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Publicada em 05 de Dezembro de 2024 às 17:47

Recuperar solos pós-enchentes exigirá R$ 15 mil por hectare na largada

Carlos Joel da Silva (ao centro) vê com preocupação demora na implementação de medidas prometidas pelo governo

Carlos Joel da Silva (ao centro) vê com preocupação demora na implementação de medidas prometidas pelo governo

CLAUDIO MEDAGLIA/ESPECIAL/JC
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Claudio Medaglia
Claudio Medaglia Repórter
As enchentes que atingiram o Estado entre abril e maio atingiram mais de 3 milhões de hectares de terras em 456 municípios e 206 mil pequenas propriedades rurais. E para dar início ao processo de recuperação da capacidade produtiva das áreas mais afetadas, a conta será alta e de longo prazo.
As enchentes que atingiram o Estado entre abril e maio atingiram mais de 3 milhões de hectares de terras em 456 municípios e 206 mil pequenas propriedades rurais. E para dar início ao processo de recuperação da capacidade produtiva das áreas mais afetadas, a conta será alta e de longo prazo.
Conforme estimativa da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), com base em método da UFSM, serão necessários R$ 15 mil por hectare com manejo, calagem, adubação e reestruturação dos solos dentro da mancha de inundação. Isso apenas na largada, para permitir o desenvolvimento da atividade biológica e, entre 10 e 20 anos, resgatar a produtividade anterior à catástrofe climática.
A projeção foi apresentada durante coletiva de balanço de 2024, na sede da entidade, em Porto Alegre, e mostra a necessidade de ações efetivas dos governos municipais, estadual e federal em socorro ao setor. Afinal, para quem já enfrenta sucessivas dificuldades causadas por secas e, neste ano, a precipitação excessiva, a matemática torna ainda mais difícil a retomada da produção.
Recuperar a área agricultável de uma propriedade de 25 hectares, por exemplo, exigiria investimento  inicial de R$ 375 mil. Um número que assusta, diante de uma realidade em que a ajuda ao Rio Grande do Sul se materializa em velocidade inversamente proporcional à dos anúncios do governo.
São boas medidas, mas elas precisam se concretizar. Ainda há muita dificuldade para que agricultores consigam acessar recursos e reconstruir suas atividades. Nesta safra, haverá produtores com alta tecnificação, com investimentos abaixo da necessidade e aqueles que não poderão voltar. Estão dando Tylenol para um doente terminal”, disse o presidente da Fetag-RS, Carlos Joel da Silva.
Não por acaso, o número de operações do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) caiu mais de 10% na comparação entre os meses de julho e novembro de 2024 com o mesmo período do ano anterior. E o valor concedido por meio do programa diminuiu 3,4%. No crédito geral, a queda nas operações é ainda maior, chegando a 11,98%, e a 19,65% no volume de recursos.
Apesar disso, a Fetag contabiliza "conquistas importantes" nas políticas públicas federais. Entre elas, a implementação de um Fundo Garantidor de Operações no âmbito do Pronaf, o apoio a projetos produtivos para jovens da agricultura familiar e a definição de um teto de 12% para as alíquotas do Proagro Mais.
Mas há também preocupação com o futuro. “O pacote fiscal do governo federal traz mudanças que podem acabar com o Proagro. Com um teto de R$ 5,8 bilhões para o programa, como o produtor poderá acessar o seguro se o dinheiro acaba antes. O governo quer empurrar o produtor para as seguradoras privadas, cujas taxas são muito altas e que fugiram do Rio Grande do Sul por conta dos elevados riscos”, acrescentou o dirigente.
Outro ponto, segundo ele, é o possível acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. Que, se implementado, será prejudicial aos setores leiteiro e vitivinícola.
Precisaremos de políticas compensatórias ao produtor, que não terá competitividade diante dos subsídios concedidos nos países da Europa”.
Por outro lado, o projeto de apoio a projetos produtivos de jovens rurais, do governo gaúcho, com teto de R$ 25 mil, recebeu quase 10 mil propostas. O que mostra a alta demanda e o interesse desse público em se fixar no campo e na sucessão rural.
São eles (jovens) que, depois de adquirir conhecimento no meio acadêmico, por exemplo, irão oxigenas as propriedades, com ideias inovadoras e tecnológicas. A juventude rural é estratégica. Não é subsídio, mas investimento público”, observou Camila Rede, 1ª secretária da Fetag e coordenadora estadual de Juventude Rural da entidade.

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