Atualizada às 12h43min
Com o objetivo de cobrar ações imediatas de apoio do governo federal após as enchentes de maio, que ocorreram após três anos de perdas causadas por estiagem, os produtores rurais do Rio Grande do Sul realizaram nesta quinta-feira (8) o Movimento SOS Agro RS.
O ato reuniu milhares de manifestantes e culminou, no fim da manhã, com uma reunião na Casa do Gaúcho no Parque da Harmonia, em Porto Alegre, onde os agricultores estavam acompanhados de deputados federais, do governador Eduardo Leite e do vice Gabriel Souza.
A manifestação começou na madrugada de quinta-feira com a chegada de mais de 300 tratores na Capital. Os produtores reclamam que vêm tendo perdas desde 2021 no Rio Grande do Sul e pedem, entre outras medidas, a prorrogação de dívidas por 15 anos, com dois anos de carência e juros de 3% ao ano e perdão de dívidas para produtores com perda total.
Na Casa do Gaúcho, os produtores rurais afirmaram que a manifestação teve o objetivo de mostrar que o setor não está recebendo ajuda do governo federal. O produtor rural Valentim Degrandis Neto, de Charqueadas, disse que a Medida Provisória (MP) lançada pelo governo não beneficia nenhum agricultor gaúcho. "Quero mostrar a União que precisamos de ajuda. Estamos apoiando a pauta da Farsul e da Fetag. Segundo Valentim Degrandis, o produtor rural gaúcho não tem crédito. "As lavouras foram custeadas e foi tudo praticamente perdido em maio. Não temos como pagar essa dívida porque não temos dinheiro. "Os produtores rurais não querem nada de graça. A gente quer um crédito com juro baixo e prazos para o pagamento. Precisamos desse fôlego para a nossa recuperação", destaca.
O presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira, disse que os produtores rurais gaúcho estão com muita dificuldade. "Muita dificuldade porque perdemos duas safras no passado. Deixamos de colher algo em torno de 30 milhões de toneladas de soja e milho. E agora, tivemos dificuldade com as enchentes de maio", comenta. Segundo Pereira, os agricultores gaúchos estão dando um grito de alerta ao governo federal que tem que solucionar o problema. "Temos que ter uma solução porque a agricultura está em dificuldade e o Rio Grande do Sul é um estado eminentemente agrícola assim como o Brasil", acrescenta.
Produtores rurais de diversas cidades gaúchas participaram do Tratoraço em Porto Alegre
TÂNIA MEINERZ/JC
Para o presidente da Farsul, a Medida Provisória do governo federal não contempla os agricultores gaúchos. "Os produtores estão protestando e pedindo soluções por parte do governo federal. Se não tivermos soluções, será o primeiro ano que área agrícola do Rio Grande do Sul vai diminuir", lamenta. O deputado federal Pedro Westphalen (PP) afirma que os produtores rurais precisam se recuperar porque enfrentaram duas estiagens e uma tragédia climática em maio sem precedentes na história. "O pequeno, médio e grande produtor perdeu todas as condições de se recuperar sozinho. O Rio Grande do Sul que é quarta economia do País está na UTI", comenta. Para Westphalen, a MP é totalmente impotente e não atende as necessidades do setor agrícola do Estado.
Já o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Alexandre Velho, afirmou que as entidades precisam sentar com o governo federal e discutir alterações na MP editada pela União. "Temos pequenos produtores, principalmente da região Central do Estado, que precisam de auxílio para poder continuar produzindo", ressalta. Segundo Velho, a cultura do arroz foi muito afetada e existem produtores rurais que perderam máquinas e animais.
Governador volta a criticar tratamento do governo federal ao RS
Em sua manifestação no ato dos produtores, o governador Eduardo Leite também cobrou soluções do governo federal para a recuperação do agro gaúcho. Ele reforçou o impacto das enchentes de abril e maio ano e estiagens dos últimos anos, e criticou a disparidade existente entre o Sul e outras regiões do país em termos de políticas de incentivo criadas pelo governo federal.
“O tratamento que é dado ao Sul do Brasil, e especialmente ao Rio Grande do Sul, é desleal do ponto de vista federativo e está desequilibrado por demais. Não estamos lutando para tirar recursos das outras regiões, mas, sim, por um tratamento adequado ao Rio Grande, mais ainda diante das calamidades que temos enfrentado. Não nos contentamos com o pouco que ofereceram ao Estado até agora e que estão colocando na mesa para o agro gaúcho", disse.
O chefe do Executivo estadual também destacou que as reivindicações dos produtores não configuram "um movimento político, partidário ou ideológico". "Aqui não tem bandeira de partido nenhum, apenas a do Rio Grande do Sul. É um movimento genuíno das bases do agronegócio, que expressa a sua angústia com a falta de resposta às demandas que são apresentadas", enfatizou.
Leite disse ainda que "agora é a hora de o pacto federativo, com o qual sempre contribuímos para tantas outras regiões, ajudar o Rio Grande do Sul e o agro gaúcho a se reerguerem. Quem produz no campo tem urgência e não pode ficar esperando", completou.
O chefe do Executivo estadual também destacou que as reivindicações dos produtores não configuram "um movimento político, partidário ou ideológico". "Aqui não tem bandeira de partido nenhum, apenas a do Rio Grande do Sul. É um movimento genuíno das bases do agronegócio, que expressa a sua angústia com a falta de resposta às demandas que são apresentadas", enfatizou.
Leite disse ainda que "agora é a hora de o pacto federativo, com o qual sempre contribuímos para tantas outras regiões, ajudar o Rio Grande do Sul e o agro gaúcho a se reerguerem. Quem produz no campo tem urgência e não pode ficar esperando", completou.
Na Casa do Gaúcho no Parque da Harmonia, os agricultores gaúchos pediram ajuda da União
TÂNIA MEINERZ/JC
Nota da Farsul aos produtores rurais gaúchos
Testemunha há quase um século da história, a Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), entidade representante dos produtores rurais gaúchos, acompanha com muita preocupação os processos que buscam trazer, após a notória calamidade sofrida, as soluções mínimas necessárias a adequada manutenção das atividades do campo em nosso Estado.
Testemunha há quase um século da história, a Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), entidade representante dos produtores rurais gaúchos, acompanha com muita preocupação os processos que buscam trazer, após a notória calamidade sofrida, as soluções mínimas necessárias a adequada manutenção das atividades do campo em nosso Estado.
A publicação no Diário Oficial da União em 31 de julho de 2024 da Medida Provisória 1.247/2024, tão aguardada pelos produtores rurais, trouxe ao seio da sociedade rural gaúcha, ao invés de alento, ainda maior grau de ansiedade e insegurança. Ao restringir seus efeitos aos eventos extremos de abril e maio deste ano, mesmo que os problemas tenham começado nas seguidas estiagens dos últimos anos, não incluindo, portanto, várias das angustiantes situações vividas pelos produtores rurais, bem como ao estabelecer diversos regramentos ainda carentes de complemento por outros instrumentos normativos, a exemplo de decretos, resoluções, instruções normativas etc., a medida provisória arrasta para além do tempo razoável o plantio da nova safra.
Em que pese necessitaremos dos decretos para entender a distância até concretização de nossas propostas, o texto publicado, pelo que parece ser, carregado de excessiva burocracia, envolvendo inclusive a necessidade de validação de laudos por conselhos que ainda nem mesmo existem, somado a falta de equalização para as operações originalmente contratadas com recursos livres, realidade majoritária aos demais produtores, atrasa ainda mais o fim dos efeitos da calamidade vivida pelo campo, já que a solução de pontos como estes dependem não dos decretos futuros, mas sim, até mesmo, de novas medidas provisórias ou projetos de lei. Assim sendo, entendemos que é primordial nesta hora, e por isso solicitamos, não só aos produtores, mas a todos aqueles que compreendem o risco que corre toda sociedade, que se mantenham atentos, atuantes e mobilizados no entorno de suas organizações, a fim de que os pleitos defendidos, e mais do que nunca necessários, possam de fato, e no tempo adequado, se tornar realidade.
Temos um Estado a reconstruir! Nossa história ensina que é fundamental encontrar rapidamente os pontos de equilíbrio e rumar ao futuro. O setor rural gaúcho, que tanto serviço presta à sociedade brasileira e mundial, provendo alimentos, vestimentas e energia a milhões de pessoas, apela, a todos, pela imperativa necessidade de foco e celeridade na construção das soluções definitivas, as quais ao cabo, serão de valia a toda sociedade.