Encerrado o período recomendado pelo zoneamento agroclimático para a semeadura de arroz no Rio Grande do Sul, cerca de 48 mil hectares ainda não foram plantados. Com isso, é real a possibilidade de que a projeção inicial de cultivo, de 948 mil hectares, não seja alcançada.
É que muitas propriedades de menor porte na Região Central foram fortemente danificadas pelas chuvas de abril e maio, e os produtores ainda não conseguiram acesso aos recursos anunciados pelo governo federal para recompor as dívidas e seguir na atividade. Ali, mais de 30% - ou cerca de 40 mil dos 125,8 mil hectares projetados - estão vazios. Na Zona Sul, onde estavam previstos 165,6 mil hectares semeados, a chuva também impediu o plantio de 5% da área. São cerca de 8 mil hectares, parcela importante na composição final da safra. E, também por isso, a colheita pode ser menor.
Com custos de produção mais elevados, devido à necessidade de recuperar as estruturas afetadas, o desafio ficou ainda maior, disse nesta terça-feira (10) o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Alexandre Velho, em coletiva de imprensa para avaliação do ano e projeção para 2025.
A entidade encaminhou ao governo pedido para ampliação do prazo do zoneamento até pelo menos 20 de dezembro. A medida assegura que o produtor possa estar protegido pelo Proagro e não corra risco de ter seu acesso ao crédito ainda mais dificultado.
No cenário atual, lavouras preparadas tardiamente com aplicação de herbicidas, ureia e irrigação tornam mais difícil o manejo para controle de invasoras.
“A produtividade deve ficar abaixo da esperada. Além do mais, temos tido dias de temperaturas mais baixas e menor luminosidade, fatores que impactam no desenvolvimento das plantas e no rendimento da cultura”, explicou o dirigente.
Em um ano complexo para a cultura, as cotações para a saca de 50 quilos começaram a baixar em plena entressafra, com a oferta de contratos de opção de venda ao governo pelo preço de R$ 87,00 em agosto de 2025, já abaixo dos custos de produção. Mesmo com baixa adesão, o movimento criou um balizador de mercado ruim.
“É um valor que, com despesas de transporte e outros custos, traz o preço da saca para R$ 80,00. Não serve para o mercado e pode desestimular o plantio na próxima safra”, avisou Alexandre Velho.
O líder arrozeiro destacou anda que uma possibilidade é o aproveitamento do câmbio favorável, com o dólar entre R$ 5,70 e R$ 5,80, para exportar mais produto, uma vez que o grão brasileiro alcançaria maior competitividade sobre concorrentes internacionais.
“Olhar para novos mercados é uma oportunidade para a qual precisaremos estar atentos. E a China e a União Europeia, a partir da concretização do acordo com o Mercosul, se tornam mercados valiosos para o setor”.
Mas também internamente a cadeia do arroz pretende trabalhar para ampliar sua participação na mesa das famílias. Campanha que será lançada pela Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz) no primeiro semestre de 2025 visa aumentar o consumo per capita no País.
Levantamento recente apontou que na Região Sul, o consumo anual é de 28 quilos por pessoa, chega a 30 quilos no centro do País e vai a 40 quilos em Goiás. A média nacional é de 32 quilos per capita.
“É um consumo estável. Queremos estimular o aumento, inclusive com sensibilização de nutricionistas, para desmistificar certos temas e destacar qualidades e poder nutricional do arroz”, concluiu Velho.