A tragédia climática que atinge o Rio Grande do Sul desde o final de abril fez a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) reduzir em pelo menos 1 milhão de toneladas de grãos as projeções no 8º levantamento da safra brasileira 2023/2024. O balanço aponta para uma colheita de 295,4 milhões de toneladas – 7,6% menor em relação à primeira projeção, ainda no ano passado, de 317 milhões de toneladas-, já considerando perdas nas produções de arroz e soja em lavouras gaúchas.
A quebra de 24,3 milhões de toneladas está relacionada, principalmente, à forte intensidade do fenômeno El Niño, que vem influenciando negativamente o comportamento do clima sobre a safra. O Rio Grande do Sul enfrenta fortes chuvas e temporais, causando alagamento em grande parte das regiões produtoras, causando perda de rendimento nos grãos ainda a campo e coloca em risco inclusive o que já foi colhido e acaba sendo atingido pela umidade nos silos e armazéns.
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Embora o tamanho dos prejuízos ainda não possa ser materializado, já que boa parte das áreas agrícola está submersa, a estatal considera como certa a redução especialmente na soja, cuja colheita está mais atrasada, e também no arroz. Ainda assim, a safra gaúcha é avaliada em 39,2 milhões de toneladas, o que representa alta de 42,4% sobre o resultado anterior. Conforme a Conab, serão 21,4 milhões de toneladas de soja, 5,3 milhões de toneladas de milho, 4,1 milhões com trigo e 7,2 milhões de arroz, além de 84 mil toneladas de feijão.
Conforme o diretor-presidente, Edegar Pretto, a compilação dos dados foi uma das mais desafiadoras, por conta das dificuldades de deslocamento das equipes que vão a campo e de comunicação com entidades parceiras que auxiliam com informações. O governo federal dedica atenção especial à oferta de arroz, cuja produção no Rio Grande do Sul representa 74% do total nacional.
“Esperamos colher 10,5 milhões no País, e o aumento de áreas em outros Estados contribuirá para isso. Ainda assim, diante do cenário em terras gaúchas, o governo autorizou a importação de até 1 milhão de toneladas do grão, com o cuidado de proteger a produção nacional”.
As compras serão escalonadas. Num primeiro momento, 104 mil toneladas deverão ser adquiridas e direcionadas a pequenos varejistas de regiões mais distantes. A Conab também estuda aquisição do cereal produzido no próprio Rio Grande do Sul. ideia é atuar para conter a elevação dos preços do produto ao consumidor em todo o território nacional, mesmo que a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) tenha garantido que não haverá desabastecimento.
O diretor de Política Agrícola e Informações da Conab, Silvio Porto, projetou uma perda de 230 mil toneladas na cultura, por conta dos problemas no Rio Grande do Sul, onde 17% das lavouras ainda não foram colhidas, e 8% estão embaixo d’água. Com isso, a estimativa é de uma colheita de 10,49 milhões de toneladas no Brasil.
E, na soja, são consideradas cerca de 700 mil toneladas a menos, totalizando 147,7 milhões de toneladas. Restam ainda por colher aproximadamente 25% da área plantada no Estado, que está atrasado também por ter iniciado a semeadura mais tarde, devido às chuvas que caíram em novembro de 2023. No País, 94,3% das lavouras de soja estão colhidas.
Para a safra de inverno, o trigo segue sendo uma incógnita. “A Conab considera cerca de 9 milhões de toneladas. Mas o Rio Grande do Sul, certamente, irá registrar redução na área plantada”, disse Porto.
Para o diretor do Departamento de Análise Econômica e Políticas Públicas do Ministério da Agricultura e Pecuária, Silvio Farnese, o próximo Plano Safra deverá ter um olhar diferenciado em relação aos produtores rurais gaúchos.