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Publicada em 26 de Março de 2024 às 18:15

Arroz mantém margem positiva de preço ao produtor mesmo em plena safra

Preços tiveram queda nos primeiros meses do ano, mas estabilizaram em torno de R$ 100,00 a saca

Preços tiveram queda nos primeiros meses do ano, mas estabilizaram em torno de R$ 100,00 a saca

Paulo Rossi/Divulgação JC
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Claudio Medaglia
Claudio Medaglia
Com cerca de 25% dos 900 mil hectares semeados com arroz já colhidos no Rio Grande do Sul, as estimativas dos analistas desse mercado apontam para uma safra na casa das 7,4 milhões de toneladas. E a oferta vem encontrando preços sustentados, mesmo já próximo à chegada do pico da colheita.
Com cerca de 25% dos 900 mil hectares semeados com arroz já colhidos no Rio Grande do Sul, as estimativas dos analistas desse mercado apontam para uma safra na casa das 7,4 milhões de toneladas. E a oferta vem encontrando preços sustentados, mesmo já próximo à chegada do pico da colheita.
A combinação pode dar suporte para que os produtores gaúchos com menores custos e melhor produtividade consigam fazer negócios ainda mais vantajosos no segundo semestre do ano. É que até lá é esperada recuperação nos preços, que sofreram forte, mas esperada queda nos meses de janeiro e fevereiro, explica Evandro Oliveira, consultor da Safras & Mercado para as culturas de arroz e feijão.
Segundo ele, com os preços atuais girando em torno dos R$ 100,00 a saca de 50 quilos, os arrozeiros vêm obtendo lucro mesmo no início da safra, o que é um sinalizador importante para o restante do ano. “O custo total apontado pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) é de R$ 98,00 a saca. Desde a pandemia de Covid-19 não se iniciava uma safra com margem positiva. Além do mais, sabemos que muitos produtores trabalham com custo variável, na casa dos R$ 75,00 por saca”.
Oliveira projeta que em uma estimativa de custos médios em R$ 80,00, a rentabilidade já seria de 20%. E, assim, o produtor poderia vender apenas parte do seu estoque e segurar o restante para o segundo semestre, o que seria vantajoso para toda a cadeia.

Leia mais: Governo Lula vê queda no preço dos alimentos até abril

A oscilação nas cotações do cereal é resultado da queda de braço entre varejo e indústrias. Com dificuldade de giro nas gôndolas, a partir da alta de preço, o consumidor migrou para derivados de trigo, deixando encalhado o arroz. O caminho das indústrias foi pressionar para a redução dos valores.
Aliado a isso, o Brasil importou 1,6 milhão de toneladas na temporada comercial 2023/2024, o maior volume em quase duas décadas, especialmente por meio de beneficiadoras das regiões Sudeste e Central. E a medida, claro, contribuiu para a queda nos preços.
Nesse fio, o mercado varejista procurou – e conseguiu – negociar descontos com as indústrias, que cederam pensando em repor os estoques com preços em um piso de R$ 90,00 por saca. Mas esses valores não estão se confirmando, diz o especialista da Safras. O o forte evento climático que atingiu a Região Sul do País provocou o acamamento de lavouras em São Borja e Uruguaiana, por exemplo, e também na Argentina e no Uruguai. Ou seja, afetou a principal zona produtora do Mercosul.
E o resultado já surge na projeção de diminuição na produtividade. Lavouras onde eram esperadas 200 sacas por hectare já apontam para rendimento de 180 sacas. “Esse contexto acabou sustentando os preços atuais, na casa dos R$ 100,00 por saca na Fronteira Oeste e na Região Central, R$ 105,00 para Pelotas, R$ 103,00 em Camaquã e até R$ 104,00 em Capivari do Sul. Isso tudo no pico da colheita. O que sugere que o piso projetado pelas indústrias pode ficar mesmo acima dos R$ 90,00”, diz Oliveira.
Um ponto de alerta para os produtores, porém, é o mercado externo. Isso porque o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) irá divulgar nesta quinta-feira (28) a sua projeção de plantio, provavelmente com aumento importante de área. Os preços do produto americano para exportação já são, atualmente, mais atrativos que os do arroz brasileiro.
“No momento, não temos preço nem volume para exportar, uma vez que os estoques são os menores em quase duas décadas. Esse ritmo pode melhorar em abril, mas vai depender de como os EUA irão entrar no mercado na próxima safra. Com mais volume e menos preço lá, nossa janela de exportação ficará mais curta. E será preciso muita atenção para aproveitá-la da melhor forma”.
O analista da Safras & Mercado lembra que o aumento do ICMS pelo governo deve dificultar ainda mais a venda do arroz gaúcho para outros estados. Com os mercados da Região Sudeste já conquistados pelo cereal vindo do Paraguai, que chega desonerado e com custo menor, as indústrias gaúchas têm procurado colocar seus produtos no Norte e no Nordeste. E o frete se torna outro empecilho.
Por todo esse contexto, diz Evandro Oliveira, o produtor acaba exportando, para não ficar no prejuízo. Quando o consumidor parou de comprar, houve um desestímulo à produção. “Muitos que plantavam arroz migraram parte das lavouras para a soja, criando esse novo cenário para o cultivo. Mas, com os sinais que estamos recebendo nesse momento, o segundo semestre deve ser de recuperação. E não descarto recordes de preço em janeiro de 2025. A próxima safra brasileira pode ter novo aumento de área”.

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