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Vida noturna renasce em Porto Alegre
Um dos ramos de entretenimento mais prejudicados pelas restrições decorrentes do coronavírus, segmento das casas noturnas está finalmente voltando a reaquecer
Quem costuma andar à noite pelas ruas de Porto Alegre, especialmente em bairros boêmios, como a Cidade Baixa, percebe uma efervescência que parecia não existir mais. Filas que se estendem pelo quarteirão (ou até mais) são comuns na frente de bares e casas noturnas.
As baladas voltaram, para a felicidade de um público sedento por diversão, que sentia saudades de dançar até o sol raiar. E, claro, para a satisfação dos proprietários dos estabelecimentos, que penaram para manter seus negócios durante o período mais crítico da pandemia
Completamente fechados em um primeiro momento, os estabelecimentos que resistiram acumularam dívidas, perderam funcionários e tiveram que se adaptar a outros formatos quando as flexibilizações nas normas sanitárias viabilizaram alguma atividade. Hoje, esses sobreviventes ainda sentem dificuldades para voltar ao status pré-coronavírus, mas já respiram aliviados por saber que, pelo menos, conseguem chegar ao fim do mês com recursos suficientes para pagar as contas.
E esse sentimento não é só dos proprietários. Além deles, milhares de trabalhadores têm nessa atividade seu principal sustento. De acordo com um levantamento do grupo de empresários Live Marketing RS, o setor de entretenimento é responsável por gerar mais de 50 mil empregos diretos e indiretos no Estado, com faturamento de R$ 20 bilhões, cerca de 5% do PIB gaúcho.
Na Capital, conforme dados do Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre e Região (Sindha), existem pouco mais de 100 casas e bares noturnos, número semelhante ao que havia no ano passado. Isso ocorre porque, ao mesmo tempo em que muitos negócios abriram falência, outros iniciaram suas operações.
Após todos os percalços enfrentados no auge da pandemia, o presidente da entidade, Paulo Geremia, acredita que o momento é positivo para os empresários do setor. "O público estava com saudades de um entretenimento coletivo, de aproximação e descontração numa mesa de bar, ouvir música, apreciar artistas e dançar. Já estamos vivendo um período de ver casas lotadas", comemora.
Mesmo assim, o dirigente entende que a gestão dos estabelecimentos ainda é "delicada". "Não tem como, muitas vezes, voltar com a equipe que tinha antes, pois houve aumento de insumos e passivos vindos do período da pandemia. É preciso maestria para se manter saudável."
Maestria e bastante perseverança. Nesta reportagem, os donos de algumas das principais casas noturnas de Porto Alegre falam sobre como superaram perdas financeiras - e até mesmo pessoais - para seguir na ativa e trazer um pouco de alegria para os amantes da vida noturna.
As baladas voltaram, para a felicidade de um público sedento por diversão, que sentia saudades de dançar até o sol raiar. E, claro, para a satisfação dos proprietários dos estabelecimentos, que penaram para manter seus negócios durante o período mais crítico da pandemia
Completamente fechados em um primeiro momento, os estabelecimentos que resistiram acumularam dívidas, perderam funcionários e tiveram que se adaptar a outros formatos quando as flexibilizações nas normas sanitárias viabilizaram alguma atividade. Hoje, esses sobreviventes ainda sentem dificuldades para voltar ao status pré-coronavírus, mas já respiram aliviados por saber que, pelo menos, conseguem chegar ao fim do mês com recursos suficientes para pagar as contas.
E esse sentimento não é só dos proprietários. Além deles, milhares de trabalhadores têm nessa atividade seu principal sustento. De acordo com um levantamento do grupo de empresários Live Marketing RS, o setor de entretenimento é responsável por gerar mais de 50 mil empregos diretos e indiretos no Estado, com faturamento de R$ 20 bilhões, cerca de 5% do PIB gaúcho.
Na Capital, conforme dados do Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre e Região (Sindha), existem pouco mais de 100 casas e bares noturnos, número semelhante ao que havia no ano passado. Isso ocorre porque, ao mesmo tempo em que muitos negócios abriram falência, outros iniciaram suas operações.
Após todos os percalços enfrentados no auge da pandemia, o presidente da entidade, Paulo Geremia, acredita que o momento é positivo para os empresários do setor. "O público estava com saudades de um entretenimento coletivo, de aproximação e descontração numa mesa de bar, ouvir música, apreciar artistas e dançar. Já estamos vivendo um período de ver casas lotadas", comemora.
Mesmo assim, o dirigente entende que a gestão dos estabelecimentos ainda é "delicada". "Não tem como, muitas vezes, voltar com a equipe que tinha antes, pois houve aumento de insumos e passivos vindos do período da pandemia. É preciso maestria para se manter saudável."
Maestria e bastante perseverança. Nesta reportagem, os donos de algumas das principais casas noturnas de Porto Alegre falam sobre como superaram perdas financeiras - e até mesmo pessoais - para seguir na ativa e trazer um pouco de alegria para os amantes da vida noturna.
Na Cucko, pandemia foi marcada por luto e reinvenção
De quinta-feira a sábado, uma fila gigantesca se forma na rua Lima e Silva, entre Venâncio Aires e Joaquim Nabuco. São os frequentadores da Cucko, uma das casas mais concorridas da Cidade Baixa. Mas a retomada das festas no estabelecimento ocorreu após um período de muito sofrimento para sua proprietária, Thais Gomes. No dia 3 de outubro do ano passado, ela perdeu o pai, Antonio, para o coronavírus. Ele tinha 68 anos.
"A pandemia tirou meu emprego. Tirou meu pai. Ele sempre se cuidou, mas essa doença é desgraçada, né? Simplesmente tira tudo o que tu tens em pouquíssimo tempo. Então, quando as pistas foram liberadas, eu estava de luto, não tinha nem cabeça para pensar nisso", lembra a empresária.
Antes do falecimento de Antonio - que no mesmo local havia fundado o Dhomba, rebatizado de Cucko em 2013 -, a pandemia já tinha imposto alguns desafios para Thais. Sem festas, o estabelecimento começou a vender lanches. Assim nasceu o Xis Cucko, um sucesso entre os clientes. Só que ainda não era suficiente para arcar com todas as despesas.
A empresária pensou em criar um drive-in na enorme garagem ao lado, mas desistiu ao perceber que isso exigiria muito investimento. O insight para o melhor uso do espaço veio quando ela se tornou sócia de uma cervejaria.
"Pensei, então, em fazer um bar a céu aberto, imaginando que o pessoal precisava sair de casa com um mínimo de segurança. Desse projeto nasceu o Brita", explica. O espaço se mantém até hoje, com uma grande variedade de bebidas e uma programação que vai de bingos a performances de pintura ao vivo. E, assim como o xis, foi a salvação da Cucko, "tanto nas contas quanto na questão da sanidade mental".
Passado quase um ano do período mais crítico para Thais, a situação é outra. Com capacidade para 498 pessoas e noites embaladas por muita música pop (além das famosas open bar), a Cucko já registra um movimento próximo ao que tinha antes da pandemia.
Para a empresária, o mercado de entretenimento finalmente está dando sinais de recuperação. "Todo mundo que eu converso tem aquela sensação de estar respirando melhor, sabe? Eu, particularmente, considero um momento muito bom para quem trabalha com eventos na Cidade Baixa. Estão nascendo vários projetos legais aqui, tanto de empreendimentos de lazer quanto de moradia. Foi difícil, mas, graças a Deus, a gente está no caminho certo agora."
Opinião comemora programação cheia, mas festas ainda deixam a desejar
Responsável por uma parcela expressiva dos espetáculos musicais que chegam a Porto Alegre, a Opinião Produtora tem ampliado a oferta de atrações desde agosto do ano passado, quando, timidamente, iniciou uma série de shows acústicos. Hoje, as casas administradas pelos sócios Claudio "Magrão" Favero e Alexandre "Alemão" Lopes - Opinião, Auditório Araújo Vianna e Pepsi on Stage - estão funcionando a pleno, com uma agenda diversificada que vai de Valesca Popozuda a Gilberto Gil.
As baladas ocorrem no tradicional bar da Cidade Baixa, aos finais de semana, geralmente após alguma apresentação musical, e no Pepsi, com uma frequência menor. E, de acordo com Favero, ainda não retomaram o apelo que tinham antes. "Nesse aspecto, não conseguimos voltar ao patamar pré-pandemia. Até porque, bem ou mal, nunca deixaram de acontecer festas durante o período de isolamento, houve muitos eventos clandestinos", argumenta.
Já a procura por shows é enorme. Os ingressos esgotam rápido, e é raro um fim de semana sem pelo menos uma apresentação com casa lotada. "Para dar um exemplo recente, tivemos, no Araújo Vianna, o espetáculo Irmãos (com Alexandre Pires e Seu Jorge) em três dias, terça, quarta e quinta-feira, e Jota Quest na sexta, sábado e domingo. Sold out nas seis noites. Estamos falando aí de quase 20 mil pessoas em uma semana. É uma demanda reprimida de dois anos, então, o pessoal está realmente com vontade de ver os artistas", acredita o empresário.
Mesmo com a agenda cheia, o Opinião ainda não conseguiu retomar o estágio pré-pandemia. "Recuperar os prejuízos não tem como, pois o setor de entretenimento funciona como um hotel: se não houve ocupação naquele momento, não recupera mais, né? Mas a gente está, sim, conseguindo dar a volta por cima, cumprir as nossas obrigações e projetar um futuro legal", garante Favero.
Um dos poucos empreendimentos que conseguiu manter o quadro fixo de funcionários (cerca de 40) o Opinião utilizou o período parado para investir em diversas reformas, como um espaço no mezanino batizado "Inferninho", com capacidade para receber até 400 pessoas - a lotação total do bar, hoje, é de 1.600. O espaço permanece, para a realização de eventos menores.
"Não ficamos parados. O PPCI (Plano de Prevenção e Combate a Incêndio) do bar foi todo refeito, e, no Araújo, tivemos melhorias em termos de acústica e na parte elétrica. Mas a grande obra que estamos nos preparando para entregar é a reforma do Teatro de Câmara Túlio Piva, um patrimônio da cidade, muito querido pela comunidade artística", destaca o empresário. A previsão é de que a reinauguração do teatro, fechado desde 2014, ocorra em março de 2023. A reforma é uma das contrapartidas do contrato de concessão do espaço e do Araújo Vianna à produtora.
Pepsi on Stage mantém perfil de agenda espaçada por conta da capacidade
Ao contrário do Opinião e do Araújo Vianna, o Pepsi on Stage tem uma agenda mais espaçada. Isso, segundo Claudio Favero, ocorre por conta da capacidade da casa, de aproximadamente 6 mil pessoas.
"É um espaço que recebe artistas com apelo mais popular, como Luiza Sonsa, que se apresentou em julho, e Ludmilla, que vai ter agora (dia 17 de setembro). É aquela coisa da festa-show, de começar às 23h e ir até três, 4h da manhã. Na verdade, o Pepsi sempre teve uma agenda reduzida em relação às outras casas, justamente pelo tamanho", ressalta o empresário.
Em relação ao episódio trágico ocorrido durante a apresentação da cantora Luísa Sonza, no dia 16 de julho, quando a médica veterinária Alice de Moraes, de 27 anos, passou mal e acabou morrendo, Favero ressalta que a produtora seguiu todos os protocolos exigidos no show e agora aguarda o inquérito para saber quais medidas judiciais deverão ser tomadas. Responsável pela ambulância que prestava o atendimento à jovem, a empresa Transul Emergências Médicas declarou que deu toda a assistência possível e que ela faleceu após ter uma parada cardiorrespiratória.
Cabaret celebra 30 anos com clientela fiel
Cabaret Voltaire, Cabaret do Beco ou simplesmente Cabaret. A casa noturna fundada por Carlos Beust em 1992 teve algumas variações no nome, mas sempre funcionou como uma válvula de escape para quem queria esquecer os problemas da rotina e dançar até o dia amanhecer. Por isso, quando os casos de coronavírus impediram o estabelecimento de funcionar, Beust e seu sócio, Jeremy Crawshaw, tiveram que improvisar.
"Sempre dispomos do mínimo possível de móveis aqui e, de repente, precisamos funcionar como barzinho. Então, o jeito foi adaptar o espaço com alguns sofás e bancos que possuíamos e começar a mobiliar tudo", lembra Crawshaw. "Mas foi uma coisa emergencial. Com a retomada das festas, desativamos esse formato."
O número de funcionários, reduzido a 10 pessoas quando o Cabaret operava como bar, triplicou para dar conta do público na volta das baladas - a lotação da casa é de 445 pagantes. O cardápio, que chegou a contar com pizzas, também mudou. O único resquício do período de isolamento é a oferta de drinks, que acabou se diversificando. "O nosso público quer saber mesmo é de dançar. Chega aqui às 23h e fica até 5h, 6h da manhã", explica Crawshaw.
Com grande parte de sua história construída na avenida Independência, o Cabaret se mudou para a rua Sete de Setembro, no Centro Histórico, em 2015. Desde então, vem renovando a clientela, majoritariamente jovem e LGBTQI . "O público vem de forma orgânica, e varia dependendo das festas que a gente produz. Claro que sempre há uma renovação. Agora, estão vindo os filhos e talvez até os netos dos primeiros frequentadores", brinca Beust.
Após tantas incertezas durante a pandemia, os sócios não escondem o alívio de verem a casa cheia todos os finais de semana. Mas garantem: mesmo com as despesas se acumulando, em nenhum momento pensaram em jogar a toalha.
"É óbvio que não foi fácil passar um ano e meio sem festas. Só que temos toda uma cadeia envolvida, de funcionários, produtores. Então, a gente precisa pensar além do nosso umbigo. Ainda temos pendências para resolver, mas o importante é que conseguimos sobreviver", afirma Crawshaw.
Como uma forma de "exorcizar" o vírus, o Cabaret se prepara para comemorar três décadas em 18 de novembro, com uma grande festa para convidados. E o principal anfitrião, aos 72 anos, avisa: se depender dele, a casa continuará na ativa por muito tempo. "Nunca pensei em desistir. Eu amo a noite e o Cabaret tem muita importância na minha vida", afirma Beust.
72 New York Pub volta a ser reduto para notívagos
Instalado na badalada avenida Nova York, o 72 New York Pub voltou a ser definitivamente reduto dos notívagos no bairro Auxiliadora em outubro do ano passado, quando as normas sanitárias foram flexibilizadas para liberar as pistas de dança. Assim como tantos outros estabelecimentos, a casa sobreviveu apenas como restaurante durante o momento mais crítico da pandemia.
Segundo o proprietário, Horizonte Antônio Venzon, mesmo amargando prejuízos por conta das medidas de isolamento social, o 72 NY se saiu relativamente bem em comparação com outros empreendimentos. "Como possuímos estrutura própria, conseguimos administrar melhor essa crise. Infelizmente, outros perderam tudo ou quase tudo", lamenta.
Isso não o impediu de tomar uma decisão difícil: dispensar metade da equipe. Com a retomada plena das atividades, Venzon acabou conseguindo recontratar os demitidos. Atualmente, o bar conta com 31 funcionários.
Com o retorno das festas, em outubro de 2021, Venzon resolveu focar apenas nas atividades de bar. A programação vai de terça a sábado, incluindo shows de pagode e sertanejo que culminam em concorridas baladas que se estendem pela madrugada. O público, porém, é um pouco menor do que antes. Por conta do novo PPCI, a casa, que chegou a ter capacidade para receber 420 pessoas, comporta 353.
Hoje, o empresário vê o mercado aquecido, a ponto de já perceber certa concorrência, algo que parecia distante durante a pandemia. "Notamos que há, sim, mais movimento. A noite porto-alegrense voltou ao que era antes da pandemia. Por outro lado, aumentou fortemente a quantidade de bares", acredita.
Mesmo depois de tantos anos à frente do 72 NY e de todas as dificuldades enfrentadas durante a pandemia, Venzon diz que em nenhum momento pensou em parar. E dá sinceros motivos para isso. "Tenho funcionários com mais de 10, 15 anos de casa. Demiti-los é caro e, além disso, é uma decisão que tem impacto na vida deles", explica. "E estou com 63 anos. Vou fazer o que a essa altura, me reinventar? Já fiz isso por mais de 30 anos", ri.
Ocidente passa por segmentação de público
Maior símbolo da boemia no Bom Fim, o Ocidente teve que se reinventar durante a pandemia. Como já funcionava também como restaurante, o bar na avenida Osvaldo Aranha com a João Telles recorreu ao serviço de entregas. E, com as festas inviabilizadas, o proprietário Fiapo Barth recorreu ao formato barzinho, colocando mesas na rua e criando o Ocidente Pub.
Mas o grande chamariz da casa sempre foram as baladas. Desde 2 de outubro do ano passado, quando ocorreu a primeira festa com pista liberada, o bar vem registrando um movimento considerável, principalmente às sextas e sábados.
Com a agenda mais movimentada, Fiapo, que havia mantido os empregados mais antigos e dispensado os mais jovens, voltou a reforçar a equipe. "A gente fez recontratações e, como algumas pessoas conseguiram outros trabalhos, chamamos também funcionários novos, creio que seis para a noite e mais três para o restaurante", diz o empresário. No total, a equipe é formada por 35 funcionários, contando com o reforço de freelancers aos finais de semana.
Após levantar R$ 1,1 milhão (entre recursos do próprio bolso e empréstimos bancários) no ano passado para bancar as despesas, Fiapo considera o cenário um pouco mais tranquilo hoje para os proprietários de casas noturnas. "No momento em que pudemos começar a fazer eventos, mesmo com menos gente, as coisas começaram a andar. Agora, felizmente, as coisas parecem estar mais próximas do que eram antes", acredita.
O empresário admite que nem todas as festas voltaram com a força que tinham antes, e atribui isso a dois fatores. Um deles é que as pessoas se acostumaram a beber nas ruas, algo que, para ele, não é novidade, uma vez que o próprio Bom Fim já viu fenômenos semelhantes na década de 1980. O outro é que parte do público frequentador do Ocidente mudou. Isso não seria problema, por um detalhe: a segmentação.
"Diversificar, tudo bem, cada festa alcança um nicho. Mas me parece que após a pandemia ficou muito mais evidente a diferença de um público de outro. O que eu lamento, pois a proposta do Ocidente sempre foi promover a diversidade, sem segmentações. Mas não nos cabe fazer nada a respeito disso, quem decide o que prefere é o público, né?", observa.
Mesmo com as festas movimentando o velho casarão da Osvaldo Aranha, Fiapo garante que o Ocidente Pub, um dos legados da pandemia, vai ficar. Prova de que a iniciativa deu certo? "Totalmente, ainda não, mas vai dar", diz, explicando que, com a saída de uma loja de roupas do prédio anexo ao sobrado, alugou o imóvel especificamente para o formato barzinho.
"Quando as festas voltaram, tivemos dificuldades de atender as mesas na rua. Assim não tem como criar público. Com esse espaço, podemos oferecer um serviço melhor, com drinks, café, petiscos", explica. A inauguração deve ocorrer em breve, durante a primavera.
Para proprietário do Agulha, recuperação total depende de melhora na economia
Com cinco anos completados recentemente, o Agulha já se tornou referência de vida noturna no 4º Distrito, sendo responsável por trazer a Porto Alegre diversas apresentações nacionais e internacionais de artistas independentes. Mas essa história de sucesso quase foi abreviada pela pandemia. Há cerca de um ano, em entrevista ao Jornal do Comércio, Eduardo Titton afirmou que não foram poucas as vezes em que ele e seu sócio e irmão, Fernando, haviam pensado em fechar a casa. "A gente vem vivendo quase que em uma montanha-russa de cálculos e emoções. Mas, de lá para cá, as coisas melhoraram bastante. Felizmente, já conseguimos retomar uma agenda consistente de shows", reflete o empresário.
Algumas iniciativas adotadas no período de isolamento foram mantidas, especialmente em relação a produtos vendidos em uma loja virtual, como cervejas e cachaças artesanais. Mas o grande desafio, agora, é saber como lidar com o "novo normal". "Tivemos uma clara mudança de comportamento do público, que aparentemente saiu do enclausuramento muito disposto a ir a shows. O problema é que, embora haja esse interesse, as pessoas têm que pensar também na fatura do cartão de crédito", analisa Titton. "Não há mais restrições por causa da pandemia, mas temos uma inflação galopante, o desemprego segue alto e a renda da população caiu".
O empresário admite que o fato de o Agulha apostar em muitos artistas novos ou experimentais é um risco, mas não abre mão dessa proposta. "Talvez esse seja o papel mais importante de um espaço cultural. Ao menos para mim não parece interessante ficar jogando só na zona de conforto. Claro que, nas circunstâncias atuais, o público tem que fazer escolhas e, às vezes, deixa de ir a um show para ir a outro. Nosso desafio é esse: provocar as pessoas, convencê-las de que vale a pena sair de casa", afirma.
Em relação a festas, o Agulha promove apenas eventos pontuais. Um deles foi em comemoração ao aniversário da casa, no dia 20 de agosto, que acabou sendo realizado em outro espaço, a URB Stage, também no 4º Distrito. "A casa comporta apenas 300 pessoas, e percebemos que nosso público queria celebrar essa marca com uma grande festa. Então buscamos um espaço com capacidade para 1.500 pessoas e trouxemos a Sampa The Great, uma premiada artista da Zâmbia, além de outros shows e vários DJ sets", ressalta Titton. A partir dessa experiência, o Agulha cogita realizar eventos esporádicos fora de seu espaço físico, mas, segundo o empresário, ainda não há nada definido.
Algumas casas que estão na ativa
Embora Porto Alegre tenha regiões notoriamente mais conhecidas por seus atrativos boêmios, Paulo Geremia, presidente do Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre e Região (Sindha), entende que houve uma pulverização dos espaços voltados à vida noturna. "Há diversão em vários pontos da cidade. Além das regiões onde se concentra uma diversidade de opções, há bares que estão se estabelecendo em bairros e fora de avenidas", afirma.
Para ele, investimentos em regiões como a orla do Guaíba, o Cais Mauá e o 4º Distrito, além de incentivar o turismo, fazem com que os próprios moradores da cidade passem a explorar outros bairros. "Acreditamos que essa movimentação seja positiva para todos e ajude a termos uma melhora significativa em curto prazo." Na lista a seguir, alguns dos espaços que estão funcionando na Capital.
- 72 New York Pub Bar - Nova York, 72 (Auxiliadora).
Site: 72newyork.com.br - Agulha - Conselheiro Camargo, 300 (São Geraldo).
Site: agulha.poa.br - Be.Club - Castro Alves, 825 (Rio Branco).
Instagram: beclubpoa825 - Cabaret - 7 de Setembro, 708 (Centro Histórico)
Instagram: @cabaretpoa - Caos- João Alfredo, 701 (Cidade Baixa)
Instagram: @caospoa - Club 688 - Siqueira Campos, 688 (Centro Histórico). Instagram: @club688
- Cucko - Lima e Silva, 1.037 (Cidade Baixa) -
Site: cucko.com.br - Divina Comédia - República, 649 (Cidade Baixa)
Instagram: @divinacomediapub_ - Espaço Cultural 512 - João Alfredo, 500/506/512 (Cidade Baixa). Site: espaco512.com.br
- Fuga Bar - Álvaro Chaves, 91 (Floresta). Instagram: @fugabar
- Glória - Lima e Silva, 426 (Cidade Baixa). Site: ogloria.club
- In Sano Pub - Lima e Silva, 601 (Cidade Baixa).
Instagram: @insanopuboficial - Liberty - Venâncio Aires, 240 (Cidade Baixa).
Instagram: @libertypoa - Love Bar - Baltazar de Oliveira Garcia, 4.687 (São Sebastião). Instagram: @lovebarpoa
- Lume - Independência, 936 (Independência).
te: lumeclub.com.br - Nuvem - João Alfredo, 483 (Cidade Baixa).
Site: nuvemclub.com.br - Ocidente - Osvaldo Aranha, 960 (Bom Fim).
Site: barocidente.com.br - Opinião - José do Patrocínio, 834 (Cidade Baixa).
Site: opiniao.com.br - Parapha Baiúca - João Alfredo, 425 (Cidade Baixa).
Instagram: @parapha_baiuca - PoaClub - Oscar Pereira, 2.655 (Glória). Instagram: @poaclubpoa
- Provocateur - Silva Jardim, 331 (Mont'Serrat).
Instagram: @provocateurpoa - Quinto Club - João Alfredo, 449 (Cidade Baixa).
Instagram: @quintoclub - Tabu 386 - Benjamin Constant, 321 (São João).
Instagram: @tabu386 - Thomas Pub - Padre Chagas, 330 (Moinhos de Vento).
Site: thomaspub.com.br - Uptown Club - Venâncio Aires, 240 (Cidade Baixa).
Instagram: @uptownclubpoa - Vitraux - Conceição, 492 (Independência).
Site: vitraux.com.br
*Daniel Sanes é jornalista formado pela Universidade Católica de Pelotas. Já foi repórter e editor no Jornal do Comércio. Hoje, atua como freelancer.