Os desafios, caminhos e oportunidades para o desenvolvimento de um agronegócio adaptado à nova realidade climática e, assim, mais eficiente, estiveram em destaque no segundo dia do South Summit Brazil, aberto na quarta-feira (9) e que se encerra nesta sexta-feira (11), no Cais Mauá, em Porto Alegre. E uma das principais missões é ampliar a produção de forma mais sustentável, usando tecnologias capazes de otimizar os resultados nos novos ecossistemas que irão surgir, com diferentes espécies e seus impactos sobre a atividade rural.
O assunto abriu os debates do dia, no painel Inovação, Sustentabilidade e Tecnologia no Agro: Construindo Sistemas Alimentares Inteligentes e Resilientes, no RS Innovation Stage. No encontro, um dos destaques foram as tecnologias digitais preditivas desenvolvidas pela unidade InovaAgro da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
“São ferramentas que permitam maior previsibilidade e diminuir os riscos da atividade agrícola, que já são grandes. Anualmente, o produtor enterra alguns milhões de reais, e depois vê o que é que dá. Muitas vezes não dá, o negócio não prospera. Na Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), que faz parte do InovaAgro, já há ações desenvolvidas que conseguem prever problemas climáticos que afetam a atividade rural e também para projetar resultados e perdas nas lavouras”, observou o diretor do InovaAgro, Maurício de Oliveira.
Outro foco de atenção da UFPel é o desenvolvimento de tecnologias para atuar no manejo de alimentos armazenados, para mitigar perdas no pós-colheita, por exemplo.
“Temos o desafio de produzir mais e de perder menos. A Embrapii começou em 2022, e alguns projetos estão chegando agora ao mercado. Entre eles há tem tecnologias em silos e lavouras, sensores em plantas que permitem perceber a ocorrência de lagarta antes mesmo de ela morder a folha. São vantagens preventivas no controle de pragas e doenças”, acrescentou.
Também sob o guarda-chuva do InovaAgro, o Centro de Inovação em Sistemas Agroalimentares Sustentáveis (Cisas) atua no desenvolvimento de novos genótipos, mais resistentes a fenômenos climáticos, por exemplo, além de ter um olhar especial na busca pelo melhor aproveitamento de sistemas irrigáveis. Mas há um cenário desafiador à frente, disse Oliveira. Aumentar a produção de alimentos sem esquecer a sustentabilidade.
“Precisamos aumentar 60% a produção de alimentos até 2050, e sabemos que há um ‘novo normal’. Agora, aquece mais e chove mais dentro do sistema. E muitas vezes falta água. Precisamos produzir mais, porém de forma sustentável. A biotecnologia é uma ferramenta importante. Existe um caminho enorme para a produção de alimentos sem termos de usar mais insumos, por exemplo. E a falta de água... quanta diferença faria se houvesse mais sistemas irrigados? As tecnologias digitais podem aumentar a produtividade em 25% e reduzir custos em cerca de 20%. Não tem como fugirmos de tecnologias que já mostram grande potencial”, completou.
Anderson Paim, habitat manager do InovaTech, Parque Tecnológico da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), apontou a forte presença de startups voltadas ao agronegócio, chegando a 30% do portfólio. Ele destacou projetos desenvolvidos em parceria com empresas consolidadas, que usam o parque tecnológico como campo de validação de suas experiências. E enfatizou o papel de um dos projetos em desenvolvimento no InovaTech. O 360 Farm Lab é um laboratório agrícola vivo onde empresas testam novas tecnologias e emprestam suas experiências para interagir com as startups e potencializar seus desenvolvimentos.
De acordo com Paim, a academia tem a missão de colocar os conteúdos de pesquisa cada vez mais rapidamente em validação, acelerando a transferência de tecnologia a quem precisa.
“Os desafios estão aí. Trabalhos com foco nas secas, em produtividade, bioinsumos, biotecnologias, são todos verticais. E todos desenvolvidas pelas universidades. A UFSM tem uma grande expertise nessa área. Queremos contribuir para aproximar quem busca e precisa das soluções e o que a academia tem a oferecer”.
Pelo TecnoPUC, o engenheiro agrônomo Luiz Villwock, head do Celeiro AgFood Hub, do TecnoPUC, reforçou a necessidade de entendimento e adaptação às mudanças nos biomas, com base nas alterações do clima.
“Isso vai acontecer, independente da nossa vontade. Temos de entender e atuar. Determinadas doenças, fungos, começam a trazer novos desafios para a produção de fruta, grãos e a pecuária. Uma das nossas missões é manter atuante essa força-tarefa que temos. O TecnoPUC reúne 350 empresas, sendo cerca de 100 startups e mais de 200 grandes empresas, voltadas para enfrentar os problemas reais da sociedade. Muita coisa nova vai acontecer nesse ‘novo normal’. Precisamos compreender o que isso significa para a propriedade rural, as plantações, as criações, o produtor, a agroindústria e a economia do RS”.
Vilwoock defende o uso da inteligência e a arregimentação da iniciativa privada para “pensar futuro da agricultura no RS”. E, a partir de um novo modelo implantado aqui, mais forte e resiliente, reverberar também no agronegócio dos demais estados brasileiros. Com esse objetivo à frente, uma das iniciativas é o Semear AgroHub, que será inaugurado em maio em Santa Rosa, no noroeste do Estado, que deve se constituir em um grande cluster de referência a essa agricultura resiliente.
Outra ação importante em desenvolvimento é a realização de um painel no TecnoPUC, também em maio, para discutir o futuro do ponto de vista do financiamento e gestão de risco da agricultura.
“Temos de dar uma atenção especial à questão da sustentação econômica do produtor. Construir estratégias com seguradoras, o sistema financeiro, ciência e tecnologia, para manter o produtor ativo, confiante e produzindo alimentos”, finalizou.