As enchentes que atingiram o Estado entre abril e maio atingiram mais de 3 milhões de hectares de terras em 456 municípios e 206 mil pequenas propriedades rurais. E para dar início ao processo de recuperação da capacidade produtiva das áreas mais afetadas, a conta será alta e de longo prazo.
Conforme estimativa da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), com base em método da UFSM, serão necessários R$ 15 mil por hectare com manejo, calagem, adubação e reestruturação dos solos dentro da mancha de inundação. Isso apenas na largada, para permitir o desenvolvimento da atividade biológica e, entre 10 e 20 anos, resgatar a produtividade anterior à catástrofe climática.
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A projeção foi apresentada durante coletiva de balanço de 2024, na sede da entidade, em Porto Alegre, e mostra a necessidade de ações efetivas dos governos municipais, estadual e federal em socorro ao setor. Afinal, para quem já enfrenta sucessivas dificuldades causadas por secas e, neste ano, a precipitação excessiva, a matemática torna ainda mais difícil a retomada da produção.
Recuperar a área agricultável de uma propriedade de 25 hectares, por exemplo, exigiria investimento inicial de R$ 375 mil. Um número que assusta, diante de uma realidade em que a ajuda ao Rio Grande do Sul se materializa em velocidade inversamente proporcional à dos anúncios do governo.
“São boas medidas, mas elas precisam se concretizar. Ainda há muita dificuldade para que agricultores consigam acessar recursos e reconstruir suas atividades. Nesta safra, haverá produtores com alta tecnificação, com investimentos abaixo da necessidade e aqueles que não poderão voltar. Estão dando Tylenol para um doente terminal”, disse o presidente da Fetag-RS, Carlos Joel da Silva.
Não por acaso, o número de operações do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) caiu mais de 10% na comparação entre os meses de julho e novembro de 2024 com o mesmo período do ano anterior. E o valor concedido por meio do programa diminuiu 3,4%. No crédito geral, a queda nas operações é ainda maior, chegando a 11,98%, e a 19,65% no volume de recursos.
Apesar disso, a Fetag contabiliza "conquistas importantes" nas políticas públicas federais. Entre elas, a implementação de um Fundo Garantidor de Operações no âmbito do Pronaf, o apoio a projetos produtivos para jovens da agricultura familiar e a definição de um teto de 12% para as alíquotas do Proagro Mais.
Mas há também preocupação com o futuro. “O pacote fiscal do governo federal traz mudanças que podem acabar com o Proagro. Com um teto de R$ 5,8 bilhões para o programa, como o produtor poderá acessar o seguro se o dinheiro acaba antes. O governo quer empurrar o produtor para as seguradoras privadas, cujas taxas são muito altas e que fugiram do Rio Grande do Sul por conta dos elevados riscos”, acrescentou o dirigente.
Outro ponto, segundo ele, é o possível acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. Que, se implementado, será prejudicial aos setores leiteiro e vitivinícola.
“Precisaremos de políticas compensatórias ao produtor, que não terá competitividade diante dos subsídios concedidos nos países da Europa”.
Por outro lado, o projeto de apoio a projetos produtivos de jovens rurais, do governo gaúcho, com teto de R$ 25 mil, recebeu quase 10 mil propostas. O que mostra a alta demanda e o interesse desse público em se fixar no campo e na sucessão rural.
“São eles (jovens) que, depois de adquirir conhecimento no meio acadêmico, por exemplo, irão oxigenas as propriedades, com ideias inovadoras e tecnológicas. A juventude rural é estratégica. Não é subsídio, mas investimento público”, observou Camila Rede, 1ª secretária da Fetag e coordenadora estadual de Juventude Rural da entidade.