O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Guilherme Campos Jr., disse nesta segunda-feira (28) que vê com preocupação as dificuldades enfrentadas pelo agronegócio do Rio Grande do Sul. Ele acompanhará, na terça, a reunião entre parlamentares gaúchos no Congresso Nacional e representantes da cadeia do agronegócio com o ministro da Agricultura e Pecuária (Mapa), Carlos Fávaro, para discutir alternativas sobre o cenário de dificuldades financeiras do setor.
O encontro, marcado para as 11h30min, na sede do Mapa, terá na pauta, mais uma vez, a tentativa de deputados e senadores do RS e produtores rurais de sensibilizar o governo federal para a necessidade real de socorro ao Estado para evitar uma crise generalizada decorrente do endividamento agrícola.
"Vamos tentando achar uma alternativa. Não está fácil a situação dos produtores, é muito preocupante", respondeu Campos ao Jornal do Comércio.
Com a renda afetada por uma sucessão de episódios climáticos que derrubaram a produção nas últimas safras, o setor vem buscando diálogo com o governo para alongar o pagamento dos financiamentos agrícolas e recuperar capacidade de seguir na atividade. Um dos pontos levantados pelo governo é a cobrança pela adoção de medidas para mitigação de futuros problemas criados pelo clima. Os produtores, por sua vez, argumentam que, antes, é preciso resolver o endividamento, para devolver a capacidade produtiva aos produtores e, assim, a condição de reinvestir em ações a longo prazo e também na implantação de pivôs centrais e correção de solo, por exemplo.
Conforme o deputado federal Luciano Zucco (PL/RS, líder da Oposição na Câmara e articulador da audiência, o quadro que vive o setor produtivo gaúcho é dramático. Segundo ele, medidas tradicionais, como prorrogações de dívidas e linhas emergenciais de crédito, que até aqui foram as únicas ações apresentadas pelo governo federal, não são mais suficientes.
“O setor produtivo precisa de soluções estruturantes e definitivas para garantir a manutenção da atividade agropecuária e evitar um colapso ainda maior na economia gaúcha. A nossa cobrança, como líder da oposição e como defensor do agro, será muito clara: é hora de tratar a crise como ela é: uma calamidade econômica e social”.
Durante o encontro, os representantes gaúchos deverão insistir na necessidade da securitização das dívidas agrícolas, para reequilibrar o endividamento "sem empurrar o problema para a frente". Zucco fala em subvenções diretas para pequenos e médios produtores, renegociação ampla com bônus de adimplência e a criação de um plano nacional de enfrentamento às catástrofes climáticas, voltado especialmente para regiões agrícolas de alta vulnerabilidade.
“Os produtores gaúchos não querem favor nem esmola. Querem dignidade para continuar trabalhando, produzindo e sustentando o Brasil, como sempre fizeram. Esperamos que o Ministério da Agricultura esteja disposto a ouvir e, mais importante, a agir. O agro do Rio Grande do Sul não pode esperar mais", disse Zucco ao JC enquanto se deslocava à Capital Federal.
A coordenadora do Movimento SOS Agro Grazi Camargo, que também participará do encontro, espera que a União perceba a dimensão do problema, que, segundo ela, não afetará apenas os produtores rurais.
“O risco é de uma crise em cadeia, atingindo diversos setores da economia, a partir da incapacidade do agronegócio seguir produzindo devido ao endividamento. Estamos fazendo muitas mobilizações pelo Estado, procurando mostrar o problema e acreditando no convencimento sobre a urgência do apoio que pedimos. Mas também haverá protestos se não conseguirmos avançar”, avisa a produtora.
Grazi espera ouvir de Fávaro uma posição de disposição para sentar à mesa e negociar uma saída. E a proposta segue sendo o alongamento das dívidas nos moldes apresentados pela Secretaria da Fazenda do RS, por meio da utilização do Fundo Social do Pré-Sal.
“Precisamos de 20 anos para pagamento, com três de carência e juros entre 5% e 7% ao ano. Para todas as dívidas, não apenas com bancos, mas também com cooperativa e cerealistas. Preferencialmente concentrando toda a renegociação no Banco do Brasil. Ao determinar a publicação de uma resolução do Conselho Monetário Nacional orientando o sistema financeiro a obedecer o que diz o Manual de Crédito Rural, o governo reconhece o problema. Mas precisa criar uma solução”, finaliza.
Participarão da audiência, ainda, os deputados federais Rodolfo Nogueira (PL/MS), presidente da Comissão de Agricultura; Pedro Westphalen (PP/RS), autor do Projeto de Lei 341/2025, que trata da securitização; e Marcelo Moraes (PL/RS), coordenador da bancada gaúcha. O senador Luis Carlos Heinze (PP/RS), que protocolou o Projeto de Lei 320/2025, sobre o mesmo tema, também deve acompanhar a reunião.