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Publicada em 04 de Abril de 2025 às 17:46

Incertezas internacionais e baixos estoques sustentam preços do trigo

Guerra comercial entre EUA e China também atingiu o mercado do cereal, com consequências pelo mundo

Guerra comercial entre EUA e China também atingiu o mercado do cereal, com consequências pelo mundo

Oleksandr GIMANOV/AFP/JC
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Claudio Medaglia
Claudio Medaglia Repórter
Os baixos estoques de trigo no mercado, aliados aos solavancos nas relações internacionais de mercado provocadas pelo governo de Donald Trump nos EUA têm mantido em alta as cotações do cereal. No Brasil, onde restam apenas 5% da safra paranaense de 2024 e menos de 20% da produção gaúcha, os moinhos ainda têm feito poucas aquisições de matéria-prima.
Os baixos estoques de trigo no mercado, aliados aos solavancos nas relações internacionais de mercado provocadas pelo governo de Donald Trump nos EUA têm mantido em alta as cotações do cereal. No Brasil, onde restam apenas 5% da safra paranaense de 2024 e menos de 20% da produção gaúcha, os moinhos ainda têm feito poucas aquisições de matéria-prima.
Entretanto, a indústria precisará importar, mas isso não deve acontecer no primeiro semestre, ao menos, por conta da escassez de oferta e do custo de importação elevado, devido à cotação do dólar. Por outro lado, os produtores, atentos aos desdobramentos da safra de verão, também não têm pressa para vender o trigo armazenado. E esse mercado fica, por enquanto, retraído.
Conforme a Consultoria Agro do Itaú BBA, o preço do trigo no Brasil manteve trajetória de alta nos primeiros meses de 2025. Em fevereiro, a tonelada do cereal foi negociada a R$ 1.449,00 no Paraná e a R$ 1.340,00 no Rio Grande do Sul, registrando altas de 2,9% e 4,4%, respectivamente, em relação a janeiro. Em março, os preços alcançaram R$ 1.516,00 (PR) e R$ 1.370, (RS). De acordo com a analista Marina Marangon Moreira, os negócios ocorreram de forma pontual, com produtores retraídos à espera de melhores cotações e moinhos abastecidos, em grande parte, pelo volume importado no início do ano.
“Além disso, a expectativa em torno da resolução do conflito entre Rússia e Ucrânia coloca pressão sobre o mercado futuro. A cotação do trigo na Bolsa de Chicago atingiu a mínima mensal de US$ 537,00 por bushel em 20 de fevereiro, recuando até US$ 518,00 em 4 de março. A partir daí, os preços voltaram a reagir, com preocupações sobre a seca nos EUA e no Hemisfério Norte, chegando a US$ 563,00 por bushel”, avalia Marina.
Outro fator que pressiona os preços futuros para baixo é a esperada liberação do transporte de mercadorias pelo Mar Negro, o que reduziria o custo dos seguros das operações. Mas, enquanto isso não se confirma, a pouca oferta de trigo na Ucrânia e na Rússia – dois dos principais exportadores globais – trava a queda. De acordo com o analista Élcio Bento, da Safras & Mercado, os produtos com preços mais competitivos, atualmente, precisam ser buscados nos EUA, na Argentina ou na Austrália.
A guerra comercial estabelecida entre EUA e China também atingiu o mercado do cereal, com consequências pelo mundo. Em março, em resposta à sobretaxa imposta pelo governo americano, o Ministério das Finanças chinês lançou uma tarifa adicional de 15% sobre as importações de trigo e outras culturas dos EUA, reduzindo a competitividade do produto daquele país. E, nesta semana, as duas potências anunciaram mais 34% de tarifa para importações de lado a lado.
A expectativa fica, portanto, sobre a nova safra, cujos indicativos são de crescimento da produção. No Brasil, com o grande potencial produtivo do Paraná e a esperada recuperação de área no Rio Grande do Sul e no Cerrado, a possibilidade é de que a colheita alcance volume próximo de 10 milhões de toneladas”, acrescenta o analista da Safras.
Enquanto isso, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulgou no encerramento de março relatório com indicativo da intenção de plantio da cultura no país, de 18,3 milhões de hectares, queda de quase 2% sobre a safra anterior, especialmente no trigo de primavera, em função do avanço do milho também sobre outras culturas. O reflexo do anúncio foi uma recuperação dos preços nas bolsas americanas no início da semana.
“Mas, na sequência, as cotações voltaram a recuar, diante do acirramento da disputa tarifária entre EUA e China. No mercado interno, ainda se mantém a projeção de preços firmes, se voltando à paridade de importação, devido à oferta interna escassa. No mercado externo, o ambiente é de oscilações diante das incertezas da guerra comercial. E há também uma expectativa de melhor produção no Hemisfério Norte pressionando cotações”, completa Marina, do Itaú.

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