Patrimônio da história cultural do Rio Grande do Sul, o Theatro São Pedro precisou renascer diversas vezes das cinzas, como uma fênix. O primeiro ato foi ainda durante a construção, depois que teve obras iniciadas em 1833, que vinham atender a um anseio de uma comunidade desde o período colonial, de ter um lugar para abrigar as manifestações culturais da época.
No entanto, o sonho foi adiado no ano seguinte por causa de um objetivo maior: defender a pátria rio-grandense na Revolução Farroupilha. O segundo ato dessa história veio a acontecer apenas em 1847, quando o então presidente da província, Duque de Caxias, retomou as obras e reativou o sonho de um povo. O projeto de Filipe de Normann, responsável pelas obras com o aporte de verbas dos cofres provinciais, recebeu críticas por ser considerado excêntrico para os padrões da época. Quem via de fora tinha a impressão de ver um prédio de dois andares, mas por dentro se revelava um casarão de quatro andares. Mas, em 27 de junho de 1858, eram abertas as portas do Theatro São Pedro, em uma festa com toda a pompa e circunstância que um sonho da sociedade gaúcha merecia.
Cerca de 50 anos após a inauguração, o então presidente da província, Carlos Barbosa, decidiu que iria fechar o local e dar outro destino. Passado o susto, o palco do Theatro São Pedro recebeu grandes nomes da história cultural brasileira e mundial, como Arthur Rubinstein, Villa-Lobos, Eugène Ionesco, Cacilda Becker, Marcel Marceau, Olavo Bilac, entre outros.
Mas o tempo corroía as instalações do teatro. O ato final, como conta o presidente da Associação de Amigos do Theatro São Pedro, José Roberto Diniz de Moraes, foi dado com tristeza em 1972. “Durante um concerto internacional de viola, caiu um equipamento do teatro perto de uma solista, quase a machucando. A partir daí, se decidiu pelo fechamento do teatro”, lembra.
O São Pedro parecia fadado a fechar as cortinas para sempre, até que surge a presença de uma mulher, vinda da Alemanha fugida da perseguição nazista, que mudou o roteiro da história e deu uma nova vida ao que parecia um ponto final. Em 1975, Eva Sopher recebeu o desafio do então governador do Estado, Synval Guazelli, de recuperar o local. Nove anos depois, em 1984, com direito a uma magistral apresentação de Bibi Ferreira interpretando Edith Piaf, o Theatro São Pedro reabre as portas para viver um novo ato na história cultural gaúcha.
Além de leis de incentivo à cultura, o apoio vem da sociedade por meio da Associação de Amigos do Theatro São Pedro, fundada em 1984, junto com a reinauguração do local. Hoje, conforme o presidente da associação, são 1,3 mil associados e 80% deles se mantêm adimplentes.
Desde então, novas histórias são escritas no palco do São Pedro, que lançou para o mundo nomes como Tangos & Tragédias e o Circo Tholl. “É um teatro plural, mas pela sua expressão e importância é um ponto de chegada, não um ponto de saída. Os espetáculos que amadurecem, que adquirem peso, vêm buscar o reconhecimento aqui. Para todo o artista, pisar do palco no Theatro São Pedro é mais que uma honra, mas, sim, um reconhecimento de que ele chegou lá”, destaca Moraes.
Na virada do novo século, os administradores do Theatro São Pedro começam a escrever um novo ato na história cultural gaúcha: um ato chamado Multipalco.
Em cena, o Multipalco
Ainda na década de 1990, começou a ser escrito o novo capítulo da história do Theatro São Pedro. Com a desapropriação de áreas, no final da década, pode-se dar início à construção de um novo sonho. “Em 2001 tivemos a primeira aprovação na Lei de Incentivo à Cultura, mas o recurso não era suficiente para começar. Em 2002 conseguimos a aprovação junto à Lei Rouanet. E em 27 de março de 2003 começamos as primeiras escavações da obra, afirma Moraes.
A partir de 2008, conforme Moraes, que também é coordenador do projeto do Multipalco, a ideia era entregar uma parte da obra por ano. Já estão prontos o estacionamento, que está operando desde 2008, a laje em que está o restaurante e a concha acústica e a fachada da Riachuelo, que foi essencial para remanejar a administração. “No final do ano passado, entregamos uma nova ala na fachada que dá para o Arquivo Público do Estado. Lá nós temos quatro salas especializadas que estão trabalhando com música em um projeto de alcance social em que nós peneiramos 70 crianças na periferia de Porto Alegre”, afirma.
Ainda faltam entregar a sala da Orquestra de Câmara, um novo espaço como o do Theatro São Pedro, com 650 lugares, entre outras obras que ainda esperam o final feliz, com aplausos da grande plateia da sociedade cultural gaúcha.