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Publicada em 07 de Novembro de 2024 às 19:59

Agronegócio global deve ser impactado por nova era Trump em Washington

Republicano Donald Trump retorna à presidência após vitória incontestável e promete potencializar economia americana

Republicano Donald Trump retorna à presidência após vitória incontestável e promete potencializar economia americana

CHARLY TRIBALLEAU/AFP/JC
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Claudio Medaglia
Claudio Medaglia Repórter
A volta de Donald Trump à Casa Branca renova especulações, expectativas e receios no cenário comercial global. E o agronegócio brasileiro, que é um grande player no mercado mundial, pode ser favorecido em determinados segmentos e enfrentar dificuldades em outros.
A volta de Donald Trump à Casa Branca renova especulações, expectativas e receios no cenário comercial global. E o agronegócio brasileiro, que é um grande player no mercado mundial, pode ser favorecido em determinados segmentos e enfrentar dificuldades em outros.
Repetindo o discurso de “America First” (Primeiro os EUA) durante a campanha e em seu primeiro pronunciamento após vencer a eleição, o futuro presidente dos Estados Unidos sinaliza com medidas protecionistas a produtos americanos, acordos bilaterais e taxação de importações. Após a confirmação da eleição de Trump, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse em agenda no Uruguai que o Brasil e os demais países da América do Sul não precisam ficar "reféns" da postura mais protecionista do líder americano eleito.
Fávaro afirmou que todos querem manter boas relações comerciais com os Estados Unidos, mas sinalizou para oportunidades de fortalecer as relações comerciais com países do chamado "Sul Global". Mas observou, no entanto, que algumas manifestações feitas pelo próximo presidente americano durante a campanha não devem prosperar durante seu mandato.
"Ele (Trump) fez uma campanha em uma plataforma mais protecionista, temos que respeitar. Queremos ter relações comerciais com os Estados Unidos, toda a América do Sul quer ter relações comerciais com os Estados Unidos, mas também não precisamos ficar reféns dessa situação. O fortalecimento dos BRICs, dos países do Sul Global, é fundamental para ampliarmos as nossas negociações".
Fávaro ressaltou a grande densidade populacional em países do Sul Global e a existência de "muitos recursos". "A ampliação das boas relações diplomáticas e comerciais do Sul Global superam qualquer protecionismo que outros queiram implementar".
Diretamente, há situações que podem causar impacto aos interesses brasileiros. O País pleiteia ampliação da cota de exportação de carne bovina e açúcar, por exemplo, para os EUA. E Trump pode dificultar a negociação. Por outro lado, se o futuro mandatário americano intensificar a disputa comercial com a China, pode haver respingos no Brasil. Ao reduzir os embarques para o país da Ásia, os americanos acabariam realocando seus produtos em outros mercados, para os quais o Brasil também exporta, fomentando disputa.
Entretanto, os produtores brasileiros de commodities como soja e milho renovariam expectativas de aumentar os embarques para o gigante asiático, para o qual já é o maior fornecedor. Porém, ao se aproximar mais dos chineses, o Brasil pode ser “penalizado” pelos EUA e ter outros obstáculos impostos a seus produtos. Será preciso, cada vez mais, conversar com os dois lados e manter um certo equilíbrio nas relações.
Para o economista Joal Azambuja Rosa, sócio da empresa de consultoria América Estudos e Projetos Internacionais, entretanto, Trump tende a fazer um governo melhor do que sugeria o seu “retrógrado discurso de campanha”, aconselhado por assessores de campanha, para fortalecer laços com o eleitor mais conservador.
O discurso é fortemente protecionista e, se posto em execução, geraria mais inflação interna, menos comércio internacional e menos crescimento. Claro que o agro brasileiro seria afetado, pois os EUA são um dos principais parceiros do Brasil”.
Já na avaliação do economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antonio da Luz, é preciso saber qual Donald Trump virá.
“O Trump que já foi presidente, que foi uma figura até meio Hollywoodiana, tinha uma necessidade de bancar o durão. E arrumou muita guerra comercial e beneficiou o Brasil. Quando ele disse que ia fazer um muro na fronteira com o México, e o México iria pagar, abriu-se o mercado mexicano para o arroz brasileiro. O México só comprava arroz dos Estados Unidos e passou a comprar do Brasil. Hoje é o maior comprador de arroz do Brasil. Passou a comprar milho, proteína, passou a comprar um monte de coisas que não comprava”, observa.
Mas o Donald Trump de hoje pode ser outro. Mais maduro, com a experiência de um primeiro mandato.
“Então, quando propõe aumentar tarifas, qual é o objetivo? Não é por uma questão ideológica ou pra dar canelada, é para sentar à mesa para conversar e montar acordo comercial. E isso preocupa muito, porque os clientes dos Estados Unidos são os mesmos nossos. E eles são um grande concorrente. Se os Estados Unidos fizerem acordo comercial, e nós não, será um problema”, diz Antonio da Luz.

Analistas projetam oscilações nos preços globais de commodities agrícolas

Eventual disputa comercial entre EUA e China pode ampliar embarques de soja brasileira para país asiático

Eventual disputa comercial entre EUA e China pode ampliar embarques de soja brasileira para país asiático

WENDERSON ARAUJO/CNA/DIVULGAÇÃO/JC
O mercado de commodities agrícolas estará exposto a impactos complexos sob novo o mandato de Donald Trump na Casa Branca. A avaliação é do analista da Safras & Mercado Élcio Bento, ao resgatar posturas do americano na primeira gestão.
“Em seu primeiro mandato, Trump utilizou tarifas sobre produtos agrícolas para pressionar a China e defender a produção nacional, o que criou oscilações de preços globais. Ao elevar tarifas e impor sanções, produtos como a soja e o milho americanos sofreram com quedas de preços. Os subsídios concedidos para mitigar perdas dos agricultores ajudaram a sustentar a competitividade dos produtos americanos, embora tenham gerado distorções temporárias nos mercados globais”.
Nesse aspecto, o Brasil poderá se favorecer, sendo a principal alternativa de abastecimento para a potencia asiática.
Bento destaca ainda que governos republicanos tendem, historicamente, a favorecer um dólar mais fraco, o que aumenta a competitividade dos produtos americanos. E um dólar mais fraco favorece as exportações de commodities agrícolas dos EUA, ao reduzir o preço em termos de outras moedas, o que pode pressionar concorrentes como Brasil e Argentina.
Ainda, segundo ele, a abordagem mais dura de Trump em relação ao Irã na última gestão, incluindo sanções e um posicionamento estratégico com Israel, pode indicar uma intensificação nas tensões. Caso sanções ao Irã aumentem, o mercado de petróleo e derivados poderia ser afetado, impactando custos logísticos para o setor agrícola.
Por esses e outros fatores, em suma, uma nova gestão Trump, com características similares às de seu primeiro mandato, poderia trazer volatilidade e reorganizações comerciais, impactando tanto os produtores americanos quanto os mercados internacionais”, afirma Élcio Bento.
Para Luiz Fernando Roque, também da Safras, a tendência é de alguma confusão inicial no mercado de commodities, até que seja possível precificar os rumos do novo governo de Trump.
“Para outros produtos, além da soja, acho que não tem muito impacto. Embora o milho possa ser afetado também, porque o Brasil é um grande exportador, e os Estados Unidos também. Daqui a pouco a gente pode ter alguma coisa com o milho americano. Embora a China não compre tanto, pode ajudar um pouco o milho brasileiro”.
O analista projeta que o primeiro semestre de 2025 deverá ser de preços mais baixos no Brasil, por conta especialmente do aumento da oferta, com uma safra americana cheia entrando no mercado.
Com o clima melhor, a tendência de uma safra cheia e recorde no Brasil e na América do Sul. Isso tende a pressionar mais o mercado, principalmente na colheita brasileira”.

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