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Publicada em 08 de Abril de 2025 às 16:41

Aumento nas exportações de carnes deve inflacionar o mercado interno

Vendas externas de carne bovina aumentaram 30,2% em março e 12,8% no acumulado do trimestre, aponta Abiec

Vendas externas de carne bovina aumentaram 30,2% em março e 12,8% no acumulado do trimestre, aponta Abiec

RONALDO SCHEMIDT/AFP/JC
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Claudio Medaglia
Claudio Medaglia Repórter
As exportações brasileiras de carne bovina, suína e de frango devem crescer ainda mais a partir do segundo trimestre de 2025. O movimento, que já foi de alta nos primeiros três meses do ano, tende a ser ampliado. E, embora representantes desses setores assegurem que o abastecimento interno está garantido, a perspectiva é de aumento de preços ao consumidor brasileiro.
As exportações brasileiras de carne bovina, suína e de frango devem crescer ainda mais a partir do segundo trimestre de 2025. O movimento, que já foi de alta nos primeiros três meses do ano, tende a ser ampliado. E, embora representantes desses setores assegurem que o abastecimento interno está garantido, a perspectiva é de aumento de preços ao consumidor brasileiro.
O cenário promissor para os embarques havia sido antecipado pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) ainda no final do ano passado, com base nas análises de comportamento dos mercados globais. Agora, com a ebulição provocada pelo tarifaço imposto pelo presidente americano Donald Trump, as vendas podem ser potencializadas.
Fernando Iglesias, coordenador técnico da Safras & Mercado, lembra que já havia sinalização de um 2025 com produções recordes de carne de frango e suína. E que a carne bovina deverá alcançar o segundo maior volume de abates. Agora, o aumento da demanda externa, com a reorganização das parcerias comerciais e o redirecionamento dos produtos, vai elevar a pressão sobre os índices inflacionários no segundo semestre do ano.
Os efeitos serão mais fortes sobre cortes bovinos, que devem registrar escalada nos preços. E, nesse caso, o consumidor acabará migrando ainda mais para as outras proteínas de origem animal”.
O desempenho até aqui confirma as projeções iniciais. O setor avícola registrou alta de 13,7% nas exportações do primeiro trimestre na comparação com o mesmo período do ano passado, com 1,387 milhão de toneladas embarcadas. Em receita, o crescimento é ainda mais representativo, chegando a 20,8%, com US$ 2,587 bilhões.
Enquanto isso, os embarques de  cortes suínos cresceram 16,4% no trimestre recém-encerrado, com 336,8 mil toneladas comercializadas para o mercado internacional. O faturamento foi de US$ 789 milhões, 32% superiores ao mesmo período de 2024.
Em comum, os países da Ásia como alguns dos principais destinos.
“A média das exportações de carne de frango se manteve acima das 460 mil toneladas mensais neste primeiro trimestre, o que é inédito na história do setor e aponta para uma provável superação das projeções iniciais da ABPA para este ano. Diversos dos mercados de mais alto valor agregado apresentaram altas expressivas, o que se refletiu, também, em uma receita em nível de crescimento mais elevado em relação aos volumes”, destaca o presidente da ABPA, Ricardo Santin.
O dirigente também avalia que quase todos os mercados importadores de carne suína registraram alta expressiva em volumes em março, com níveis de crescimento acima dos dois dígitos.
Isso mostra solidez do setor na diversificação de destinos de exportações, o que deve proporcionar maior sustentação às projeções positivas para este ano”, acrescenta Santin.
Já a carne bovina teve aumento de 30,2% nas vendas externas em março e de 12,8% no acumulado do trimestre, totalizando 676 mil toneladas, conforme levantamento da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec). A receita chegou a US$ 3,22 bilhões, alta de 22,1%. Mais uma vez, a China desponta entre os maiores destinos, ampliando em 19,8% a demanda sobre igual período de 2024.

Conforme a Abiec, apenas cerca de 30% da produção nacional é destinada à exportação. Além do mais, o perfil de cortes enviados ao mercado externo é diferente dos consumidos no mercado interno, destaca a entidade.

No setor de ovos, consolidando o cenário que se desenhou nos últimos meses, o aumento nos embarques foi de 342,2% em março e de 97,2% no trimestre se comparado, chegando a 8,6 mil toneladas. A alta no faturamento foi de 116,1%, para US$ 17,77 milhões em 2025, contra US$ 8,22 milhões nos primeiros três meses do ano passado.

Mas o principal destino foram EUA, que importaram 2,7 mil toneladas, 346,4% a mais em relação ao mesmo período de 2024. O impacto dos casos de gripe aviária nos plantéis americanos provocou o abate de milhões de aves poedeiras e comprometeram o abastecimento de ovos. Na sequência vêm os Emirados Árabes, com 1,4 mil toneladas (-9%), Chile, com 1,1 mil toneladas (65,4%), Japão, com 846 toneladas (132,4%) e México, recentemente aberto, com 576 toneladas.

Para Fernando Iglesias, da Safras, com o nível agressivo dos embarques para o exterior, ainda que não falte produto, o consumidor interno vai sentir no bolso.
A única possibilidade de isso não acontecer seria a ocorrência de algum problema sanitário que inviabilizasse as exportações. Mas não deve acontecer porque o Brasil está muito bem posicionado. Tem produção em escala, biosseguridade, entende muito bem a demanda global e sabe se relacionar com seus parceiros comerciais”, conclui o analista.

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