Enquanto o adido do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) no Brasil projeta que a área plantada com trigo na próxima safra de inverno no País deve crescer 7,5%, especialistas nativos apontam para o contrário. Representantes da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) e analistas de mercado falam em redução em torno de 12% a 15%, por conta do cenário de preços, custos e da frustração na última colheita, muito prejudicada pelo clima.
Relatório do USDA divulgado na terça-feira (2) calcula que a cultura deverá ser semeada em 3,6 milhões de hectares, número rechaçado pelo coordenador da Comissão do Trigo e Culturas de Inverno da Farsul, Hamilton Jardim.
Relatório do USDA divulgado na terça-feira (2) calcula que a cultura deverá ser semeada em 3,6 milhões de hectares, número rechaçado pelo coordenador da Comissão do Trigo e Culturas de Inverno da Farsul, Hamilton Jardim.
Leia mais: Produção de etanol de trigo terá recursos
“A safra passada causou grande frustração aos produtores, por conta dos efeitos dramáticos do El Niño sobre as lavouras, especialmente nessa cultura. Tivemos menor produção e há menor disponibilidade de sementes. A área deve cair talvez 15% sobre os quase 1,5 milhão de hectares semeados no Estado. Vamos trabalhar o próximo cultivo mirando a safra 2022/2023, que foi excelente. A nosso favor, em princípio, teremos ganhos de qualidade e produtividade, com o La Niña”, ponderou o dirigente ao Jornal do Comércio.
Para Élcio Bento, analista de Trigo da Safras & Mercado, os efeitos climáticos sobre a safra passada geraram mais do que queda na produção. A qualidade do grão também ficou muito comprometida.
“Os preços estão mais de 20% abaixo dos que eram negociados há um ano. O produtor colheu menos e está vendendo mais barato. E há outro fator desestimulante, que é a falta de um seguro agrícola que assegure cobertura”.
Bento calcula que o enxugamento da área nacional será um pouco menor que a projeção da Farsul, ficando em torno de 12%. O que ameniza a tendência de diminuição no plantio é justamente o clima mais favorável, que deverá entregar maior produtividade para compensar a menor semeadura.
Com base na consulta a produtores, cooperativas e outros agentes que atuam na cadeia do trigo, a Safras acredita que o Brasil plantará trigo em 2,98 milhões de hectares, sendo que 1,23 milhão no Rio Grande do Sul. A produção nacional é estimada em 8,98 milhões de toneladas – 3,68 milhões no Estado, 16,5% acima das 3,15 milhões de toneladas colhidas na safra passada.
O USDA também mostrou otimismo para a produção de milho no País, estimando para a safra 2024/2025 uma colheita de 129 milhões de toneladas do grão, aumento de 5,7% na comparação com a oferta prevista para a atual temporada. O adido americano ressalta que o incremento é esperado em um cenário de condições climáticas favoráveis, após o alerta do possível fim do El Niño.
O relatório sustenta que, apesar de as margens de lucro na temporada passada terem sido baixas, o milho ainda é amplamente consumido no Brasil, e a expectativa é de que a cultura atraia a atenção dos produtores devido à importância para a indústria nacional de rações e do etanol. Ainda de acordo com o USDA, a área plantada com o cereal deve ser de 22 milhões de hectares, cerca de 2% menor que a safra 2023/2024, novamente em função das perdas causadas pelo clima no último ciclo .
Conforme o coordenador da Comissão de Grãos da Farsul, Paulo Roberto Vargas, preços em baixa, insumos caros e os estragos provocados pela cigarrinha na safra passada são fatores importantes a frear o entusiasmo dos produtores. Altamente sensível a extremos hídricos, como excesso ou escassez de chuvas, diz Vargas, o milho carece de maior estrutura de armazenamento de água para se consolidar.
”A questão é aumentar a rentabilidade por hectare. E ampliar as áreas de reserva de água para irrigação."