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Publicada em 21 de Março de 2025 às 17:09

Conab anuncia antecipação dos contratos de opção de venda de arroz

Elevada oferta mundial, que pode chegar a 783 milhões de toneladas, provocou queda dos preços atrativos do ano passado

Elevada oferta mundial, que pode chegar a 783 milhões de toneladas, provocou queda dos preços atrativos do ano passado

CATIANA DE MEDEIROS/CONAB/JC
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Claudio Medaglia
Claudio Medaglia Repórter
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) anunciou nesta sexta-feira (21) a antecipação da execução dos Contratos de Opção de Venda (COV) de arroz, de agosto para o mês de abril, com pagamento até 20% acima do preço mínimo por saca de 50 quilos. O movimento é considerado pelo governo uma medida em apoio aos produtores, diante do cenário de forte queda nas cotações. Mas sofre críticas dos arrozeiros por ter, segundo o setor, contribuído para que os valores desabassem.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) anunciou nesta sexta-feira (21) a antecipação da execução dos Contratos de Opção de Venda (COV) de arroz, de agosto para o mês de abril, com pagamento até 20% acima do preço mínimo por saca de 50 quilos. O movimento é considerado pelo governo uma medida em apoio aos produtores, diante do cenário de forte queda nas cotações. Mas sofre críticas dos arrozeiros por ter, segundo o setor, contribuído para que os valores desabassem.
Serão pagos em maio R$ 82,85 pela saca com 58% de grãos inteiros. Ou R$ 87,62 em agosto, explicou o gerente de Produtos Agropecuários da Conab, Sérgio dos Santos Júnior. De acordo com o presidente da autarquia, Edegar Pretto, a antecipação da possibilidade de execução dos contratos foi definida como alternativa para garantir renda ao produtor, estimular a produção para atender o consumo interno e formar estoques públicos.
No final do ano passado, a companhia pretendia ter negociado 500 mil toneladas do cereal com produtores gaúchos, mas conseguiu concretizar apenas 91 mil toneladas, utilizando R$ 162 milhões dos R$ 1 bilhão disponibilizados em crédito especial. Pretto avaliou que o não atingimento da meta se deveu a uma “leitura equivocada” do setor sobre o cenário de mercado que se desenhava para o grão.
Os produtores foram desestimulados a aderir aos contratos, que são de opção de venda, acreditando que as cotações seguiriam altas como estavam durante quase todo o ano passado. Mas nós fazemos captações de informações e leituras de dados agropecuários sistematicamente, no Brasil e no mundo. E, quando definimos pagamento até 20% acima do mínimo, os preços estavam elevados”, afirmou o presidente da Conab.
A perspectiva é de produção de 8,2 milhões de toneladas no RS, 12 milhões de toneladas no Brasil, chegando a 17 milhões na soma dos países produtores do Mercosul e uma oferta global de 783 milhões de toneladas, segundo levantamento da Safras & Mercado. E as cotações, que rondavam os R$ 120,00 por saca na época do lançamento dos contratos de opção pelo governo, estão em R$ 75,00 na Fronteira Oeste.
Para o analista de arroz da Safras, Evandro Silva, o setor precisa recuperar espaço no mercado internacional. A disputa por exportações, inclusive com países como Argentina e Uruguai, será grande. Os Estados Unidos, em plena entressafra, estão com preços atrativos no mercado. E os cortes impostos pelo governo de Donald Trump à Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), maior compradora do cereal americano, podem jogar um volume ainda maior de arroz no mercado. Isso sem falar na Índia, maior exportadora mundial e que voltou a vender arroz quebrado, produto importante na balança comercial brasileira para países da África.
Considerando esse ambiente, e olhando para o futuro, vemos uma tendência forte de dificuldades na comercialização do produto no segundo semestre. Então, a execução dos contratos de opção pode ser uma boa oportunidade para negociar uma pequena parte da produção, diminuindo o volume disponível no mercado a partir da metade do ano. Até porque a demanda interna está enfraquecida, e a indústria ainda não conseguiu fazer o equilíbrio entre os preços ao produtor e ao consumidor”, ponderou o especialista.
Na quinta-feira, a Federarroz emitiu nota manifestando preocupação com os preços praticados no mercado nacional. Conforme a entidade, a pressão veio da queda antecipada dos valores do grão, reflexo dos leilões da Conab, que desequilibraram o mercado. Atualmente, o valor pago ao produtor encontra-se no ponto de equilíbrio na média do Estado, mas em diversas regiões não cobre os custos de produção, conforme tabela da Conab, que desconsidera a depreciação de maquinário e rubricas de mão de obra terceirizada, diz o texto.
Edegar Pretto respondeu que a análise dos arrozeiros “não tem fundamentação técnica”. E que o objetivo do governo era justamente reduzir a oferta do cereal no mercado, possibilitando a elevação dos preços ao produtor.
Já o presidente da Federarroz, Alexandre Velho, reconheceu que a antecipação dos contratos, no contexto de hoje, com preços em queda, pode ajudar a trazer um piso para o mercado interno. Mas ponderou que os valores ofertados nos leilões eram “baixíssimos” e contribuíram para derrubar o mercado.
“(A antecipação) Seria uma garantia ao produtor se os valores mínimos fossem de R$ 90,00 a saca. Nosso custo de produção oscila entre R$ 90,00 e R$ 100,00, para uma produtividade média de 8,3 mil quilos por hectare. A Conab considera R$ 75,00”, criticou o dirigente, acrescentando:
É justo buscar reduzir o preço ao consumidor. Mas ninguém pensa em diminuir os custos das lavouras, com redução de impostos, para aumentar a competitividade do setor. Uma saca a R$ 80,00 não cobre os custos do produtor”.

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