Com a perspectiva de novo recorde na série histórica, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta uma colheita de 322,3 milhões de toneladas de grãos para a safra 2024/25 de grãos no Brasil. Caso seja confirmada, há estimativa de um volume 8,2% superior ao resultado anterior. No Rio Grande do Sul, espera-se uma redução de 3,4% na produção atual (38 milhões toneladas, frente aos 38,8 milhões de toneladas em 2023/24). Os dados fazem parte do quarto levantamento da safra, divulgado nesta terça-feira (14) em apresentação online.
De acordo com o gerente de acompanhamento de Safra da Conab, Fabiano Vasconcellos: a imprevisibilidade meteorológica pode afetar as colheitas nos solos gaúchos e catarinenses. “No Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, onde as safras já estão de fato em desenvolvimento vegetativo, as curvas ainda se mostram superiores a da safra passada, mas já apontam ali para o reflexo dessa restrição hídrica que pode prejudicar o potencial, principalmente de milho e soja. O arroz irrigado no RS e em SC, ele deve se beneficiar com essas condições porque a teia tem uma boa carga nas barragens."
Situação que aflige também o economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz. "Infelizmente o RS está atravessando uma nova estiagem, localizada na Fronteira Oeste, Missões e Campanha, que vai para o Centro do Estado neste trimestre. Entendo que os levantamentos apontam para um momento, mas quando olhamos as perspectivas ficamos muito preocupados", alerta o especialista.
Apesar de demonstrar um certo otimismo, o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS), Paulo Pires, acha difícil ratificar as previsões. "A safra de verão, no todo, apresenta boas perspectivas, mas estamos com problemas pontuais na culturas de verão no noroeste do RS e em parte do MS", destaca Pires.
A soja gaúcha alcançou 95% das áreas previstas em dezembro, o que permite à companhia prever um rápido avanço das áreas em florescimento, “deixando os produtores preocupados com as previsões meteorológicas de chuvas abaixo do normal climatológica, restringindo o suprimento hídrico das plantas”, afirma o levantamento. Apesar de algumas quebras, estima-se um aumento de 3,5% (20,3 milhões de toneladas, frente às 19,6 milhões de toneladas) na colheita de 2024/2025.
Além disso, o produto cultivado no País deve registrar uma produção total de 166,33 milhões de toneladas, 18,61 milhões de toneladas acima do total produzido na safra anterior em solo brasileiro. Após um ano de quebra na safra, o atual ciclo tende a recuperar a produtividade média das lavouras. Para esta temporada, é esperado um desempenho médio de 3.509 quilos por hectare, frente a 3.201 kg/ha registrado em 2023/24.
Em relação ao milho, segundo o boletim da empresa pública, já é possível observar na área semeada no Estado diversos estágios fenológicos da cultura: 1% da área está em emergência, 19% em desenvolvimento vegetativo, 20% em florescimento, 45% em enchimento de grãos e 15% em maturação. “Tendo em vista estarmos no período inicial da colheita e por restar parcela da área para ser semeada, mantemos a expectativa inicial de produtividade da cultura, 5.970 kg/há”, diz o relatório. No âmbito nacional, o cereal deve registrar uma colheita total de 119,6 milhões de toneladas em 2024/25, 3,3% acima da temporada anterior.
Com a semeadura está praticamente finalizada no RS, o arroz tem praticamente 100% das lavouras em desenvolvimento vegetativo e algumas (menos de 1%) estão em emergência. Nesse cenário, a previsão é de uma colheita 15% maior do que na safra 2023/2024. No País, a semeadura para o atual ciclo ultrapassa 90% da área total prevista para esta safra nas principais áreas produtoras do país, estimada em 1,75 milhão de hectares, o que representa um crescimento de 8,5%. A Conab também espera uma recuperação nas produtividades médias das lavouras no País, saindo de 6.584 quilos por hectare para 6.869 kg/ha. Essa combinação de fatores leva a expectativa de um incremento de 13,2% na produção, estimada em 11,99 milhões de toneladas.
Estes números regionais, no entanto, são contestados pela Federação das Associações de Arrozeiros do Estado do Rio Grande do Sul (Federarroz). Para o presidente da entidade, Alexandre Azevedo Velho, "os números da Conab não refletem a realidade da lavoura de arroz do Rio Grande do Sul". Na sua avaliação, "é lamentável o uso político que estão fazendo do arroz, isso também mostra o desconhecimento que o governo tem dos grandes problemas dos pequenos produtores da região central do RS".
Segundo Velho, o Estado encerrou a semeadura de arroz irrigado, atingindo 927.8885,90 de hectares. Algumas regionais analisadas pelo levantamento do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) mostram que não foi atingida 100% da intenção de semeadura. A região central, que sofreu o maior impacto das enchentes de maio de 2024 e, posteriormente, a frequência intensa de chuvas, atrasou a reconstrução das áreas, atingindo 84,78 % da intenção de semear.