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Publicada em 02 de Maio de 2024 às 17:47

Chuvas arrastam safra gaúcha para cenário de perdas em todos os setores

Coleta de leite caiu 30% porque os caminhçoes não conseguem chegar às propriedades produtoras

Coleta de leite caiu 30% porque os caminhçoes não conseguem chegar às propriedades produtoras

MARCO QUINTANA/JC
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Claudio Medaglia
Claudio Medaglia
Na soja, no arroz, no leite, na armazenagem, na produção de frangos e de suínos e em todos os segmentos do agronegócio. O cenário que se desenha no agronegócio gaúcho com as chuvas incessantes e cheias de cursos d'água é crítico. E representantes de diversos segmentos do setor procuram, ainda, dimensionar as perdas, que irão impactar a oferta de alimentos e o abastecimento das comunidades.
Na soja, no arroz, no leite, na armazenagem, na produção de frangos e de suínos e em todos os segmentos do agronegócio. O cenário que se desenha no agronegócio gaúcho com as chuvas incessantes e cheias de cursos d'água é crítico. E representantes de diversos segmentos do setor procuram, ainda, dimensionar as perdas, que irão impactar a oferta de alimentos e o abastecimento das comunidades.
Para o pós-evento, haverá muita preocupação e muito trabalho pela frente, diz o presidente do Sistema Ocergs, Darci Pedro Hartmann. A entidade vem buscando informações junto às cooperativas associadas, e a situação surge pior a cada atualização.
Pelo menos 30% do leite ordenhado nas propriedades rurais não está sendo recolhido pelos caminhões que transportam às indústrias. As estradas obstruídas ou destruídas impedem o trânsito dos veículos. Verificamos trocas de posições de produtos entre cooperativas, como alternativa para escoar e não perder a produção”, diz o dirigente.

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A produção de grãos, especialmente nas culturas de arroz e soja, também está sensivelmente afetada. Na Metade Sul do Estado, ainda restam entre 40% e 50% das lavouras da olerícola a serem colhidas, o que corresponde a 30% de toda a safra gaúcha de soja. Nas áreas alagadas ou encharcadas, grãos comprometidos em rendimento e qualidade. Mesmo o que já foi estocado está em risco.
Haverá muitas perdas. Até mesmo os armazéns têm sido invadidos pela água, atingindo os grãos. Algumas lavouras irão registrar 90% ou até 100% de perda. Teremos redução na soja e no arroz, certamente. As bacias hidrográficas estão enchendo, as comunicações são afetadas, assim como o transporte. Associados sem energia e dificuldades para obter informações. Muito complicado”, acrescenta Hartmann.
Segundo ele, a Ocergs já encaminhou correspondência aos Ministérios da Agricultura e Pecuária e do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, assim como às Secretarias da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação e de Desenvolvimento Rural. As comunicações são pedidos de socorro para cooperativas e produtores.
“Não irão funcionar modelos de postergação dos financiamentos. Temos de encontrar outras soluções. Estamos há três anos postergando dívidas. E hoje os preços estão baixos e as lavouras embaixo d'água. O produtor não vai colher. E não terá como pagar”.
Hartmann avalia que será preciso criar condições para a recuperação do fôlego do produtor. Ele projeta que seriam necessários cinco a sete anos de prazo para pagamento dos financiamentos, com pelo menos dois anos de carência.
Na soja, cerca de 5 milhões de toneladas de grãos ainda estão nas lavouras, conforme o analista da cultura da Safras & Mercado, Luiz Fernando Roque. “Deve faltar de 20% a 25% da área a ser colhida. Então, um quarto, um quinto da safra ainda está no campo. Na principal região produtora do Estado, que é o Noroeste, está chovendo bastante. É difícil, ainda, quantificar. Mas sim, existe uma preocupação grande”.
Lavouras poderão ser inviabilizadas para colheita, grãos com qualidade reduzida, com umidade elevada são riscos reais. Por isso, a produção e a produtividade da safra devem mesmo ser menores. Ainda assim, a colheita deve ser expressiva no Rio Grande do Sul.
“Projetávamos 22 milhões de toneladas. Talvez a gente comece, daqui alguns dias, a falar um pouco menos. Talvez 20 milhões, o que ainda garantiria o Estado como o segundo maior produtor do País nesse ano, porque Paraná perdeu mais neste ano. Mas abaixo de 20 milhões, abaixo de 19 milhões de toneladas, aí a gente já pode perder esse posto. Estamos com atenção redobrada”, analisa Roque.

Suínos e aves têm abates afetados

Transporte e abate de animais estão comprometidos pelos efeitos da chuvarada

Transporte e abate de animais estão comprometidos pelos efeitos da chuvarada

Wenderson Araujo/Trilux/CNA/JC
A enxurrada deixa marcas também na cadeia produtiva de carne suína. A Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs) ainda busca informações sobre prejuízos e perdas nas regiões Norte e Noroeste, onde se concentra maior parte da atividade. Mas o presidente, Valdecir Folador, dá como certos problemas de trânsito dos animais prontos para abate até os frigoríficos, bem como de logística para ração.
De acordo com o Sindicato da Indústria de Produtos Suínos (Sips), o fluxo de colaboradores e de animais prontos foi afetado, reduzindo os abates. Mas a dificuldade de comunicação com as propriedades e as principais rodovias com interdição por queda de acostamento ou pontes agravam o quadro.
“Estamos fazendo levantamento, ouvindo empresas. Mas o cenário é bastante complexo. Quedas de pontes, barreiras, imobilidade no que diz respeito à movimentação de trabalhadores, m matéria-prima para indústria, preocupação com produtores. E não se tem dimensão exata porque falta comunicação”, diz o diretor-executivo da entidade, Rogério Kerber.
Já no setor de aves, frigoríficos estão isolados, sem condições de escoar a produção ou receber rações ou animais prontos. Abates estão sendo suspensos em plantas de diferentes municípios, como em Venâncio Aires e Caxias do Sul e granjas em Montenegro e outras cidades do Vale do Caí, conta o presidente-executivo da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav-RS), José Eduardo dos Santos.

Arroz deve ter queda na produção e alta nos preços

Lavouras da região Central e de outros pontos do Estado, como Nova Santa Rita (foto) estão alagadas

Lavouras da região Central e de outros pontos do Estado, como Nova Santa Rita (foto) estão alagadas

TAILOR PERUFO/IRGA/DIVULGAÇÃO/JC
O impacto das chuvas sobre a cultura do arroz também é uma incógnita para os especialistas. Restam ainda por colher cerca de 15% da área total plantada no Rio Grande do Sul, estimada em 900 mil hectares. Na Região Central, a mais atrasada, são 40% dos grãos que seguem nas lavouras, ou 46,8 mil hectares.
“Desses, em torno de 20 mil hectares ficam em áreas mais críticas, próximas de rios. Não é pouca coisa. Então, é preocupante, para não dizer triste, ver produtores que semearam duas ou três vezes suas lavouras pelo excesso de chuva no plantio, agora perderem a produção com a cheia. Por enquanto, sequer estamos conseguindo ter acesso às lavouras para fazer o real dimensionamento dos prejuízos”, relata o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Alexandre Velho.
Nessas áreas restantes pelo Estado, prejudicadas pelas chuvas e ventos, com lavouras acamadas e áreas plantadas fora da janela ideal, a produtividade já seria menor. E, com esses eventos, o rendimento cairá ainda mais, projeta Evandro Silva, da Safras & Mercado.
O analista lembra que a produtividade média do Estado projetada pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) no início do cultivo chegou a 8,6 mil quilos por hectare. E vem caindo.
“Esperamos, talvez 8 mil quilos por hectare. Ou abaixo, no pior cenário. A produção seria entre 7 milhões e 7,2 milhões de toneladas. Ainda é cedo pra falar em menos. Mas a situação é preocupante”.
Mas se o panorama nas lavouras do cereal é dramático, os produtores vislumbram a sustentação da rentabilidade à frente. Com o atraso no plantio e na colheita, o alongamento da entressafra impediu uma queda mais consistente dos preços. A projeção era de que o piso de valorização da saca de 50 quilos ficasse nos R$ 90,00 no RS. Mas a cotação parou nos R$ 95,00.
“Vimos indústrias cedendo preços ao varejo para recompor estoques em R$ 90,00 a saca, mas não conseguiram. Pequenas e médias indústrias tiveram de recompor nas condições do mercado. A média no Rio Grande do Sul está entre R$ 105,00 e R$ 106,00. Algumas regiões chegam a R$ 115,00. O produtor está capitalizado, sem grandes compromissos, retraído e com pouco interesse na venda. Temos um mercado pouco ofertado. Em plena colheita, os preços seguem avançando”, analisa o especialista da Safras.
E, junto à escassez de oferta e do produtor pouco interessado nos negócios, o dólar disparou recentemente, chegando a flertar com o patamar de R$ 5,30. Isso trouxe expectativa de novos negócios para exportação, o que aconteceu. Na última semana, diz Silva, houve embarque de arroz branco beneficiado para a Venezuela.
“Se abre a oportunidade para exportações. E no mês de abril há esfriamento das importações, por conta da disparada do dólar. Provavelmente vamos fechar o mês com superávit. Mas grande parte das exportações são de quebrados, subprodutos de arroz”.
Com oferta restrita, mesmo para importações do Paraguai - nosso principal fornecedor -, da Argentina e do Uruguai, as indústrias do centro do País acabarão vindo buscar produto no Rio Grande do Sul. E a tendência é de alta nos preços, que, em maio, podem atingir R$ 120,00 em algumas regiões.
“Temos um avanço nos preços mais cedo do que se esperava, que seria no segundo semestre. No pico da entressafra, a saca foi comercializada a R$ 135,00 ou até R$ 140,00. E parece que o mercado ficou com isso na cabeça e pode voltar a valores perto disso. Entretanto, haverá reflexo nas prateleiras, ao consumidor final. O ano de 2024 vai ser de grandes desafios, principalmente para a ponta compradora. O vendedor, sem grandes compromissos, vai tentar arrastar a comercialização para o melhor momento possível, que é no segundo semestre”, projeta Evandro Silva.

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