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Publicada em 21 de Maio de 2024 às 17:58

Enxurrada ameaça qualidade dos solos agrícolas para as próximas safras

Em Caxias do Sul, hortigranjeiros foram destruídas pelas chuvas

Em Caxias do Sul, hortigranjeiros foram destruídas pelas chuvas

ENIO TODESCHINI/EMATER-RS/JC
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Claudio Medaglia
Claudio Medaglia
O cultivo da safra de inverno e até mesmo a do verão 2024/2025 já despertam preocupação no Rio Grande do Sul. Embora haja lavouras ainda não colhidas, devido às enchentes que devastaram boa parte do Estado, o estrago causado pelas águas em solos agricultáveis deve comprometer os próximos plantios.
O cultivo da safra de inverno e até mesmo a do verão 2024/2025 já despertam preocupação no Rio Grande do Sul. Embora haja lavouras ainda não colhidas, devido às enchentes que devastaram boa parte do Estado, o estrago causado pelas águas em solos agricultáveis deve comprometer os próximos plantios.
O impacto da enxurrada vem sendo analisado por especialistas de diferentes órgãos e entidades, para entender o tamanho do problema e buscar as melhores condições de enfrentamento. É o caso do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). Segundo a diretora técnica, Flávia Tomita, os extensionistas já estão avaliando as áreas atingidas. A ideia é reunir todas as informações para discutir com profissionais do meio acadêmico, dimensionar os estragos e encontrar caminhos para auxiliar os produtores.

Leia mais: Conab suspende leilão para compra de 104 mil toneladas de arroz polido

Conforme o diretor técnico da Emater-RS, Claudinei Baldissera, ainda seguem os levantamentos do impacto das enchentes. "Mas há impactos bastante significativos, principalmente nos municípios que foram severamente atacados pelas enxurradas, com os alagamentos e com o carregamento de camadas aráveis, solo fértil, até camadas mais profundas, e outros processos. Até mesmo nas regiões que não foram afetados por inundações, mas de erosões, desde erosões laminares até erosões mais profundas".

De acordo com ele, ainda não é possível avaliar o impacto na área cultivada, e é preciso mais algumas semanas para que se possa ter uma avaliação mais aprofundada.
Mas a semeadura de inverno tradicionalmente ocorre entre os meses de maio e junho. E há áreas de plantio que já não existem mais, arrasadas pela enxurrada, como em vales e encostas de morros, diz o engenheiro agrônomo e pesquisador da área de manejo e conservação de solos da Embrapa trigo, José Denardin.
"A chuva mudou a geografia dos terrenos e, embora ainda não se saiba quanto, o sentimento é de que haverá redução de plantio. E em terras afetadas, queda de produção, produtividade e qualidade dos grãos são uma tendência, já que os solos foram muito castigados", aponta.
Informações colhidas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) junto à Emater-RS dão conta de que a produção de hortigranjeiros foi bastante afetada. O cenário em diversas regiões do Estado é de impacto negativo pelo longo período chuvoso, com alagamento em algumas regiões produtoras. Até em ambientes protegidos o desenvolvimento tem sido comprometido pela elevada umidade com baixa luminosidade.
Outro problema é a impossibilidade de realizar o manejo das áreas para a reconstrução de canteiros na maior parte do período. Verificam-se perdas de solo, nutrientes e matéria orgânica. Na Fronteira Oeste, os produtores de alface de Uruguaiana relatam perda de 50% da produção em função do longo período chuvoso, diz boletim divulgado pela estatal.
Para as frutas, uma das preocupações é com os citros. De acordo com a Emater, em Santa Rosa, grande parte das plantas cítricas apresenta carga e frutos pequenos, além da presença de cochonilha, ácaro e pulgão. Já em Soledade, verifica-se atraso no desenvolvimento e na maturação de frutos por falta de luminosidade, além de baixa qualidade.
Enquanto isso, uma série de produtos já começam a escassear ou sofrer grandes altas nos preços, especialmente os hortigranjeiros. Levantamento da Conab mostra as consequências dos eventos climáticos extremos que afetaram o Estado para o plantio, escoamento e comercialização desses produtos.
Na análise, com informações das Centrais de Abastecimento do Rio Grande do Sul (Ceasa/RS), Ceasa Serra, de Caxias do Sul, e Emater, o deslocamento das operações comerciais realizadas na Ceasa em Porto Alegre para Gravataí gerou problemas logísticos para fazer chegar os alimentos até os estabelecimentos para ofertá-los à população.
Por outro lado, a Ceasa em Caxias do Sul está operando normalmente, já que não foi atingida pela inundação. Mas o volume comercializado é menor, pois muitos produtores foram atingidos.
Apesar dos problemas de logística e produção, a maioria dos produtos teve cotação de preços estável no comparativo com os preços anteriores às enchentes. As altas mais destacadas, no dia 15/05/24, foram da rúcula, couve, morango e beterraba. Na média das cotações de 48 produtos acompanhados, coletadas no dia 7 e 14 de maio, 35 tiveram alta, quatro mantiveram os preços e nove tiveram queda quando comparados com abril.

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