Produtores de arroz têm pela frente o grande desafio de não se deixarem levar pela euforia. Depois de encontrarem o chamado “ponto de equilíbrio”, com o redimensionamento das lavouras, e a conquista de uma relação favorável de mercado, a missão é manter a estratégia. O tema estará na base da programação da 34ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz e Grãos em Terras Baixas, que ocorre de quarta a sexta-feira, na Estação Experimental Terras Baixas da Embrapa Clima Temperado, em Capão do Leão.
Na fala recorrente e insistente do presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Alexandre Velho, a chave do bom momento para a cultura é a oferta ajustada. Segundo o dirigente, menor volume estocado preserva os preços atrativos para venda, sem colocar em risco o abastecimento.
Leia mais: Safra de arroz faz cotação cair, mas preço segue atrativo ao produtor
E, para Carlos Cogo, proprietário da Cogo Inteligência em Agronegócios, essa deve ser a base do pensamento do setor. “Estamos iniciando a colheita. A partir de agora teremos a dimensão do dano causado pelos alagamentos provocados pelas chuvas em excesso nos últimos meses de 2023, que levaram ao atraso na semeadura e à desistência de alguns produtores. Mas é fundamental ter na cabeça a ideia de não deixar o entusiasmo pelos bons preços negociados para o grão provocar aumento expressivo de área na próxima semeadura”.
O analista reforça a orientação para que sejam preservados os parâmetros atuais, aproveitando as oportunidades de exportação sem querer ter ganhos excepcionais, o que pode acabar prejudicando a cadeia como um todo. O conselho será dado no primeiro dia do evento, às 16h, durante a palestra Cenários para o Agronegócio Global e Tendências dos Mercados de Soja, Arroz e Pecuária em 2024/2025.
O produtor de arroz é um produtor de grãos e, muitas vezes, também de proteína animal. O consorciamento e a rotação de culturas nas propriedades, com ênfase para a soja, vem sendo responsável pela recuperação financeira do segmento que antes se dedicava prioritariamente ao arroz, e acompanhava os custos de produção engolirem a rentabilidade.
O avanço da soja sobre as terras baixas deu outras luzes e perspectivas aos lavoureiros. E, agora, com uma farta safra gaúcha e nacional da oleaginosa, associada às produções recordes na América do Sul e ao aumento de 4,8% na área de cultivo americana, a pressão sobre os preços será grande, diz Cogo.
“Temos estoques globais recordes, com capacidade de alimentar o mundo por 110 dias. Os produtores de soja não anteciparam vendas e, agora, enfrentam oferta elevada em plena entrada de safra. Será preciso saber como enfrentar esse período. É preciso entender que poderá haver momentos, ao longo do primeiro semestre, em que os preços internacionais estarão mais favoráveis para venda”, diz o analista.
Em sua palestra, ele pretende mostrar algumas dicas de como se proteger e aproveitar o mercado da soja em meio a esse cenário de grande volume de grãos disponíveis. Mas não antecipa os caminhos que irá recomendar ao público do evento no Sul do Estado.
Cogo também projeta que 2024 marcará o fim do ciclo de baixos preços para a atividade pecuária. E que a recuperação começa agora para o produtor. “A margem de rentabilidade da pecuária está muito apertada. Mas viemos de dois anos abatendo fêmeas e diminuindo o nascimento de terneiros. Neste ano, e no próximo, o que se vislumbra e o começo da recuperação, embora sem que possamos cravar um percentual de crescimento”.
De acordo com o especialista, a geopolítica global é um importantíssimo fator a influir de formas diferentes sobre cada atividade. “Vemos uma logística ameaçada pelos ataques a embarcações no Mar Negro, há o risco de o conflito no Oriente Médio colocar outros países contra Israel, e também a questão da China, que vem mostrando um crescimento econômico mais lento. Isso tudo gera reflexos diferentes em cada área. E deverá pesar sobre os custos de produção, com dificuldades e aumento de preços dos insumos. Vamos conversar muito sobre todos esses assuntos na quarta-feira”, completa Carlos Cogo.
A Abertura Oficial da Colheita de Arroz é uma realização da Federarroz e correalização da Embrapa e do Senar RS, com patrocínio Premium do Instituto Rio Grandense do Arroz e do Ministério da Agricultura e Pecuária. Ao todo, 150 expositores estarão ocupando os 26 hectares do parque, sendo 10 hectares exclusivos com lavouras. A solenidade de abertura será na quinta-feira, às 17h, e deverá contar com a participação do secretário de Política Agrícola do governo federal, Neri Geller. A programação completa pode ser conferida no site colheitadoarroz.com.br, onde também devem ser realizadas as inscrições, que são gratuitas.