Uma agenda virtual no próximo dia 5 de novembro, reunirá produtores de ovinos da Campanha e representantes de diversos segmentos da cadeia produtiva. Mediado pelo agrônomo uruguaio e consultor do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, Daniel Benitez Ojeda, que estará em Bagé, o encontro é mais um passo no movimento pela revitalização do setor, que faz parte de uma das 13 Rotas de Integração Regional do País.
O especialista está à frente de uma iniciativa federal para impulsionar as Rotas do Cordeiro – que ainda em dezembro passarão a ser denominadas Rotas da Ovinocultura - nos 15 polos regionais de produção ovina pelo Brasil. São 12 centros em Estados do Nordeste, um em Minas Gerais e dois no Rio Grande do Sul - em Bagé e Santana do Livramento.
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A ideia, apoiada pela Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco), é aproximar os diferentes elos da cadeia e criar uma relação sólida entre as partes. E prevê inclusive o lançamento de um selo Cordeiro Brasil, já no primeiro bimestre de 2025.
Durante quatro dias, Benitez estará justamente entre os dois polos gaúchos, onde pretende colher depoimentos do mercado de consumo, restaurantes, entender sobre oferta e demanda de carne ovina, principalmente a de cordeiro. Também quer conversar com os pontos de venda de açougues e butiques de carnes, assim como a indústria.
“Queremos fomentar a criação de um compromisso coletivo em nome de uma produção padronizada de carne ovina de qualidade, com abastecimento contínuo à industria e oferta regular ao consumidor. Não adianta produzir se não temos para quem vender”, diz o mestre em Zootecnia pela Universidade Federal de Pelotas, com ênfase em genética e melhoramento animal.
Radicado na Paraíba, Benitez, que já atuou pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), com passagem por mais de 30 países, mora no Brasil há 47 anos. Na metade de outubro, ele veio a Bagé e Livramento. Escolheu dar a largada do projeto no Rio Grande do Sul porque o Estado é precursor e tem grande tradição na ovinocultura brasileira.
A visita teve como meta conhecer de perto a realidade dos arranjos produtivos locais e, em parceria com a Arco, estabelecer formas de impulsionar os negócios. O agrônomo traçou um diagnóstico.
“Nosso ciclo produtivo é longo. Precisamos encurtá-lo. Cordeiros são animais de até 12 meses. O mercado mundial tem demandado por carne ovina de animais com, no máximo, quatro a cinco meses de vida. A espécie tem maior velocidade de crescimento, produção de carne, com menos ossos e gordura nos primeiros três meses. Estão prontos para o abate”.
O uruguaio tem convicção na viabilidade do movimento. E usa seu país de origem como argumento. No ano passado, 2,28 mil toneladas de carne ovina foram importados do Uruguai.
Benitez argumenta, porém, que o mercado precisa ser adequadamente abastecido. O consumidor não pode comprar um produto hoje e, na próxima compra experimentar algo completamente diferente.
"Tem de haver compromisso da indústria em receber os animais para abate e garantia do produtor de que irá entregar a mesma qualidade em volume conforme demanda".
Durante os dois anos para os quais sua consultoria foi contratada, ele pretende aproximar as partes e fazer com que todos cumpram sua parte no processo. E quer fazer isso em todo o País.
“Um país continental, como o Brasil, não vai ter o mesmo padrão de produto em todo lugar. Mas podemos regionalizar a produção, respeitando as diferentes características em cada uma delas. Isso é muito viável”.
O esforço ganhará o apoio de uma pesquisa de oferta e consumo que será lançada em 15 de novembro, em 10 capitais brasileiras. Serão diversos questionamentos, desde por que consome ou não a carne de ovinos, até se o consumidor consideraria incluir o corte no cardápio, entre outras perguntas que ajudarão a definir um panorama do mercado.
Quem comemorou a iniciativa da União em apostar no setor foi o presidente da Arco, Edemundo Gressler. O dirigente salientou a necessidade de que a entidade se consolide como porta-voz dos anseios dos produtores.
"Mas temos de ir além da nossa expertise no manejo dos animais. Precisamos ter um olhar ao setor produtivo como um todo, incluindo representantes dos Executivos e dos Legislativos. (...) Esse país tem potencial de ser um grande produtor de proteína, de carne ovina, porque a questão da genética já está consolidada", concluiu.