Com R$ 2,5 bilhões em recursos do BNDES disponibilizados nesta segunda-feira (16) para auxiliar na renegociação das dívidas dor produtores rurais gaúchos atingidos por problemas climáticos nos últimos anos, a Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) ainda concentra esforços para a obtenção de mais R$ 2 bilhões até o final do ano. A ideia é ampliar a oferta de dinheiro para atender o maior número possível de contratos e melhorar as condições de pagamento ao tomador.
A meta foi traçada durante coletiva da entidade, nesta segunda-feira (16), de balanço de 2024 e avaliação de cenário para o próximo ano. Durante o encontro, o presidente Gedeão Silveira Pereira destacou o empenho do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, em auxiliar na interlocução com o Ministério da Fazenda para melhorar a qualidade do apoio do governo central ao setor.
“Tivemos uma dificuldade grande na metade do ano, com os embates relacionados à pretensão do governo em importar arroz sem necessidade e impondo preços que quebrariam a orizicultura, pois abaixo do custo de produção. O ministro encampou essa ideia, que passaria pela Conab, ligada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário e da Agricultura Familiar. Mas, ao final de muito diálogo, ele entendeu a situação do produtor e está muito alinhado conosco, é preciso reconhecer”, disse o líder ruralista.
A importância desse movimento de reaproximação entre o setor e o governo federal se traduz em números. Levantamento colhido junto a agentes financeiros apontam que 166,3 mil contratos foram renegociados, correspondentes a R$ 24,5 bilhões. Desses, 38 mil são em recursos livres dos bancos, equivalentes a cerca de R$ 6 bilhões. E há muitos que sequer puderam aderir, disse o economista-chefe da Farsul, Antonio da Luz.
A preocupação fica ainda maior, segundo ele, a partir dos rumos da política econômica do governo federal, estimulando o crescimento econômico com gastos públicos em alta. E o câmbio elevado é o sinal de alerta de que a situação está longe de ser a ideal. Conforme o economista, se o crescimento está ótimo e o emprego também, por que o dólar chegou a mais de R$ 6,00?
“Nossa preocupação é com o que virá depois dos cortes. Em outros períodos semelhantes, vieram, entre outros, hiato do produto positivo; crescimento acima das expectativas, ainda que artificial; mercado de trabalho excessivamente apertado, com ganhos reais acima da produtividade; resultados nominal e primário deficitários; elevação da relação Dívida/PIB bruta e líquida; elevação dos prêmios de risco, tanto dos títulos públicos quanto privados; inflação elevada e desancoragem das expectativas; elevação da Taxa de Juros (Selic); recessão econômica; necessidade de cortes de gastos que precarizam o serviço público custeado pela sociedade. O que nos preocupa é a ressaca. A dívida pública com vencimento em até três anos é de quase R$ 6 bilhões", advertiu.
Por outro lado, diferente de anos anteriores, a Farsul não prospectou volume da safra gaúcha de grãos. Isso porque, com episódios sucessivos de estiagem e das chuvas excessivas de abril e maio, o agravamento da capacidade de endividamento do setor torna impossível projetar o nível de tecnificação aplicado e as condições de solo neste verão.
“O que sabemos é a área que foi plantada. Mas não há como estimar o rendimento das lavouras. Nossa base de dados fica prejudicada com esse histórico recente. Deve haver redução de área colhida, mas aumento de produção. A safra será maior. Se colhermos”, acrescentou da Luz.
Por conta do impacto de fatores climáticos sobre a produção, especialmente a falta de chuvas, a Farsul também vai atuar fortemente para destravar questões burocráticas para facilitar a adoção de medidas para captação e retenção de água nas propriedades rurais.
"Normalmente chove no Rio Grande do Sul, em torno de 1,8 mil milímetros. No entanto, nós continuamos clamando para simplificar as regras do jogo para que se possa reservar a água, para que se possa fazer a irrigação. Porque um ano depois da chuva que perdemos tanto, podemos ter o risco novamente de vir a perderem alguma coisa por falta da água", enfatizou Gedeão Pereira.
A ideia é ter 75% dos 6,7 milhões de hectares destinados à produção agrícola no Estado com irrigação dentro de 10 a 15 anos, projetou o vice-presidente da entidade Domingos Lopes Velho.
“Mas para isso, precisamos de segurança jurídica e viabilidade técnica. Já tivemos avanços muito grandes, com alterações na legislação ambiental, sem comprometer os ecossistemas. Claro que nada se faz sem acesso a crédito ou com dinheiro a juros elevados. Então, vamos trabalhar para criar condições de materialização dessa meta”.