Ana Carolina Stobbe, de Rio Pardo
Considerada uma das maiores feiras de agricultura familiar do País, a Expoagro Afubra, realizada de 25 a 28 de março, em Rio Pardo, reuniu neste ano 216 expositores em um pavilhão voltado aos agricultores e pecuaristas do segmento. Para se destacar diante do público, os produtores e comerciantes apostam em novidades e produtos “exóticos” que chamam a atenção do público. Entre eles, estão licores especiais, queijos saborizados e carnes exóticas.
De Canguçu para o exterior

Casal aposta em uma vasta gama de sabores de licor
EVANDRO OLIVEIRA/JC
Diretamente da Capital Nacional da Agricultura Familiar, Canguçu, Mateus Ribeiro Camargo e sua esposa Débora Severo, ambos com 40 anos, apostam na produção cachaceira há três anos. Na Destilaria Alto da Cruz, buscam inovar para além da tradicional “azulzinha”, já conhecida na cidade. Para isso, investiram em licores a partir de 2024. Neles, o diferencial é a vasta gama de sabores, alguns inusitados.
Entre os rótulos é possível encontrar licores feitos com flores, surgidos a partir de um projeto voltado às chamadas Plantas Alimentícias Não Convencionais (Pancs). Assim, são comercializadas bebidas feitas com violeta, rosa, hibisco e jasmim. Além deles, o mais vendido é o de caramelo salgado que, segundo Mateus, surgiu inspirado por uma brincadeira da filha do casal que tentava fazer um novo sabor de brownie, aprovado pelos pais.
Já entre os frutados, chama a atenção o sabor de manga com pimenta. Ele é o único dos rótulos que não foi pensado pelos fabricantes: foi desenvolvido pelos alunos da Engenharia Química do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense (Ifsul) de Pelotas. “A gente tem bastante afeto por ele por vir da educação, dos jovens produzindo. Às vezes, a educação é tão abstrata e, assim, eles conseguem fazer um produto que vai para o mercado”, celebra Mateus.
Embora esses sabores sejam os campeões de venda nas feiras, o licor que abriu portas para o crescimento da destilaria foi o de maple com canela. Extremamente popular na América do Norte, o maple é um xarope produzido a partir do bordo — a árvore cuja folha estampa a bandeira canadense. Em razão disso, Mateus e Débora receberam um convite da Câmara Comercial Brasil-Canadá para exportar o produto.
No segundo semestre, os produtores viajarão às cidades de Vancouver, Calgary e Montreal para participar de rodadas de negócios com agentes credenciados pelo governo canadense para o comércio de bebidas alcoólicas. A partir disso, o casal espera que a exportação possa ser viabilizada.
Embora alguns insumos — como o maple — sejam importados, a produção é quase inteiramente realizada com materiais cultivados pelo casal. A cana de açúcar, matéria-prima da cachaça e dos licores, é plantada pelos produtores. Na propriedade, também são realizados os processos de moagem, fermentação e destilação. Em convênio com a Embrapa Clima Temperado, a produção conta com melhoramento genético.
Para diversificar a dieta: salame de búfalo
Próxima à entrada do pavilhão, Vanessa Ferreira, de 33 anos, comercializa um tradicional embutido com um toque diferenciado: salame de búfalo. Há três anos, a receita foi criada na propriedade em Passo do Sobrado, na região de Cachoeira do Sul, e é comercializada pela Embutidos Ferreira.
"A carne de búfalo traz saúde para o consumidor, porque é rica em Ômega 3, tem menos colesterol, menos gordura e mais proteína. Então, trazemos mais qualidade também aos clientes”, comenta Vanessa. De acordo com ela, o salame de búfalo costuma ter um sabor mais forte e acentuado do que o tradicional embutido produzido com carne suína, mas que é bem aceito, de maneira geral, pelos consumidores de carne bovina.
A bubalinocultura - criação de búfalos - tem conquistado espaço no Rio Grande do Sul. Os animais, inclusive, costumam ser expostos nos pavilhões de animais da Expoagro, mas, neste ano, não estão presentes na mostra. Emancipada há 33 anos, a cidade de Passo do Sobrado é uma das principais regiões que criam esta espécie de bovino: de acordo com a Inspetoria de Defesa Agropecuária, são 1.125 animais. Não é à toa que a Prefeitura busca junto à Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul o reconhecimento da cidade como Capital Estadual do Búfalo.
“A gente quer falar das origens da nossa cidade, onde acontece a Festa do Búfalo. Então, ressaltamos o consumo, mas também incentivamos a criação desses animais. Eles parecem robustos, mas são dóceis”, acrescenta Vanessa. Além da exploração pecuária, a criação de bubalinos atrai turismo para a região.
Queijos não convencionais chamam atenção dos visitantes

Dorf Queijaria apresenta ao público queijo defumado e maturado em café
EVANDRO OLIVEIRA/JC
Premiada com as medalhas de ouro e prata no 2º Concurso de Queijos Artesanais e Doces de Leite do Rio Grande do Sul, a Dorf Queijaria não deixou de surpreender na Expoagro. Diretamente de Teutônia, no Vale do Taquari, Jackson Jacobs, de 46 anos, apresenta uma vasta gama de sabores na sua produção. No último ano, a novidade era um queijo maturado em chopp, que deixava um leve sabor do fermentado alcoólico. Agora, as estreias são outras: o queijo maturado em café e o defumado.
Todos os três utilizam a mesma base: queijos produzidos com leite cru, com matéria-prima 100% produzida na propriedade. “São queijos autorais, com uma maturação mais longa, de cem dias”, explica Jacobs, que considera os produtos inovadores.
De acordo com o produtor, as novidades têm sido buscadas pelos clientes após a divulgação da estreia dos novos sabores nas redes sociais da queijaria. “O pessoal vem procurando pelo diferente. Eles vêm pela curiosidade, para conhecer. E acabam comprando por serem realmente surpreendentes os sabores”, avalia.