Representantes dos setores da indústria, do comércio, dos serviços e do agronegócio se uniram nesta segunda-feira (16) em um ato de protesto contra a demora na solução dos problemas financeiros enfrentados no Rio Grande do Sul a partir das enchentes de abril e maio. O ato, organizado e conduzido pelo movimento SOS Agro RS, foi realizado no Espaço de Convergência da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul e reuniu também parlamentares federais e estaduais de oposição ao governo federal, que não pouparam críticas à União.
A principal queixa é pela dificuldade de acesso aos recursos prometidos pelo governo ainda durante a 47ª Expointer, mas cujos trâmites inviabilizam a contratação. Falta, por exemplo, uma circular do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) para a operacionalização das medidas, segundo Paulo Learsi, um dos coordenadores do SOS Agro.
“Estamos há 140 dias tentando dialogar com o governo e explicar as nossas necessidades. Entre muitas idas e vindas, chegamos ao anúncio de ações que não resolveriam, mas amenizariam a situação. Porém, as agências bancárias não têm informações sobre a materialização dos anúncios. Sempre procuramos conversar e buscar uma solução para o problema, que é real. Mas teremos de endurecer o discurso, pois não estamos sendo atendidos”, disse o produtor.
Líderes de diferentes segmentostambém apontaram o impacto negativo do impasse sobre o Estado. Com o peso do agronegócio sobre a dinâmica financeira do Rio Grande do Sul, a roda da economia parou de girar em muitos municípios.
“Vivemos uma situação de exceção, que exige respostas de exceção. Precisamos de recursos para quitar dívidas passadas e poder financiar para voltar a produzir”, ressaltou o vice-presidente de Integração da Federasul, Rafael Goelzer.
O dirigente lembrou que o impacto econômico da crise sem resposta efetiva está levando, entre outros fatores, à migração de mão-de-obra para outros estados. “Como vamos reconstruir o Rio Grande do Sul sem as pessoas para trabalhar?”, questionou, enfatizando que o governo federal tem uma “dívida ética” com o Estado.
A percepção é de que o governo federal estaria arrastando a definição das ações para cansar o produtor, acrescenta Learsi. “Seria fácil tomar uma medida via Conselho Monetário Nacional ou Banco Central. Eles sabem do que a gente precisa. Prazo adequado, carência e juros compatíveis, porque estamos com nossa capacidade financeira absolutamente comprometida. Faltam coerência, objetividade, coordenação. Acredito que até seja de propósito, porque não interessa dar celeridade”.
Diante do impasse, a ideia agora é reunir as entidades de todos os setores econômicos do Estado e começar a cobrar dos parlamentares, em Brasília, que tomem a frente no encaminhamento de medidas que destravem os processos e façam o dinheiro começar a chegar na ponta. Entre eles estão a aprovação do Projeto de Lei 3117/2024, que tramita na Câmara dos Deputados, e dispõe sobre medidas excepcionais destinadas ao enfrentamento de impactos decorrentes de estado de calamidade pública; e do Projeto de Lei 1536/2024, que concede remissão e posterga o pagamento das parcelas vencidas e vincendas em 2024 relativas a financiamentos de custeio agropecuário e a financiamentos de comercialização e de investimento rural, contratados por produtores rurais que desenvolvem suas atividades em áreas atingidas pelas águas.
Mas o movimento não pretende dar espaço palco para discursos genuinamente políticos. A fala, feita ao final do evento por diferentes representantes do SOS Agro, foi uma resposta a diversos deputados que ocuparam o microfone com ataques aos governos federal e estadual - esse último por não ser mais contundente nas críticas à União - e depois foram embora.
“Se dizem aqui que o País não sabe o que o Rio Grande do Sul está enfrentando, o que eles estão fazendo lá em Brasília? Não somos palco para busca por votos. Não queremos políticos querendo pegar carona no movimento para suas campanhas”, reclamou Valentim Degrandis Neto, que perdeu 80% da produção de arroz e 60% de soja em Eldorado do Sul.