Era uma vez uma pequena área com cerca de três hectares na localidade de Rio Pequeno, no município de Sinimbu, no Vale do Rio Pardo, onde a produtividade nos cultivos de milho e tabaco era baixíssima e os custos, elevados. O cenário, que começou a mudar em 2020, ficou no passado e deu lugar a lavouras de alto rendimento, com manejos de solo adequados e boas práticas agrícolas como propulsores dessa mudança.
A transformação na primeira Unidade de Referência Tecnológica (URT) ligada ao Programa Recupera Rural RS, iniciativa coordenada pela Embrapa e Emater/RS-Ascar, foi conferida por agricultores da região em um Dia de Campo realizado nesta quinta-feira (20). E é resultado do esforço coletivo de instituições de pesquisa e extensão rural, do meio acadêmico, do poder público e da iniciativa privada.
Na URT Charles Waechter - que leva o nome do proprietário da área -, a erosão do solo, os alagamentos e outros obstáculos derrubavam sistematicamente a produção, situação que retrata a realidade de diversas pequenas propriedades rurais no entorno. Mas, com nivelamento dos solos, terraceamento, rotação de culturas e outras ações orientadas por técnicos da Emater, os resultados começaram a aparecer.
“A partir do melhoramento da estrutura do solo e, posteriormente, da parte orgânica, o rendimento nas lavouras melhorou muito já no segundo ano safra a partir das intervenções. Onde eu colhia 100 sacas de 60 quilos de milho por hectare, agora a perspectiva é de 180 sacas nesta safra. E devo passar de 1,8 mil quilos de tabaco por hectare para cerca de 2,5 mil quilos. Isso considerando que parte dessa área foi atingida pelas enchentes de maio do ano passado”, conta Waechter.
Depois da catástrofe climática de 2024 no Rio Grande o Sul, a Embrapa, que estava desenvolvendo a Plataforma Colaborativa Sul para Mitigação dos Efeitos da Mudança Climática na Agricultura, criou o Recupera RS. E, junto com a Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), se inseriu - com tecnologias específicas e foco na reconstrução - nas ações que já vinham sendo desenvolvidas na área do agricultor pela Emater, prefeitura de Sinimbu e a empresa de tabaco UTC Brasil.
“Aqui na URT Charles Waechter, fizemos um levantamento da área por meio de drones com uma série de sensores para entender as características topográficas e de solo, áreas de produção, rios e nascentes, por exemplo. E a partir disso, pudemos definir como e onde proteger, onde produzir, quais cuidados seriam necessários com o solo, que é o maior ativo financeiro do produtor rural”, observa o biólogo Adalberto Miura, pesquisador da Embrapa Clima Temperado.
O Dia de Campo serve como ferramenta para a difusão de ações, estratégias e planejamentos que ofereçam resiliência climática à atividade agropecuária, diante dos frequentes episódios de chuva intensa, estiagem e calor intenso. O momento inicial é de capacitação dos multiplicadores, a partir de atividades em parceria entre Embrapa e Emater, para posteriormente incentivar a adoção dessas práticas conservacionistas pelos agricultores.
“Com medidas assertivas, podemos melhorar muito o rendimento da atividade rural, reduzindo custos e aumentando a rentabilidade”, completa o extensionista da Emater Luis Fernando Marion.
O essencial é saber que cada área tem suas peculiaridades e manejos adequados. Não adianta repetir modelos que deram certo em locais com características ou capacidade financeira diferentes, por exemplo. A orientação técnica é fundamental. Mas as referências podem ser as mesmas.