A data para realização da Expointer 2024 está no centro das discussões entre as entidades organizadoras e o governo do Estado. Com o complexo do Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio, danificado pelas chuvas intensas que devastaram municípios inteiros em maio, a questão é a condição para que a mostra ocorra no período programado, de 30 de agosto a 7 de setembro.
Enquanto a Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) e a Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC) ponderam prós e contras, o Sindicato da Indústria de Máquinas e Implementos Agrícolas do Estado (Simers) é taxativo e insiste na manutenção da data. Conforme o secretário em exercício de Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação, Márcio Madalena, o tema está sendo tratado internamente com as entidades para a tomada de decisão.
Na última semana, uma reunião ocorrida no parque mostrou que o problema não é pequeno para fazer acontecer a feira que é um dos mais representativos símbolos do agronegócio gaúcho. Pavilhões, pistas de competição, áreas administrativas e comércios tiveram alagamentos.
Um deles foi a pista onde se realiza a final do Freio de Ouro, grande evento da ABCCC, que ficou sob 3,5 metros de água. Igualmente, a pista da prova de mangueira ficou 1,5 metro submersa.
"A estrutura de comunicação, escritórios e logística da Associação funciona dentro do parque. Demos férias aos funcionários e o retorno está sendo em home office. Nossa avaliação é de que se pudéssemos postergar a data para mais 30, 45 ou 60 dias, seria melhor. Mas se a feira for confirmada para o final de agosto, estaremos lá. Somos parceiros", diz o presidente da entidade, César Augusto Rabassa Hax.
Conforme o dirigente, a Expointer precisa acontecer, de qualquer forma. Como um marco de renovação e esperança para o setor, após a tragédia climática. A ABCCC está realizando seu ciclo de classificatórias das modalidades para entregar na mostra independente da data, se mantida ou alterada. Hax pondera que o adiamento implica alterar datas também de outras feiras que ocorrem pelo Estado, já que a Expointer abre o calendário de exposições do setor. E, embora destaque que há questões importantes a serem consideradas, reafirma que a entidade irá participar, ocorra quando for e no tamanho que for.
"O Rio Grande do Sul não tem outra feira do mesmo tamanho e pujança. Os obstáculos são o tempo para dar condições para que a mostra aconteça e a dificuldade financeira do governo do Estado para auxiliar, o que é compreensível. Mas é difícil imaginar uma final do Freio de Ouro fora da Expointer. Nunca aconteceu".
Paralelamente às conversas sobre a mostra deste ano, e para garantir o atendimento ao cronograma da feira, a ABCCC transferiu etapas classificatórias do Freio de Ouro que costumam ser realizadas no parque, como o Freio do Proprietário e o Freio Jovem, para o Parque de Eventos Estância Liberdade, em Rolante. O dirigente acredita que as entidades promotoras irão debater e construir a melhor solução, com data e formato adequados. O adiamento, entretanto, está fora dos planos das indústrias de máquinas. Carro-chefe dos negócios durante a feira e responsável por 91% do faturamento da edição anterior, o segmento rechaça alteração no calendário.
"Já expusemos nossa posição em reuniões com a Farsul e a Secretaria da Agricultura. As empresas já têm outras feiras agendadas e, para nós, não há como transferir a data. Seria muito ruim", diz Claudio Bier, presidente do Simers.
Febrac vê possibilidade de manutenção da data original do evento
Já para o comandante da Federação Brasileira das Associações de Criadores de Animais de Raça (Febrac), Marcos Tang, entretanto, o que falta é arregaçar as mangas e aproveitar os dias de tempo seco para limpar a lama espalhada pelo parque e restituir as estruturas danificadas. Na avaliação do dirigente, que também lidera a Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), o estrago não foi tão grande a ponto de impor uma mudança de agenda.
De acordo com ele, a catástrofe climática deixou ensinamentos ao setor. Para o futuro, o cuidado com materiais e estruturas ao nível do chão deverão ser erguidas. Alojamentos dos funcionários, cadeiras e outros itens das associações de raças foram perdidos. "Penso que há condições para a feira acontecer na data certa, masse os organizadores decidirem por adiarmos algumas semanas, estaremos no parque quando a Expointer acontecer", garante.
Mas os problemas não se restringiram aos espaços administrativos e dos animais.Banheiros, pistas de remate, lojas, restaurantes e outras áreas também sofreram e precisarão de consertos. A própria loja da ABCCC teria ficado bastante danificada.
A empresária Valeska Glaucius, proprietária da Talabarta, que comercializa vestuário da moda pampeana, tem uma loja física junto à sede do Núcleo de Criadores de Cavalos Crioulos da 6º Região, que funciona dentro do parque de Esteio. E o local acabou invadido pela água, em uma lâmina de quase 50cm.
"Perdemos balcão e outros itens. O estrago não foi grande, mas vamos precisar de reparos, que ficarão a cargo do Núcleo, conforme contrato", relata a comerciante.
O certo é que a feira será no parque de Esteio. Sair dali não se discute. Mas as dificuldades impostas pelos danos no local e de logística e infraestrutura na Região Metropolitana de Porto Alegre são obstáculos importantes. O Aeroporto Internacional Salgado Filho deverá ficar fechado até dezembro. A Base Aérea de Canoas opera poucos voos comerciais. E nove das 22 estações do Trensurb estão paradas, entre Porto Alegre e Canoas. As que estão em operação vão da Mathias Velho, em Canoas, até a Novo Hamburgo, última parada. Além disso, locadoras de veículos também foram impactadas e, igualmente, deverão ter problemas para atender demandas por aluguéis.
A Secretaria da Agricultura diz que está em andamento o processo de avaliação dos itens que necessitarão de conserto, como pavimentação das ruas, piso dos pavilhões, equipamentos e mobiliário do prédio administrativo. O tema deve seguir na pauta dos organizadores nos próximos dias.