtidos até aqui são muito entusiasmantes", assegura. Cita a gestão dos postos operativos, de estoques e suprimentos, custos e velocidade de atravessamento, desde a liberação dos pedidos até a disponibilidade das peças prontas na expedição, como as áreas mais beneficiadas.
O gestor afirma que as tecnologias necessárias estão disponíveis no Brasil e a um custo convidativo. A carência, segundo ele, é de pessoal especializado em digitalização de tudo. "Faltam profissionais que dominem as tecnologias habilitadoras para a implantação da indústria 4.0, tanto a nível técnico, como, o mais preocupante, a nível acadêmico. É uma deficiência educacional que tira o Brasil da lista de países modernos", indica.
O diretor afirma que a Indústria 4.0 não é de aplicação e uso exclusivos da indústria. Poderia ser aplicada com stakeholders, envolvendo clientes e os dados relativos aos negócios e sua otimização, com entrega de melhores serviços de pré-vendas, vendas e pós-vendas.
Marcopolo atua na integração digital total com a cadeia de valor
Empresa obteve ganhos de produtividade, redução de custos e qualidade de informações, aponta Ledur
/Julio Soares/Divulgação/Jc
Há cinco anos, a Marcopolo iniciou os movimentos e investimentos para preparar as bases para uma implementação sustentável da Indústria 4.0, revisitando os processos de toda a cadeia de valor. O projeto teve origem no Planejamento Estratégico e permeou todos os níveis da empresa.
João Paulo Ledur, diretor de Estratégia e Transformação Digital, indica que, inicialmente, o objetivo era preparar a empresa e seus processos para a transformação digital, buscando resultados de curto e médio prazos em produtividade e qualidade. Como exemplos, cita o monitoramento de equipamentos, manufatura aditiva e simulação. Atualmente, segue em nível estratégico e faz parte do programa de transformação digital da empresa. "Acreditamos ser um dos pilares para atingirmos as metas operacionais dos próximos anos", projeta. O executivo vislumbra condições para evoluir de forma contínua, principalmente em áreas como robótica, manufatura aditiva, simulação, integração de sistemas, internet industrial, ciência de dados e realidade aumentada.
Ledur aponta como principais avanços ganhos em produtividade, redução nos custos de produção e qualidade de informações. Com o avanço, a empresa está implantando ações para melhorar controles de produção que irão repercutir em várias áreas, como qualidade, segurança e acuracidade de estoques, dentre outros. Ledur afirma que a Indústria 4.0 não somente beneficia a cadeia de valor interna, mas todo o ecossistema, que envolve desde o cliente até os fornecedores em uma integração digital total objetivando agilidade e assertividade dos negócios.
Como principais dificuldades para implantação das tecnologias, cita a adaptação de equipamentos antigos para as necessidades da Indústria 4.0, integração dos sistemas, convívio com vários níveis de indústria ao mesmo tempo e transformação cultural. A maioria das soluções utilizadas pela fabricante de carrocerias de ônibus sediada em Caxias do Sul é importada. Não são soluções prontas e precisam para a sua aplicação de desenvolvimento às características e necessidades particulares da Marcopolo.