O forte crescimento das exportações de ovos pelo Brasil no mês de março não se refletiu no Rio Grande do Sul. No terceiro mês do ano, os embarques de produtos a partir do RS foram 35,4% menores na comparação com igual período do ano passado, com redução também na receita, de 8,3%. O resultado destoa do aumento nas vendas internacionais do País, cujo volume foi 342,2% superior e a receita, 383% maior sobre março de 2024, apontado em levantamento da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), com base em dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
No primeiro trimestre, a queda na quantidade exportada foi de 18,5,% embora o faturamento tenha aumentado 12%. Já os embarques totais do País apresentaram elevação de 97% em volume e de 116,1% em receita.
Conforme o presidente executivo da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos, muito dessa disparidade se explica pelos efeitos da ocorrência de um foco da doença de Newcastle e uma granja comercial em Anta Gorda, em julho do ano passado. Desde lá, as exportações de produtos avícolas seguem embargadas para alguns destinos, como o Chile, que nos últimos anos ampliou as relações comerciais do setor avícola com o RS.
Em 2023, 25% das 2.584 toneladas de ovos produzidos e comercializados pelo Brasil para aquele país partiram do RS. De janeiro a novembro do ano passado, foram 6.668 toneladas de todo o Brasil para o Chile, um aumento de 158%. Os números do RS ainda não foram estratificados, mas, com o episódio no Vale do Taquari, o impacto foi grande para o Estado.
“Claro que essa diferença entre os números nacionais e do RS fica mais evidente porque 2024 foi um ano muito aquecido para esse segmento, com os EUA importando fortemente. Mas acreditamos que a partir de abril teremos uma retomada dos negócios também do RS, com pedidos feitos para outros destinos. E, com o crescimento da demanda nacional, a tonelada do produto se valoriza, contribuindo para recuperação também em receita”, diz o dirigente da Asgav.
Santos avalia que a cadeia avícola nacional tem certo conforto no tabuleiro global em que se desenrola a guerra tarifária entre EUA e China. Não apenas pelo fato de o País ter sido taxado em apenas 10% nas vendas para aquele mercado, mas também por contar com um “leque de exportação amplo”. Entretanto, pondera que é preciso acompanhar os desdobramentos e os movimentos dos demais países atingidos pelas manobras do presidente americano Donald Trump e do colega chinês Xi Jinping.
“As encomendas de cortes de frango e ovos estão subindo. Mas temos de ficar de olho em como a sobretaxa vai afetar outros mercados e os produtos que usamos na cadeia produtiva. Muito são baseados no dólar, o que pode impactar nos nossos custos. A questão é que a relação dos países com os EUA altera custos de produtos e tecnologias. E isso tudo funciona em dólar. Entretanto, há oportunidades, porque temos produção em escala e volume para abastecer outros mercados. Exportamos 35% do frango produzido e apenas 1% dos ovos”, conclui Santos.
Receita dos embarques de genética cresce 7,6% no trimestre
Já a venda externa de genética avícola brasileira, incluindo ovos férteis e pintos de 1 dia, geraram uma receita 18,4% superior em março deste ano, totalizando US$ 22,3 milhões, contra US$ 18,8 milhões registrados no mesmo período do ano passado. Os volumes embarcados, porém, tiveram queda de 35,1% em relação ao mesmo mês de 2024, somando 1.777 toneladas, diz estudo da ABPA.
No acumulado do primeiro trimestre, a receita das exportações alcançou US$ 62 milhões, 7,6% a mais do que os US$ 57,6 milhões registrados no mesmo período de 2024. O volume exportado foi de 5.668 toneladas, uma redução de 27,8% em relação às 7.853 toneladas do ano passado.
O presidente executivo da Asgav explica que materiais genéticos são os mais valorizados da cadeia produtiva, uma vez que leva à produção de matrizes com maior ou menor performance. E que a redução no volume de embarques está associada ao arrefecimento desse mercado, bastante aquecido no ano passado, por conta dos problemas verificados nos plantéis americanos e europeus.
Principal destino das exportações brasileiras de março, o México importou 764 toneladas, uma diminuição de 29,7% em comparação ao mesmo mês de 2024. Outros destinos são Senegal, com 305 toneladas (-28,4%), Paraguai, com 259 toneladas (+8,9%), Venezuela, com 228 toneladas (+148,8%) e Colômbia, com 55 toneladas (+70,1%).
“Temos verificado um importante incremento das compras pelos países vizinhos, demandando especialmente pintos de 1 dia para reforçar a própria produção com genética avícola de ponta brasileira. Essa é uma tendência desde meados do ano passado e que deve seguir pelos próximos meses, o que reafirma a confiança na genética avícola produzida no Brasil”, ressalta em nota o presidente da ABPA, Ricardo Santin.