A SLC Agrícola espera se tornar carbono neutro até 2030 nas atividades dentro das fazendas e também em relação às fontes de energia. A projeção foi feita ao Jornal do Comércio pelo CEO da empresa, Aurélio Pavinato, antes de falar para uma plateia lotada no último dia do South Summit Brazil, no Cais Embarcadero, em Porto Alegre.
Conforme o executivo, o movimento é "mais fácil" no Brasil, porque quase 90% da nossa energia é renovável.
“Energia renovável no Brasil é um item fácil de você resolver. Faltaria ser carbono neutro fora da porteira, a cadeia de suprimentos e a cadeia de clientes. Se todo mundo trabalhar na direção de buscar soluções, teus fornecedores trabalharem serem neutros, os nossos clientes trabalharem para serem neutros, a cadeia toda vira neutra”.
Segundo ele, com soluções renováveis por parte dos fornecedores de fertilizantes, segmento responsável por mais de 60% da geração de gases do efeito estufa (GEE) da agropecuária, com uso de energia de transporte renovável, é possível chegar à neutralidade.
“A SLC tem vários projetos sendo implantados que vão gerar remoções de carbono e ajuste nas práticas agrícolas para reduzir as emissões. São as duas frentes: eu remover mais e eu emitir menos, para conseguir chegar num balanço neutro. Nós estamos acreditando que vai ser possível em 2030 já ter um balanço neutro”, disse.
Pavinato também ponderou que a atividade agropecuária responde por 18% das emissões globais de GEE, muito menos que os 74% gerados pelas fontes de energia, incluindo todos os combustíveis fósseis. E que a diminuição da conversão de áreas com vegetação nativa para produção é um horizonte no caminho.
“A gente pode atender a demanda por alimentos e biocombustíveis apenas convertendo pastagem degradada, que já tem o estoque baixo de carbono. Conseguimos ter um sistema produtivo que aumenta o teor de matéria orgânica do solo e aumenta o carbono. Então, é uma emissão que pode ser zerada ao longo do tempo. Esse, esse vai ser um avanço importante”, acrescentou.
Durante a palestra intitulada Como alimentar 10 bilhões de pessoas de forma sustentável, Pavinato afirmou que a evolução tecnológica está proporcionando uma produção capaz de suprir a demanda global de alimentos e de biocombustíveis, enquanto a agricultura regenerativa permite o desenvolvimento de sistemas de produção sustentáveis agronomicamente e ambientalmente nas fazendas. Observou que produção e demanda cresceram 2% ao ano nas últimas cinco décadas, sendo 1,5% supridos pelo aumento de produtividade na média das culturas e 0,5% pela expansão de área plantada.
A produção passou de 1,3 bilhão de toneladas de grãos no mundo para 3,5 bilhões de toneladas. E na produção total de alimentos, com o grão processado, grão que vira carne, o vegetal, os laticínios, todo o conjunto de alimentos que o consumidor final utiliza, o salto foi de pouco mais de 2 bilhões de toneladas para 6,2 bilhões de toneladas.
“A gente triplicou a produção de alimentos no mundo nos últimos 50 anos. A história recente é uma história de sucesso. Conseguimos produzir mais, aumentando a produtividade, expandindo área a plantada e aumentando a eficiência do sistema produtivo. Por isso a população mundial dobrou de tamanho nesse intervalo. Éramos 4 bilhões de pessoas, hoje somos 8 bilhões”.
O CEO da SLC Agrícola destacou que o crescimento populacional foi de 1,5% anuais, assim como a produtividade na produção de alimentos. Mas, para ele, o ritmo de aumento da população vai cair para 0,7% ao ano nos próximos 25 anos, chegando a quase 10 bilhões de pessoas. Porém, ainda haverá aumento populacional e, com ele, maior demanda. Para Pavinato, o futuro será de ganhos de produtividade, sem necessidade de expansão de áreas plantadas.
“No mundo, toda essa expansão de área com culturas anuais para produção de alimentos poderá ser feita sobre áreas de pastagens, ao invés de áreas com vegetação nativa. Então, a taxa de crescimento na expansão da área vai reduzir, drasticamente, ao longo das próximas décadas, chegando lá em 2050, quem sabe, não tendo mais necessidade de expansão de área plantada. Esse é o cenário para atender essa demanda de uma forma sustentável”.
Paralelamente, a demanda por biocombustíveis é crescente e intensa nos últimos 25 anos. Atualmente, 9,4% de todos os grãos produzidos estão sendo destinados para atender a demanda de biocombustíveis. Porém, 20% de um grão de soja se converte em óleo para biocombustível. E 78% continuam sendo farelo, disse o executivo.
“Continua sendo alimento. A mesma coisa no milho. Pega uma tonelada de milho, faz 430 litros de etanol e ainda sobram 300 quilos de DDG (Distiller's Dried Grains) e DDGS (Distiller's Dried Grains with Solubles), que são produtos melhores que o milho, com 32% de proteína em termos de alimentação animal. Então, aumentar a produção de biocombustíveis significa gerar uma demanda adicional. Nos próximos anos, vamos continuar tendo uma demanda acima do crescimento da população, por essa questão de biocombustíveis e também do aumento do PIB e da urbanização”.
Pavinato conclui que a perspectiva de uma demanda mais consistente para biocombustíveis, incluindo para aviação, irá funcionar como um impulsionador também da demanda de produtos agrícolas, que gerarão um excedente de farelo de soja e de DDG de milho mais baratos para o mercado. E isso irá incrementar a produção de carnes, proporcionando comida mais barata.
“Então, estou visualizando os biocombustíveis como sendo integrado e impulsionador da oferta de alimentos. E não como competidores na produção de alimentos”.
Para ele, aliás, a volatilidade climática, que provoca secas mais intensas e tempestades mais intensas, por conta de um maior acúmulo de energia na atmosfera, não gerou a mesma oscilação na produção agrícola mundial. Globalmente ou regionalmente, ponderou, há oscilações mais intensas. Seca intensa no Sul significa uma oscilação maior da produção local. Seca na Argentina significa uma oscilação regional. Mas lembrou que o Cerrado brasileiro, por exemplo, tem uma estabilidade de produção "nunca vista" antes.
Nenhuma região nas Américas tem uma produção tão estável quanto a do Cerrado brasileiro, com produtividade estável em relação a uma linha de tendência. Temos problemas climáticos que o produtor enfrenta regionalmente. Mas quando eu penso a cadeia produtiva mundial, a gente não tem problema de oferta e de volatilidade excessiva quanto em comparação com o passado”.