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Publicada em 15 de Julho de 2024 às 15:32

Com área menor, safra gaúcha de trigo deve ir a 4 milhões de toneladas

Em Santa Rosa, a perspectiva de produtividade nas lavouras de trigo é superior à média do RS

Em Santa Rosa, a perspectiva de produtividade nas lavouras de trigo é superior à média do RS

JOSÉ SCHAFER/EMATER/DIVULGAÇÃO/JC
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Claudio Medaglia
Claudio Medaglia Repórter
Em um cenário climático favorável, os produtores de trigo do Rio Grande do Sul estão finalizando a semeadura da safra 2024/2025. E, apesar da redução de área plantada, a perspectiva é de uma colheita 55,2% maior que a do período anterior, chegando a cerca de 4 milhões de toneladas.
Em um cenário climático favorável, os produtores de trigo do Rio Grande do Sul estão finalizando a semeadura da safra 2024/2025. E, apesar da redução de área plantada, a perspectiva é de uma colheita 55,2% maior que a do período anterior, chegando a cerca de 4 milhões de toneladas.
O volume corresponde a 45% da safra brasileira estimada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), de 9 milhões de toneladas, quase 1 milhão a mais que a frustrada temporada passada. Levantamento da Emater-RS aponta que o plantio em solo gaúcho deverá ocupar 1.312.288 hectares.
Na semana passada, mais de 80% já haviam sido finalizados, chegando a quase 100% em regiões como Santa Rosa e Ijuí. Lá, inclusive, a estimativa de produtividade é de 3.287 quilos por hectare, superior à média geral esperada para o Estado, de 3,1 mil quilos.

Leia mais: Área semeada com trigo no País pode cair até 15% na próxima safra

Boa parte das áreas se encontra em fase de desenvolvimento vegetativo e com bons padrões, embora pontualmente haja desuniformidade na densidade das lavouras, por conta de dias sucessivos de chuva e da umidade. Mas, de modo geral, a cultura vem muito bem. E o frio é um fator positivo durante a fase de desenvolvimento do trigo”, diz o diretor técnico da Emater-RS, Claudinei Baldissera.
De acordo com ele, a queda de 12,8% na área plantada na comparação com o inverno de 2023 é justificada pelos riscos climáticos e pela frustração econômica da última safra. E o número final ainda pode cair mais.
É que nas regiões de Caxias do Sul, no Sul e na Campanha, a semeadura está atrasada. E em algumas áreas, como nos Campos de Cima da Serra, os produtores avaliam se mantêm ou desistem do plantio para não atrapalhar o da soja na próxima safra. Em outras, como em Bagé, a dúvida é se não devem trocar o trigo pela pecuária. O Zoneamento Agrícola de Risco Climático da cultura estabelece que o plantio no Rio Grande do Sul deve ser concluído até 20 de julho, com algumas exceções até o final do mês, para que os produtores possam acionar o seguro contra perdas causadas por circunstâncias ambientais.
Boa parte do atraso na semeadura se deveu às chuvas extremas de maio, que, além de impedirem a entrada das plantadeiras nas lavouras, causaram a deterioração das condições de solos, obrigando produtores a fazer uma recuperação dessas áreas, ressalta o analista de trigo da Safras & Mercado, Élcio Bento.
Não é um atraso que obrigue o produtor a sair da janela (de semeadura), mas que pode impedir o melhor escalonamento das suas lavouras. Como temos um cultivo de risco de inverno, muitas vezes o produtor planta um pouco mais cedo e vai escalonando as vendas para evitar que algum episódio climático acabe prejudicando toda a lavoura de uma vez”, analisa.
Já a redução na área cultivada, de acordo com o analista da Safras, é explicada pelos maus resultados da safra passada e que comprometeu até mesmo a oferta de sementes para a atual semeadura. Bento acredita que com os preços atuais do cereal no mercado e a perspectiva de clima favorável, com transição de El Niño para La Niña, a intenção de plantio tenha sido maior que a disponibilidade de sementes.
Conforme a Central Internacional de Análises Econômicas e de Estudos de Mercado Agropecuário (CEEMA), os preços do trigo no Brasil permaneceram relativamente estáveis no início de julho. No Rio Grande do Sul, a média fechou em R$ 68,28 por saca de 60 quilos, enquanto os preços nas principais praças variaram entre R$ 67,00 e R$ 68,00.

Produção nos Estados Unidos e na Argentina pode rebaixar preços do cereal

Safra de inverno americana, que está em fase de colheita, pode pressionar preços do cereal no Brasil

Safra de inverno americana, que está em fase de colheita, pode pressionar preços do cereal no Brasil

WENDERSON ARAUJO/CNA/DIVULGAÇÃO/JC
Porém, há um contexto internacional que coloca as cotações do cereal em risco de queda. Os Estados Unidos estão em colheita adiantada de sua safra de trigo e, segundo o Departamento de Agricultura (USDA), a indicação é de que a produção supere as expectativas iniciais. Os americanos devem produzir 54,6 milhões de toneladas do grão, 3,6 milhões de toneladas a mais que a projeção do mês de junho.
“Cerca de 70% da safra de inverno americana está colhida. A safra de primavera não começou a colheita. Mas ambas as safras são de boa qualidade, boas condições de lavoura. São as melhores condições de lavoura que a gente tem na safra de inverno, por exemplo, desde 2020. Não é uma grande produção, mas é uma produção maior que a do ano passado. E o ingresso dessa safra neste momento no mercado achata as cotações”, alerta o analista de trigo da Safras & Mercado, Élcio Bento.
Além disso, todo o hemisfério norte, que produz quase 90% do trigo no mundo, está colhendo agora. Porém, as condições climáticas estão complicadas na Europa e na região do Mar Negro, com sinalização de perdas de produção na Rússia, na Ucrânia e no continente, de um modo geral.
Esse contexto, avalia Bento, deve consolidar pressão sobre os preços neste momento. Mas ao longo do ano comercial, que vai de junho de 2024 até maio de 2025, a tendência é que cotações mais firmes em relação ao ano passado.
Outro ponto de atenção é em relação à safra argentina. Com ótimo desenvolvimento, depois de dois anos de fortes secas, o país vizinho caminha para uma produção recorde, com condições climáticas perfeitas até o momento. O USDA projeta uma colheita de 18 milhões de toneladas de trigo na Argentina.
O risco é a repetição do que aconteceu recentemente, com o La Niña provocando nova estiagem durante a formação das lavouras. A diferença, acrescenta Bento, é que nos dois últimos anos, o clima foi seco desde o início do plantio. "E agora os parâmetros de umidade são muito bons na região", finaliza.

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