Todos os dias, enquanto caminhava pelo bairro Belém Novo, o fotógrafo Marcelo Ruschel passava na frente de uma quadra abandonada e sentia-se provocado a fazer algo pelas crianças do bairro. Quando finalmente o espaço foi colocado para alugar, ele primeiro fez um contrato de longo prazo com o proprietário, para depois descobrir como desenvolver um projeto social.
Dessa inquietação que, em outubro de 2000, a WimBelemDon foi fundada, iniciativa que utiliza o tênis como ferramenta de transformação social de jovens e adolescentes em vulnerabilidade.
O nome WimBelemDon é uma brincadeira com o tradicional torneio de Wimbledon, que acontece na Inglaterra. O tênis é o chamariz do projeto e o modo de fidelizar crianças para que possam desfrutar da sua verdadeira finalidade, a inclusão social.
Seguindo essa perspectiva, a ONG oferece diariamente para jovens, de 6 a 18 anos, duas refeições, oficinas socioemocionais, culturais, esportivas e pedagógicas, aulas de yoga e outras atividades que se ancoram na arteterapia. Hoje, a iniciativa atende em torno de 150 crianças, sendo 80 em formato semanal, onde o projeto visita a escola fazendo demonstrações do seu trabalho, e todas as outras frequentam diariamente.
Em 2015, o WimBelemDon lançou a "Campanha Fixando Raízes'' buscando adquirir recursos para comprar o terreno que alugavam desde de 2000, pois estavam correndo o risco de serem despejados. Naquela ocasião, a ONG foi recordista brasileira de arrecadação em crowdfunding no Terceiro Setor, angariando mais de R$ 400 mil, e mobilizando a comunidade nacional e internacional do tênis.
Finalmente com a sede própria, a iniciativa conta com um espaço de 1.644 m2 e 300 m2 de área construída, com quadra de tênis de saibro, espaço multiuso onde ocorrem as oficinas, refeitório, cozinha industrial, lavanderia, além de 38 placas de captação de energia solar.
Segundo Ruschel, fundador e superintendente, pelo fato do tênis ser um esporte de difícil acesso, muitas pessoas têm a visão de que a ONG é rica ou elitista. Acaba que esse preconceito serve de combustível para todos dentro do projeto.
"Se entrar e olhar tudo que a gente construiu aqui num terreno que era abandonado, com uma quadra que tinha mato em cima, as pessoas que entram hoje não entendem que não tinha nada quando começou", expõe. Vale destacar que todas as raquetes e bolinhas foram doações de professores ou academias.
É preciso ter em mente que apesar das crianças participarem de atividades esportivas e o tênis ser um dos atrativos para os jovens e adolescentes, o objetivo final da instituição não é um grande tenista, mas, sim um grande cidadão. Por isso que quando recebem convites para os educandos participarem de torneios, são selecionados aqueles que são os melhores em um conjunto de coisas, como comportamento dentro de casa, na rua, notas da escola etc. Quando a WimBelemDon vai para um torneio em outras cidades, a vivência ultrapassa a competição, pois os atletas utilizam a oportunidade como forma de expandir os horizontes culturais das crianças.
ONG manteve todos os funcionários durante a pandemia
A pandemia para o projeto foi um momento de inovar e se superar. Segundo Marcelo Ruschel, apesar da Prefeitura de Porto Alegre ter orientado as ONGs a suspenderem ou diminuírem os contratos de trabalho, a WimBelemDon foi firme e manteve todos os 18 funcionários sem corte salarial.
Logo no início dos fechamentos, em março de 2020, a iniciativa começou uma campanha de crowdfunding para adquirir cestas básicas e kits de higiene e limpeza. No total, arrecadaram mais de R$ 250 mil reais e distribuíram 36 toneladas de alimentos, beneficiando mais de mil famílias. "No momento de uma pandemia o que tu mais precisa é o que está no nosso DNA: a assistência social", afirma o fundador.
Um pouco antes da pandemia começar, a instituição foi contemplada com o pacote Microsoft 365, e desde lá já pensavam em fazer atividades remotas. Durante esse período, foi preciso muitos desdobramentos para conseguirem atender todas as crianças. "Às vezes, a família tem um celular, o pai chega tarde da noite, enviava uma tarefa pra criança,mas ela não conseguia fazer", relata Ruschel.
Ao longo de 2020 e 2021, o setor de psicologia deu continuidade ao monitoramento da situação familiar dos educandos, com o intuito de atender às suas principais demandas. Por meio de uma pesquisa de acompanhamento, eles tomaram ciência do que cada família passou ao longo do ano. No questionário, era avaliado e acompanhado o nível de empregabilidade, o nível de ansiedade, entre outras coisas. "Imagina uma família que abre a janela ou vê uma outra família, uma outra casa, uma outra janela, sem pátio, sem espaço. Então a gente fez um trabalho bem dedicado", expõe Ruschel. Esse trabalho foi mantido mesmo após o retorno das atividades presenciais.
Existem várias maneiras de ajudar a WimBelemDon, desde a Nota Fiscal Gaúcha, pelo Imposto de Renda, Funcriança, entre outras formas. Este ano, após 2 anos de edição delivery, o evento gastronómico Ué?! Sopa retornou presencialmente para sua 6ª edição, registrando recorde de vendas. Para mais informações, acesse: https://www.wimbelemdon.com.br/colabore/.