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Publicada em 09 de Julho de 2024 às 18:27

Estragos da catástrofe climática afetam competitividade da soja gaúcha

Redução no calado no Porto de Rio Grande reduzem capacidade de carregamento dos navios

Redução no calado no Porto de Rio Grande reduzem capacidade de carregamento dos navios

Rufino, R. R./embrapa soja/divulgação/jc
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Claudio Medaglia
Claudio Medaglia Repórter
As chuvas extremas que atingiram o território gaúcho prejudicaram as exportações da atual safra de soja. Mais do que isso, o impacto da catástrofe afetou a competitividade da commodity colhida no Rio Grande do Sul. 
As chuvas extremas que atingiram o território gaúcho prejudicaram as exportações da atual safra de soja. Mais do que isso, o impacto da catástrofe afetou a competitividade da commodity colhida no Rio Grande do Sul. 
Em maio, no auge da crise, cerca de 710 mil toneladas do grão foram embarcadas no Porto de Rio Grande. O número corresponde a 28% da expectativa inicial, de 2,5 milhões de toneladas, aponta Guillermo Enrique Dawson Júnior, diretor superintendente dos Terminais Graneleiro (Tergrasa) e Marítmo (Termasa) da CCGL, por onde escoam pelo menos 65% da soja do sistema cooperativo gaúcho para o mercado externo.

Leia mais: China pode estar abandonando soja americana pela brasileira, diz relatório

O enorme volume de resíduos arrastado pelas águas desde os rios Taquari, Jacuí e Sinos, passando pelo Guaíba e descendo pela Lagoa dos Patos, acabou por diminuir o calado para navegação e nos terminais portuários de Rio Grande. E, com isso, os navios cargueiros não conseguem preencher os porões com a totalidade dos grãos, sob risco de encalharem com o peso.
O rebaixamento do calado reduziu em cerca de 10 mil toneladas o volume de grãos embarcados por navio que chega a Rio grande para levar o produto a outros destinos, diz o presidente do Sistema Ocergs, Darci Pedro Hartmann. “Nós carregava 66 mil toneladas, agora em torno de 55 mil, 56 mil. Isso vai aumentar o frete, num percentual de 10% no mínimo. E, evidentemente, que isso é custo de operação, que, depois, em última análise, vai ser debitado no preço inicial da soja pago ao produtor. Reduz a nossa competitividade”.
Um problema adicional foi a interrupção nas operações do Termasa depois que um navio acabou batendo no píer, durante as cheias, provocando danos à instalação. O episódio afeta a velocidade de carregamento das embarcações. Com isso, os navios precisam ficar mais tempo ancorados. E cada diária custa entre US$ 35 mil e US$ 40 mil.
E, além dos problemas no próprio porto, o modal rodoviário também foi comprometido pelas chuvas. Estradas interrompidas e pontes levadas pelas águas impediram o transporte da produção até o sul do Estado ou obrigaram os caminhões a fazerem percursos muito maiores para chegar ao destino, inviabilizando ou onerando o frete.
Tudo isso incide na conta do prêmio, que, combinado com as cotações da commodity na Bolsa de Chicago e do dólar, indica o preço pago ao produtor. Esse prêmio está bom, mas poderia ser melhor. Então, o volume de negócios caiu, porque não tinha como escoar a produção”, diz Rafael Sayão, analista de mercado da corretora Inova Grãos.
Com esses obstáculos para chegar a Rio Grande, as exportadoras encontram, então, outro caminho. Portos de São Francisco do Sul (SC), Paranaguá (PR) e Santos (SP) viram alternativas. Em Paranaguá, inclusive, não há fila de navios para carregar atualmente. E lá a taxa portuária é menor do que em Rio Grande. Maior velocidade na operação e custo menor são diferenciais que podem levar a soja gaúcha a sair por lá. Ou tornar o produto de estados próximos mais atrativo.
É o que diz Felipe Viscardi, sócio-diretor da Price Agro. Embora o prêmio pago pela saca de 60 quilos de soja em Rio Grande seja normalmente maior que em São Francisco do Sul, a situação atual aproxima os valores e até mesmo coloca os catarinenses em vantagem. Para o mês de julho, a saca de soja está cotada na casa dos R$ 140,00 em Rio Grande, chegando a R$ 142,00 em agosto.
As tradings começam a virar seus navios para esses portos de São Francisco do Sul, Paranaguá e Santos nesse momento. Temos uma perspectiva de melhora nas condições em Rio Grande para o final de julho e início de agosto. Mas ainda há muita soja para ser exportada”, observa Viscardi.
De uma safra estimada em cerca de 20,5 milhões de toneladas no Rio Grande do Sul, foram comercializados em torno de 45%, apenas. No ano passado, o percentual negociado até o começo de julho foi de 65% da produção, embora em uma safra menor.
Guillermo Dawson, da CCGL, observa que serviços de dragagem já estão sendo feitos em Rio Grande. E que outras medidas, como batimetrias para aferir o calado em diferentes pontos dos canais também serão adotadas. Ele estima que a normalização das operações em Rio Grande ocorra em até dois ou três meses.
Porém, entre o final de setembro e o início de outubro a safra dos Estados Unidos estará sendo colhida.  E a preferência passa a ser pelo produto americano, pela oferta e pelo frete marítmo.“Haverá menos demanda aqui. As indústrias terão oferta e menor competição. Com isso, o preço deverá cair naturalmente. Teremos uma diminuição de exportadores no RS, com prêmio menor e possibilidade de preço também menor”, acrescenta Sayão, da Inova.
Gerente regional da trading multinacional Viterra em Passo Fundo, Dionatan Carvalho avalia que, apesar do impacto das chuvas sobre a logística do Rio Grande do Sul, o grupo manterá seu volume de comercialização de soja projetado para 2024, em torno das 300 mil toneladas. Os negócios em maio foram afetados, e diversos navios que tinham Rio Grande como destino para embarque do grão acabaram redirecionados para outros portos. Mas com o aumento do calado, que chegou a marcar 11m90cm, para 12m20cm nos últimos dias, os negócios já começaram a ser retomados.
Tínhamos contratos para entrega imediata que acabamos alongando para embarque em julho, agosto e até setembro. É uma retomada. Mas para a frente temos de acompanhar o comportamento do mercado, pois há a safra americana e outros fatores que pesam na comercialização”, finaliza.

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