De olho na próxima produção americana de soja, cuja tendência é de safra cheia, as cotações da commodity na Bolsa de Chicago vêm recuando nas últimas semanas, após um começo de maio agitado, por conta de especulações sobre o volume do grão pelo mundo. Mas, no Brasil, aconteceu o oposto, devido à alta do dólar, o que tem ajudado os preços ao produtor, e à quebra de safra.
Nesta terça-feira (18), a saca de 60 quilos estava cotada a R$ 141,00 em Rio Grande. E R$ 133,00 em Passo Fundo. Em 1º de março, a saca era comercializada a R$ 112,00 na cidade do norte gaúcho.
Com a redução na produção brasileira e gaúcha, por conta de questões climáticas, a tendência é a cultura sustentar movimento de alta nos preços, projeta o analista de soja Luiz Fernando Roque, da Safras & Mercado. A empresa estimava, em abril, uma produção nacional de 151,3 milhões de toneladas, em 46 milhões de hectares semeados. E, ao final da colheita, foram 149,7 milhões de toneladas. No Rio Grande do Sul, entretanto, o corte foi maior, chegando a 2,8 milhões de toneladas.
Leia mais: Chuvas devem provocar quebra de 2,7 milhões de toneladas de soja no RS
“De um potencial e de produção de 22,8 milhões (de toneladas), que era a nossa estimativa inicial, com a produtividade recorde também, a gente cortou para 20 milhões, nos 6,7 milhões de hectares plantados. E a produtividade caiu para 3 mil quilos por hectare”, aponta.
Segundo o analista da Safras, com os problemas no Rio Grande do Sul, em Mato Grosso e no Centro-Norte do País, o Brasil deixou de colher pelo menos 15 milhões de toneladas. E a safra que era para ser acima de 165 milhões de toneladas, ficou abaixo de 150 milhões.
Com menor produção, os estoques serão reduzidos, e devem cair as exportações. A enxurrada que atingiu o Rio Grande do Sul no final de abril e se estendeu ao longo de maio foi um componente a mais na já prejudicada safra da commodity, fazendo diminuir a oferta na temporada.
“A gente está estimando uma exportação de 94,8 milhões de toneladas, contra 101,2 milhões no ano passado. E estoques de 3,2 milhões de toneladas. Contra 4,6 milhões no período anterior. E estamos importando mais soja”.
O aumento nas compras internacionais de soja deve chegar a 425%, estima Roque. As 180 mil toneladas importadas em 2023 poderão chegar, neste ano, a 950 mil toneladas.
Conforme o analista, a projeção é de preços atrativos até o fim de 2024. Mas a produção americana vai pesar. Se os Estados Unidos tiverem uma safra cheia, o cenário será “menos positivo”. Se for uma safra com problemas, será um cenário "mais positivo”, pondera.
“Exatamente porque tem essa questão interna que deve pesar, que é a questão da menor oferta. Os estoque são apertados, isso vai refletir em prêmios no mercado global. E ainda tem um dólar valorizado, um câmbio desvalorizado, em real”.
Segundo ele, há um ambiente positivo e de possibilidade de valorização. Mas é difícil projetar quanto.
"Não temos como dizer se ela (saca de soja) vai subir R$ 10,00 ou R$ 20,00. Acho muito difícil subir R$ 20,00 ou R$ 30,00. O produtor não pode esperar por isso. Se subir, que bom. Mas ele não pode esperar por esse patamar para negociar. Porque lá na frente tem uma nova safra que vai ser plantada, com tendência de aumento de área de novo no Brasil”, diz Roque.
Com 67,8 milhões de toneladas já exportadas em 2024, porém, a curva de vendas ao mercado externo deve ser decrescente nos próximos meses, alerta Índio Brasil, proprietário da Solo Corretora de Cereais. No Rio Grande do Sul, os negócios são basicamente com a China, que importa mundialmente 105 milhões de toneladas da oleaginosa. E 40% da safra gaúcha já foi comercializada.
Mas outro fator deve pesar nos embarques. A redução no calado no Porto de Rio Grande, que obriga os navios a partirem com 10 mil toneladas a menos do que a capacidade de carga, onerando as operações e reduzindo a competitividade do grão colhido e armazenado no Estado. O preço da soja é formado pela combinação entre cotações, taxa de câmbio e prêmios.
"Essa diferença de 70 mil toneladas para 60 mil toneladas no volume embarcado representa um custo de US$ 500 mil por navio. E esse custo do 'frete morto' acaba sendo repassado para o preço da soja, impactando nossa competitividade. O que temos hoje é um prêmio de US$ 0,30 por bushel acima da cotação de Chicago para julho. Ainda assim, deveremos ter,um movimento aproximado de exportações de 10 milhões de toneladas. Mas, com essa dificuldade no calado em Rio Grande, talvez estejamos perdendo parte dos negócios na última janela da entressafra", conclui Índio.