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- Publicada em 17 de Julho de 2022 às 16:30

Produção gaúcha não supre demanda interna

Cerca de 14 mil famílias estão hoje envolvidas com a produção de erva-mate no Estado; dessas, quase 5 mil já se encontram num estágio de profissionalização

Cerca de 14 mil famílias estão hoje envolvidas com a produção de erva-mate no Estado; dessas, quase 5 mil já se encontram num estágio de profissionalização


/EMATER/DIVULGAÇÃO/JC
No livro "História econômica do mate", publicação de 1969 e há tempo esgotada nas livrarias, o escritor e pesquisador Temístocles Linhares escreveu que "(a produção gaúcha do mate), com o aumento da população regional, passou a ser totalmente absorvida por ela, como ocorre hoje, não dispondo o estado de produção suficiente para se auto abastecer".
No livro "História econômica do mate", publicação de 1969 e há tempo esgotada nas livrarias, o escritor e pesquisador Temístocles Linhares escreveu que "(a produção gaúcha do mate), com o aumento da população regional, passou a ser totalmente absorvida por ela, como ocorre hoje, não dispondo o estado de produção suficiente para se auto abastecer".
Na sequência, amplia Linhares que "suprem assim as faltas os estados de Paraná e Santa Catarina, não só com o mate em rama, para ser moído nos soques locais, como também com o mate beneficiado". Mais de cinquenta anos depois, a constatação do autor paranaense continua correta. O Rio Grande do Sul ainda é um estado que, apesar da enorme produção, consome mais chimarrão do que prepara a erva em suas empresas e indústrias.
Ilvandro Barreto, engenheiro agrônomo da Emater/RS-Ascar, explicou à reportagem algumas das semelhanças e diferenças entre os modelos produtivos hoje vigentes no sul do país: "no Rio Grande do Sul, a produção é menor que o consumo; Santa Catarina e Paraná possuem produção bem superior ao seu consumo. Os sistemas produtivos, em todos os estados, passaram pelo extrativismo, tanto da erva-mate nativa no interior de florestas como na região dos campos. Hoje, com a evolução tecnológica, há áreas cobertas por florestas em que a erva-mate se insere (casos de Santa Catarina e Paraná) e áreas de cultivos abertos, de áreas implantadas, que é basicamente o que ocorre no Rio Grande do Sul e no Mato Grosso do Sul. São diferenças significativas".
A produção gaúcha de erva-mate, hoje, se dá principalmente ao redor de cinco polos ervateiros: o polo Celeiro-Missões, que engloba a região de Palmeiras das Missões; o do Alto Uruguai, que tem como centro as áreas de Erechim e Barão do Cotegipe; o polo Nordeste Gaúcho, em que se situa a cidade de Machadinho; o do Alto Taquari, zona que reúne as produções de Arvorezinha, Ilópolis e Putinga; e, ainda, o polo dos Vales, no qual está presente a região de Venâncio Aires, conhecida como a capital nacional do chimarrão. As cinco regiões apresentam não só diferentes características ambientais, tais como as de altitude, relevo e solo, como se diferenciam pelas práticas de produção que ali se dão. "Também há diferenças pela forma de condução dos seus ervais e pela gestão do setor ervateiro", explica Barreto.
"Cerca de 14 mil famílias estão hoje envolvidas com a produção de erva-mate no estado; dessas, quase 5 mil já se encontram num estágio de profissionalização na produção da erva", estima o engenheiro agrônomo, que prevê desafios para a manutenção do trabalho no campo e modificações na distribuição dos ervais para o futuro próximo. "Vemos uma tendência de redução de produtores trabalhando com erva-mate, principalmente os que possuem baixa tecnologia e produtividade, os que não se profissionalizaram. Há ervais que não terão viabilidade econômica para a sua manutenção", afirma Barreto. Por outro lado, os números recentes apontam para um aumento da produtividade nos ervais gaúchos.
Hoje, a produção gaúcha média (estimada em 650 arrobas por hectare em cada ciclo produtivo) é superior à média do mate nacional, em números que encontram grande oscilação mesmo dentro do Rio Grande do Sul. "Há propriedades gaúchas que já passaram de 2.000 arrobas de erva-mate por hectare, então existem distanciamentos muito grandes de um produtor para outro quanto à produtividade e aos ganhos. Isso se explica por razões tecnológicas e por operações técnicas realizadas nos ervais", detalha Ilvandro Barreto.
Quanto à localização dos ervais plantados no território rio-grandense, para Barreto a concentração da erva-mate em áreas montanhosas, de declives e morros, pode se modificar para que a produção siga crescendo. "É possível prever um movimento inverso, de recolocar a erva-mate em áreas maiores e que hoje estão ocupadas por cultivos agrícolas como soja e milho. Isso configuraria uma mudança no sistema de produção, pois também implicaria na mecanização dessas áreas. A tecnologia já existe, embora no Brasil não tenha entrado", explica o engenheiro agrônomo, que menciona a região ervateira argentina (situada nas províncias de Misiones e Corrientes) como mais avançada nos processos de mecanização nos ervais.
Segundo dados da Fiergs atualizados em 2019, o Rio Grande do Sul é o estado brasileiro com a maior produção absoluta de erva-mate (45,1% do todo nacional), embora dedique à erva praticamente a mesma área plantada que o Paraná (39%). Os ervais gaúchos também são os que mais alcançaram as exportações: de acordo com a Fiergs, mais de 80% da erva-mate brasileira exportada em 2019 saiu da indústria do Rio Grande do Sul. A liderança no cenário da exportação também se mantém para 2022, segundo dados de março e abril deste ano veiculados pelo informativo Roda de Mate, organizado pelo governo do estado.
 
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